Formada em 1990, a banda sueca de death metal progressivo Opeth fará dois shows no Brasil em abril. O primeiro no Monsters of Rock, no Alianz Parque, dia 19, com Stratovarius, Savatage, Queensrÿche, Europe, Scorpions e Judas Priest. O segundo acontece no dia 21, no Espaço Unimed, com o Savatage.
O Opeth está divulgando seu mais novo álbum, The Last Will And Testament, o décimo quarto disco da banda. O álbum foi bem recebido pela crítica e pelos fãs. Lançado em novembro de 2024, o projeto conta a história de um patriarca muito rico e conservador que tem seu testamento lido e revela vários segredos da família.
O Wikimetal conversou com o guitarrista Fredrik Åkesson, que está na banda desde 2007 e já lançou seis álbuns de estúdio e dois ao vivo com o Opeth.
Confira a entrevista na íntegra:
Fredrik Åkesson do Opeth fala com o Wikimetal
Wikimetal: O Opeth tem uma base de fãs muito forte no Brasil. Como você descreveria a experiência de tocar para o público brasileiro, e quão importante é esta apresentação no Monsters of Rock para o Opeth?
Fredrik Åkesson: Nós nunca tocamos no Monsters of Rock antes, ou em outro festival de tamanha importância no Brasil. Quando criança, eu sonhava em tocar no Rock in Rio, que é provavelmente um dos maiores festivais do mundo. Já tive o prazer de tocar no Monsters of Rock antes, estive lá alguns anos atrás, talvez você não saiba, com o Candlemass. Então, toquei no Monsters of Rock com o Kiss como headliner, Scorpions também. Quem mais estava? Helloween, Doro, Symphony X… Eu substituí o Lars no Candlemass e toquei o show inteiro.
Portanto, será muito legal voltar ao Monsters of Rock dois anos depois, mas com minha banda principal dessa vez, o Opeth. Vi o estádio, e é muito grande, sabe? Para nós, é como dar um passo à frente. É uma boa maneira de alcançar muitas pessoas que não conhecem a banda. Temos uma oportunidade de tocar para um público maior do que estamos acostumados. É uma coisa boa. Estávamos discutindo sobre como temos uma hora de setlist e queremos mostrar vários lados da banda, escolher as músicas certas para criar todos os elementos que envolvem o Opeth para montar um ótimo show.
A importância do Monsters of Rock para o Opeth
WM: Como é para o Opeth dividir o palco com outras bandas lendárias como Judas Priest, Scorpions e Europe? Vocês têm algum tipo de relação ou história com as outras bandas que vão se apresentar no festival?
Fredrik Åkesson: Judas Priest é uma das melhores bandas pra mim, Scorpions também. E o Europe, eu venho da mesma vizinhança que eles. São dez anos mais velhos que eu, mas tive a sorte de tocar com John Norum, escrevi músicas para os discos solo dele, já fizemos várias jams tocando guitarra juntos, então somos grandes amigos.
E, claro, Joey está no nosso novo álbum também, então tem essa conexão sueca. É legal passar tempo com esses caras, são amigos nossos, claro. Mas tocar com o Judas Priest pra mim, é como… [Rob] Halford, sabe, ele é uma das grandes lendas do metal. É muita honra para nós tocar com essas bandas clássicas.
O setlist para os shows no Brasil
WM: Vocês estão preparando algo especial para o setlist no show do Brasil, considerando a importância do evento e do público brasileiro?
Fredrik Åkesson: Bem, já que nosso novo álbum, The Last Will and Testament, foi lançado e fizemos uma turnê de três semanas algumas semanas atrás e tocamos pelo menos quatro músicas do álbum novo, acho que vamos tocar pelo menos três músicas do novo disco. Mesmo tendo um setlist de uma hora, vamos tocar vários clássicos.
