Eu escrevi o riff de Black Dog atrás de um bilhete de trem, que infelizmente não tenho mais”

Nando Machado: O disco começa com Good Times, Bad Times, a primeira faixa do lado A do primeiro disco do Led Zeppelin. Essa música praticamente nunca foi tocada ao vivo; eu queria que o Jimmy Page falasse um pouco mais sobre a escolha dessa música pra abrir o show.

Jimmy Page: Nós não tocamos ela ao vivo. Devemos ter tocado, mas curiosamente não me lembro de tê-la na lista. Certamente foi uma das primeiras do album, nós pensamos “vamos pegar essa”, pois nos tempos de vinil nós tocávamos a primeira música. Eu só queria chamar a atenção das pessoas com esta primeira música.

Robert Plant: Eu não acho que a forma da banda, mesmo no começo, foi baseada em uma música de três minutos. E por mais que fosse uma música efetiva e concisa, com começo e fim, era uma música; não foi parte da trama que um show do Led Zeppelin deveria ser. Acho que a ideia de extensão musical e da dinâmica do Zeppelin nos shows era muito mais intensa do que esta música permitiria.

LZ (JP): Sim, foi uma boa escolha como primeira música. Você tem que entender que nós queríamos que as pessoas soubessem que estávamos falando sério, que dissessem “realmente preciso ouvir o que vem em seguida”.

Dick Carruthers: A banda foi tudo. Claro, eu pude dirigir o filme e isso foi uma honra e privilégio, mas a performance foi deles, o filme foi deles e isso que faz deste filme incrível, é o que eles fizeram naquela noite, eles se juntaram e fizeram. Foi meu trabalho capturar o que aconteceu e representar isso e gosto de pensar que cumpri meu dever.

LZ (RP): Eu nunca esperava ver esse filme. Dois anos depois eu dei uma espiada, mas saí correndo, pois era uma responsabilidade enorme, tentar competir com um passado tão incrível.

Daniel Dystyler: Do histórico disco Led Zeppelin IV eles tocaram 4 músicas no Celebration Day, eles escolheram 4 músicas do Led Zeppelin IV e uma delas é Black Dog. É uma música que eu adoro e é uma música que tem variações no tempo enormes, é difícil de tocar, ela varia um monte de coisas. E o John Paul Jones que fez essa música e na época falava-se muito que essa música foi feita pra desencorajar as pessoas a dançarem. Então eu queria que o John Paul Jones falasse um pouco sobre isso.

John Paul Jones: É, isso é um mito. Ela é basicamente o jeito que eu penso, estes riffs. Eu a escrevi voltando de um ensaio na casa do Jimmy, no trem. Meu pai era músico e ele me ensinou a escrever notações em qualquer coisa, então escrevi o riff de Black Dog atrás de um bilhete de trem, que infelizmente não tenho mais.

WM (NM): O Led Zeppelin também fez questão de gravar nesse Celebration Day a épica Stairway to Heaven, um dos grandes clássicos da história do Rock e inclusive essa música já foi gravada inúmeras vezes.

WM (DD): Covers, né?

WM (NM): Foram regravadas versões dessa música inúmeras vezes, inclusive pela Dolly Parton e pelo Rolf Harris.

LZ (JP): Eu ouvi a versão do Rolf Harris. Plant e eu estávamos na turnê Page-Plant e fomos para a Austrália e fizemos o programa do Andrew Denton. Ele disse aos convidados “vocês podem fazer o que quiserem, contanto que seja Stairway to Heaven” e eu eventualmente ouvi todas as diferentes versões e achei brilhante.

Rafael Masini: Bom, coube a mim fazer a pergunta mais importante que alguém já poderia ter feito na história da humanidade Rock n’ Roll para o Led Zeppelin. Robert, fala pra mim, só pra mim, como você criou o grande clássico Stairway to Heaven?

LZ (RP): Quem sabe o que estávamos pensando naquele momento? Na verdade não tenho ideia do que estávamos pensando, exceto que foi um grande avanço na parte de construção, musicalmente. Foi um trabalho árduo para mim e Jimmy. Acho que ele já tinha uma ideia encaminhada e foi um grande avanço para os nossos padrões. Mas os discos Led Zeppelin I, II e III antes disso já mostravam que havia flexibilidade entre nós. Naqueles tempos, você poder se mover através de esferas…Acho que pensamos que não era o caso de gritar “olha isso, isso é incrível”, só era um momento diferente para nós. E você nunca sabe o que está fazendo, quem sabe você poderia estar escrevendo um pequeno livro e poderia se transformar em um Paulo Coelho, quem sabe? Você nunca sabe o que vai acontecer, só pensa “isso é bom, vamos fazer isso agora, não temos nada a perder”. Então, não perdemos nada.

