Nós escrevíamos o que vinha à cabeça, não estávamos preocupados com a estrutura. O modo que escrevemos as coisas foi acidental. O estilo que criamos, com o arranjo um pouco incomum, se tornou o nosso som.”
Wikimetal (Nando Machado): Olá, Sr. John Petrucci. Como vai?
John Petrucci: Bem, como vai você?
W (NM): Excelente. É muito bom recebê-lo no nosso programa, muito obrigado pelo seu tempo.
W (Daniel Dystyler): Em primeiro lugar, deixe-me agradecê-lo por tudo o que você tem feito pelo rock e metal por quase 30 anos, é uma verdadeira honre recebê-lo no nosso programa. Eu vou começar perguntando, antigamente, quais eram suas principais influências que fizeram com que você começasse a tocar guitarra e montasse uma banda de heavy metal?
JP: Sabe, quando eu comecei, era as coisas mais básicas que estavam sendo tocadas no rádio, então eu curtia Zeppelin e Sabbath, e, sabe, AC/DC e essas coisas. Eu cresci em Nova York, em Long Island, então as estações de rádio locais tocavam todo esse tipo de coisa. Mas então eu comecei a tocar guitarra quando eu tinha 12 anos, e eu comecei a ouvir mais metal, como Maiden e Metallica… É claro, conforme eu fui melhorando na guitarra, eu comecei a ouvir mais guitarristas, e aí eu comecei a me interessar, eu acho, pelo lado mais progressivo, por meio do Yes e do Rush, e essas coisas, me debrucei mais sobre esse mix de metal e música progressiva, e sabe, jazz e clássica, e todas essas coisas que se tornaram o meu estilo de compor dentro da banda.
W (NM): Então John, mudando de assunto, eu sempre admirei o modo como voces escrevem e criam música no Dream Theater. Geralmente, a estrutura das suas músicas é muito diferente do padrão básico “verso-bridge-refrão”. Como vocês estruturam as músicas? Isso é planejado antecipadamente?
JP: Bom, sabe, você tem razão. É definitivamente diferente das estruturas típicas, quer dizer, você não consegue… Isso vem provavelmente de quando eu era adolescente, ouvindo Rush, sabe, álbuns como “2112” e “Hemispheres”, e o Yes, sabe, “Close to the Edge”, e “Fragile”, e todas essas coisas. Quer dizer, essas músicas não tem arranjos típicos, sabe, então essa é uma coisa que se enraizou na gente. Então nós escrevíamos, quer dizer, eu me lembro, mesmo no comecinho, com só John Myung e eu, quando nós estávamos no ensino fundamental e no colegial tocando juntos, sabe, nós escrevíamos o que vinha à nossa cabeça. Nós não estávamos muito preocupados com a estrutura, sabe. Então foi provavelmente acidental o modo como nós escrevemos as coisas. Então esse foi o estilo que nós criamos, com o arranjo um pouco incomum, esse se tornou o nosso som, então á algo que nós mantivemos por um longo período.
W (DD): É, John, sabe, é muito difícil tentar tocar as suas músicas, já que vocês fazem “só no terceiro refrão, nós vamos repetir esse riff três vezes ao invés de quatro”, então… Para tentar reproduzir o que vocês tocam… É difícil, cara!
JP: Especialmente por causa de todas as mudanças.
W (DD): Sim, sim, definitivamente. E já que você mencionou o Rush, você vê semelhanças entre o Dream Theater e o Rush, além do modo como vocês estruturam as músicas?
JP: Sabe, o que nós tentamos fazer é… Com uma banda como o Rush, por exemplo, que especificamente, eles obviamente tiveram uma carreira de muito sucesso em muitas áreas, sabe, não só tendo uma longa carreira, mas tocando o tipo de música que eles tocam, e, sabe, fazendo turnês de sucesso e apresentando os shows que eles fazem. Então às vezes, sabe, nós olhamos para bandas como essa, que nós admiramos e respeitamos, seja o Iron Maiden, ou o Rush, ou o Metallica, ou qualquer que seja, e nós dizemos “O que eles fazem? Quais são as pessoas que eles usam?” Sabe, nós ainda usamos o Hugh Syme no nosso trabalho de arte, como o Rush, e nós olhamos para o show ao vivo, e os vídeos que o Rush e o Muse e essas bandas diferentes têm, e tentamos aprender e nos inspirar neles. Eu acho que é um bom jeito de construir a sua carreira, sabe, e mesmo quando eu era pequeno, eu já fazia a mesma coisa, eu olhava para esses guitarristas como, sabe… Eu era muito fã do Steve Vai e do Al DiMeola, e eu dizia “O que esses caras fazem?” e, sabe, eu descobri que eles frequentaram a Universidade de música de Berkeley, então eu pensei “Bom, eu vou fazer a Universidade de música de Berkeley”, e você tenta aprender com essas coisas, então… É importante.
