Entrevista por Marcela Lorenzetti e Yannick Sasaki
Texto por Yannick Sasaki

Na última sexta-feira, 15, o Wikimetal esteve na rádio 89 FM para entrevistar o Rancore. A banda se reuniu mais uma vez, saindo do hiato que entraram em 2014. Além do show no Lollapalooza 2024, na próxima sexta-feira, 22, a turnê conta com datas por Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Goiania, Ceará, Paraíba, Sergipe, Bahia e Espirito Santo.

A banda se viu ganhando mais popularidade desde o início do hiato, conquistando novos ouvintes e lotando datas em todas as oportunidades em que se reuniram nesses últimos anos, se reencontrando com seu público tão visceral nas principais capitais do Brasil.

Teco Martins (vocal), Candinho Uba (guitarra), Gustavo Teixeira (guitarra), Rodrigo Caggegi (baixo) e Ale Iafelice (bateria) conversaram com a nossa equipe e contaram mais sobre a turnê relâmpago que estão fazendo por todo o país, planos futuros, conexões e diversidade musical.

Confira a entrevista na íntegra:

Wikimetal: Quão emocionante e recompensador é reencontrar um público ainda mais apaixonado toda vez que vocês se reúnem?

Teco Martins: Ah, é muito forte! É uma catarse coletiva ali, eu acho que fica um sentimento represado, tanto nosso, quanto das pessoas, né? Acho que essa urgência de saber se a banda volta, será que não volta? Nunca mais vai voltar… Voltou! É fugaz, né?

Então, eu acho que gera um sentimento de urgência e de explosão, como se fosse a explosão de um vulcão, e não só do público com a gente, claro, que é uma resposta, uma troca de energia ali, né? Reencontrar aquelas pessoas que são tão importantes, valiosas, né? Irmãos de caminhada na sua vida, é até difícil colocar em palavras, mas é muito especial, muito gratificante e um privilégio poder viver tudo isso.

Rodrigo Caggegi: É incrível! É bem legal também ver a galera nova, é muito bacana ver todas as pessoas que iam no show, lá quando a banda estava na ativa, e ver muita gente nova também. Galera na faixa dos 20, poucos anos, que na época tinha uns 12.

Então isso é muito louco pra mim, pra todos nós, ver esse público novo que acompanhou a banda, mesmo a banda parada ali, felicidade total para nós e gratidão demais aí para todo o público que acompanha a banda, seja o público novo, seja a galera das antigas.

WM: Quais são os planos do Rancore agora que assinaram com a Balaclava Records? Os fãs podem esperar por novidades? Vem por aí um álbum novo, um EP, um single, qualquer novidade para os fãs?

Candinho Uba: A gente quer fazer coisa nova, essa é a ideia principal. Mesmo eu achando, particularmente, que nosso material envelheceu muito bem nesses quase 10 anos, você nunca sabe se vai ficar datado, né? E eu acho que não ficou, mesmo assim queremos muito fazer coisa nova, não sabemos se será um álbum, um EP…

Hoje mesmo a gente sai daqui e vai para o ensaio, a gente tá trocando muita ideia, conversando muito sobre o que pensa cada um, o que cada um tem na cabeça, o que imagina, o que acha legal desse tempo que passou, olhando para trás mesmo e revendo as músicas e o trabalho e o que é especial com o olhar de hoje. Ainda é um pouco cedo para dizer o que vai ser de fato,  mas sim, fazer coisa nova é a nossa maior vontade.

WM: Hoje quais são as principais influências da banda?

TM: Aí entramos em um tópico complexo, porque aonde a gente vai encontrar a intersecção entre nós, né? Acho que o grande desafio de compor as músicas novas é esse, porque cada um, ao longo desses anos, caminhou por estradas bem diversas, mas acho muito rico isso, essa pluralidade de influências, eu acho que pode resultar em algo único.

Nota do autor: Teco indicou o cantor e guitarrista malinês Ali Farkatouri, Candinho escolheu Aphex Twin, Gustavo citou a extinta banda Title Fight, Rodrigo foi de Dexter, lenda do rap nacional, enquanto Ale recomendou blink-182.

