Eu escrevi sozinho os seis primeiros álbuns do Grand Funk. A gente lotou o Shae Stadium com músicas minhas.”
MF: Olá, aqui é o Mark.
W (NM): Oi, Mark, aqui é o Nando do Wikimetal. Estou aqui com o Daniel, um dos nossos apresentadores. Como vai você?
MF: Bem, Nando!
W (DD): Oi Mark, como vai você? Aqui é o Daniel.
MF: Oi Daniel, e aí?
W (DD): Estou bem, e você, cara?
MF: Bem, bem.
W (DD): Estamos muito orgulhosos de ter você no nosso programa. O Wikimetal é o maior podcast de heavy metal e hard rock no Brasil.
MF: Legal, rock N’ roll!
W (NM): Sim, estamos muito felizes de ter o nosso capitão no nosso programa hoje.
MF: Obrigado, Deus abençoe vocês, legal estar aqui com vocês, garotos.
W (NM): Em primeiro lugar, conte-nos desse projeto, o documentário que conta a história da sua vida. Em que estágio está e como os fãs podem participar?
MF: Está no começo, na fase inicial. Os fãs, se quiserem participar através de financiamento, podem contribuir e se tornar parte do filme, o que pode ser feito por um site. Mas também por orações! Porque nós estamos com o nosso filho Jesse aqui, estamos esperando por um milagre para ele sair daquilo… Sabem, ele é tetraplégico, está deitado na cama ou sentado na cadeira faz um ano e meio já e temos pedido para as pessoas rezarem. É isso que podem fazer por nós e as coisas começarão a andar bem mais rápido para nós.
W (NM): Diga-nos quão difícil é escolher as músicas que farão parte do set list? Tendo tido uma carreira tão longa e bem sucedida, como você escolhe as músicas que tocarão no show?
MF: Bom, nosso set list atualmente foi composto através de uma pesquisa que a gente fez para o público na internet. Alguns anos atrás nós pedimos para pessoas participarem mandando músicas que eles gostariam de ouvir num show. Tivemos 2700 respostas e escolhemos o nosso set dali, compondo nosso set de desejos dos fãs. Eu falei “porque não dar a eles o set que eles queiram ver?”.
W (NM): Essa é uma ideia muito boa. E qual é a porcentagem da lista que é feita de músicas do Grand Funk Railroad?
MF: 90%.
W (NM): 90?
MF: Sim!
W (DD): Bom, então é um show imperdível.
MF: É quem eu sou, esse é um show de Mark Farner, mas também é quem eu sou. Eu escrevi os seis primeiros álbuns do Grand Funk, escrevi sozinho. A gente fez show esgotado no Shae Stadium com músicas do Mark Farner.
W (DD): Excelente, Mark. E falando nisso, você pode escolher uma música que você se sente orgulhoso de ter escrito para que possamos ouvir no nosso programa agora?
MF: “I’m your captain”.
W (NM): Obrigado por ter sido nosso capitão por tantos anos. Tem sido um grande prazer.
MF: Obrigado, o prazer está deste lado, irmãos!
Quando eu estava com o Ringo nós nos demos muito bem. Um dos melhores tempos da minha vida em relação a aprendizagem e convivência com pessoas. Ele é um Beatle.”
W (NM): Qual você acha, na sua opinião, que foi a razão pela tão antecipada reunião do Grand Funk Railroad não ter sido um sucesso tão grande?
MF: A obrigação que nós fizemos um com o outro antes de ter tido o primeiro show. Eles queriam que eu não fizesse nenhum show solo, e só participasse em shows do Grand Funk. Isso porque o Don Brewer disse que acabaria sendo competição para as datas do Grand Funk. Então eu concordei com isso por um período de dois anos, pois eu tenho uma plateia solo e naquela época eu tinha já uma plateia solo aos 21 anos, eu tinha muitos fãs. E eu disse “não vou abandona-los e me esquecer deles, eu vou voltar e começar a fazer shows solos”. No final de dois anos os caras não queriam saber disso, só queriam fazer Grand Funk. Eu acabei sendo coagido a transferir a minha parte de direitos sobre a marca “Grand Funk Railroad” para a corporação, porque o Don Brewer apareceu no meu quarto uma noite após um show e me disse que nós precisávamos fazer isso para proteger a marca. Eu achei meio estranho porque quando eu disse pra ele “Ok, se é isso que precisamos fazer, eu farei” e ele disse “Ok, eu vou para o meu quarto e pegar os papéis”. E eu pensei “Que estranho, porque ele não trouxe os papéis com ele?” e isso me deixou um pouco desconfiado, mas não o bastante. E eu nunca deveria ter assinado minha parte para os caras, porque eles podem fazer o que quiserem e eu não tenho o que dizer sobre o que eles fazem com a marca.
