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Entrevista com Jason Newsted

Os caras do Voivod eram heróis, eu pude tocar com eles e eles me trataram com muito respeito, diferente do Metallica”

Wikimetal (Nando Machado): Alô, posso falar com o Sr. Jason Newsted, por favor?

Jason Newsted: Sou eu.

W (NM): Oi, Jason, aqui é o Nando, do Wikimetal, no Brasil. Como você está?

JN: Muito bem, cara, obrigado. Como vai você?

W (NM): Eu estou ótimo. Você está disponível, podemos começar a nossa entrevista?

JN: Sim.

W (NM): Ótimo. Em primeiro lugar, eu gostaria de dizer que estou muito feliz que você está com novos projetos, e que você voltou a fazer o que você faz melhor. Nós realmente desejamos o melhor para o futuro do Newsted, e espero que vocês venham para o Brasil em breve.

JN: Bem, muito obrigado, eu estou feliz de estar de volta, e o Brasil é muito especial para mim, como você sabe. Eu acho que as pessoas do Brasil sabem que eu tenho laços muito fortes aí, com a família Sepultura, eu tenho muitas, muitas boas lembranças desse lugar. Então se eu tiver a oportunidade de tocar aí novamente, eu certamente irei. Eu adoraria voltar aí.

W (NM): Excelente, excelente. Então, sobre o projeto Newsted, Jason, você poderia nos falar mais sobre a line up? A banda está pronta para tocar shows, e se não, como você vai escolher os músicos que vão se juntar a você no palco nesse projeto?

JN: Nós ainda estamos no estúdio agora. Esse é o último dia de estúdio para essa leva de músicas. Nós estamos gravando em levas, quatro ou cinco por vez. E nós vamos lança-las de quatro ou cinco por vez. Os membros da banda que tocam comigo agora, eu já conheço há alguns anos, nós três já tocamos juntos por cinco anos. Eu conheço o baterista há provavelmente 15 anos, ele costumava trabalhar para o Metallica, e ele foi o técnico de bateria no EcoBrain Tour, e o nome dele é Jesus Mendez Jr., e o nome do guitarrista é Jessie Farnsworth. Então eles estarão comigo quando eu tocar ao vivo, e eu também vou adicionar mais um guitarrista, então nós seremos uma banda de quatro integrantes ao vivo. E eu toco baixo e canto, e o Jessie e eu trocamos no baixo e na guitarra no estúdio e nas performances ao vivo. Nós estaremos prontos para fazer shows no ano que vem.

W (NM): Excelente. E o nome do projeto? Eu achei interessante que vocês o chamaram de Newsted Heavy Metal Music. É só Newsted, ou Newsted Heavy Metal Music? Sobre o que é?

JN: Newsted Heavy Metal Music é só o nome da marca de todas as minhas coisas, todos os produtos, e o projeto todo é Newsted Heavy Metal Music, mas o EP, o primeiro EP com as quatro músicas está disponível para pré-venda agora no iTunes, e se chama “Metal”. Então é Newsted “Metal” EP. E você vai ver, eu não posso falar sobre o Newsted Heavy Metal Music. É um plano que vai se desenrolar no ano que vem, e você vai ver por que se chama Newsted Heavy Metal Music, no final desse plano, OK?

W (NM): Claro, excelente, nós mal podemos esperar. De qualquer forma, mudando de assunto, Jason, nós temos uma pergunta clássica no nosso programa, que nós fazemos para todas as pessoas que nós entrevistamos, nós temos que ouvir um pouco de música agora. Imagine que você está talvez dirigindo o seu carro, ou onde quer que você esteja, no chuveiro, trabalhando, o que seja, e você ouve uma música, de repente, que faz você perder a cabeça completamente, e você começa a headbangear onde quer que você esteja. Que música seria essa, para que nós possamos ouvi-la no nosso programa agora?

JN: OK. Tem duas músicas diferentes que eu estou gostando muito essa semana, e uma delas se chama “Old Fangs”, de uma banda chamada Black Mountain. E a segunda música que eu realmente estou gostando essa semana já tem alguns anos, e é da The Sword, e se chama “Tres Brujas”, que seria “as três bruxas”, então essas são as minhas duas bandas preferidas essa semana.

