O Ego Kill Talent está em uma fase completamente nova. A banda brasileira de hard rock e metal alternativo está na estrada desde 2014, mas foi em 2023 que os ventos sopraram para uma nova direção. Com a saída do vocalista de longa data, Jonathan Dörr, o grupo abriu os braços para dar às boas-vindas para uma nova integrante: Emmily Barreto, também vocalista do Far From Alaska.
A escolha não parece nem um pouco óbvia em um primeiro momento, mas a sintonia entre banda e cantora é inegável. Tão inegável que virou oficial. Depois de alguns meses saindo em turnê com o EKT, Emmily foi anunciada como vocalista oficial da banda e embarcou direto nos shows de abertura de ninguém menos que o Evanescence. As duas bandas rodaram o Brasil durante o mês de outubro e construíram uma relação de amizade e admiração mútua, com Amy Lee elogiando o Ego Kill Talent no palco durante show em Belo Horizonte.
“Nesse dia, quando a gente tava saindo do palco, ela abriu a porta do camarim dela e veio falar: ‘Vocês são foda, adorei a banda’. Foi muito querida”, conta Theo van der Loo em entrevista ao Wikimetal. “O Evanescence foi uma referência de banda com mulher cantando, né? Então eu falei pra ela: ‘A gente não estaria aqui agora se você não tivesse feito o que você fez’. E ela respondeu: ‘Não, eu tenho certeza que vocês estariam aqui’. Ela ficou muito fã da Emmily, elogiou a Emmily várias vezes. Foi muito legal.”
Dizer que Amy Lee se tornou fã de Emmily Barreto não é exagero, é fato comprovado. Desde o encontro entre as duas bandas, a vocalista do Evanescence curte, compartilha e comenta nas postagens da brasileira nas redes sociais e recentemente rasgou elogios para o EKT e para Emmily em uma entrevista na New York Magazine.
“Recentemente, tocamos com uma banda chamada Ego Kill Talent no Brasil”, relata Amy. “O vocalista original deixou a banda e eles o substituíram com uma mulher incrível e eu amo isso. Ela tem aquele fogo e energia incríveis, e algo que eu realmente adoro sobre bandas e cantores é que no palco você consegue dizer se eles estão realmente curtindo o que estão fazendo. Assistí-los todas as noites foi uma alegria.”
Amy Lee não foi a única fã que a nova formação do Ego Kill Talent cativou. Uma série de relatos nas redes sociais mostra internautas que foram aos shows do Evanescence e se surpreenderam positivamente com a banda de abertura – alguns até mencionaram que preferiam Emmily ao antigo vocalista. Para o grupo, a reação do público é um “presente”, como define Niper Boaventura: “É uma confirmação de uma certeza que a gente tem do jeito que a gente se ama, do que a gente acredita. Esse tipo de carinho deles é maravilhoso.”
Quando chegou a hora de escolher um novo rosto e uma nova voz para assumir a frente do Ego Kill Talent, os pensamentos da banda naturalmente gravitaram ao redor de possíveis vocalistas masculinos, mas sempre eram puxados de volta pela perspectiva de convidar Emmily. A amizade entre o EKT e o Far From Alaska e o reconhecimento de ambas as bandas como iguais entre si fizeram com que essa parecesse a escolha mais natural.
Para Emmily, o convite foi um grande presente: “Eu sou fã do EKT desde o início. [O pensamento] foi: ‘Eu vou cantar na minha banda favorita’. Ninguém imagina isso. A gente já era amigos há vários anos, mas fica a expectativa de como vai ser para compôr junto. E quando a gente entrou em estúdio foi outra surpresa incrível. Não teve nada de negativo. Eu estou vivendo um sonho de verdade com eles.”
