Quando uma banda já estabelecida troca de vocalista por algum motivo, a pressão e expectativa do público são igualmente altas. No caso do Fear Factory, não foi diferente: foram longos meses de espera e especulação, mas o guitarrista e fundador Dino Cazares encontrou um substituto capaz de calar os descrentes e emocionar fãs de longa data, que será apresentado pessoalmente ao público brasileiro na próxima semana.
Em preparação ao único show do Fear Factory no Brasil em 2023, programado para a próxima terça-feira, 06 de junho, no Fabrique Club, Cazares conversou com o Wikimetal sobre a nova fase da banda e planos futuros.
A jornada de Dino para encontrar o substituto de Burt C. Bell, única voz da história da banda, foi longa e teve o envolvimento de cerca de 300 de candidatos do mundo inteiro, que submeteram testes em vídeo antes de iniciar audições presenciais – e tudo isso em meio a uma pandemia e restrições de viagem, assim como projetos paralelos de Cazares.
Em meio às declarações amargas do ex-parceiro de banda, nas quais se dizia “drenado” com as ações judiciais envolvendo os direitos do nome Fear Factory, criticando “os egos” e “a ganância” de integrantes da banda e advogados envolvidos, o processo de escolha durou quase um ano e o nome continuou em segredo até fevereiro deste ano, quando Milo Silvestre finalmente foi anunciado como novo vocalista do Fear Factory.
Wikimetal: A recepção do público ao Milo foi ótima. Isso te surpreendeu?
Dino Cazares: Sim e não. Tive que prepará-lo para uma possível reação negativa, certo? Porque ficamos com o vocalista anterior por mais de 30 anos, fizemos muita coisa juntos e foi maravilhoso, né? Mas ele saiu e eu tive que seguir em frente.
E muitas pessoas ficaram falando besteira, sabe, ‘Quando você vai anunciar o cara? Que porra está demorando tanto? Ele está mentindo. Dino está inventando história, blá, blá, blá’. Então você ouve todos esses comentários negativos, mas na verdade, eu estava apenas estrategicamente me dando tempo para ter certeza de que estava fazendo a coisa certa.
E agora todos que falaram besteira podem ouvi-lo cantar e estão engolindo suas palavras porque ele é ótimo. Agora todo mundo está dizendo: “OK, ele canta muito bem ao vivo, mas e quanto a músicas novas? Provavelmente ele é ruim nisso, blá blá.” Sabe, é como se nunca estivessem satisfeitos.
WM: Vocês já estão trabalhando em um novo álbum?
DC: Não vamos começar a juntar tudo até julho. Então, em algum momento de julho, vamos começar a fazer um novo álbum. Eu só queria resolver essa questão das turnês antes. Então, logo após esta turnê, vamos entrar em estúdio e começar a trabalhar em um novo álbum para que possamos lançar uma música este ano e as pessoas possam ouvir como ele soa gravado também. E mais uma vez, eles vão calar a boca.
WM: E essa pressão te afetou negativamente ou você nem liga?
DC: Não é que eu não dê a mínima. Eu ouço as pessoas e presto atenção, e sim, me importo com o que dizem, mas não deixo realmente me afetar porque estão apenas falando besteira porque querem apoiar a banda, estão apenas sendo impacientes. Eles apenas queriam que eu me apressasse e fizesse tudo certo. E isso foi algo bom.
WM: Você analisou centenas de candidatos, o que fez Milo Silvestre se destacar?
DC: Primeiro, eu vi um vídeo onde ele tocava todos os instrumentos, guitarras, baixo, bateria, teclados e cantava, e fiquei impressionado. Depois, ele fez outro vídeo onde fez um medley de todas as músicas do nosso primeiro álbum, que são 17 músicas. Entrei em contato com ele e pedi que ele gravasse algumas músicas, ele arrasou em todas e o chamei para uma audição presencial. O que mais me impressionou foi que ele cantou cerca de 18 músicas, mais ou menos. Eu perguntava: “E essa música?”. E ele cantava. “E essa?”. Ele cantava. E continuamos assim por dois ou três dias. E eu pensei: “OK, é esse cara.”
WM: E o Milo é um grande fã do Fear Factory, o que ele já trouxe de diferente para os shows?
DC: Bem, obviamente, atingir as notas certas definitivamente traz algo novo. Faz uma grande diferença quando você ouve as músicas como elas foram planejadas no álbum, alguém cantando no tom correto e soando incrível. É simplesmente avassalador. E eu vejo a reação das pessoas na plateia, elas estão tipo “Oh, meu Deus”. Eu vejo pessoas chorando, sabe, quando tocamos “Resurrection” e certas músicas.
WM: A inteligência artificial é um tema recorrente nas letras do Fear Factory, você acha que essas versões de músicas feitas por IA vão substituir as faixas reais?
DC: Acredito que, em algum momento, nós, fãs desse tipo de tecnologia, secretamente, queremos ver para onde isso vai. As pessoas estão ficando mais preguiçosas. Se isso significa apertar um botão e ele escrever uma música incrível que posso vender, as pessoas vão aproveitar essa oportunidade. Elas vão querer usar isso para ganhar dinheiro, vão tirar proveito e vão usá-lo. E é para onde as coisas estão caminhando.
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