W (NM): Muito bem, então podemos ouvir um pouco de Black Mountain agora no Wikimetal?

JN: Claro, Black Mountain, está ótimo.

W (NM): Jason, falando sobre o começo da sua carreira, mesmo antes de você tocar no Gangster, e nas primeiras bandas que você tocou, como você se envolveu primeiramente com música?

JN: Uau, você sabe do Gangster, que loucura! Eu era um garoto nessa época, tenho que dizer… A música veio… Estava sempre na nossa casa, eu tenho dois irmãos mais velhos, 8 e 5 anos mais velhos do que eu, e os dois eram adolescentes nos anos 60, no centro-oeste dos Estados Unidos. Então eles tinham coleções legais de discos, sabe? Jimmy Hendrix, e Blue Cheer, e MC5, e Ted Nugent, e Nazareth, e Kiss, e todas essas coisas diferentes. Então desde pequeno eu fui exposto a esse tipo de música. E o Black Sabbath realmente me conquistaram, então eu comecei a tocar quando eu tinha 14 anos, eu ganhei a minha primeira guitarra quando eu tinha 9 anos, e comecei a escrever músicas quando eu tinha 9 anos, escrevendo palavras no papel e cantando e tudo, então eu tenho feito isso por anos, na verdade, compondo músicas e tocando. Então eu ganhei o meu primeiro baixo quando eu tinha 14 anos, e comecei a ouvir muito Kiss, e depois eu aprendi mais com o Black Sabbath e o UFO. O antigo baixista do Ted Nugent, chamado Rob Grange era um dos meus baixistas preferidos, e então eu ainda ouço muitas dessas coisas. Mas essas foram as minhas primeiras influências, e vieram da minha família, minha mãe ensinava piano, e meu irmão mais velho ainda é um músico, ele toca trompete, e ele toca o tempo inteiro. Então está relacionado à família.

Foi uma honra muito grande ser chamado para tocar com o Ozzy. Me senti como uma criança de novo, olhando para os meus pôsteres do Black Sabbath no meu quarto”

W (NM): Excelente, ótima história. E sobre o Flotsam and Jetsam? Você poderia nos contar a história de quando você se juntou à banda? E depois disso, você poderia escolher uma música do Doomsday for the Deceivers” da qual você se orgulha muito de ter escrito, para que nós possamos ouvi-la no nosso programa?

JN: Muito bem. Eu deixei Michigan, minha casa, quando eu tinha 18 anos, com alguns caras mais velhos. Eu tinha 18 e eles tinham 26 anos, e nós partimos para Califórnia para fazer parte de uma banda de rock, sabe, como um sonho ou qualquer coisa. E eu fui parar no Arizona, e eu conheci o Kelly Smith em 1982, e nós formamos uma banda chamada Dox, que eventualmente se tornou a Flotsam and Jetsam. E daí nós trabalhamos por cinco anos entre clubes e bares, e depois nós conseguimos um contrato, e fizemosDoomsday for the Deceivers”. E então alguns meses depois disso, eu me juntei ao Metallica. Então foi uma jornada rápida, e a minha música preferida do “Doomsday”, eu acho, é a primeira faixa, “Hammerhead”, é uma música dura e muito boa. Eu me orgulho muito dela, eu a compus quando e era muito jovem, então ela ainda se mantém hoje em dia.

W (NM): O que você se lembra do convite para se juntar ao Metallica, em 1986?