Nossos fãs têm sido simplesmente maravilhosos ao redor de todo o mundo. Desde o primeiro show, os fãs realmente receberam Mike Mangini de braços abertos.”
W (NM): Excelente. Nós temos uma pergunta clássica no nosso programa que nós fazemos para todas as pessoas que nós entrevistamos, que é, imagina que você está ouvindo rádio em uma estação de rock, dirigindo o seu carro ou alguma coisa do tipo, ou ouvindo o seu ipod ou qualquer mp3 no shuffle, e uma música começa a tocar que faz com que você perca a cabeça e comece a headbangear imediatamente, não importa onde você esteja, você não consegue se conter. Que música seria essa, para que nós possamos ouvi-la no nosso programa agora?
JP: Ah, cara, tem tantas boas. Tem tantas boas… Eu não, eu acho que tem que ser “Master of Puppets”.
W (DD): Falando sobre o seu último álbum “A Dramatic Turn of Events”, em primeiro lugar, parabéns pelo álbum. Eu amo esse álbum, as músicas são ótimas. E o Mike Mangini está incrível… Eu imagino que a criação do álbum foi um grande desafio, já que, depois de tantos anos, vocês mudaram a forma como os álbuns estavam sendo criados, certo?
JP: Bom, obrigado por dizer isso, eu agradeço, eu fico feliz que você gostou do álbum. Sabe, depois… Desde o começo, sabe, com o Mike, e tendo ele na banda por 25 anos, ou algo assim, e depois ver ele sair… Certamente é algo diferente, obviamente, quando a pessoa não está lá no estúdio, a dinâmica muda. Na verdade, nós fomos para o estúdio sem o Mike Magini, sem um baterista por dois meses e meio, eu acho. E, sabe, nós compusemos no estúdio, eu programei a bateria no computador para que nós tivéssemos um desenho das músicas, e nós fizemos demos das músicas com as partes de bateria e todo o resto, e daí eu mostrei isso para o Mike Mangini, e ele interpretou isso e gravou. Então sabe, com certeza foi diferente nesse sentido. Mas ao mesmo tempo, eu sempre compus a música, então isso não mudou, isso ficou do mesmo jeito. É só a dinâmica que foi diferente, obviamente, sem o Mike lá, sem nenhuma baterista. Foi um pouco mais íntimo, e isso foi bom, foi uma experiência divertida, e eu acho que deu muito certo, eu estou feliz que você apreciou, que você gostou.
W (NM): Ainda falando sobre o Mike, nós sabemos que ele está ótimo no álbum. E nós também tivemos a oportunidade de ver o Dream Theater muitas vezes no passado, tocando em shows ao vivo no Brasil. E a performance ao vivo de cada indivíduo da banda sempre foi incrível. Como tem sido a recepção dos fãs da nova line-up?
JP: Sabe, tem sido ótima. Eu tenho que admitir que os nossos fãs têm sido simplesmente maravilhosos ao redor de todo o mundo. Nós começamos a nossa turnê na Itália julho passado, então há um ano, no dia 4 de julho, em Roma. E desde o primeiro show, os fãs realmente o receberam de braços abertos, o que foi um grande alívio para nós, sabe, só o fato de eles verem a banda com uma nova cara e aceitarem isso tão positivamente… E as nossas turnês pela Europa, América do Norte e Ásia foram a mesma coisa, sabe. As pessoas nos recebendo, os concertos dando muito certo. E agora nós estamos na América do Sul, e as pessoas estão vendo o Mike Mangini pela primeira vez com o Dream Theater, e até agora tem sido mais ou menos a mesma coisa. Sabe, nós tocamos na Colômbia, nós tocamos na Argentina, nós tocamos na América Central há algumas semanas, e a resposta e aceitação a ele tem sido fenomenal, realmente fantástica.
W (DD): Nós podemos imaginar que o processo de escolher um baterista novo foi muito delicado, e foi um momento muito importante para a banda, então a ideia de tornar públicos todos os vídeos dos testes foi ótima para, eu acho, unir as pessoas à banda, para que nós todos pudéssemos conhecer todos os candidatos e entender o porquê, e de onde veio a decisão de vocês. Então, para mim, isso realmente humanizou todo o processo. Quem teve essa ideia, e você tem alguma lembrança que gostaria de compartilhar sobre essas sessões?
