Chegando ao lançamento de seu segundo álbum, DEATHinitive Love AtmosFEAR, o Tellus Terror trilhou um longo caminho até aqui, sendo dez anos entre o primeiro álbum e esse.
Em muitos casos isso poderia ir contra a banda, porém isso permitiu uma evolução no grupo, com a entrada de novos integrantes, sua música, que adotou tons mais sombrios, e ajudou a mostrar que o metal nacional tem muita força para se destacar em meio a diversas bandas.
Com influências de nomes como Dimmu Borgir e um som mais gótico, a banda conseguiu criar um disco sólido, com muita inspiração e melodias que envolvem o ouvinte durante a viagem em temas sobre a vida, amor, morte, entre outros.
Em entrevista ao Wikimetal, o vocalista Felipe Borges comentou sobre esse novo disco, as mudanças ocorridas na banda, o porquê do grande tempo de espera entre álbuns e muito mais. Confira a entrevista na íntegra:
Wikimetal: Gostaria de começar agradecendo pelo tempo e oportunidade concedida, e que é um prazer poder realizar essa entrevista com vocês.
Felipe Borges: A oportunidade é sempre nossa em podermos ter esse espaço fantástico para falarmos sobre o nosso trabalho!
WM: A banda já está na ativa há alguns anos (desde 2012) e chegou agora no segundo disco. Como vocês enxergam o caminho percorrido até aqui?
FB: De muito aprendizado, e principalmente que o caminho deve ser trilhado por pessoas com o mesmo foco, mesmo ideal, mesma meta, e certamente estamos sempre em busca de melhorias, que foram aplicadas neste segundo álbum, e que irão continuar pelo terceiro álbum em diante. Um caminho difícil que é movido pela paixão pelo metal extremo, e pela vontade de criar algo onde as pessoas possam ouvir, se identificar e curtir e até odiar também (risos).
WM: O novo álbum DEATHinitive Love AtmosFEAR foi lançado no início do ano. Como está a recepção deste novo trabalho até agora?
FB: A mídia especializada, dentro e fora do país, tem dado feedbacks muito bons, assim como as pessoas que assistiram algum show, ou viram nossos clipes no nosso canal no YouTube ou escutaram no Spotify, etc… relatam que curtiram bastante.
Tive feedback negativo também quanto a roupagem dark/terror/maligna no visual e atmosfera da banda, de pessoas que acompanhavam a banda desde o início, mas isso é quem eu sou, é o que somos, e é como nos vemos passando nossas mensagens.
Não temos como agradar a todos (risos), eu sempre fui ligado ao black metal, e com as mudanças na formação após o primeiro álbum, eu apenas refiz a roupagem da banda para refletir algo mais honesto, que reflita o que eu canto por exemplo, independente da temática de letra.
WM: O primeiro álbum (EZ Life DV8) foi lançado em 2014 e agora em 2024 vocês lançaram o segundo. Por que houve esse longo período de espera entre um disco e outro?
FB: Com o lançamento do primeiro álbum fizemos ótimos shows, e tivemos grandes brigas (risos). Teve guitarrista que saiu porque ninguém mais falava com ele, tecladista que saiu pela distância da moradia, outro guitarrista que saiu da banda por causa de 100g de queijo (risos – isso é verdade), teve baterista que saiu após show com Behemoth pois ele achou satânico demais e não queria estar nesse meio.
Teve guitarrista que saiu alegando que o outro guitarrista era mão de alface, teve guitarrista que não queria “endemoniar” a banda e saiu para tocar em banda de death que não tem visual “capirotesco”, outro guitarrista saiu pois estava sem tempo devido ao Pet Shop, outro baterista saiu devido a distância da moradia, teve baixista que saiu porque não queria ensaiar toda a semana, teve baterista que saiu porque não conseguia tocar nossas músicas (tiveram 3 por esse motivo).
Teve também o hiato da construção do meu estúdio (Tellus Studio) para ser o QG da banda, tivemos as duas únicas expulsões da história recente da banda, de um guitarrista e um tecladista. Enfim, tanta coisa que por fim arrastou todo esse tempo.
WM: Vocês mudaram o estilo abordado neste segundo trabalho, se direcionando para o symphonic black/death metal. Por que houve essa mudança na roupagem musical da banda?