Como fã de carteirinha, Emmily já chegou para o primeiro dia de ensaios sabendo todas as letras do Ego Kill Talent de cor. Entre a banda houve bastante estudo e prática envolvendo mudanças de tom e afinação para encaixar as músicas antigas na voz de Emmily, mas o resultado no ao vivo compensa todo o esforço e traz um ar de frescor mesmo para o repertório já conhecido do grupo. Para Theo van der Loo, a mudança foi mais que positiva:
“A gente tem tocado algumas músicas antigas e a Emmily trouxe elementos e detalhes para as músicas que me emociona muito. Eu fico arrepiado sempre que ela canta o último refrão de ‘Last Ride’. No início, ela tentava copiar exatamente o que o Jonathan fazia e a gente a encorajou a fazer o que fosse natural [para ela]. A Emmily tem uma coisa muito espontânea de experimentar.”
E as músicas antigas com Emmily nos vocais não devem ficar só no ao vivo: “A gente tá super feliz com o que está acontecendo e acho que eventualmente devemos regravar algumas coisas. Eu não diria nem regravar, mas talvez gravar novas versões”, conclui Theo.
A mudança de vocalista trouxe para o Ego Kill Talent também uma nova fase musical. Em novembro, a banda lançou seu primeiro EP com a atual formação, Call Us By Her Name. A compilação de quatro faixas inéditas traz um lado mais descontraído e até dançante do EKT, enquanto mantém a assinatura e identidade já conhecidas do grupo em faixas como “Finding Freedom” e determinados momentos de “Need No One To Dance”. A faixa-título e carro-chefe do projeto, porém, é considerada pelos integrantes “a coisa mais diferente” que eles já fizeram em relação ao seu repertório antigo e carrega uma mensagem bem direta sobre a chegada de Emmily e as mudanças pelas quais a banda irá passar, goste o público ou não: “I’m not leaving this place / You will hear my voice” (“Não vou deixar este lugar / Você vai ouvir minha voz)”, canta Emmily.
“A gente já estava buscando sair da nossa caixinha”, comenta Theo sobre essa virada sonora. “Era uma conversa que a gente tinha muito antes da Emmily entrar. Só que, ao mesmo tempo, não foi por isso que a gente escolheu ela. Não foi pensando que ela traria novos horizontes. [Isso aconteceu] naturalmente. Só ela sendo quem ela é – não só musicalmente, mas quem ela é, o que ela acha engraçado falar – já influencia. Então acho que foi uma mistura dos dois. A gente já queria expandir o nosso universo e quando a Emmily chegou trazendo novas possibilidades nós abraçamos isso.”
“A gente consome muita música pop”, complementa Niper mencionando nomes como Lenny Kravitz, Katy Perry, Harry Styles e Justin Bieber. “O rock obviamente é a nossa adolescência inteira, sabemos tudo, mas o que eu mais tenho consumido é esse tipo de música. E na hora de compôr começaram a surgir elementos assim; deixar mais espaço nas músicas, mais groove. Bater cabeça dançando, rebolar a cabeça.”
As vocalistas femininas do pop também têm sido uma grande referência para a banda. No palco, Theo van der Loo trocou as camisetas pretas ou com logo do Metallica por fotos estampadas de Miley Cyrus e Lorde. Durante a entrevista, ele usava uma de Billie Eilish. Ele revela que começou a ouvir essas artistas com mais frequência por influência de sua esposa e garante que a escolha de vestuário é proposital e veio a calhar considerando a nova fase da banda. “Acho que é uma maneira de falar: ‘As mulheres são foda mesmo. No pop ou no rock, elas são incríveis’,” explica.
Para Niper, a influência do gosto musical de Emmily nessa nova direção musical do Ego Kill Talent também foi positiva: “A Emmily chegou com uma coisa mais contemporânea, mostrando bandas mais novas. Eu descobri bandas com [ela] que talvez não chegariam em mim. Essa polaridade de geração e por ela ser mulher também ajudou muito nesse momento. A gente tava falando de mulheres [que são] superpoderosas; a gente sempre consumiu, sempre gostou muito disso, e agora tem uma mulher superpoderosa à frente da banda e é natural pra gente.”
Essa fase mais dançante do Ego Kill Talent, porém, não deve eliminar por completo o peso em músicas novas. Niper chama essa fase inicial de “o silêncio que precede o esporro” e garante: “Tem muita música pesada que a gente tá fazendo. Já tem riffs muito viscerais nessas quatro e a Emmily é muito visceral.”