Começaremos a ensaiar na semana que vem e vamos tentar mapear o que achamos que se encaixa bem para esse show. Provavelmente tentaremos focar em um setlist intenso. Como nossos shows principais são shows longos e Mikael [Åkerfeldt] fala bastante – eu não o chamaria de comediante de stand up, mas às vezes ele fica relaxado no palco -, talvez tenhamos que compactar tudo um pouco nesses festivais porque temos essas coisas, mas com o Mike nunca se sabe. Ele pode falar muito ou não, vamos ver o que acontece.
A relação do Opeth com o Brasil
WM: O Opeth já tocou no Brasil antes. Vocês têm alguma história ou experiência memorável das suas visitas anteriores aqui? Como é a interação com os fãs brasileiros?
Fredrik Åkesson: Eles são sempre super legais. Nos apoiam bastante e nós gostamos muito, Lembro da última vez que tocamos aí, não me lembro o nome do local aí em São Paulo, mas lembro que pegamos o elevador do camarote, podíamos ver a fila sendo formada. Foi bem incrível ver quantas pessoas estavam lá, tinham vários cartazes. Você tem que se beliscar às vezes. [Uma hora] você está no metrô na Suécia e de repente você está em São Paulo vendo essa fila se formando, você não acredita que estão lá pra assistir seu show, então é muito inacreditável. Dessa vez estamos realmente ansiosos para fazer esse grande show, então é isso, espero que ocorra tudo bem.
Churrasco e Caipirinha
WM: Além dos shows, vocês têm algum interesse ou conexão com a cultura brasileira? Tipo, bebidas, comida ou até mesmo música?
Fredrik Åkesson: Ah, sim! Caipirinha é uma bebida brasileira, não é?
WM: Sim! É Brasileira. Com limão, gelo e cachaça.
Fredrik Åkesson: Eu gosto dessa. Cachaça, sim, com um camarão em cima. Tem também a “rascaria”, os restaurantes de carne, como se pronuncia?
WM: Churrascaria.
Fredrik Åkesson: Correto, churrascaria. Já fomos algumas vezes, mas não vou antes do show porque você mal consegue se mover depois de ir em restaurantes assim, é muita comida. É muito pesado, é algo que quando se pensa em Brasil, esses restaurantes são uma das coisas que se lembra, churrascaria. Mas eu nunca consegui viajar aí pra ver a natureza, e isso, é claro, é uma grande parte do Brasil. Espero que algum dia consiga. Também tem os animais perigosos.
WM: Vocês sempre estão aqui para shows e turnês, então nunca sobra tempo.
Fredrik Åkesson: Sim, é como um macaco em uma jaula, preso num quarto de hotel, apenas dizendo oi pra alguns fãs e indo em alguns restaurantes. É isso, sabe?
As participações de Joey Tempesta e Ian Anderson
WM: Como você mencionou, Joey Tempest, do Europe, participou do último álbum, assim como Ian Anderson. Como surgiu a ideia dessas colaborações?
Fredrik Åkesson: Joey estava almoçando na casa no Mikael e ele tinha essa sessão para a “Paragraph 2”, e ele pediu o Joey pra cantar um pouco, e desceram para o estúdio, e ele estava só gritando, na verdade cantou um pouco diferente do que está acostumado, Mikael disse. Na época a letra não estava terminada, então o Joey teve que gravar depois em seu estúdio em Londres, que é onde ele mora. E a idéia de Ian [Anderson]. Tentamos trazer ele antes, no álbum Heritage, mas ele não podia, e dessa vez o Mikael conhecia o filho dele que também é seu mentor, James. E essa foi a conexão, já que o novo álbum The Last Will And Testament é um álbum conceitual, Ian faz o papel do patriarca, do pai, as narrações que tem por todo o álbum é o pai na história.
Colaborações pro bono
Também todas as diferentes vozes, o vocal gutural do Mikael, o vocal limpo, são vocais mais teatrais, e os vocais do Joey também são do pai, basicamente, então… você sabe… para nós ter o Ian fazendo essas narrações, nem sabemos quando começou a funcionar os ensaios dessas músicas, foi algo que aconteceu um pouco depois. Pra nós foi uma combinação perfeita. Ter ele fazendo esse papel.
