No início de dezembro, o Macaco Bong lançou o Live Garage, seu nono álbum de estúdio, dessa vez com uma sonoridade diferente. Pesado e extremo, o trabalho é o Macaco Bong que poucas pessoas conheciam – é o que disse Bruno Kayapy, fundador, guitarrista, compositor e produtor do grupo, durante uma entrevista exclusiva ao Wikimetal.

Com apenas 5 músicas, mas 40 minutos de duração, Bruno, Igor Carvalho (baixo) e Marcus Fachini (bateria) se reinventaram, trazendo um som cru que em 2023, deve ganhar um segundo volume. A continuação do disco será composta por uma seleção de músicas de todo o catálogo da carreira da banda, regravados nesse mesmo formato que prioriza a energia “ao vivo”, e contando também com uma faixa inédita.

Confira na íntegra a conversa exclusiva com Bruno Kayapy, em que ele fala sobre a criação do álbum e suas influências, além de discorrer sobre política, um assunto primordial para ele e os colegas de banda.

Wikimetal: Vocês mudaram bastante o estilo nesse novo álbum, podem contar por que isso aconteceu agora e como aconteceu?

Bruno Kayapy: Foi algo bastante natural, a formação da banda com Igor Carvalho (baixo) e Marcus Fachini (bateria) contribuiu diretamente com a sonoridade deste álbum, crescemos juntos desde a nossa adolescência em Cuiabá ouvindo música pesada. Eu particularmente ia a muitos shows de metal nacional dessa época, foi meu berço musical durante toda a minha pré adolescência nos anos 90. Bandas como Krisiun, Headhunter D.C, Ophiolatry, Funeratus, Descerebration, Mystifier, Sarcófago, Sanatório, Rebaellium, Holder e muitas outras da geração do final dos anos 90.

O Live Garage é o Macaco Bong que sempre existiu mas pouquíssima gente conhecia, a gente não precisa se esforçar em nada pra fazer este tipo de sonoridade “mais pesada”, porque é algo que flui naturalmente, se a gente se plugar agora em um estúdio de ensaio nós vamos terminar o ensaio daqui a 3 horas com pelo menos uma música nova toda trabalhada nessa linha de som já com tudo desenhado e pronta! pra tocar isso aí a gente não precisa ser racional no sentido de tentar raciocinar musicalmente para chegarmos neste resultado. O Live Garage é nada mais, nada menos do que o Macaco Bong sendo o Macaco Bong com o DNA dela de sempre.

WM: Quais foram as inspirações para esse álbum?

BK: O Macaco Bong! A história da própria banda foi a minha grande inspiração para este disco. Toda a história dela, tudo o que ela viveu, tudo o que ela é hoje, este misto de sentimentos que ela provoca… Faz jus a porrada sonora que é esta nova sonoridade do Macaco Bong. A banda só tomou paulada a vida toda… e deu nisso.

WM: Compor e gravar esse álbum foi diferente para vocês em algum sentido? Se sim, como?

BK: Foi uma delícia! Jogamos fácil, fluiu tudo como água, a gente já tinha tudo muito definido o que fazer. Gravar o Macaco Bong é muito divertido do ponto de vista do produtor e do ponto de vista artístico internamente falando, hoje em dia é um ambiente super leve, saudável e inspirador entre todos os envolvidos no processo todo de maneira geral, o nosso único problema é quando os três acordam com o [Marcelo] Adnet encarnado no corpo, é tanta risada que o dia não rende nada, mas na maior parte do tempo a gente está sempre muito focado, zero tensões no ar, sem pressão externa nenhuma, só vibe boa. O álbum foi gravado em 7 dias e mixado em 7 dias. Em questão de duas semanas o álbum já estava pronto.

WM: Existe um tema por trás das faixas? Se sim, poderia explicar?

