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Entrevista com Rudolf Schenker (Scopions)

Em 1970 eu disse “Os Scorpions vão ser uma das top 30 bandas do mundo.”

Wikimetal (Nando Machado): Olá, Sr. Rudolf Schenker?

Rudolf Schenker: Sim, sou eu no telefone. Como vai?

W (NM): Olá Sr. Rudolf. Eu estou muito, muito feliz em falar com você. Como vai?

RS: Eu estou muito bem, nós estamos voltando dos Estados Unidos, da nossa turnê, que teve muito sucesso, e sabe, nós vamos voltar para o estúdio para procurar algumas músicas novas e algumas coisas novas para fazer, e sabe, há sempre alguma coisa para se fazer.

W (NM): Então, falando sobre a época em que vocês eram jovens na Alemanha, Rudolf, no início dos anos 60, você imaginou que você teria tanto sucesso e uma carreira tão sólida depois de mais de 40 anos, e que você criaria uma das bandas mais importantes na história do rock?

RS: Eu conheço essa sensação de todos os meus parceiros. E sabe, especialmente depois de “Fly to the Rainbow” ela pegou. E mesmo antes disso, sim, antes de eu fazer entrevistas, que foram em maio de 70 ou 71, algo assim… Antes de “Lonesome Crow”, eu disse – e isso é interessante – “Os Scorpions vão ser uma das top 30 bandas do mundo.” Então, sabe, essa foi a situação na qual eu escrevi o livro, chamado “Rock your Life”. A situação é: se você confiar nos seus sentimentos e se você realmente tiver uma filosofia, então você consegue, porque o problema é que a maioria das bandas americanas e inglesas pensam “OK, vamos nos juntar, vamos tocar música, vamos ver o que acontece”. Então principalmente nos Estados Unidos e na Inglaterra, há agências, grandes agências que não te falam a verdade, elas dizem… Digamos, acredite no que elas querem que você acredite. Então quando nós começamos os Scorpions na Alemanha, em Hannover, um lugar muito pequeno, eu fui a gerência. Então nesse caso, ninguém podia me falar o que era verdade e o que não era, porque eu decidia por mim mesmo qual era a verdade. Então a partir desse momento eu comecei a perceber o que eu precisava fazer para a carreira da banda prosperar. Em primeiro lugar, a banda Scorpions é baseada na filosofia da amizade. Eu estava sempre procurando por bons músicos, sem dúvidas em relação a isso, mas também por músicos com quem eu pudesse construir uma amizade, com quem eu tivesse química, que se conectassem com a minha personalidade. A química é um ponto muito importante. Se você pensar, quando você bebe uma Piña Colada, se a Piña Colada tem o produto errado, se não é o rum certo, com 80%, e se o coco não é o certo, não é fresco, e o abacaxi também, você pode ter uma Piña Colada, mas o gosto é terrível. E também, isso acaba muito rápido. Então nesse caso, a química é vital. Se a química está certa, você tem uma vida boa, se a química está errada, você tem uma vida ruim. Então nesse caso, eu tento conseguir os músicos certos. Até mais tarde, quando nós perdemos alguns músicos, a filosofia sobre a qual nós começamos a banda foi sempre muito importante. Então especialmente vindo da Alemanha, foi uma situação difícil, mas, sabe, se você realmente acredita no que você está fazendo, então faça. A única coisa da qual eu não tinha certeza, era que eu não sabia se a banda duraria tanto tempo, que essa carreira se manteria por mais de 40 anos. Eu pensei talvez “OK, 20 anos pode ser um bom tempo.” Mas 40 anos é realmente inacreditável, e isso é fantástico.

A banda Scorpions é baseada na filosofia da amizade.”

W (NM): De fato, é fantástico. Nós estamos muito felizes de tê-lo no nosso programa. Então, Rudolf, o Scorpions é conhecido por ser uma ótima banda ao vivo, sempre foi conhecido por ser uma fantástica banda ao vivo. Os álbuns ao vivo do Scorpions estão provavelmente entre os melhores álbuns ao vivo de todos os tempos na história do rock. Qual é a importância da performance ao vivo para um artista, na sua opinião?

