Texto e entrevista por Matheus Jacques
Do hardcore e rock alternativo ao doom, experimentando com diversas sonoridades, Flávio Cavichioli tem marcado seu nome em bandas representativas do underground brasileiro.
O baterista, com passagem por banda como Pin-Ups e Forgotten Boys, e atualmente na Weedevil, conversou com o Wikimetal sobre essa trajetória e a nova banda. Confira a entrevista na íntegra!
Wikimetal: Salve, Flávio! Prazer estar trocando essa ideia contigo sobre seus trabalhos. Gostaria que você fizesse uma pequena apresentação pro pessoal, se possível.
Flávio Cavichioli: Salve, Matheus. Eu que agradeço pela oportunidade. Bom, vamos lá: pra quem não me conhece, sou o baterista e fundador da Weedevil, marido da Lua, pai do Andrews e do Iggy, geminiano, apreciador da Cannabis, fã de Black Sabbath e por aí vai [risos]
WM: Em que momento e com quais perspectivas você iniciou o lance de tocar bateria, de onde veio o gosto pelo instrumento? Você tem uma inspiração familiar ou os fatores foram mais externos e menos próximos
FC: A minha relação com a bateria vem desde cedo. Meu pai era baterista e desde criança sempre me apoiou e me incentivou, mas fui ter minha primeira bateria lá pela metade dos anos 80, uma taiko caramuru igualzinha a que o Iggor Cavalera está usando nas fotos da contra capa do álbum do Sepultura, Morbid Visions. Era tosca, mas foi ali com essa primeira bateria que aprendi a tocar.
WM: Em um segmento mais “oficial” e já com banda, qual foi sua primeira participação como baterista, e qual o background envolvido?
FC: Minha primeira banda foi o Evil Doer (thrash metal, 1987), mas meu primeiro registro oficial veio bem mais tarde, em 1993, na compilação Fun Milk & Destroy. Nela, gravei 4 músicas com o IML (Intense Manner of Living),que teve produção do João Gordo e saiu em vinil na época pela extinta Devil Discos. Antes disso, só tinha gravado algumas demos mesmo.
WM: Você tem envolvimento direto com bandas que vão desde o punk e rock alternativo (Forgotten Boys) até o doom metal (a Weedevil). Falando sobre a primeira, na qual você esteve por cerca de dez anos, como ocorreu seu ingresso na banda?
FC: Fui convidado a fazer parte do Forgotten Boys depois que o finado Arthur Franquini decidiu que não seria mais o baterista e seguiria com sua carreira solo. Lembro que eu estava no Matrix (bar aqui de SP famoso no underground nos anos 90 e começo dos 2000), e nisso chegou o Gustavo [Riviera] e o Chuck [Hipolitho] e fizeram o convite pra eu entrar na banda. Como eu estava sem banda na época (Pin Ups tinha acabado pela primeira vez) resolvi aceitar, eu já gostava da banda e ali fiquei por 10 anos.
WM: Desta experiência, em se tratando de shows ou mesmo convivência e experiência de estrada, tem alguma lembrança marcante, algum registro específico mais forte? E quantos registros de estúdio seus com a banda existem? Algum favorito?
WM: Com o Forgotten, teve 3 shows que abrimos e que me marcaram muito: foram MC5, New York Dolls e Guns n Roses. Na verdade, lembro de pouca coisa dessa época, era muita loucura, muita droga, groupie… era tudo em excesso. Uma lembrança que tenho e guardo com muito carinho foi quando conheci e trabalhei com o Roy Cicala (produtor que trabalhou com John Lennon nos anos 70), foi uma honra ter gravado “Louva a Deus” com ele. Com o Forgotten, eu gravei 4 full albuns e um split. O meu favorito deles, sem dúvidas, é o Gimme More, que nesse ano ganha uma edição em vinil (finalmente) pela 13 Records.
WM: Antes do ingresso na Forgotten, quais foram os outros projetos em que você esteve presente e que gostaria de destacar, falar um pouco sobre? E poderia indicar para quem quiser conhecer mais a respeito, um material de cada?
WM: Antes de tocar com o Forgotten, eu já fazia parte do Pin Ups, com eles eu gravei dois álbuns e um EP. Pra quem não conhece meu trabalho com eles, eu indico o álbum de 2019 Long Time no See. Com o Pin Ups, eu fiquei de 1996 a 2019, mas antes disso a banda tinha acabado no começo de 2000 e retornou aos palcos em 2015 depois de um show que fizemos no Sesc Pompéia.
WM: Falando um pouco das tuas influências e gostos, agora. Quais foram as primeiras, e as principais bandas, que te levaram a gostar de rock, ir consolidando seu gosto musical?
FC: Meu contato com o rock vem desde criança, lembro que tinha em casa alguns discos do meu irmão mais velho, como o “Killer” do Alice Cooper, um do Slade, um dos Stones, Focus, um compacto do Beatles… lembro que sempre colocava pra ouvir esses discos. Mais tarde conheci o Kiss, em 1983, na primeira vez que vieram ao Brasil, e de lá até aqui nunca mais parei. Os dois primeiros discos que tive foram o Creatures of the Night e o primeiro Black Sabbath, ouvia as bandas da época além de Kiss e Sabbath, muito Iron Maiden, Judas Priest, Motorhead, AC/DC…
WM: E sobre, claro, os bateristas: quem são suas principais referências na questão de tocar e compor?