WM: Quais bandas vocês mais querem ver no Lollapalooza 2024?


Rancore: blink-182, Arcade Fire, The Offspring, Baiana System, Marcelo D2 e Dexter.

WM: Qual cidade vocês estão mais ansiosos para revisitar nessa turnê relâmpago?

TM:
A turnê começou semana passada em Florianópolis e Porto Alegre, ambas datas com ingressos esgotados, casa cheia, foi forte.  Mas também acendeu o que não é só a parte gostosinha de fazer turnê, turnê é uma coisa puxada, exige físico, exige concentração, exige paciência.

O Oxigênio Festival, os shows do Hangar 110 foram em São Paulo, então não teve todo esse lance de pegar avião, esperar, check-in no hotel, fazer passagem de som, dorme fora, ter que correr pra despachar malas e instrumentos para o avião, comer fora do horário… exige um preparo físico, emocional e espiritual também.

Mas para mim, de fato, o que mais faz valer a pena é que eu também tenho essa oportunidade enquanto eles estão desmontando os equipamentos, muitas vezes consigo ir na galera conversar com as pessoas. Gosto muito de fazer isso e você sentir mesmo a emoção das pessoas, a gratidão das pessoas, a felicidade, o choro, o riso, o abraço no fim do show, ver que você ajudou a proporcionar isso com algo que você acredita, no caso com a nossa música.

Isso é algo que para mim vale mais que qualquer cachê. Em cada lugar você notar as diferenças culturais, a riqueza cultural do nosso país, como cada público reage às mesmas músicas, mas acabam sendo diferentes pela interação do público. Você também ter essa oportunidade de viajar num país tão rico culturalmente quanto o Brasil e viver isso é sensacional, é um privilégio gigante, uma riqueza realmente imensurável.

WM: Qual o show mais marcante da adolescência de vocês, que fez virar a chavinha e brotar a vontade de ter uma banda?

Ale Iafelice:
Tenho um show bem marcante, que foi o primeiro show que fui ao Hangar 110, eu tinha 14 ou 15 anos e eu lembro que teve Zumbis do Espaço, teve Carbona que é uma banda do Rio de Janeiro, foi o primeiro moshpit da vida! Aquele momento foi muito marcante para mim,  então eu já adotei como um sonho estar ali naquele palco, sabe? Quero estar ali com a minha banda.

RC: A minha caminhada no rolê da música começou mesmo no circuito punk, inclusive frequentando o Hangar 110. Uma coisa que eu sempre achei interessante, talvez não tenha tanto a ver com a pergunta, mas é uma coisa que eu levo pra minha vida que tem a ver com o Rancore,  lá no Hangar 110 é um lugar que você fica muito próximo do artista e eu pude ver na cena punk que eu frequentei que o artista não estava num pedestal, que ele não era inalcançável, era uma pessoa que depois do show você podia chegar e trocar uma ideia…

Saber um pouco sobre a vida da pessoa, o que a pessoa gosta, o que a pessoa faz e eu acho que esse é um lance que o Rancore mantém até hoje (…) Mesmo a banda tendo crescido, acho muito difícil mesmo a gente se ver falando a respeito do nosso público e chamando o pessoal de fã. Essa é uma palavra que a gente pouco usa, a gente fala público porque para gente são pessoas que estão lá fazendo aquilo acontecer com a gente.

Candinho Uba: Para mim não foi um show, foi quando meu irmão começou a ensaiar com a primeira banda dele, que era também de punk/hardcore. Eu nunca tinha visto todo mundo tocando tão alto, todo mundo juntinho, eles tocavam direitinho e ali foi que fiquei muito impressionado, também pude ver que não era um super-herói músico, era o meu irmão, mesmo ele sendo um super-herói para mim.