RS: É a mais importante! Sabe, o fato é que você nunca pode se esquecer de onde você começou. O ponto inicial da banda foi tocar ao vivo. Mesmo no começo, fazendo covers de músicas, toque o máximo que você puder. E assim, fazendo as suas próprias músicas, você vai começar a pensar “O que eu posso fazer para tocar música muito bem, e também para entreter as pessoas?”, o que é muito importante. A música, é claro, é uma forma de arte, e também uma forma de entretenimento. O que estava acontecendo é que, no começo dos Scorpions, especialmente nos anos 70, no começo dos anos 70, eu comprei um carro, onde eu podia levar a banda toda, e dirigir até a França e a Bélgica e a Holanda, e eu sempre colocava uma trilha sonora muito boa, para que nós ouvíssemos o que estava acontecendo, o que era atual no cenário musical. E nós nem sempre conseguíamos ouvir música, dirigindo por 8, 9 horas, quando nós desligávamos a música, porque nós estávamos cansados de ouvir, nós conversávamos sobre o que nós poderíamos fazer para fazer ótimos shows do Scorpions. Então nisso tudo, cinco caras em um carro, nós tínhamos uma Mercedes SEL, versão longa, nem sempre tinha espaço, mas algumas vezes alguns dos caras não iam, e muitas vezes nós íamos conversando. E nós conversamos sobre um “drum riser” que subisse no ar, nós conversamos sobre isso, conversamos muito, até que todo mundo concordou que era uma boa ideia. Então nesse caso, quando nós íamos para fora, especialmente vindos da Alemanha, nós sempre tivemos a sensação de que nós não tínhamos que dar 100%, nós tínhamos que dar 150%, 180%. Nós íamos para o palco todos os dias como uma gangue de rock N’ roll, e nós detonávamos como um furacão. E foi o nosso primeiro trunfo, quando nós fomos para a França, para a Bélgica, para a Inglaterra, as pessoas não conseguiam acreditar, elas diziam “Que tipo de banda é essa?”. Primeiramente, nós tocamos para 40 pessoas, na vez seguinte já eram 700, e na outra vez já eram 2000, especialmente na Inglaterra, que é um país do rock N’ roll, como os Estados Unidos. Então nesse caso, as performances ao vivo são a parte importante, porque você não pode mentir, você tem que tocar, e as pessoas conseguem ver imediatamente “Isso é uma banda de verdade, ou só um projeto de estúdio, ou é inventado, ou o que seja?” Então nesse caso, as performances ao vivo são o coração do rock N’ roll. A atitude é o combustível do rock N’ roll. Então nesse caso, os Scorpions tem ambas essas coisas. A situação ao vivo é muito importante. E quando você também é disponível, e você também sabe fazer um bom álbum, você tem o começo perfeito para uma grande carreira.

Não acredite no dinheiro, acredite na diversão, acredite no talento e acredite na amizade.”

W (NM): Excelente, isso é quase uma receita para o sucesso, muitos jovens músicos vão adorar ouvir isso. Rudolf, você concorda se eu disser que o Scorpions é o maior artista alemão de todos os tempos?

RS: Quer dizer, se você olhar para toda a carreira, e digamos, especialmente agora, na turnê de despedida, nós estamos muito, muito bem em todos os lugares, na verdade. Então sim, pode ser verdade, mas eu acho que há muitas bandas com a gente, na Alemanha… O Rammstein – uma banda muito, muito boa, uma das minhas bandas preferidas do mundo todo. Então, nesse caso, há bandas muito boas da Alemanha, sem dúvida, mas olhando para o sucesso comercial, e também para o sucesso dessas bandas mais underground, eu acho que sim, o Scorpions são o número um na questão da performance.

W (NM): Nós temos uma pergunta clássica no nosso programa, mudando de assunto, imagine que você está ouvindo música no rádio, ou talvez no seu ipod no shuffle, algo assim, e de repente começa a tocar uma música que faz você perder totalmente o controle. Que música seria essa, para que nós possamos ouvi-la no nosso programa agora?

RS: OK, eu acho que a “Du hast”, do Rammstein é incrível. Sim, talvez também… O Green Day, eu gosto muito, System of a Down, e Metallica, sem dúvida. E a “Back in Black”, do AC/DC é incrível, uma obra prima incrível. E a “Back in the Saddle”, do Aerosmith é fantástica.

W (NM): Não, só uma, nós só precisamos de uma agora.

RS: Ah, Mamma Mia, isso é muito difícil! Assim do nada… Ah, “Kashmir”, do Led Zeppelin.