WM (DD): Bom, todo mundo sabe que em 1980 teve a enorme tragédia que levou o John Bonham embora e com isso o Led Zeppelin, de uma forma muito compreensível pra nós, decidiu terminar a banda. E naquela época o Jason, filho do John, tinha 14 anos e 15 anos depois ele teve a honra de representar o pai quando o Led Zeppelin foi induzido pra dentro do Rock n’ Roll Hall of Fame e também acho que foi a escolha natural eles terem trazido o Jason pra tocar junto com os três lendários – Plant, Page e Jones – nessa festa, nesse Celebration Day, que aconteceu em 2007 no O2 Arena. Então queria que eles falassem um pouquinho sobre isso, sobre a escolha de Jason Bonham na bateria pra substituir o pai dele.

LZ (JP): Jason tinha o trabalho mais difícil, pois ele tinha que suprir as maiores expectativas, devido a reputação do seu pai. Então era importante que ele soubesse que tinha nossa confiança também.

Não se esperava que uma banda conseguisse fazer isso, naquela época, poder tocar algo para seu próprio prazer”

LZ (JPJ): Essa é uma cadeira difícil de preencher. Todas aqueles que vieram antes, sem mencionar todos os bateristas do mundo, que estavam pensando “poderia ter sido eu”. Mas ele foi inestimável através de todo o processo, ele tinha conhecimento acadêmico de tudo o que já tínhamos feito. Ele cresceu ouvindo, analisando e amando a música do pai e do Zeppelin, então ele sabia tudo, as letras, tudo. E nos ensaios às vezes nos perguntávamos como aquela música terminava, pois dependendo do set list o final era diferente, e Jason dizia “em 1971 vocês tocaram deste jeito, mas em 73 fizeram algo diferente, desse jeito”. Então ele tem todo o conhecimento, ele era como o Google da banda.

WM (NM): Além do enorme talento como baterista, Jason Bonham também fez backing vocals pro Led Zeppelin no Celebration Day, vamos ouvir como ficaram Misty Mountain Hall.

WM (NM): Em Celebration Day fica claro ver uma coisa, nenhuma banda nunca chegou ao nível musical, ao nível de performance ao vivo que o Led Zeppelin conseguiu. Vou perguntar pro Robert Plant se isso na época foi planejado ou se aconteceu naturalmente.

LZ (RP): Acho que isso foi natural e foi uma característica bastante surpreendente e interessante que se desenvolveu. Mas desde o começo o Jimmy dramatizava e usava interlúdios, sempre tinha uma justaposição fantástica que não era como o Rock n’ Roll direto e reto.

WM (RM): Dani, você já ouviu falar do que o pessoal acha o melhor disco – bom, tem muita polêmica do melhor disco do Led Zeppelin – você já ouviu falar que “Physical Graffiti” é o melhor disco?

WM (DD): Já ouvi muita gente falar isso, eu prefiro o “Led Zeppelin IV”, como o maior disco da história deles, mas o “Physical Graffiti”? É um páreo duro e muita gente fala que é o melhor disco mesmo.

WM (RM): Você acha isso também, Fernando Machado?

WM (NM): Eu acho que o “Physical Graffiti” é o melhor disco do Led Zeppelin, é o meu preferido. Mas gosto de todos.

WM (RM): Como todo mundo fala isso, tem muita gente nessa vertente, vamos ouvir dos próprios membros do Led Zeppelin o que eles acham.

WM (DD): Vamos trazer o Jimmy Page pro papo.

LZ (JP): O que o “Physical Graffiti” ilustrava era uma banda em formação. Se você ouve tudo que está acontecendo no álbum vê que existe um trabalho intenso, como em Kashmir, mas também tem Boogie with Stu, que é um momento mais leve, em que Stuart começa a tocar este piano impossível de ser tocado e é um momento mágico. Não se esperava que uma banda conseguisse fazer isso, naquela época, poder tocar algo para seu próprio prazer, pois tudo parece tão regrado quando ouvimos. Nós estávamos nos divertindo, você consegue ouvir isso no “Physical Graffiti”.

WM (DD): Coincidentemente, tanto o Jimmy Page como o Robert Plant também se apaixonaram pelos sons que vieram da parte norte da África, nas carreiras solo deles eles usaram bastante esses elementos. Vou pedir pra eles falarem um pouco sobre isso, que também tem a ver com esse tipo de som que o Led Zeppelin fazia nessa época.

LZ (RP): Jimmy e eu viajamos extensivamente pelo Saara, pelas montanhas Atlas do Marrocos e pela Índia – nós gravamos na Índia. Nós nos forçamos um pouco e forçamos nossa vida social entre as turnês, forçamos nossa habilidade de encontrar novas influências que afetassem a música em geral. Musicalmente nossa criatividade conseguiu criar o que vemos em Kashmir.

WM (NM): Bom, o Led Zeppelin ficou famoso porque a banda realmente tinha excelente músicos, excelentes compositores e tinha um show que era inigualável.

WM (DD): Ao vivo não tinha pra ninguém.