O Ian… ele nem cobrou por isso, ele fez de graça, Tempest também, disse: “não precisa”. E também o fato mais importante é que o Ian tocou um pouco de flauta no álbum, porque é incrível a forma que ele improvisa quando ele toca a flauta, é tão musical. Ele tocou flauta logo antes de eu tocar um solo em “Paragraph 4”, e quando gravei o solo, eu não sabia que ele iria gravar a flauta, isso foi um grande bônus, tive que beliscar meu braço, eu estou tocando um solo logo depois do Ian Anderson. (risadas)
O álbum mais recente
WM: The Last Will & Testament é um dos álbuns mais sombrios do Opeth. Vocês enfrentaram algum desafio durante a composição e gravação?
Fredrik Åkesson: Bem, nós voltamos para Rockfield, como sabe, pela terceira vez, que é um estúdio… estúdio residencial em País de Gales, é basicamente uma fazenda, é um bom ambiente para focar, sem distrações. Não, acho que… tudo… a bateria foi gravada bem antes, e eu adorei o som da bateria no estúdio, foi muito terreno, poderoso, bem distinto, não aquele som clicado do tipo de som moderno, que eu não… não sou muito fã, soa muito sintético pra mim. Mas… Quero dizer, tivemos pequenas discussões no estúdio, mas isso é natural, tudo pode ficar difícil nessas horas, mas acho que em geral, tudo fluiu bem na gravação.
A parte em que fiz alguns backing vocals, tive… está no documentário, algo com a minha voz, soava como (ruídos agudos), parecia uma maldição, do meu jeito, mas coisas assim são engraçadas, sabe? Mas acho que no geral foi uma gravação suave, mas fizemos nosso dever de casa direito antes, ensaiamos muito, todos sabiam suas partes, sabe? Acho que isso é muito importante, todos pegam suas responsabilidades e aprendem tudo, para que não tenha que pensar em suas partes no estúdio, tem que ter o mínimo de memória muscular no DNA, é um bom… é um bom conselho, para você focar mais em sons, sabe? Comparar diferentes tipos de tons, guitarras e seja lá o que for.
A inspiração para The Last Will & Testament
WM: Você pode falar sobre algumas das inspirações por trás desse álbum?
Fredrik Åkesson: Bem, o Mikael escreve a maioria das coisas, mas ele estava inspirado em argumentos em testamentos e desejos, com famílias muito ricas. Levemente inspirado por um série de TV chamada… como se chama mesmo? Uma família rica… Esqueci a palavra, mas de qualquer forma, coisas assim. O álbum não é realmente.. não é realmente sobre os argumentos, é mais o pai falando através de seu desejo e revela vários segredos para seus irmãos, e há muitas reviravoltas, coisas que eles não sabiam quando ele estava vivo, algumas coisas sombrias, sabe? Tinha roubos, traições de companheiros e uma nova… uma nova irmã que não sabiam, coisas assim. Ah.. Succession é o nome da série, lembrei.
O futuro do Opeth
WM: Depois dessa turnê e do sucesso de The Last Will and Testament, quais são os planos do Opeth para o futuro? Vocês já estão trabalhando em material novo?
Fredrik Åkesson: Não, na verdade não. Temos planos, mas esse ano está cheio de turnês, e uma parte do ano que vem também terá bastante turnê, então, diria que ano que vem, depois do verão, talvez, estaremos pensando em algo novo.
WM: O que você gostaria de dizer aos fãs brasileiros que estão ansiosos para ver o Opeth no Monsters of Rock?
Fredrik Åkesson: Bem, estamos ansiosos, e também faremos um segundo show com o Savatage, um show extra, que é muito legal, então estaremos aí para dois shows dessa vez no Brasil… Em São Paulo, esperamos ver vocês lá e vai ser muito emocionante sabe, tocar com essas lendas, Judas Priest, Scorpions Europe, Savatage e pra mim, voltando pela segunda vez, como disse. Dois anos atrás estava aí, sabe? E esperamos que muita gente vá nos ver, pessoas que nunca nos viram antes também.
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