FC: Minhas principais influências, além do meu pai foram, Peter Criss, Eric Carr (eu era fanatico por Kiss), Bill Ward e John Bonham.
WM: O punk e o hardcore são vertentes que sempre estiveram bem presentes nas influências dos projetos em que você participou, e então vem a Weedevil, enveredando pelo stoner e doom. Estas duas últimas vertentes sempre estiveram também presentes no teu gosto musical ou foi algo posterior?
FC: Como eu disse acima, fui ter meu primeiro disco do Sabbath em 1983. Nos anos 90, eu ouvia bastante Kyuss, Fu Manchu, C.O.C, também conhecia Monster Magnet, Melvins, Clutch, Down, Crowbar, Cathedral… bandas essas que rolavam sempre na programação específica da MTV, em programas como Fúria Metal e Lado B. Fora isso, também sempre gostei muito de Soundgarden e Alice in Chains, que faziam um som mais arrastado com influências de Sabbath.
WM: A Weedevil, formada em 2019, é uma banda que, apesar do tempo relativamente curto de existência, vem sendo cada vez mais conhecida, obtendo conquistas bem legais, shows relevantes e tendo inclusive sendo lançada em três versões físicas: CD, LP e K7. Em que momento surgiu sua vontade de iniciar um projeto nessa linha?
FC: Eu na verdade já tinha essa ideia de fazer um som mais pesado fazia um tempo, mas nunca tinha colocado em prática. Em 2018, quando saiu o The Science (disco da volta do Sleep), eu mergulhei de cabeça no gênero stoner/doom, nisso conheci a banda Pesta. Quando ouvi aquilo, achei foda e reativou minha vontade de montar uma banda pra fazer um som mais pesado e arrastado. Daí veio a ideia de montar a minha banda, no caso a Weedevil.
WM: O EP de estreia veio em 2020 e conta com um line-up bem diferente do atual. Como foi a aproximação com os membros da formação da época, de onde veio o contato?
FC: Então, foi o seguinte processo: quando eu tive a ideia de montar a banda, só tinha eu e a ideia [risos]. Tanto que eu já tinha assinado com a Abraxas Records antes mesmo de ter a banda formada. O contato com os integrantes dessa formação foi todo por Facebook, eu não conhecia nenhum deles pessoalmente. Um deles, o baixista, eu conheci num desses grupos de “Procura-se Músico”. Com esse line up fizemos apenas 3 shows e gravamos esse EP e o de 2021 The Death is Coming. Depois veio a pandemia e, por motivos de logística, a vocalista e o guitarrista saíram.
WM: O material mais digno de nota na história da banda até o momento certamente é The Return, full lançado em 2022. O material, como dito, tem as três versões físicas e mantém a identidade de sempre ter tido uma mulher no vocal, no caso agora Lo Scar. Como rolou esse contato com ela para ingressar no álbum,e também o resto da banda? E quais foram as principais influências musicais para a composição do lançamento?
FC: O processo do The Return foi o seguinte: depois da boa repercussão do Death is Coming veio o interesse do selo holandês DHU Records em lançar um full nosso em vinil, só que nisso saíram da banda a vocalista Fabrina e o guitarrista Caio por motivos que já disse ali em cima, e nisso já estava tudo certo pro lançamento do álbum em vinil pela DHU. Com a Lorraine (Lo Scar), foi por indicação de um amigo, também pelo Facebook em um grupo. Ela veio, fez o teste e gravou o álbum. Dos outros integrantes, o Bodão eu já conhecia, era meu amigo daqui do bairro, e o Paulo foi por indicação da própria Lo Scar. Sobre influências, não teve nada diretamente. Eu particularmente lembro que estava ouvindo bastante o último disco da banda sueca “Your time to Shine” e o último do Mastodon, Hushed and Grim, mas que não influenciou em nada na composição do The Return. Eu particularmente acho que a Weedevil tem influências, mas nada tão direto. Seria clichê, mas óbvio que Black Sabbath é uma influência.
WM: Na fase atual, já temos alguns membros novos em relação à formação anterior da banda, agora contando com dois novos guitarristas. O que você pode apresentar sobre essas novidades na banda, qual o panorama da galera?
FC: Sim, da formação do The Return, só ficou eu. Entraram nas guitarras o Dark Jordão (Fuzzly, uma antiga e importante banda de stoner rock) e o Renan Casarin (Mudness, banda catarinense de stoner/doom). A Lo saiu, e houve uma passagem de Verena May (Venus in Aries), que já não consta mais na banda. No momento, estamos em período de teste e consolidação de uma nova vocalista, que deve gravar novas faixas com a banda e será anunciada em breve. O baixista em breve também será divulgado futuramente.
WM: Acredito que a Weedevil já tenha alguns novos planos e projetos futuros para apresentar. Consegue adiantar algum spoiler dessas novidades?
FC: O que posso adiantar é que entramos em estúdio agora em fevereiro para gravar duas músicas novas, que farão parte de um split junto com a banda mexicana de doom metal Electric Cult, que provavelmente deve sair lá pra abril.
WM: Deixo aqui um espaço para poder largar seu recado final, e muito obrigado pelo seu tempo e atenção!
FC: Eu quem agradeço, Matheus. Obrigado a todos que nos apoiam, colam nos shows, nos seguem nas redes sociais e curtem nosso som. Muito obrigado.