TM:
Começou muito cedo para mim, eu sempre fui o cantor da apresentação da escola desde o maternal. Na minha escola que chamava Repolinho, eu era o que me vestia de cachorrinho e cantava, então desde criança sou o cara que canta. É uma coisa que já nasceu comigo, com 11 anos formei a minha primeira banda e para mim aquilo já era muito sério, eu já queria largar a escola, eu queria largar a escola, eu queria viver de banda!

Mas se teve algo que me marcou no começo da minha jornada, eu diria que foi a primeira vez que fui numa verdurada, que era o rolê dos straight edge. Era um negócio que era muito tradicional dessa cena punk/hardcore, mas voltado para o straight edge, fui com 15, 16 anos primeira vez que fui custava 2 reais para entrar e era muito agressivo mesmo sendo um lugar que ninguém bebia, ninguém usava droga, ninguém comia carne, o show era extra agressivo, agressividade total da plateia, do público e aí do nada parava e todo mundo sentava para ver um filme sobre veganismo.

WM:  O que os novos fãs de Rancore podem esperar dos shows da tour? Esses novos fãs que conheceram a banda pelo streaming e agora vão ter a primeira oportunidade de vivenciar a catarse que é estar em seu primeiro show do Rancore, o que elas podem esperar?

TM: 
Pode até parecer que estou vendendo peixe aqui, mas estou totalmente sincero. Acredito que o nosso show é muito mais legal, o que a gente deixou gravado em fonograma, é uma coisa pessoal, não sei se eles concordam, mas eu teria feito algumas coisas diferentes nos nossos discos.

Na época, fizemos o melhor que pudemos, o que a gente acreditava, mas a posteriori, eu acho que não representou tão bem o Rancore e a essência do Rancore. Acho que talvez ficou um pouco limpinho demais, assim. A gente é um pouco mais sujo, um pouco mais violento, eu acho mais visceral, e o show é onde se mostra isso, né? Então, de alguma certa maneira, é até legal, porque a pessoa, quando encontra o Rancore do show, encontra algo totalmente novo. E eu acho que uma banda, até nesse estilo, punk rock, hardcore, rock, né? Acho que a banda tem que ser melhor ao vivo do que no disco, para mim.

A pessoa que vai no show acaba se surpreendendo, porque também, não só por nossa causa, não só porque hoje somos melhores músicos do que éramos quando gravamos, temos mais experiência, e aquilo é ao vivo, né? Está acontecendo.

Mas também pelo público. A relação do público com o Rancore é muito diferenciada. A gente realmente tem uma simbiose ali, do artista com o público.

A gente não quer fã, a gente não quer ser influencer, a gente não quer ser celebridade. A gente é músico, a gente faz umas músicas, você gosta, mas a gente tem o nosso valor, assim como o bombeiro, assim como o faxineiro, assim como a cozinheira, como a jornalista, como a fotógrafa. Todos têm o seu valor, né? A gente não quer ficar nesse lugar de músico. Não somos especiais, a gente só faz um som.

Candinho Uba: Nesse ponto aí, do que o Teco falou, do show ser melhor… a palavra é meio forte, mas acho que até uma coisa que me motivou a voltar é que acho esse um pequeno fracasso da banda. A gente não conseguiu expressar, materializar o que a gente queria nos fonogramas, nas gravações, tão bem quanto a gente faz com os shows, né? Muito por falta de conhecimento.

TM: A ideia é essa. Mais até do que fazer essa tour e esse reencontro, se a gente consegue realmente eternizar o fonograma que realmente represente o que você falou, o que você viu no show. Essa coisa que arrepia mesmo, né? É um desafio grande.

O show é uma coisa e a gravação é outra. Mas acho que o Rancore merecia mesmo ser eternizado em um fonograma que representasse melhor a banda. Queremos fazer música nova, vai sair ou não, aí agora é o mistério do universo, né?

Como que a gente vai encontrar essa intersecção entre nós? Eu acho bem possível e todos estamos muito motivados para fazer acontecer. Então, agora, não vou prometer nada. Não antes de fazer.

WM: Tenho certeza que vai sair coisa nova! 

TM: Deus te ouça!

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