Texto e entrevista por Matheus Jacques

Não apenas um sólido nome do cenário brasileiro atual do doom metal, mas possivelmente um dos mais representativos grupos dentro da vertente e com ótimos materiais lançados, o quinteto mineiro Pesta vai pouco a pouco determinando a força de sua trajetória de forma ascendente.

Tendo como último full album Faith Bathed in Blood (2019) e como mais recente lançamento o excelente videoclipe da faixa “Antropophagic” (presente no mencionado álbum), o grupo nos concedeu essa entrevista a seguir. Acompanhem!

Pesta é formada por Thiago Cruz (vocal), Marcos Resende (guitarra), Daniel Rocha (guitarra), Anderson Vaca (baixo) e Flávio Freitas (bateria).

Matheus Jacques: Bem-vindos. Nos apresentem a Pesta, um pouco da história da banda e sua sonoridade e influências. 

Daniel Rocha: Fala, pessoal! Eu e o Anderson somos amigos de longuíssima data e, acho que lá pelo final de 2013, resolvemos sentar para fazer umas músicas autorais pensando a coisa como um projeto nosso só pra gravar um disco e dar fim às nossas frustrações com nossos projetos autorais (que datam desde nossa adolescência) que nunca foram pra frente. Mas acabou que a coisa foi dando certo e esse projeto acabou dando origem à banda Pesta. Inicialmente como um quarteto que gravou o EP Here She Comes (lançado no início de 2015) e depois, já com a atual formação (Eu, Anderson, Marcos, Flávio e Thiago), como um quinteto que gravou nossos dois álbuns completos: Bring Out Your Dead (2016) e Faith Bathed in Blood (2019).

Apesar da sonoridade da Pesta poder ser definida, de forma geral, como doom metal ou, como alguns preferem, stoner doom, nossas referências sonoras são mais variadas. Lógico que não tem como diminuir a influência que o Black Sabbath e bandas icônicas do doom metal como Trouble, Pentagram e Cathedral têm em nosso som. São bandas que nos introduziram no caminho da música pesada e arrastada. Mas tem muito de hard rock setentista e de bandas da NWOBHM no som da Pesta. O próprio vocal do Thiago Cruz dá uma “cara” muito setentista ao nosso som. Além disso, bebemos em outras referências que aparecem no nosso som, como muitas bandas de stoner rock e outros elementos que se aproximam de correntes mais pesadas do metal das “antigas” (tem umas pitadas de Celtic Frost e Sarcófago aqui e ali no nosso som). 

MJ: O lançamento mais recente da banda foi o videoclipe de “Anthropophagic”, faixa presente no segundo full álbum intitulado Faith Bathed in Blood. Qual o conceito e o contexto por trás da faixa e da gravação do vídeo?  

DR: “Anthropophagic” está integrada na temática geral do nosso disco Faith Bathed in Blood, que são os rituais que envolvem derramamento de sangue. Temas ligados à história das religiões, com seus mitos e rituais, são recorrentes nas letras da Pesta e, um pouco inspirados por um livro do René Girard chamado A violência e o sagrado, nós pensamos nessa temática geral para o álbum (que inclusive aparece no próprio título do disco). As letras da Pesta são todas escritas pelo Anderson Vaca (baixista) – nós só damos uns pitacos sobre temas e ideias gerais – e têm um caráter mais descritivo e histórico dos temas ou eventos que aborda. Anthropophagic entra um pouco no mundo, na história e na lógica dos rituais antropofágicos de algumas tribos, que inclusive fazem parte da própria história brasileira (o bispo Sardinha que o diga).

Marcos Resende: E o videoclipe foi construído dentro dessa temática, foi uma ideia que surgiu que nós achamos que dava pra trazer visualmente um pouco da carga dessa letra de uma forma visual, além de tudo “Anthropophagic” é uma de nossas faixas favoritas do álbum e durante a gravação já estávamos curtindo muito e gostamos demais do resultado, acho que ele atingiu as nossas expectativas e de quem nos acompanha também.

MJ: Com dois álbuns de estúdio na bagagem, nomes experientes do cenário mineiro de Metal e uma relevância crescente no cenário nacional de doom metal, a banda vem conquistando cada vez mais espaço dentro do underground nacional. Como vocês observam e analisam o desenvolvimento do segmento (stoner/doom) e a adesão do público em geral a esse campo? 