FB: Essa era uma vontade minha antiga de fazer um produto coeso e que tivesse uma atmosfera própria, e que fosse possível explicar ao público o que era de fato a banda. Com a saída dos membros antigos, eu tomei essa decisão de fazer essa mudança, e a resposta da mídia e público tem sido muito melhor do que o esperado!
WM: As novas músicas nos remetem a bandas como Cradle of Filth e Dimmu Borgir. Como elas influenciaram o som do novo disco, e existe mais alguma outra influência que gostariam de destacar?
FB: O disco foi feito por vários músicos diferentes que foram passando pela banda nesses anos. Teve essa transição para o death/black metal sinfônico, mas acredito que no terceiro álbum em diante, seja muito mais nítida essa transição. Eu comecei a cantar extremo graças ao Dani Filth e Shagrath [vocalistas, Cradle of Filth e Dimmu Borgir, respectivamente]. Eu amo Cannibal Corpse, Dying Fetus, Morbid Angel, Gorefest, etc; mas são linhas de vocais que eu julgo muito fáceis de fazer, e é por isso que sempre admirei vocalistas extremos versáteis e eu quis ir por essa linha também.
Além dessas bandas eu amo Emperor, Old Man’s Child, e bandas de dark gothic também.
WM: Falando sobre as letras, podemos notar que elas fogem do padrão visto no metal extremo, abordando temas como a vida de uma forma conceitual. Por que resolveram utilizar essa temática no álbum?
FB: Eu sempre gostei de abordar temas que são comuns as pessoas independente das escolhas de vida delas e do que elas são. E esse tema simplesmente combina demais também com a atmosfera extrema/dark/vampírica e cai como uma luva na nova roupagem da banda.
WM: Vocês acreditam que o metal extremo pode ser um meio de se abordar temas mais complexos como as fases da vida, o amor, a perda, entre outros?
FB: Acredito muito nisso. Hoje as pessoas têm acesso a informação muito fácil, que faz com que todos pensem muito mais nas coisas, na vida, etc… que é onde gera espaço para temas complexos com certeza!
WM: Existe alguma faixa que gostariam de destacar? Se sim, por que?
FB: “Lone Sky Universum”, que é uma letra muito poética onde eu faço uma alusão a Caronte no clipe, levando as almas de dois amantes mortos à terra dos mortos.
Tem uma frase que eu canto que é: “Your Mutt has died don’t be sad the swans are procreating, said the soul of the former captain from my heart ship” (“Seu cão vira lata morreu, não fique triste os cisnes estão procriando, disse a antiga alma do meu coração/navio”, em tradução livre).
Isso se refere ao ex-marido amigo e fiel de sua amada que morreu, mas que ela não fique triste porque os cisnes (que são os animais mais fieis uns aos outros na natureza) estão procriando (ou seja, eu posso dar a ela minha real fidelidade), disse a alma do antigo capitão do meu coração (que ela resgatou pois estava a deriva sem direção, que está agora sendo retomado).
WM: O que poderiam nos contar sobre a incrível arte da capa feita pelo artista Seth Siron Anton?
FB: Deixei o Seth à vontade para interpretar as minhas letras em forma de imagens. Eu já trabalho com ele desde 2012 e já nos entendemos bem nisso. Ele tem a leitura perfeita pro nosso som e estilo
WM: A banda conta com um belíssimo material físico de divulgação, com CD e camiseta. Na era do digital, como vocês enxergam a importância desse tipo de trabalho e abordagem?
FB: Isso é essencial para mostrar ao público o tanto de amor e dedicação que colocamos em nosso trabalho em todos os detalhes. Se as pessoas percebem esse cuidado, então os esforços valeram a pena
WM: Como está a agenda da banda agora com o lançamento do novo disco?
FB: Tem muito show vindo por aí e logo logo vamos anunciar
WM: Gostaria de agradecer pelo tempo e atenção. Gostariam de deixar uma mensagem final para os fãs?
FB: Agradeço demais pelo espaço cedido, e a todas as pessoas que consomem nossa música, nossos vídeos. Sem vocês não seríamos nada. Muito obrigado!