JP: Bem, obrigado. Eu fico feliz que pareceu isso, e foi mesmo uma coisa muito boa. Sabe, assim que nós decidimos que iríamos testar bateristas, e que seriam apenas alguns bateristas, nós não fizemos um teste aberto, nós apenas… Nós chamamos algumas pessoas, e acabou que foram apenas, sabe, dez pessoas ou algo assim, e apenas umas sete acabaram fazendo o teste, então nós sabíamos que isso iria durar alguns dias, e nós quisemos filmar. Mas, sabe, levando isso para o próximo nível, contratando uma equipe de filmagem profissional, e tornando isso em algo que nós iríamos lançar. E a ideia foi criar uma espécie de série, que seria lançada aos poucos, até que nós revelaríamos quem seria o baterista. Acabou sendo uma coisa muito divertida, porque, como você disse, em primeiro lugar, gerou muita antecipação. Muitas pessoas ao redor do mundo ficaram muito frustradas, sabe “Por que vocês não liberam o nome? Por que está demorando tanto?”. Mas o legal é que uniu as pessoas, como você disse, trouxe os nossos fãs para esse experiência, foi uma exposição para nós, para todo o processo, e eu acho que acolheu o Mike Mangini, porque as pessoas viram o que aconteceu até aquele momento. Sabe, as lembranças… Eu estava um pouco nervoso com isso, eu acho, mas também foi empolgante. Foram muitas horas, muito trabalho nesses três dias, mas nós nos divertimos em Manhattan, nós fizemos muitas reuniões, e foi difícil, sabe, para… Nós tivemos que pensar muito sobre isso, é claro, foi difícil manter o segredo por tanto tempo, mas eu fico muito feliz que nós fizemos isso.
W (NM): Ainda falando sobre os testes, como brasileiros, nós estávamos torcendo para que o Aquiles Priester conseguisse o trabalho. Você se lembra do Aquiles? O que você se lembra da sessão dele?
JP: Eu me lembro… Bom, em primeiro lugar, houve algum problema para conseguir trazê-lo para os testes lá do Brasil, houve algum problema com o visto dele, ele quase não conseguiu chegar em tempo. Ele foi muito, muito… Um cara muito legal… Ele entrou, e ele havia dito que ele teve que adiar ou cancelar alguns shows com a banda dele, o que eu achei que foi muito… Foi um grande sacrifício. E nós nos divertimos. Obviamente, ele não passou no teste, mas ele foi muito, muito simpático, muito humilde, e um grande baterista, e nós gostamos muito de tocar com ele, então foi legal.
Eu nunca fiz uma turnê do G3 com o Steve Morse, e é claro, o Steve é o meu músico preferido de todos os tempos, então vai ser muito divertido tocar com ele.”
W (DD): John, vocês fizeram tributo aos melhores álbuns da história do rock, tocando shows inteiros baseados nesses álbuns, como “Master of Puppets”, do Metallica, e “The Number of the Beast”, do Iron Maiden. Nós podemos esperar que vocês façam isso novamente no futuro, e talvez no Brasil? Isso seria incrível!
JP: Talvez, sabe, não é alguma coisa que nós vamos fazer agora. Agora, nessa turnê mundial, nós estamos nos concentrando, obviamente, em introduzir as pessoas ao Mike Mangini, e tentar tocar um balanço entre o álbum novo e o material mais antigo, e nós temos um tempo limitado nos shows. Quer dizer, agora mesmo, o nosso show tem aproximadamente 2 horas e 40 minutos de duração, então, sabe, é algo que talvez nós façamos no futuro, mas não dessa vez.
W (DD): Eu amo o seu álbum solo, “Suspended Animation”, que foi lançado em 2005, se eu não me engano, principalmente uma faixa fantástica que você tem, chamada “Glasgow Kiss”. Você acha que nós podemos esperar um segundo álbum solo no futuro?
JP: Sim, sabe, as pessoas me perguntam isso o tempo todo, e como você disse, isso foi lançado há muito tempo, em 2005. Então eu tenho datas do G3 na América do Sul em breve, eu estarei no Brasil em outubro com o Joe Satriani e o Steve Morse. Então eu terei algum material novo para essa turnê, e logo depois eu vou voltar para o estúdio e gravar música para um novo álbum solo. Então eu sei que faz bastante tempo, mas eu estive muito, muito ocupado com a banda, então…
W (NM): Ainda sobre o G3, você virá para o Brasil esse ano na turnê do G3. Você pode compartilhar alguma lembrança sobre algum show do G3 que você já fez? E o que nós podemos esperar sobre esses próximos shows?