DR: Estamos vivendo, possivelmente, o melhor momento do doom metal nacional tanto em termos de qualidade quanto de quantidade de bandas. Lembro-me que na adolescência nos anos 1990 era uma coisa meio alienígena gostar de doom metal. O pessoal conhecia pouca coisa – alguns já ouviam Paradise Lost e sons mais numa linha doom/death – e tinha muito aquele papo de que doom metal seria muito “chato e parado”. Bandas pioneiras no estilo no Brasil, como The Cross, Serpent Rise e Mythological Cold Towers, já faziam doom metal da mais alta qualidade por aqui, mas o estilo ainda tinha um público muito restrito. Nos últimos anos temos sentido uma maior aceitação e interesse do público pelo som. Não saberia muito bem explicar as razões, mas acho que o destaque que bandas como Electric Wizard e a maior acessibilidade a novos sons via internet abriu as portas para novas gerações se interessarem tanto pelas novas bandas quanto pelas antigas.

Hoje em dia aqui no Brasil você tem bandas excelentes de norte a sul do país que fazem um som de qualidade internacional e não ficamos devendo nada às bandas gringas. Seria injustiça citar as bandas nacionais de destaque no estilo, mas, só para mencionar algumas com quem nós inclusive já dividimos os palcos, bandas como Son Of A Witch (RN), Erasy (BA), Unholy Outlaw (SP) e nossos conterrâneos do The Evil são bandas de doom metal de primeira linha.

MJ: A banda faz parte de um “time” ainda não muito grande, que abrange as bandas brasileiras de stoner/doom que lançaram material físico por selos estrangeiros. No caso de vocês, foi o primeiro full Bring Out Your Dead lançado em vinil pelo selo francês Black Farm Records. Como rolou isso?

MR: Sim, vencer essa barreira continental não é fácil para maior parte das bandas, o que vale pra Pesta também, e quando lançamos o Bring Out Your Dead havia este desejo é claro, na época fizemos alguns contatos, recebemos outros, mas nada que fosse de fato interessante pra banda, até que a Black Farm nos procurou quase um ano depois e demonstrou o interesse em fazer uma prensagem em vinil para ser lançado na Europa, a gente já conhecia uma das bandas do selo que era o Mephistofeles, banda que arrebentou muito com seu primeiro álbum, então iniciamos a conversa e foi o contato mais dinâmico e transparente que tivemos e em poucas semanas estava tudo resolvido, e foi incrível receber as 3 versões que saíram do vinil aqui em nossas mãos, o problema passou a ser outro, trazer algumas cópias pro Brasil era foda! (rs).

MJ: Dentro da história da banda, quais os principais acontecimentos que vocês poderiam apontar, fatos diferenciados, eventos e festivais marcantes e etc?  

DR: Lógico que compor as músicas é um lance muito gratificante, mas nós gostamos mesmo é de fazer um bom show e fazer parte de eventos e festivais bacanas. Já tivemos oportunidades de tocar em eventos sensacionais como o Dopesmoke Fest em Feira de Santana na Bahia onde dividimos o palco com Brujeria, The Mist, Erasy entre outras grandes bandas. Fizemos aberturas de alguns shows internacionais como Samsara Blues Experiment e Earthless, tocamos com bandas brasileiras das quais éramos fãs desde garotos como Ratos de Porão, Chakal e o próprio The Mist. Sempre procuramos nos divertir e entregar um bom show para o público. 

MJ: Para finalizar, gostaria que falasse um pouco do futuro pretendido para a banda, algum “spoiler” dos próximos planos e projetos, e que deixassem uma última mensagem. Obrigado! 

DR: Bom, nesse período da pandemia ficamos, infelizmente, muito parados em termos de ensaio e, logicamente, de shows. Aproveitamos para fazer o que era possível no contexto, como os vídeos, entrevistas e participação em eventos online. Já temos algum material novo para o próximo álbum, mas que precisa ser lapidado nos ensaios. Acho que lá por setembro já estaremos todos vacinados e a coisa vai começar a andar. Mas o projeto principal é tocar ao vivo! Estamos igual bicho enjaulado doido pra sair. Quando liberarem shows (com toda a segurança possível) nosso objetivo é rodar o país (e exterior também) para tirar o atraso!

Nós é que agradecemos pelo espaço aqui na Wikimetal, achem a Pesta nas redes sociais, nos streamings e em breve de volta aos shows!

Grande abraço! 

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