Ícone do site Wikimetal
Fernanda Lira da Crypta no Summer Breeze

Fernanda Lira da Crypta no Summer Breeze Brasil. Créditos: Leca Suzuki

Fernanda Lira: “Eu acho que temos uma das melhores cenas de rock e metal do mundo”

Confira a nossa entrevista exclusiva com Fernanda Lira em comemoração ao mês do rock

Anualmente, no mês de julho, é comemorado o dia do rock, mais especificamente, no dia 13. Homenagens, celebrações e comemorações são feitas ao longo dos dias, e a equipe do Wikimetal trouxe uma entrevista exclusiva para honrar esta data.

Fernanda Lira é vocalista e baixista da Crypta e que a cada dia que passa amplia sua popularidade, não apenas na cena nacional, mas também na internacional, tocando em festivais e fazendo turnês fora do Brasil.

A musicista conversou exclusivamente com o site a respeito da cena underground de metal brasileira, seu álbum favorito, a própria data 13 de julho, em que é comemorado o dia do rock, e mais!

Confira a entrevista na íntegra:

Wikimetal: Se você tivesse que escolher um único álbum para representar o rock, qual seria?

Fernanda Lira: Para mim é muito difícil porque escolher, sempre que me pedem um top discos favoritos, top artistas favoritos, para mim, é sempre muito difícil porque eu acho que o metal, rock é tão rico que realmente torna difícil a gente afunilar, escolher uma coisa só. Eu poderia dizer alguns dos meus álbuns de metal favoritos, como Powerslave, sei lá, são tantos. Mas eu acho que eu vou ficar com The Wall do Pink Floyd, porque eu acho que ele é um disco que reúne várias das características, não principais, mas muito importantes de um disco de rock. 

Eu acho que tecnicamente, musicalmente, ele é um disco bem amarradinho, completo, muito agradável, muito… perfeitinho nesse sentido, né? Eu acho que as letras dele tem essa veia muito rock and roll que não só protesta como também expressa, sabe? As letras do The Wall têm essa veia de protesto, mas mais do que essa coisa do protesto, que muita gente acha que o The Wall é só sobre isso. 

Na verdade, ele fala sobre os traumas do Roger Waters e eu acho que muitos dos artistas do rock and roll usam o rock and roll e o metal para se expressar, para falar sobre suas dores, sobre suas vivências. Eu acho que essa é uma característica muito importante do rock, então eu acho que o The Wall é um disco que exemplifica isso muito bem e que também traz essa questão da representatividade no sentido de as pessoas ouvirem e se identificarem com aquilo que tá sendo expressado ali. Então, eu acho isso muito bonito. 

Eu, pelo menos, me identifico demais com The Wall, tanto que eu tenho até uma tatuagem em homenagem ao The Wall. Além disso, eu acho que ele é um disco que contempla e exemplifica muito bem toda a versatilidade que o rock’n’roll carrega. O pessoal acha que o rock é só agressividade, mas o The Wall mostra que o rock pode ser agressivo, mas ele também pode ser alegre. Que ele pode ter melodias mais creepy, sombrias, mas ele também pode ter melodias e baladas muito bonitas. 

Eu acho que essa é uma característica incrível do rock and roll. São vários humores e vários sentimentos expressos musicalmente ali em um estilo só. Isso eu acho incrível no rock. Essa versatilidade. E, por fim, eu acho que o The Wall traz muito essa coisa de contar uma história, de conceito, sabe? Que é tão importante pra gente no rock. A gente adora uma história contada, a gente adora um conceito, a gente adora isso, sabe? E eu acho que o The Wall é um ótimo exemplo.

WM: Como você vê o rock no Brasil?

FL: Eu vejo o rock no Brasil vivíssimo. Não só o rock como o metal, o crossover, toda essa parte da música pesada no Brasil, eu acho que ela respira e muito. Eu acho que a gente tem uma das melhores cenas de rock and roll e metal do mundo. Uma cena guerreira, uma cena que luta contra tanta adversidade e mesmo assim é tão forte. Eu acho que a gente tem qualidades muito únicas. Não sei se por conta de tantas coisas que a gente passa aqui, que a gente acaba expressando através da nossa música. 

Nossa música, nosso rock and roll, nosso metal, tem uma agressividade, um jeito muito particular de expressar. E são muitas as bandas que tão aí incríveis representando a gente, o Black Pantera com dois álbuns recentes, é incrível o Ascensão e o PERPÉTUO, trazendo tudo que o rock, resgatando muito bem essa veia do rock and roll, a veia de protesto, de baladas bonitas, mas também músicas agressivas, de energia incrível no palco, de muito movimento e tudo mais, representatividade. 