JP: Claro, sabe, eu já fiz muitas turnês do G3 ao redor do mundo, na Europa e na Ásia, na Austrália e na América. Mas eu também… Nós fizemos um na América do Sul, que era eu, o Joe e o Eric Johnson, e nós nos divertimos muito, e eu acho que vai ser assim novamente, eu estou muito ansioso. Eu nunca fiz uma turnê do G3 com o Steve Morse, e é claro, o Steve é o meu músico preferido de todos os tempos, então vai ser muito divertido tocar com ele. O Joe é um cara incrível, um guitarrista maravilhoso, e é sempre muito divertido tocar com ele, eu sempre me sinto honrado de fazer parte dessa turnê. E eu acho que os fãs vão poder ver música nova, e uma nova combinação de artistas, tem tudo para ser incrível.
W (DD): E John, eu estou curioso, como vocês ensaiam com essas agendas tão lotadas?
JP: Bom, nós só vamos ensaiar alguns dias em setembro. Sabe, só para escolher as músicas, nós vamos nos juntar e ensaiar algumas músicas, então esses vão ser os ensaios com a banda. E daí quando nós nos juntarmos na América do Sul, nós vamos conversar sobre quais músicas nos vamos improvisar em cima, e vamos ensaiar. Então todo mundo pratica, se preparando para a turnê.
W (NM): E John, qual é, na sua opinião, a importância de um músico ter uma mente aberta sobre outros estilos de música? E quão difícil é para você fazer isso, especialmente no mundo de hard rock e heavy metal?
JP: Bom, sabe, você tem que tentar manter a sua identidade no hard rock e no metal, e sabe… O bom de tocar esse estilo de música que nós tocamos, sabe, o elemento progressivo, é que nós podemos adicionar elementos diferentes de estilos diferentes. E isso cria um som mais interessante. Então, sabe, é importante, você pode sair e ouvir coisas diferentes, você pode pegar influências de outro tipo de música, no qual você não pensaria normalmente, sabe, e talvez como guitarrista, isso apareça nas suas improvisações, e como compositor, isso talvez apareça nas suas escolhas de nota e de melodia, e isso ajuda a tornar a sua música muito mais original e única.
Ir aos Grammys, ser nomeado para um Grammy, foi um grande momento para mim, para todos nós como banda.”
W (DD): John, nós estamos quase terminando a nossa entrevista, mas antes de nos despedirmos, eu gostaria de te perguntar: com tantos momentos incríveis que você viveu, qual é o momento do qual você nunca vai se esquecer? A coisa que imediatamente vem a sua mente quando você pensa em todas as coisas incríveis que você conquistou?
JP: Bom, obrigado por dizer isso. É difícil para mim pensar em uma coisa só, quer dizer, obviamente há muitos momentos… Recentemente… Um momento recente do qual eu nunca vou me esquecer: ir aos Grammys, ser nomeado para um Grammy, esse foi um grande momento para mim, para todos nós como banda. E, sabe, ter a minha família lá, ter a banda lá com todas as nossas famílias. Foi muito especial, foi um grande momento.
W (NM): John, que conselho você daria a um jovem que está pensando em formar uma banda de rock, ou tocar guitarra?
JP: Sabe, obivamente, se você é sério em relação á música, você realmente tem que se dedicar, sabe, eu gosto de dedicar muitas horas praticando. Mas ao mesmo tempo, sabe, você tem que compor música original – isso é muito importante, porque é isso que vai te separar do resto das pessoas, é isso que vai te dar uma voz única em relação à música que você cria. Então isso… Sabe, componha música e pratique muito.
W (DD): Mr. John Petrucci, do Dream Theater, foi uma verdadeira honra. Muito obrigado pelo seu tempo, pela sua paciência, e por estar aqui conosco, no Wikimetal. Você poderia, por favor, deixar uma última mensagem para todos os fãs do Wikimetal e do Dream Theater que estão ouvindo?
JP: Claro. Para todos os fãs do Wikimetal e do Dream Theater: eu estou ansioso para vir ao Brasil novamente, é sempre incrível, e eu estou empolgado para todos os shows que nós vamos fazer nas próximas duas semanas. E obrigado a todas as pessoas que estiveram conosco desde o começo, e às pessoas novas também. Eu estou muito ansioso, acho que vai ser maravilhoso.
W (NM): Muito obrigado, Sr. John Petrucci, um dos grandes mestres da guitarra do nosso tempo. Muito obrigado pela entrevista. Nós estaremos lá no domingo, em São Paulo, com Dream Theater, e em outubro com o G3, com certeza. Foi uma verdadeira honra tê-lo no nosso programa, e nós sempre estaremos apoiando tudo o que você fizer, seja com o Dream Theater, ou na sua carreira solo.
JP: Muito obrigado, eu agradeço. Tchau.
W (DD): Obrigado, tchau!
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