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Jairo Guedz, do The Troops of Doom

Jairo Guedz, do The Troops of Doom. Crédito: Reprodução/Instagram

Entrevista: Jairo Guedz comenta sobre novo disco do The Troops of Doom, Summer Breeze Brasil e mais

Lendário guitarrista falou sobre composições, influências de outras bandas e mais

Reconhecido como uma lenda no metal nacional e internacional, Jairo “Tormentor” Guedz tem um background forte, tendo participado dos primeiros álbuns do Sepultura, tocado com o The Mist, o Eminence, entre outros. Seu nome é sinônimo de técnica, brutalidade e muita garra entre os apreciadores do gênero.

Sua nova banda, o The Troops of Doom, está há um tempo na ativa, e conta com dois álbuns completos, Antichrist Reborn (2022) e A Mass to The Grotesque, sendo esse o trabalho mais recente, lançado em maio deste ano, e que vem recebendo críticas positivas da mídia especializada nacional e internacional.

Em entrevista ao Wikimetal, o músico falou sobre o lançamento desse novo trabalho, suas influências na hora de composição, a participação no festival Summer Breeze Brasil desse ano e os próximos shows da banda. Confira a entrevista na íntegra:

Wikimetal: Gostaria de começar agradecendo pelo tempo concedido e dizer que sou um grande fã da banda.

Jairo Guedz: É um prazer para mim, Lucas. Obrigado a você pelo espaço.

WM: O The Troops of Doom está lançando o segundo disco, A Mass To The Grotesque. Como está sendo a recepção desse novo trabalho e a expectativa de vocês?

JG: Nossa expectativa era grande, mas confesso que estamos até surpresos com o retorno da crítica e do público. Esse álbum está sendo considerado por vários meios de comunicação e mídia “um dos melhores lançamentos de 2024” e não apenas quando tratam de bandas e lançamentos do Brasil. Estamos surpresos, mas muito orgulhosos desse trabalho.

WM: As músicas seguem o que vimos no álbum anterior, Antichrist Reborn (2022), com foco no death metal old school. Porém, são notáveis as influências do thrash metal presente em cada uma. O que poderia nos contar sobre essa mistura de estilos e o processo de composição delas?

JG: Nós arriscamos um pouco mais, eu acredito. Deixamos nossas ideias fluírem mais soltas durante o processo de composição desse álbum. Ao invés de nos preocupar tanto com o caminho a seguir dentro de nossas influências, eu acredito que demos mais espaço pra nossa própria assinatura. Esse álbum já tem uma personalidade de cada um da banda dentro dele. Talvez por isso seja perceptível alguma evolução neste sentido. Uma identidade própria da banda em meio à toda influência que temos!

WM: O disco possui duas faixas com tempos de duração maiores (“Dawn of Mephisto” com 6:11 minutos e “Psalm 7:8 – God of Bizarre” com 8:09 minutos). A banda resolveu arriscar compondo músicas mais longas ou foi algo que aconteceu naturalmente e vocês resolveram mantê-las assim?

JG: Aconteceu naturalmente e ao mesmo tempo não nos limitamos ao tempo de cada música ou no fato de criar algo mais “conceitual” para esse disco. As músicas não são grandes por se repetirem ou por acaso… elas precisavam se desenvolver e se tornaram músicas maiores mesmo. Naturalmente. Não era uma opção nossa cortar algo.

WM: As músicas mantém o foco em temas mais sombrios, como na faixa “Chapels of The Unholy”, que fala sobre um ritual com velas negras e invocações. A inspiração para compor assim vem de algo em específico ou faz parte da busca da banda em fazer o metal mau novamente?

JG: Esse “mote”, “Make Metal Evil Again”, não está atrelado apenas à ideia das letras da banda, mas também se destina a isso. Temos bandas demais fazendo metal voltado para as questões do ser humano, depressões, suicídio, tristeza, revolta, etc… e bandas demais falando de política, etc. Gostamos de falar da igreja e de como as religiões e seu “clero” sempre estiveram envolvidos na política, nas decisões que mudaram o mundo (a maioria das vezes pra pior).

Eu sou ateu. Para mim, não existe Deus e nem Diabo. Por isso uso o demônio e seus “ornamentos” como arma, contra os próprios criadores desses ornamentos e figuras desprezíveis e aterrorizantes, que servem de controle e castigo para os seus fieis. Se a igreja tivesse inventado e transformado o Walt Disney no mau e no maior inimigo da própria igreja, tenha certeza de que estaríamos cantando sobre o Mickey, o Pateta e o Pluto hoje.

WM: Gostaria de destacar mais duas faixas: “The Impostor King” e “Faithless Requiem”. A primeira parece ter uma grande influência do black metal, enquanto a segunda (para mim) é uma das músicas mais pesadas do disco. O que poderia nos falar sobre essas duas composições?

JG: São músicas que, mesmo tendo diferentes influências das demais, ainda assim completam essa engrenagem que forma o álbum com muita naturalidade e sentido. Não sinto que elas se destacam demais das restantes, pois todas têm um pouco de cada um de nós da banda. Talvez essas duas tenham mais “a mão” do Marcelo Vasco [(guitarrista]) do que dos demais músicos… acontece muito isso – alguém traz uma ideia e a composição toma um rumo que segue uma influência natural de um ou de outro.

Marcelo sempre teve um tempero do black metal sueco e norueguês muito mais presente do que eu. O que não quer dizer que eu não goste disso também. Eu tenho uma pegada mais Slayer, Celtic Frost e de música melancólica também… acho que no fim de todo o processo a gente se completa bem musicalmente.

WM: Mesmo com veteranos da cena fazendo parte da banda, vocês ainda sofrem influência de outras bandas em seu trabalho? Se sim, quais seriam?

