Quem entrar no perfil do Instagram de Edu Megale irá se deparar com o melhor de dois mundos que são também suas maiores paixões: as guitarras e os games. Atualmente atuando como manager de CS:GO (Counter Srike: Global Offensive) pela SG esports, Edu começou a tocar guitarra aos 17 anos e construiu um currículo inacreditável com suas experiências no rock, sendo eleito o 10º melhor guitarrista brasileiro pelos leitores da Roadie Crew duas vezes (2014 e 2020).

Começando por seu primeiro disco, Fog of Madness, com a banda Nickel, quando tinha apenas 19 anos, ao longo do tempo Edu Megale tocou em algumas músicas da banda RAM, juntou-se a Guilherme de Alvarenga em seu projeto solo, D.A.M., e participou de jam sessions com dois gigantes da guitarra: Paul Gilbert e Steve Vai

Em 2020, Edu lançou seu primeiro EP solo, Screams of Insanity, assim como o EP Let’s Go com a banda Loss, e atualmente está trabalhando nas novas músicas da banda brasileira de heavy metal, The Mist. Também é dele e de alguns amigos a página do Facebook Headbanger da Depressão, que compartilha memes e recomendações do mundo do rock e do metal. Em entrevista ao Wikimetal, ele fala sobre sua trajetória, seus maiores ídolos e a principal motivação de seu trabalho: ajudar as pessoas.

A primeira coisa que Edu Megale diz em nossa conversa por telefone é que apesar da correria no trabalho, se movimentar é muito bom. E isso define grande parte de quem ele é e do que acredita. Natural de Belo Horizonte, cada passo de sua jornada foi dado com muito esforço e dedicação. “Eu sempre fui muito agitado, de querer fazer as coisas, não gosto muito de ficar deitado. Tem dias que você descansa, mas eu sempre fui muito de querer produzir coisas que eu gosto e buscar viver disso,” conta. E isso fica evidente em seu currículo. Edu estudou harmonia, improvisação, violão erudito, jazz, fusion, fez dezenas de cursos na área do empreendedorismo, educação musical, negociação, teve uma empresa de marketing e já trabalhou até com futebol.

“Dificuldade a gente sempre vai encontrar, até hoje nós encontramos dificuldades,” afirma. “No Brasil, tocar metal é a gente estar vendendo moletom na praia no verão. O que a gente tem que fazer é primeiro pensar no que a gente ama. Eu amo tocar guitarra, eu amo tocar metal, eu vou fazer isso primeiro porque eu amo e depois eu vejo como transformar isso no meu ganha-pão. Mas é tudo um processo que começa a partir de você acreditar e amar o que faz.”

O primeiro guitarrista que Edu se lembra de ter visto tocar foi ninguém mais, ninguém menos que Slash. E apesar de ter Adrian Smith como uma de suas maiores referências e do amor à primeira nota por Iron Maiden, o nome que ele leva como seu maior exemplo é o de Jason Becker, para quem ele compôs a canção For Jason, presente em seu EP Screams of Insanity. “Ele salvou minha vida, mesmo que eu não tenha conhecido o cara. Ele me ajudou nos momentos em que eu pensei em desistir,” relata. “Eu tive uma lesão grave no pulso e até hoje é difícil dedicar muitas horas [à guitarra]. Eu toco com dor há uns 4 ou 5 anos e faço alguns tratamentos alternativos para continuar tocando e não vou parar de forma alguma. Eu prometi pra mim mesmo que só vou parar quando não estiver abrindo os olhos.”

“A primeira vez que eu vi o filme do Jason eu chorei muito,” relembra Edu. “Você vê o amor do cara pelo instrumento, vê que ele tá compondo até hoje, e eu vi que independente de toda dificuldade ele continuou, mesmo não podendo tocar a guitarra. Se ele não pode ajudar de uma forma, ele tá ajudando de outra. Ele foi o cara que me salvou mesmo, que me fez pensar ‘Eu vou persistir por mim e por esse cara porque se ele tivesse o corpo que eu tenho hoje e a vida que eu tenho hoje, ele não ia desistir de forma alguma’. Então eu prometi pra mim mesmo não desistir nunca. Independente de como esteja, a gente só desiste quando está debaixo da terra.”