Eu acho que o Black Pantera é um ótimo exemplo de como o rock’n’roll tá vivo e, claro, dentro do metal a gente também tem várias outras bandas incríveis. Pô, a gente tem o Surra, né? Acabou de lançar o disco novo. Tem a Eskröta aí representando as minas, Demonia representando as manas também. Então, são muitas as bandas e eu acho que a gente respira muito bem. É uma cena que tem um rock’n’roll metal de muita qualidade, muito guerreira e é isso.

WM: O que significa o dia 13 de julho pra você?

FL: O dia 13 de julho, o dia do rock pra mim é uma data querida porque é uma data que simboliza aquilo pro qual eu vivo. Eu sou a Fernanda Lira, ela é um universo, eu sou um universo que tem várias partes. Eu tenho o meu lado místico, eu tenho o meu lado pop, eu tenho o meu lado… Enfim, tenho vários lados. Mas o rock e o metal são a parte mais importante da minha vida. 

O rock é o que me acolheu, é o que me fez me sentir pertencente a algo maior que eu, uma comunidade maior que eu. É o que me fez sonhar em ter uma carreira, é o que me fez ter uma carreira, é o que me fez viver o sonho, é o que me faz conhecer o mundo, é o que me faz viajar, que é a coisa que eu mais amo, é o que faz eu estar no palco, que é a coisa que eu mais amo. Então, esse dia simboliza aquilo para o qual eu vivo e é aquilo que eu mais amo, que é o rock’n’roll.

WM: Quando você percebeu que queria ter uma carreira no rock?

FL: Eu sempre tive um contato com o rock and roll desde muito cedo, porque meu pai é headbanger, metaleiro, então eu tô acostumada a ouvir rock e metal desde que eu era muito pequena, 5, 6, 7 anos de idade. Eu tenho lembranças do meu pai fazendo coletâneas em fita cassete pra mim e tudo mais. E eu sempre, criancinha, ficava brincando com meu pai, ou eu ficava pegando o violão dele e fingindo que tocava baixo igual ele, porque ele tocava baixo, ou senão eu pegava a baqueta que ele sempre tinha em casa e ficava fingindo que tocava bateria no sofá, enquanto ele tocava baixo.

Então eu sempre tive esse contato com música, esse contato com tocar música desde criança também. Comecei a tocar realmente baixo ali na adolescência. E quando eu reparei que eu gostaria de ter uma carreira, foi mais tardiamente ali na minha adolescência. Foi quando eu vi, mais especificamente, Nuclear Assault e Sepultura, e aquilo me fez… Esse thrash metal, essa energia ver Sepultura ali, gravando DVD em Barcelona, todo mundo pirando em Sepultura.

Acho que o Sepultura foi a banda que me fez acreditar que era possível ser fudido de um país de terceiro mundo e passar por tantas dificuldades e mesmo assim conseguir viver o sonho. Acho que eles foram os que despertaram essa fagulha em mim de tipo, “poxa, talvez isso seja possível.” Mas também quando eu comecei a ter bandas e quando eu comecei a subir no palco pela primeira vez, eu vi que aquilo era uma coisa que eu gostaria de fazer pelo resto da minha vida. Tendo uma carreira tão, sabe, sólida como eu tenho hoje com a Crypta e depois de ter passado pela Nervosa, ou não. 

Meu plano era, “pô, eu tenho que tocar porque eu não me vejo fazendo uma coisa com mais alegria do que isso.” Então, enquanto eu não conseguia viver de banda e ter uma banda e ter uma carreira mais sólida com isso, eu já participava, já tinha uma carreira no rock de outras maneiras, então trabalhei na imprensa, tive programa de rádio, programa de televisão, escrevi resenha de show, foto de show, resenha de disco, entrevistei banda, então eu não sabia como, mas eu sabia que eu queria ter uma carreira no rock, seja no jornalismo, na mídia, ou tocando, ou fazendo qualquer coisa, mas eu sabia que que eu queria fazer isso desde o momento que eu comecei a me envolver mais e ter mais ciência do que era o rock e do que era o metal, principalmente a partir do momento que eu subi num palco. É isso.

LEIA TAMBÉM: Rafael Bittencourt: “Sou muito esperançoso e otimista com o cenário brasileiro”

Sair da versão mobile