W (DD): Através desses 21 anos que você diz da sua carreira solo, e mais do que isso, esses 45 anos tocando ao redor do mundo e sendo muito bem sucedido, qual você diria que foi o ponto mais alto da sua carreira?
MF: Acho que o ponto mais alto, na verdade, foi o festival pop de Atlanta, na Georgia, com 185 mil pessoas que nunca haviam ouvido o nome “Grand Funk Railroad” antes. Mas naquele dia eles conheceram um trio de garagem de Flint, Michigan, que veio e arrasou pra eles e eles não queriam que saíssemos do palco. Isso foi quão infectante que foi. E isso porque eu tocava em festas, casamentos e outras coisas, sabe, um músico jovem toca em qualquer lugar. Eu tocava para as amigas da minha mãe quando elas iam em casa. Eu tocava por tocar e tocar. E finalmente lá estava eu, de frente dessa plateia imensa e eles estavam amando. Foi como um sonho realizado. Claro que tem o Shae Stadium depois disso. Voar e ver de cima todas aquelas pessoas pulando na arquibancada, arrasando e o Humple Pie no segundo palco. O lugar estava arrasando. São coisas memoráveis. Eu lembro bem, mas cara, isso foi muitas luas atrás.
W (NM): O festival que você mencionou antes, esse foi o que vocês assinaram com a Capitol e é verdade que vocês tocaram de graça nesse festival?
MF: Esse mesmo. As pessoas que estavam fazendo a papelada legal do festival eram nossos advogados de Nova York, então eles conseguiram um lugar pra gente, por estarem cuidando da parte jurídica para que o festival pudesse acontecer. Foi muito bom, a gente tocou de graça e assinamos com a Capitol Records, um negócio nada ruim.
W (NM): Nós temos uma pergunta clássica no nosso programa, que perguntamos para todas as pessoas que entrevistamos. Só imagine você ouvindo música de modo randômico e uma música começa que você imediatamente perde o controle. Que música seria essa e por quê?
MF: “Inside Looking Out”.
W (NM): Conte-nos da experiência de trabalhar com grandes produtores como Terry Night e até o lendário Frank Zappa.
MF: Sim, isso influenciou muito minha carreira e minha admiração por esses artistas. Porque eu cheguei a trabalhar com esses músicos que são gênios musicais, claramente. Frank Zappa, sabe, tão inovador. E as pessoas acham que ele estava sempre chapado, mas ele nunca usava drogas, ele não era esse tipo de pessoa, ele era muito ligado a musica. Eu tive o prazer de ter tido tempo com essas pessoas não apenas na atmosfera profissional, mas era muito amigável. Tomar um café, conversando sobre uma música, o que faríamos naqueles dias. Sempre foram boas pessoas para se ter perto da banda, para ser parte do que estávamos construindo juntos.
W (DD): Ótimo. E a experiência de ter trabalhado com o Ringo Starr?
MF: Quando eu estava com o Ringo nós nos demos muito bem. Um dos melhores tempos da minha vida em relação a aprendizagem e convivência com pessoas.O Ringo está lá no topo, ele é um Beatle, sabe. Ele é muito bem respeitado pela maioria das pessoas no mundo, mas eu cheguei a sentar com o Randy Bachman do BTO e Randy me mostrou power chords, eu aprendi coisas com o John Entwistle, e nós tocamos juntos. John Bachman e Zak Starkey. Só os três. Foi tão bom tocar com esses caras, eles me influenciaram, eu aprendi e expandi. Fui um melhor músico após ter tocado com Ringo. E quando nós estávamos em Tóquio na entrevista coletiva uma jovem perguntou: “Mr. Farner, como é tocar com um Beatle?” e eu disse “Bom, deixe-me explicar para você, querida. O Ringo coloca as calças uma perna por vez, assim como eu”. E o Ringo levantou, veio até mim, me deu um tapinha nas costas e falou “Obrigado, irmão!”.
W (DD): Isso é muito legal de ouvir, que história boa.