WM (NM): Isso fica claro também no Celebration Day de 2007. Eu queria saber deles como eles revolucionaram todas as técnicas de gravação em studio, o que fica claro nessa música Whole Lotta Love.

LZ (JP): Naquela época era tudo analógico, ainda não havia o formato digital. E o que podia ser feito era com fitas, com “phasing” e “flanging”, isso estava realmente na vanguarda das técnicas de gravação.

WM (DD): E uma coisa que fica muito clara assistindo Celebration Day é a alegria, a energia, como eles estão felizes no palco. É uma coisa que transparece demais no filme, é uma coisa que não dá pra fingir. Então queria perguntar pro Jimmy que ele falasse um pouco sobre essa alegria que eles estavam no palco, principalmente na Whole Lotta Love fica muito claro isso.

LZ (JP): Isso era honestamente o que aconteceu. Eu sempre gosto muito de tocar, sempre gostei, mas aquilo foi realmente algo especial. Quando chegamos em Whole Lotta Love já faltava pouco, já tínhamos feito Stairway e Kashmir. Sim, foi bom, foi divertido e isso é infeccioso.

WM (RM): Bom, eu não sei se vocês sabem, mas eu gostaria de dividir com vocês um WikiRafael.

WM (DD): Divida, Rafael.

WM (RM): O Led Zeppelin existiu por 12 anos, fez 9 discos, 1 filme e (pasmem) 26 turnês. Agora que vocês sabem, vou pedir pra um deles, conta aí pra esses meninos um pouco sobre isso.

LZ (JPJ): Sim e agora temos um DVD. Mas foram 12 anos extremamente importante, eu devo dizer, 12 anos dos quais tenho muito orgulho.

Este é um princípio que foi herdado com o Led Zeppelin e nunca falhou, aquele de que não tínhamos que competir com ninguém, não tinha nada a fazer a não ser fazer nosso melhor.”

WM (DD): Diferente do que aconteceu com outras bandas da mesma época do Led Zeppelin, eles conseguiram evitar de serem vítimas do próprio sucesso, do crescimento da banda, então eu peço pra eles falarem um pouquinho sobre isso.

LZ (RP): Acho que o Led Zeppelin escapou desta armadilha porque acabamos quando acabamos. E sempre se perguntavam se os grupos daquela época continuariam ou não. Foi natural que tivéssemos um auge e acabasse. O que não esperávamos era que continuaria de uma maneira ou de outra, que mudaria de cores e formas e se tornaria algo além de seu tempo. Isso é algo para se maravilhar. E acho que este é um princípio que foi herdado com o Led Zeppelin e nunca falhou, aquele de que não tínhamos que competir com ninguém, não tinha nada a fazer a não ser fazer nosso melhor.

WM (NM): Bom, essa reunião do Led Zeppelin em 2007 muitas vezes pra banda pode ter parecido que foi o encerramento de um ciclo, o fim de um capítulo, o fim de uma era. Queria que eles falassem um pouco sobre como eles se sentiram, se eles ficaram um pouco tristes com isso ou se realmente foi um alívio pra eles terem terminado esse ciclo. Como é que foi isso pra vocês?

LZ (RP): Bom, eu acho que para mim, foi como um compositor de letras e também como o membro de uma família, quase laços familiares. Eu queria que algo fosse feito, queria que Pat Bonham sentisse orgulho de seu filho, e todos amávamos Ahmet. Ahmet tinha se machucado em um show, ele caiu em um show do Rolling Stones e nunca retomou a consciência. Havia coisas acontecendo naquele momento e aquele show na Arena O2 ia ter Rolling Stones, Clapton e até Cream. Tudo mudou e nós sobramos. Nós tínhamos concordado em fazer o show, nós concordamos que iríamos tentar. Então ensaiamos e tentamos e dissemos “talvez a gente ainda possa revisitar nossa música com algum poder e dignidade”, ou o que quer que fosse, pois não somos mais os caras que éramos. Nós finalmente fizemos o que tentamos no Live 8 e no Atlantic 40th, nós fizemos algo que foi além do que pensávamos que poderíamos. Fazer parte do Led Zeppelin não é uma coisa de uma noite, você tem que entrar profundamente, você tem que revisitá-lo para não perder o que tinha, pois não é só colocar uma jaqueta. A grande importância da música não é algo em que você investe, como um fim de semana. Foi realmente incrível.

WM (RM): E todos os membros da banda nesse histórico show resolveram terminar com Rock & Roll e até o grande Jimmy Page concordou com isso. Não é isso, Jimmy?

LZ (JP): Sim, absolutamente, pois fazia muito tempo que não fazíamos Rock n Roll e a maioria das pessoas pensou “eles vão abrir o show com essa música”. Não, nós fechamos com ela, pois resume tudo. Foi divertido, tudo tinha que ser divertido. Tínhamos que passar por diversos humores e emoções, mas tinha que acabar em algo divertido.

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Categorias: Entrevistas

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