Dennis Stratton é o guitarrista do primeiro álbum do Iron Maiden, autointitulado, lançado em 1980. O músico vem, pela primeira vez, ao Brasil e tocará o álbum na íntegra. O giro pelo país conta com sete datas, iniciando nesta sexta, 01, em Florianópolis, e finalizando em Vitória, no dia 09 de dezembro. Um vídeo de uma entrevista exclusiva pode ser conferido ao final desta matéria.

O Wikimetal esteve presente em uma coletiva de imprensa realizada com o ex-Iron Maiden na última terça, 28. O músico compartilhou memórias, falou sobre o álbum em que tocou, sobre o quão feliz está em finalmente vir ao Brasil e deu detalhes sobre o próximo álbum do Lionheart.

Iron Maiden é, talvez, um dos melhores discos de estreia já feitos, amplamente querido pelos fãs e presente até os dias de hoje nas setlists da banda. Stratton comentou sobre o que acha que o torna tão especial: “ele foi feito para ser único” e que “conforme a banda cresceu, cada vez maior, todo mundo volta para onde começou. Então, se você voltar ao primeiro álbum, foi onde tudo começou.” 

“Quando você monta uma banda para fazer um primeiro álbum, você não pode planejar que será único ou épico, ou que será um dos melhores primeiros álbuns já gravados.”, reconheceu, “Isso acontece depois que a banda cresceu a um ponto em que eles passaram de uma pequena banda de clube para uma banda de arena e então a reputação da banda cresce cada vez mais, o que faz aquele primeiro álbum tão épico e memorável.”

Ele explicou então, o que torna esse álbum tão icônico: “Foi onde tudo começou.”

Turnê pelo Brasil

Originalmente, a primeira vinda de Stratton ao Brasil estava planejada para ser em comemoração aos quarenta anos do disco homônimo. Entretanto, todos sabemos o que aconteceu em 2020. Ele contou que recebia diversos pedidos dos fãs brasileiros para que viesse ao país, mas que, até então, nunca tinha havido “uma oferta, uma turnê ou um contrato, então esperamos, esperamos e esperamos.”

Com o início da pandemia, a turnê de Dennis Stratton teve de ser cancelada: “Então, eu nunca soube se teria ou não outra chance de vir aqui novamente porque sempre foi meu sonho tocar no Brasil e quando assisto os vídeos do Iron Maiden, os DVDs e os documentários do Rock In Rio, sim, você gostaria de estar lá, você gostaria de poder tocar. Mas infelizmente não consegui. ”

Em 2023, ele recebeu outra oportunidade de vir ao Brasil e falou sobre como o pós-pandemia afetou os valores de tudo. “Tudo o que posso esperar e rezar é (para) que as pessoas venham nos ver nesta turnê e espero que nos dêem uma chance. Para ser aceito, eu serei aceito na família Maiden do Brasil. E só podemos fazer isso tocando. Só podemos fazer isso se você ouvir e então decidir o que acha.” 

NWOBHM e Paul Di’Anno

“New Wave Of British Heavy Metal” foi o nome dado a um movimento que surgiu no início dos anos 1980, do qual o Iron Maiden fez parte. Algumas outras bandas também integraram, mas nenhuma adquiriu tanto sucesso quanto a Donzela de Ferro: “O Maiden tinha essa magia da mudança do tempo e os fãs simplesmente cantavam cada palavra e isso os afastava um pouco do resto das bandas.”

Stratton relembrou uma situação que aconteceu durante a turnê do Metal for Muthas, em que Paul Di’Anno disse que não poderia se apresentar porque estava com dor de garganta, “Então eu disse: ‘bem, está esgotado. Todas essas crianças pagaram pelos ingressos.’” mas o vocalista disse que não cantaria. Stratton se reuniu com Steve Harris para decidir o que fazer: “Eu disse: ‘eu e você cantamos’. Então ele disse: ‘mas você não sabe as palavras’. E eu disse: ‘eu sei.’” Mas que os fãs cantariam todas as palavras das músicas.

“E eu disse, ‘se cancelar esse show, significa que ele poderá cancelar qualquer show que quiser porque ele tem o poder’. Então Steve disse: ‘Ok, faremos isso.’ E continuamos e aconteceu exatamente o que eu disse. A multidão cantou cada palavra. A maioria das letras veio até mim porque eu as toquei na sala de ensaio, as gravei e fiz uma passagem de som, coisas assim. Então eu conhecia a maioria das palavras. Então nós dois cantamos juntos, mas isso não importava porque o público mal conseguia ouvir o que estávamos cantando porque todos cantavam também. E ele nunca cancelou outro show.”

Clive Burr

Ao falar de Clive Burr, ex-baterista do Iron Maiden que Stratton trouxe a banda, o guitarrista disse que manteve uma relação bem próxima até a sua morte. “Eu carreguei o caixão dele na capela.”

Ele relembrou o teste de Burr para entrar no Iron Maiden: “Nós trapaceamos porque fui ver Clive naquela noite e eles deram a fita para ele. E eu disse ‘ouça isso esta noite e vou levá-lo ao estúdio amanhã para repassar.’” Ao ser perguntado se o baterista tinha ouvido as músicas, Stratton disse que só tinha falado os nomes das músicas e “ouviu um pouco de uma das músicas”.