MF: Legal.
Mantenha sempre suas unhas cortadas, sua mão no braço da guitarra e sempre toque deitado na cama até adormecer. E quando você acordar, antes de fazer qualquer coisa, fique deitado e toque mais.”
W (NM): Mark, conte-nos sobre a importância da religião na sua vida e quando você começou a se envolver com religião.
MF: Bom, eu aprendi a diferença entre religião e fé. Quando eu aprendi isso eu comecei a me desprender da dívida que existia em mim. Eu era muito consciente da dívida, pois nasci em um mundo em que as pessoas aceitam dívida. Mas Jesus disse “Deva nada a nenhum homem”. E eu levo isso muito a sério pessoalmente. Eu não devo nada a ninguém. Dinheiro define tudo isso, pessoas pensam muito mais nelas do que deveriam, e as igrejas afundam as pessoas ainda mais em dívidas. Eles dizem “Agora que você é cristão você deve 10% a Deus, e você deve dar, fazer oferenda, fazer isso e aquilo, pagar o pastor, e esse cara”. Eu estou dizendo, me deixa enojado. Não há recompensa nisso, a única coisa que faz é afundar pessoas em dívida. Nós temos que ser livres! É rock N’ roll, ele quer que sejamos livres. Está liderando o caminho para seguirmos. E pra mim, pessoalmente, o reino dos céus está dentro de nós, não depois das nuvens, nos planetas, em algum lugar por aí. Está aqui nos nossos corações e somos responsáveis por ele. Cada um de nos, em espírito. Pelo amor e paz que isso nos traz. Porque amor é incondicional.
W (DD): E falando sobre raízes, qual é a importância de sua herança Cherokee na sua música e composição?
MF: Importância? Eu acho, irmão, que é a minha pegada rítmica. As pessoas me dizem, depois de terem visto um show, que viram em mim parte de um animal, quem eu sou como animal. E é parte do meu sangue nativo Americano me expressar dessa maneira. Mas eu sou uma mistura de sangue Cherokee com sangue suíço, sangue alemão, sangue judeu, tenho sangue francês. Sou como o que chamam por aqui de “Heinz”, algo como um molho de carne. Você coloca um monte de coisas juntas para dar um gosto melhor. Sou uma mistura de todas essas coisas.
W (NM): Você é como a maioria dos brasileiros, então.
MF: Isso mesmo, irmão! E nós arrasamos.
W (NM): O que você falaria para um garoto de 14 ou 15 anos que está começando a tocar guitarra e reunindo seus amigos para começar uma banda?
MF: Mantenha sempre suas unhas cortadas, sua mão no braço da guitarra e toque sempre deitado na cama, deitado até adormecer. E quando você acordar de manhã, antes de fazer qualquer coisa, fique deitado e afine sua guitarra, e toque mais. Se apaixone pelo seu instrumento e você terá de volta tudo que você investir nele.
W (NM): Tem mais alguma mensagem que você gostaria de deixar aqui para os ouvintes, algum pensamento especial?
W (DD): Além de todas as coisas legais que você já falou.
MF: Sim, obrigado. E só quero dizer que somos todos bons de coração. Nós precisamos seguir isso e não tanto o que os nossos olhos veem. Especialmente na televisão, que é controlada por pessoas de caráter questionável. Seus motivos são maus, em sua maioria. Nós não podemos ter nossos olhos na doença do sonho dos outros. E não queremos viver assim. Para termos a mente livre precisamos viver pelo que está no nosso coração. E quando eu for pro Brasil e tocar para os brasileiros, sei que vou sentir o amor. E quero convidar todos os fãs de Wikimetal para o show em São Paulo.
W (NM): Você sentirá com certeza, Sr. Mark Farner. Foi uma grande honra tê-lo em nosso programa. Deixe-me perguntar mais uma coisa, é sua primeira vez no Brasil?
MF: Sim, é.
W (NM): Mais um motivo para não perder esse show.
MF: Isso mesmo.
W (NM): Muito obrigado pelo seu tempo e estou ansioso para ver você tocar ao vivo no dia 10 de março.
MF: Obrigado irmão. E obrigado, Daniel.
W (DD): Obrigado, Mark. Foi uma honra tê-lo no nosso programa.
MF: Muito obrigado.
W (NM): E venha para o Brasil, estaremos lá.
MF: Certo, irmão.