W (NM): Me fale um pouco sobre a experiência de tocar em locais mais remotos, vocês tiveram a oportunidade de mostrar a sua música para pessoas que não estavam acostumadas a ver grandes shows. Vocês fizeram isso muitas vezes, fizeram isso na primeira edição do Rock in Rio, vocês fizeram isso na URSS, na Ásia, no Egito. Qual foi a importância de levar a sua música para lugares onde as pessoas não tinham a chance de ver outros grandes artistas?

RS: Essa foi a parte mais importante da nossa carreira. Para mim, sempre gerenciando, ter que tocar 20 vezes nos Estados Unidos porque dá dinheiro… Olha, o dinheiro não é a parte mais importante para mim. OK, você precisa do dinheiro para viver, sem dúvida, mas a minha forma de fazer música é mais a filosofia… Eu era um grande fã do Elvis, do Little Richard, do Gene Vincent, todos esses caras mais antigos do rock N’ roll. Então eu comecei a tocar guitarra, e descobri que tocar guitarra não é tão fácil, então eu guardei a minha guitarra no armário, até o momento que os Beatles e os Rolling Stones apareceram. Então eu soube “É isso que eu quero fazer. Eu quero ter a sensação dos Beatles e dos Rolling Stones, de quatro ou cinco amigos viajando pelo mundo e fazendo música, tocando música para os fãs.” Então essa era a minha filosofia, eu queria viajar pelo mundo com os meus amigos e tocar música para todo mundo e em todos os lugares… Nos locais mais remotos, e fazer disso uma aventura. E isso foi um ponto muito, muito importante, porque essa é a razão pela qual a carreira do Scorpions ainda está acontecendo, porque nós tocamos na Ásia nos anos 90, quando o Grunge e o alternativo estavam muito grandes nos Estados Unidos e na Europa. Nós tivemos a oportunidade de tocar na Ásia, em estádios enormes na Malásia, na Tailândia, na Coréia, nas Filipinas, onde quer que fosse… Na Índia. Então foi porque nós tocamos lá, e nós tocamos duas noites no Big Four, em Bangkok, em 82. E não havia gravadoras, não havia nada, apenas contrabandistas que tentavam vender as coisas na rua. E todo mundo disse para nós “Vocês são idiotas, por que vocês estão tocando aí? Não há mercado, nada.” A mesma coisa na Rússia. Nós fomos para a Rússia, e não havia gravadoras lá, não havia possibilidade de lucro nesses locais. Mas nós dissemos “Olha, pessoal, é por isso que é importante. Vamos tocar para essas pessoas que querem ouvir o Scorpions, que querem ouvir rock”. Então foi uma aventura, e havia uma visão por trás dessa aventura… O resultado dessa grande visão, especialmente na Rússia, foi a trilha sonora da revolução mais pacífica da face da terra, chamada “Wind of Change”. Então nesse caso, eu sempre digo aos músicos ao redor do mundo, eu sempre digo “Não acredite no dinheiro, acredite na diversão, acredite no talento e acredite na amizade”. Se você tem esses três pontos, você pode fazer sucesso em qualquer lugar do mundo, e as pessoas vão te adorar, e você vai poder tocar a melhor música do mundo para elas.

O resultado da grande visão do Scorpions, especialmente na Rússia, foi a trilha sonora da revolução mais pacífica da face da terra, chamada ‘Wind of Change’.”

W (NM): Falando sobre você particularmente, a sua performance, Rudolf, você é um dos maiores artistas do rock. Quem, na sua opinião, são os melhores guitarristas, falando de performance?

RS: Ah, performance? Claro, não há dúvida: o Mick Jagger ainda é um desses caras, eu o vi muitas vezes, eu preciso dizer… Incrível! E tem também o Till, do Rammstein, ele é inacreditável, a banda toda é inacreditável. E outras pessoas… Eu não sei, eu acho… o Steven Tyler, sem dúvida.

W (NM): E quanto aos guitarritas?

RS: Guitarristas? Guitarristas… Eu tenho o meu preferido, sem dúvida, é o Jimmy Page, porque ele é um grande compositor e ele toca muito bem, não há dúvida. Mas há também a forma que você se apresenta no palco, e o Pete Townshend sempre foi um grande artista de palco, com certeza… Ou talvez… Quem mais? Um momento, eu preciso pensar sobre isso. O Angus Young, sim, é claro! O Angus Young, sem dúvida. Ele é, sabe, se você pensar no fato de que ele é o menor cara do rock n’ roll, e os seus dois irmãos, o Malcolm – ele é um cara incrível, toca muito bem guitarra rítmica, e o irmão dele é perfeito para ser o lead, ele realmente é um tornado. É fantástico assisti-los.

