Entrevista por Pedro Tiepolo
Dallas Green é um músico talentosíssimo. Cantor, compositor, guitarrista e produtor, ele carrega em seu currículo dois grandes projetos de gêneros completamente distintos. O primeiro, mais famoso para os fãs de hardcore, é Alexisonfire. O segundo, City and Colour, para os amantes de música alternativa, indie e um som mais acústico.
Com o Alexisonfire, o músico veio ao Brasil em 2022 para se apresentar no Lollapalooza e solo no Lolla Party para divulgar o álbum Otherness, que foi lançado em seguida, em junho do mesmo ano. Já com seu projeto City and Colour, Dallas veio há seis anos e agora irá matar a saudade dos fãs brasileiros com dois shows no país: dia 14 de junho no Vivo Rio, no Rio de Janeiro, e no dia 16 de junho, no Tokio Marine Hall, em São Paulo.
As apresentações fazem parte da turnê que divulga o álbum The Love Still Held Me Near, lançado em março de 2023. Produzidas por Green e pelo membro e colaborador de longa data Matt Kelly, as 12 canções que compõem esse novo álbum seguem um período difícil da vida de Green, incluindo a trágica perda de seu melhor amigo em 2019.
Às vésperas dos shows no Brasil, Green conversou com exclusividade com o Wikimetal e falou sobre seus dois projetos, inspirações, processo de composição e mais. Confira a entrevista na íntegra:
Wikimetal: Oi Dallas! Obrigado por tomar o tempo para conversar com a gente. O último álbum do City and Colour foi lançado ano passado, e você já está a mais de um ano na estrada com esse projeto. Como tem sido a experiência de tocar esse novo material, e como tem sido a recepção dos fãs?
Dallas Green: Tem sido incrível. Antes do álbum sair, eu tinha uma certa… não quero chamar de preocupação. Mas tinha um sentimento, de saber que o que eu tinha escrito me ajudou a passar por um momento sombrio da minha vida, mas eu me perguntava se seria vulnerável demais para as pessoas se conectarem.
Mas depois que foi lançado e eu percebi o quanto o álbum significou para pessoas que passaram por coisas similares nos últimos anos, começou a ficar claro pra mim que era como uma celebração. Tocar as músicas novas ao vivo tem sido muito catártico para mim pessoalmente, mas também vejo a reação das pessoas na plateia, e quando converso com elas depois do show. Tem sido realmente muito lindo.
WM: Você fez esse álbum depois de um período trágico da sua vida pessoal. Foi estranho pra você subir no palco e ter que cantar essas músicas?
DG: Eu lembro que nos primeiros shows nós começamos com a primeira música do álbum, pra tirar o band-aid de uma vez. Inicialmente, era um pouco estranho cantar, mas quando eu comecei a olhar pra plateia, eu conseguia ver alguém chorando, ou alguém muito emocionado. E me lembrou que a música é feita pra isso. É feita para conectar as pessoas e celebrar a vida.
No último ano tocando essas músicas novas, a maior recompensa tem sido ver o quanto todo mundo está conectado. Isso me permitiu sentir que eu não estou cantando algo triste, eu estou cantando sobre encontrar alegria na escuridão.
WM: No momento em que você estava escrevendo esse material, teve alguma hesitação em lançar essas músicas, que são tão vulneráveis e pessoais? Ou você sempre soube que precisava fazer esse álbum?
DG: Eu sabia que eu precisava escrever sobre isso para mim mesmo. Acho que demorou um pouco pra perceber que ia ser tão positivo para mim, porque eu sempre fui bem aberto sobre o que eu estou cantando. Mas foi um nível diferente de tentar transformar esses sentimentos em música.
Quando se está tentando escrever sobre perder alguém, você tenta fazer isso do jeito mais elegante possível. Você tenta honrar a memória de alguém em uma música, e de modo que ela ressoe com pessoas que não conheciam ela. Então foram muitas conversas internas, e com amigos. E quando as peças começaram a se encaixar, ficou claro que isso ia me ajudar muito, e se desse certo, ia ajudar outras pessoas também.
WM: Muitas pessoas têm uma percepção de que os artistas criam sua melhor arte quando estão sofrendo, estão deprimidos ou passam por uma tragédia. Eu não acho que isso é tão verdade, e até pode ser uma ideia perigosa, mas estou curioso pra saber o que você pensa sobre isso.
DG: Sim, eu entendo isso também. Eu acho que tiveram momentos na minha vida que senti isso, que o único jeito que eu conseguia criar era passando por algo difícil. Mas o que eu percebi é que a vida é assim, não importa o que. Você vai ter dias bons, e dias ruins. O sol nasce e tem luz, e em algum momento ele se põe e tem escuridão.