A paixão pela guitarra e também pelos games vem dos tempos de escola, por influência dos amigos e também de um professor chamado Severino Junior, que Edu considera seu maior ídolo e herói da vida real. Ele era o maior incentivador de intervenções culturais na escola pública onde Edu estudava e onde criou uma rádio e organizou seu primeiro evento, com a temática de anime. Quando garoto, ele nem podia imaginar que um dia estaria organizando pessoalmente um evento que o ajudaria a conhecer um de seus maiores ídolos: Paul Gilbert. “Eu pensei: ‘Eu nunca vou ter a oportunidade de conhecer esse cara por outros meios. A oportunidade que eu tenho é trazer o cara’”, conta Edu. “Eu não queria tocar com ele, o meu objetivo era conversar com ele. Eu estava naquele momento em que eu precisava ver o meu ídolo ali, sendo uma pessoa real. E quando eu vi ele eu me tornei ainda mais fã.”

Ele também relembra os momentos inesquecíveis que passou na presença de Steve Vai: “O Steve Vai eu nem ia participar da jam porque eu estava há três dias sem dormir, mas eu fui visitar ele no camarim e ele conversou muito comigo, me deu várias dicas. Um dia eu quero sentar e escrever isso para a galera. Ele viu que eu estava cansado e me pediu pra descansar e eu falei ‘Cara, eu tô realmente muito cansado, acho que nem vou fazer a jam’ e ele falou ‘Não, não. Eu quero que você faça’. E então eu pensei ‘Eu não vou ter outra oportunidade como essa, não interessa se eu estou aqui morto. Eu vou entrar ali e vou me divertir’. E quando eu entrei no palco, parece que eu fui abraçado. A energia do cara é muito boa.”

Uma caminhada tão longa e com tantos pontos altos só poderia ter sido feita por alguém que está em constante movimento. Desde a adolescência, Edu Megale sabia que não conseguiria passar a vida sentado em um escritório e que queria dedicar sua vida a fazer aquilo que amava, mas vindo de cidade pequena, ele precisou construir seu caminho aos poucos. “Eu falo que se um dia eu lançar um livro, vai ser com essa frase: pobre, fodido e com muita vontade de vencer,” conta. “É o que eu falo pros meninos do CS: a gente só tem a gente. A primeira coisa é saber onde você está, o seu lugar. Se eu não tenho grana pra fazer isso, então eu consigo fazer essa outra coisa. Se eu quero fazer isso, então eu vou me dedicar 1000% naquilo. Eu acho que todo mundo é capaz de fazer o que quer. Se você gosta daquilo, você vai fazer com muito amor e muita paixão. Quando você ama algo e faz algo por amor mesmo, parece que tudo conspira para dar certo pra você.”

Em conversa recente com Lucas Gerardi para a ESPN, Edu relembrou os dias de lan house que o fizeram se apaixonar pelo CS e também se meter em algumas encrencas, como ir parar no juizado de menores devido à proibição do jogo no Brasil. Hoje, em um tempo e cenário completamente diferentes, ele atua como manager de uma geração bem diferente da sua, mas com a mesma paixão pelo game: “Eu entrei no CS porque eu vi que tinha meninos ali que aquela era a oportunidade da vida deles e se eu posso ajudar fazendo algo que eu amo, eu vou estar ali com eles. Caiu nas minhas mãos a confiança de cuidar desses meninos e eu vou até o final com eles.”

Eventualmente, Edu Megale conseguiu unir o mundo dos games e das guitarras quando foi convidado para criar os efeitos e as trilhas sonoras para os jogos Inbio Assault e Ninjas Attack. Hoje, ele se prepara para lançar um livro e um curso com técnicas de guitarra, ambos gratuitos, para que o conteúdo seja acessível ao máximo de pessoas possível. E o cansaço? “Eu não me canso,” afirma. “Você me vê acordando às oito da manhã e indo dormir às três da manhã, mas se você chegar pra mim às três da manhã e falar ‘Vamos caminhar? Vamos correr?’ eu vou. Porque nosso corpo é feito para isso. Você tem que descansar, é lógico, aproveitar a natureza, mas se eu for aproveitar a natureza, eu vou fazer uma trilha, vou fazer algo que me faça queimar energia, me faça andar, ver coisas diferentes.”

Quando perguntado sobre a sensação de ser reconhecido por seu trabalho, tanto pelo público quanto por alguns de seus maiores ídolos, Edu Megale fala que o sentimento maior vem de outro lugar. “Eu faço umas lives na Twitch tocando por diversão e muita gente fala ‘Edu, eu quero continuar tocando por causa de você’,” revela. “Pra mim é mais sobre buscar ajudar os meninos e passar um exemplo para que eles vejam o esforço que eu estou fazendo e continuem acreditando que com o mesmo esforço eles vão encontrar a felicidade fazendo o que eles gostam. O maior reconhecimento que eu quero nem é de prêmio, é só que as pessoas pensem ‘Aquele cara trabalha por uma coisa que ele ama fazer e eu quero fazer isso também’.”

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