JG: Sim, muito! Acho que no The Troops of Doom todos carregam as mesmas velhas influências de sempre, desde os anos 80. Eu e Marcelo, quando estamos escrevendo algo novo, sempre comentamos no final que aquilo tá mais para banda X ou para banda Y, e essas bandas são sempre aquelas mesmas que amávamos lá atrás, nos anos 80 ou 90. Tudo que a gente ouvia nos anos 80 e 90 ainda está pulsando dentro de nós. São raros os exemplos mais modernos, de 2000 pra cá…

WM: Para vocês, como foi trabalhar com o lendário Jim Morris (que já trabalhou com Death, Morbid Angel, Cannibal Corpse, Deicide), do Morrisound Recording, que fez a mixagem e a masterização do novo álbum?

JG: O Jim foi sensacional. Um cara lendário e muito sério. Ele nos mandou uma prévia da mix e perguntou se aquele era o caminho. Tava foda, mas tudo um pouco moderno, comprimido, limpo… e pedimos pra ele seguir o mesmo caminho que ele estava acostumado com as bandas dos anos 80/90 que ele havia trabalhado.

Queríamos aquela crueza, aquela sujeira natural, sem “limpar” demais as pausas. Pedimos para ele deixar o mais próximo de um “ensaio” ao vivo. E na segunda prévia o disco estava pronto! Definido! O cara é um monstro!

WM: Outro nome conhecido que vocês trabalharam foi Dan Seagrave, que fez uma linda capa para o disco. O que poderia nos contar sobre essa parceria?

JG: Dan Seagrave era um sonho de adolescente. Sempre quis trabalhar com ele e nunca estive em uma banda que justificasse a identidade do trabalho dele. Marcelo Vasco também é grande fã do cara (os dois são artistas plásticos e trabalham com bandas de metal extremo) e ele falava da possibilidade da gente usar o Dan em algum álbum nosso. Acho que tivemos a sorte do Dan ter essa agenda livre para aquele período, e a sorte da gravadora nos dar um budget que pudesse cobrir essa despesa.

Estamos muito felizes com mais essa conquista para a banda. Uma capa sensacional do Dan Seagrave. Ele perguntou apenas qual era a ideia do álbum e a paleta de cores. Queríamos usar o Capiroto (demônio usado pelo Sepultura nos dois primeiros álbuns e pelo The Troops of Doom em todos os álbuns até o momento) apenas como um dos demais detalhes da capa, e não mais como o protagonista da arte do álbum.

WM: O The Troops of Doom já está há um tempo na ativa, e vem conquistando cada vez mais espaço no cenário nacional e internacional. Como você vê esse período até aqui?

JG: Completamos quatro anos de banda agora em março de 2024. Lançamos três EPs e dois Full Albums até esse momento. Fizemos dezenas de shows e uma turnê pela América do Sul e Brasil com o I Am Morbid. Tocamos em festivais de grande porte e relevância como Abril Pro Rock, Summer Breeze, etc.

Desses quatro anos, ficamos dois anos parados quase, em função da pandemia… Não tem como não enxergar esse período com olhos de muito orgulho e satisfação! Estamos muito felizes e realizados, tanto com o nosso esforço e trabalho duro, quanto com o feedback que temos recebido todos os dias!

WM: A banda teve a oportunidade de tocar na segunda edição do Summer Breeze Brasil que aconteceu esse ano. Qual a sensação de participar de um festival assim e o que poderia nos contar sobre a apresentação?

JG: Ser escalado para a última noite do Summer Breeze e ainda ser headliner de um dos palcos foi uma surpresa maravilhosa! Claro que tocar entre dois shows de bandas gigantes e aguardadas por todos que estavam lá não é tarefa fácil (risos).

Nosso show começou antes mesmo do show do Anthrax terminar, e logo depois que começamos nosso set, o Mercyful Fate entrou no outro palco. Uma galera deixou de ver nosso show por conta disso, e entendemos isso! Mas é um grande orgulho para nós termos sido convidados para ser parte dessa festa extremamente importante para o metal nacional! Todos que estavam lá, tocando, trabalhando, merecem todo o respeito de todos!

WM: Vocês irão fazer uma turnê na Europa a partir de agosto. O que poderia nos contar sobre essas apresentações e qual a expectativa para esse shows?

JG: Estaremos fazendo nossa primeira tour pela Europa em agosto. De 01 à 26 de agosto faremos 21 shows em sete países: Alemanha, Polônia, Holanda, Bélgica, França, Espanha e Portugal. Faremos três festivais e alguns shows menores também. Estamos super felizes com essa possibilidade e acreditamos que muitas portas vão se abrir pra banda depois disso… vai ser muito bacana!

WM: Além dessa turnê, quais são os planos futuros da banda agora que o novo disco foi lançado?

JG: Antes da turnê de agosto pela Europa, nós faremos dois shows em São Paulo e interior. Dia Mundial do Rock (13 de julho) tocamos no La Iglesia em São Paulo, capital, e dia 14/07 no Araraquara Rock Fest. Em novembro, vamos abrir dois shows da banda de death metal Asphyx. E estamos fechando outras datas pelo Brasil também.

WM: Gostaria de agradecer novamente pelo tempo e atenção e desejo muito sucesso a todos. Gostaria de deixar uma mensagem final para os fãs?

JG: Eu que agradeço pelo espaço meu velho! Espero poder ver todos nos shows durante os próximos meses! Sigam o The Troops of Doom nas redes sociais e caso queiram nos ver em sua cidade ou estado, peçam aos produtores locais para entrar em contato conosco. Será um prazer tocar em cada canto desse país! Grande abraço a todos!

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