BK: “Carranca” [primeira faixa do álbum] é no sentido de quando a gente precisa se proteger de maus olhares da inveja alheia e principalmente evitar gente ruim cruzando o seu caminho. “Uveíte” é uma doença rara na visão, eu tive uveíte no meu olho esquerdo quando eu tinha 8 anos de idade e quase fiquei cego dos dois olhos. “Vá” não tem muito o que explicar né? “Trabalho Forçado” é um título que pra mim resume muito bem quem somos nós…”É” fala sobre a entrega de si por alguma causa, se jogar de cabeça naquilo que você mais ama fazer, é um só pra dar um gás na peruca, pra mim é aquela situação de focar em você.

WM: Como tem sido a recepção dos fãs com o álbum?

BK: No streaming o feedback está excelente, tem tudo para ser um dos nossos grandes álbuns. Consigo notar a alegria de alguns fãs dando um feedback pra gente dizendo que estão amando o disco novo e nos agradecendo por estarmos devolvendo a eles tudo aquilo que sempre desejaram ouvir e ver a banda fazendo e isso é muito gratificante para nós, está sendo maravilhoso o feedback do Live Garage.

WM: Vejo o Macaco bong como uma banda politizada. Como vocês enxergam a música de vocês nesse cenário?

BK: Não acho que o Macaco Bong seja uma banda politizada, ela apenas defende os seus princípios relacionados à respeitar uma democracia, ter caráter de bom senso humano, social, cultural e ambiental.

Acho que princípios é um item básico na evolução de uma pessoa ou de um grupo. As bandas falam de amor, teorias de conspiração, romance, suspense…o Macaco Bong faz diferente, as nossas músicas só falam sobre o expurgo alheio da sociedade. A gente está longe desse burburinho de narrativa politizada.

Ao meu ver uma pessoa pode ser de esquerda ou de direita desde que ela defenda seus princípios morais e éticos com viés democráticos sem incitar o golpismo, o discurso de ódio e a violência. O fascista não tem lado, ele não é de direita, nem de esquerda e nem do centro, ele é fascista com princípios antidemocráticos e ponto final, isso resume o que é essa tirania que incita o ódio e a violência na sociedade o que acaba deturpando valores que são de extrema importância para uma democracia na minha opinião. Ser de direita ao meu ver não significa que a pessoa seja bolsonarista, e ser de esquerda não faz da pessoa uma simpatizante da KGB ou do Kim Jong-un, já o fascista é sempre fascista… se ele for de direita, de esquerda, artista, caminhoneiro, médico, jornalista, vendedor ou vereador, ele será sempre fascista em qualquer uma das ocasiões, o caráter de um fascista nunca muda e não o define se essa pessoa for de direita ou de esquerda, porque ela é fascista! por isso pra mim o fascista não tem lado, todo fascista é um imbecil e ponto…

Da mesma forma que há sim pessoas que se dizem ser da esquerda e idolatram o que foi a união soviética, existe também aqueles que se dizem ser de direita e que se simpatizam com o nazismo o que para mim os dois casos são absolutamente sem noção e igualmente idiotas. Eu acredito na democracia, pessoas que pensam diferente mas que acima de tudo tem respeito pela vida, pessoas que não são negacionistas, e que compartilham o conhecimento, a compaixão, o amor e a paz com outro, divergir politicamente desde que o debate seja em âmbitos democráticos é algo maravilhoso para uma sociedade.

Nós do Macaco Bong não somos do tipo de cara que chega em um lugar e fica debatendo com os outros sobre política. O fascismo tupiniquim sempre esteve aí, ele só não tinha rótulo e nem um nome para ser chamado, agora ele tem nome e pessoas que se sentem representadas por este discurso que incita o ódio. Política pra mim é dialogar, compor em conjunto e ocupar espaços em prol de melhorias.

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Jornalista musical há 8 anos, é editora do Wikimetal, onde une suas duas grandes paixões: música e escrita. Acredita que a música pesada merece estar em todos os lugares e busca tornar isso realidade. Slipknot, Evanescence e Bring Me The Horizon não podem faltar na sua playlist.