E ao longo dos anos eu percebi que eu prefiro escrever sobre as partes desconfortáveis da vida. Não é como se eu fosse uma pessoa miserável e atormentada que só consegue sair da cama se eu escrever uma música sobre estar triste, longe disso. Eu só não quero escrever sobre o outro lado, pelo menos ainda não. Se eu estou tendo a melhor noite da minha vida com meus amigos e família, eu não tenho interesse em escrever uma música sobre isso.
Então é assim que vejo isso, não acho que vivo uma vida de sofrimento, mas sou um humano que tem que lidar com o sofrimento de vez em quando. E simplesmente é isso que decido escrever sobre.
WM: A sua outra banda, Alexisonfire, é completamente diferente, mas ao mesmo tempo tem essa mesma energia emocional e catártica. Como você vê os dois projetos e as diferentes influências?
DG: Eu escrevo de um certo jeito meu, e eu sempre quero estar conectado emocionalmente com a música. Acho que a diferença com Alexisonfire é que nós escrevemos as músicas em conjunto, então acaba sendo um trabalho em grupo. Nós olhamos as ideias como um grupo e nos perguntamos, como os cinco podem se conectar com essa ideia?
E o City and Colour é como um diário de músicas que escrevo, então acaba sendo mais pessoal. Mas acho que a energia é a mesma. A energia emocional é a mesma em tudo que faço, porque é assim que sou.
WM: E você deve ter muitas influências diferentes, imagino, para cada projeto. Quais são as músicas que te acompanham pela vida inteira? E que talvez já te ajudaram em algum momento difícil, do mesmo jeito que esse novo álbum do City and Colour pode ajudar outras pessoas?
DG: São tantos para mencionar! Mas eu acho que Dirt, do Alice in Chains… o disco inteiro é um dos meus favoritos, e eu ainda consigo escutar de trás pra frente e me sentir profundamente conectado com a música, sabe? E acho que representa bem como eu gosto de fazer música. É sentimental, tem excelentes vocais. Excelentes harmonias, mas é super sombrio e super pesado.
E Grace, do Jeff Buckley. É um conjunto incrível de canções pra mim. E tem tantos outros discos, depois desses de quando eu era mais jovem, que me impactaram e ainda impactam até hoje. Eu sou muito grato por ainda me sentir comovido por música, sejam velhas, novas, minhas próprias… é algo muito profundo em mim.
WM: E você acompanha lançamentos novos? Tem algo que te impactou recentemente?
DG: Com certeza! Eu vi minha amiga Katie Tupper ontem, ela é uma jovem cantora incrível. Minha amiga Ruby Waters também acabou de lançar um álbum. Sabe, tem essas cantoras fodas de 25 anos que estão arrasando. Georgia Harmer também fez uma turnê comigo e ela tem trabalhado no segundo álbum dela.
Ah! E o disco novo do Knocked Loose. Eu fui ver o show deles recentemente. Inacreditável. Eu ainda estou impactado, foi incrível. Eu não tinha visto eles ainda, e eles tocaram nesse lugar imenso em Toronto. Foi demais ver tanta gente jovem em um show de hardcore, esquentou meu coração.
WM: Faz um tempo que você não vem pro Brasil com o City and Colour. Quais são as expectativas para essa visita agora?
DG: Eu estou muito animado pra voltar, é um dos meus lugares favoritos. São algumas das pessoas mais apaixonadas que eu já encontrei.
Sucesso pra mim sempre foi a ideia de poder continuar fazendo algo. Então pensar que é 2024, e eu posso ir pro Brasil cantar, é uma coisa muito bonita pra mim. Eu estou animado para ver a reação do público. Alguns dos caras da banda nunca estiveram no país, então é quase como se eu pudesse viver de novo pela primeira vez pelos olhos deles.
SERVIÇO:
CITY AND COLOUR NO RIO DE JANEIRO
Data: 14 de junho (sexta-feira)
Local: Vivo Rio
Endereço: Avenida Infante Dom Henrique, 85, Rio de Janeiro – Rio de Janeiro
Abertura da casa: 20h
Início do show: 22h
Classificação etária: Vedada a entrada de menores de 18 anos. Menores de 18 anos entram acompanhados dos pais/responsável
Venda online: Sympla
CITY AND COLOUR EM SÃO PAULO
Data: 16 de junho (domingo)
Local: Tokio Marine Hall
Endereço: Rua Bragança Paulista, 1281 – Várzea de Baixo, São Paulo – SP, 04727-002
Abertura da casa: 18h
Início do show: 20h
Classificação etária: Vedada a entrada de menores de 16 anos
Venda online: T4F