W (DD): Excelente, excelente. Eu sou o Daniel, um dos apresentadores do Wikimetal, então eu vou só fazer algumas perguntas para você, também. Rudolf, você vem para o Brasil em setembro, com a “Final Tail Tour”. Essa é realmente uma turnê de despedida, ou os fãs podem esperar um álbum novo no futuro?

RS: Bom, o ponto é, nós falamos, em 2010, que nós… Que esse seria nosso último álbum de estúdio e a nossa última turnê, porque nós sabemos quanta energia se gasta estando na estrada, em turnê, tocando cinco dias por semana. Então nesse caso, nós dissemos para nós mesmos “Vamos nos prender à verdade”. Mas o que nós tínhamos em mento… Foi por esse motivo que o projeto recebeu o “Comeblack”. O “Comeblack” surgiu na turnê me 2010, quando nós vimos todos os jovens na frente do paco. Nós dissemos “Incrível! De onde vem todos esse caras?” E nós descobrimos, porque nós temos por volta de 1.5, 1.8 milhões de fãs no Facebook, e nós descobrimos que a maioria desses 1.5, 1.8 milhões de fãs têm entre 14 e 28 anos. Então, nesse caso, nós dissemos “Olha, o que podemos fazer?”. E aí veio a ideia de voltar para o estúdio e gravar nossos clássicos. Mas aí nós pensamos “Por que não dar a essas pessoas também a ideia de quem nos influenciou?” Bandas como The Kings… Quem seja. E nós decidimos “Vamos fazer covers dos Scorpions”, para dar uma ideia de como os Scorpions são, de onde nós viemos, e dos nossos hits. E nós quisemos fazer isso, digamos, com a nova tecnologia, o Bluetooth, você pode até gravar com essa nova tecnologia que os jovens entendem, e que tem o som de hoje em dia. Então nesse caso, nós criamos esse projeto, que foi a turnê de despedida. Mas no futuro, é claro, nós estamos trabalhando no momento em filme que será lançado em 2012, 2013 ou 14. É um filme que fala da carreira dos Scorpions, então, é claro, nós temos muito material, que antigamente, nos anos 70 e 80, nós só podíamos gravar 9 músicas, mas nós sempre gravamos mais de 14 ou 15. Então nesse caso, sobraram algumas músicas. E o que nós queremos fazer é, nós queremos voltar a esse material antigo, descobrir que músicas nós ainda gostamos e que músicas se sobressaem, e lançar um álbum com todas essas faixas, algo desse tipo. Então nós estamos com algumas coisas em mente, e nós também temos aproximadamente 800 horas de material de vídeo na nossa biblioteca.  Então nós queremos passar pelos Scorpions na frente das paredes ou talvez os Scorpions em Manaus. Então nós queremos fazer esse tipo de coisas, nadando com os botos, o que seja. Quando nós tivermos tempo, o problema é que nós já começamos com um tipo de filme que fala sobre a carreira dos Scorpions em 40 anos, mas depois nós descobrimos quanto tempo você realmente precisa para fazer disso uma obra, então nesse caso nós dissemos “OK, pessoal, quando nós terminarmos a turnê nós fazemos isso, porque aí teremos tempo suficiente para isso.”

W (DD): Isso é incrível, Rudolf. Muito obrigado pelo seu tempo, nós temos certeza que teremos duas noites esgotadas em São Paulo, com mais de 15 mil pessoas indo à loucura em Setembro, quando os Scorpions vierem para o Brasil novamente. E antes de nós terminarmos, você poderia escolher uma música do Scorpions que você tem muito orgulho de ter escrito, para nós ouvirmos no programa agora?

RS: É claro! “Rock you like a Hurricane”!

W (NM): Muito obrigado, Sr. Schenker. Foi uma grande honra, então nós estamos ansiosos para vê-lo em setembro, no Brasil.

RS: OK, e eu estou ansioso para ver todos os fãs do Brasil, e igualmente, muito obrigado por apoiar os Scorpions por tanto tempo. Nós só podemos dizer que vamos sacudi-los como um furacão! Até mais!

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