Em 1996, Clive Burr participou de uma turnê com o Praying Mantis após o então baterista, Bruce Brisland, se acidentar. “Então fui até a casa de Clive, onde ele morava, e ele estava passando por dificuldades. Não me interpretem mal, não sou médico. Não sei, mas senti nos olhos dele que havia algo errado.” Ele relatou que o baterista começou a escrever os padrões da bateria e que, perto da turnê, ele já tinha uma quantidade muito grande de anotações: “E ele disse: ‘estou lembrando estritamente os padrões das músicas’ porque havia muito instrumental com as guitarras de harmonia.’”

Ao se aproximar da turnê, Clive Burr tentou desistir, mas já estava muito em cima da hora: “você pode ver o livro na estante de partitura e ele está lendo o livro em quase todas as músicas.”

Turnê com o KISS

Nos anos 1980, o Iron Maiden foi banda de abertura do Judas Priest e do Kiss, mas Stratton relata que já tinha experiência com grandes turnês, uma vez que tocou com o Status Quo. “Eu sou uma dessas pessoas que quando trabalha em uma banda como banda de apoio, sempre admira o artista principal.”

Ele comentou que criou uma boa amizade com Paul Stanley e Gene Simmons, mesmo que não fosse do agrado de Rod Smallwood. Ele contou uma história que ele e Dave Murray faziam uma dinâmica na qual cada um tocava uma parte do solo de uma música do Van Halen. Na sua vez, a plateia começou a entrar em delírio “Estou pensando, ‘Jesus Cristo, eles estão realmente gostando disso, não é? Você sabe, e eu fiquei tipo, ‘eles estão me amando. Eles estão me amando.’”

Um pouco depois, ele percebeu que a animação da plateia era, na verdade, porque Stanley vinha por trás dele com um balde de água para então, despejar em sua cabeça, tudo isso em seu aniversário.

Lionheart

Dennis Stratton comentou a respeito de seu outro projeto, o Lionheart. Ele falou sobre a dificuldade que é eles se reunirem, uma vez que os músicos possuem outros trabalhos: “Você tem cinco caras na banda que fazem projetos separados. Eles estão todos ocupados. Lionheart não gera renda para viver, para pagar o aluguel, para comprar comida. Lionheart é uma banda que grava, com músicos brilhantes, vocais brilhantes e pessoas muito inteligentes.”

Ele revelou que, para álbuns, cada um dos integrantes envia a sua parte a Steven Hanover, na Alemanha, e ele é o responsável por unir tudo: “ele vai sentar lá e montar todo o quebra-cabeça conforme as coisas vão chegando.”

O guitarrista revelou que o próximo álbum do Lionheart será lançado dia 23 de fevereiro de 2024, pela Metalville Records. O trabalho já está finalizado, mixado, masterizado, com a arte pronta e se chamará The Grace Of A Dragonfly

“É tudo sobre militares e soldados, mulheres e homens que trabalharam nos serviços, que deram as suas vidas por nós, pessoas que lutaram na guerra, que perderam as suas vidas tentando fazer deste um mundo melhor para vivermos. Então é dedicado a essas pessoas, é dedicado a todos que lutaram nessas guerras horríveis. ”

Ele disse não ter certeza da data, mas a banda planeja, talvez em outubro, fazer alguns shows, porque Michael Schenker “fará uma pausa”.

Dennis Stratton também revelou outros planos: “Então a ideia de escrever o livro era começar a escola, 5 anos, saindo da escola, indo para o cais, trabalhando pesado aos 14, depois aprender a tocar guitarra e aí sua vida se transforma em músico aos 20/ 18 anos, então entrar na maior banda do mundo.” O músico revelou que ele não tem computador nem internet. “A ideia ainda está lá. É se eu tive ou não paciência para chegar ao ponto de tentar terminar, porque há tantas coisas que você precisa continuar adicionando.”

Iron Maiden

Dennis Stratton relata que ainda tem contato com a sua antiga banda: “Eu os assisti. Eu gosto dos álbuns. Gosto de algumas coisas novas, não gosto de tudo.” E revelou também quais são as suas faixas favoritas, sem ser as que trabalhou: “Minhas músicas favoritas são tipo ‘2 Minutes to Midnight’, ‘Wasted Years’. Que hino, que refrão. ‘Run To The Hills’”, além de “Aces High” e “The Evil That Men Do”.

O músico citou que ele tem uma bucket list, uma lista de desejos que quer completar até o final da vida. “Você sabe qual seria o último tópico da minha lista de desejos?”, ele perguntou a Steve Harris no telefone, que respondeu que achava que sim. “Então teremos que esperar para ver se eles terão um show final de despedida. Se serei convidado para interpretar talvez ‘Phantom Of The Opera’, não sei. Mas tenho que esperar para marcar meu último item na lista de desejos.” Mas acha que “Provavelmente eles diriam não. Teria que ser algo como ‘Iron Maiden’ porque eles ainda fazem essa no set.”

Confira a entrevista exclusiva com Dennis Stratton:

Fã de rock desde muito cedo, é estudante de jornalismo e trabalha, também, criando conteúdo para a internet. Já foi host de podcast e atualmente está completamente focada na área de jornalismo especializado. Apaixonada por música, é entusiasta, em especial, do hard rock e heavy metal.