JN: Eu me lembro que foi muito surreal. Eu sabia que o Lars tinha ligado para o mundo inteiro para encontrar um baixista, e o meu nome era sempre mencionado, independente do país, porque eu tinha trabalhado muito com o Flotsam and Jetsam, trocando fitas, que eu já tinha me projetado. E quando eu recebi a ligaçãoo do Lars para vir e tocar, foi muito empolgante, porque o Metallica já era a minha banda preferida, eu já conhecia todas as músicas deles, sabe, o Flotsam and Jetsam fazia cover das músicas do Metallica, e eu cantava. Então eu já era muito familiar, eles eram os nossos heróis. Então quando eu tive essa oportunidade, não tinha jeito de eu não conseguir a vaga, era eu, eu sabia disso na minha alma, eu sabia disso no meu coração, eu não ia deixar ninguém me vencer. Então é isso que eu me lembro – é ficar acordado por provavelmente cinco dias seguidos, sem dormir, só tocando e tocando. Os meus dedos sangravam literalmente, tinha sangue no meu baixo dos meus dedos. Então é assim tanto que eu queria, eu queria muito, e eu fui lá e consegui, então valeu a pena. Eu me lembro de empolgação e não acreditar.

W (NM): Isso é ótimo, muito bom de ouvir de você. E falando sobre o Metallica novamente, o que significou para você tocar com eles novamente na nomeação ao Rock and Roll Hall of Fame e nas comemorações de aniversário deles de 30 anos?

JN: Bom, o Hall of Fame foi uma coisa ótima, foi muito especial porque nós pudemos incluir as nossas famílias e todos os nossos amigos, e eles estavam lá para compartilhar conosco, então isso se tornou mais especial ainda. E toda a equipe antiga, de 30 anos, veio para o Hall of Fame, e pessoas que nós não víamos há muito, muito tempo, e todos nós nos juntamos e tomamos uma cerveja. E foi um sentimento fantástico de vitória e família, e foi como um time, como se nós tivéssemos vencido, sabe, como um grande jogo de futebol, nós ganhamos a copa do mundo, cara. Então foi assim que eu me senti, e foi muito bom poder tocar com eles novamente. O trigésimo aniversário foi melhor ainda. O Hall of Fame foi legal para ganhar a estatueta, mas o trigésimo aniversário foi uma recompensa melhor para mim. O Lars tinha me ligado em outubro do ano passado, e me disse que eles iriam tocar no aniversário em São Francisco, e eles iam convidar o Kind Diamond, e o Halford, e o Biff Byford, e um monte de gente, o Death Angel, e o Armored Saint, e todos os nossos velhos amidos. E eu disse “Sim, cara, quando você quer que eu vá para aí? Eu toco com vocês.”E ele disse “Bom, quais músicas você quer tocar?” E eu disse “Olhe os álbuns do Metallica, encontre as músicas mais rápidas, as músicas mais rápidas de cada álbum, e são essas que eu vou tocar.” Então nós escolhemos as 14 músicas mais rápidas, e foram essas que eu toquei com eles, e foi muito bom. E ver a reação dos fãs e olhar nos olhos deles, e sentir a energia de novo, foi o catalisador, é a razão pela qual eu estou fazendo o projeto Newsted agora mesmo, é porque eu fiquei empolgado de novo quando eu toquei com o Metallica, quando eu olhei para os fãs e percebi que eu podia fazer tudo de novo. Então essa é a razão pela qual nós estamos falando agora, um ano depois – é porque eu toquei com o Metallica e decidi que eu queria fazer isso de novo.

W (NM): Isso é ótimo, uau. Nós estamos muito felizes que você fez isso. Conte-nos um pouco sobre a experiência de trabalhar com o Ozzy.

JN: OK… Ozzy… Em 2003 eu entrei para a banda dele com o Zakk e o Mike Bordin, e nós nos divertimos muito. Quer dizer… Eu vivi muitos sonhos na minha vida, e não são muitas pessoas que conseguem isso. Eu fiz parte do Metallica – foi um sonho lindo e maravilhoso por 15 anos, e então o Ozzy por um ano, e isso foi outro sonho. Mas o Voivod foi um sonho maior ainda, eu tenho mais orgulho dos meus álbuns com o Voivod, de todos os álbuns que eu já fiz. Mas o Ozzy foi muito especial porque ele é o nosso professor, é o nosso padrinho do Metal. E então ele ter pedido para eu tocar baixo nas músicas do Black Sabbath, quer dizer, eu pude tocar músicas antigas do Black Sabbath – foi assim que eu aprendi a tocar. Nós falamos sobre isso antes – eu aprendi a tocar baixo ouvindo os álbuns do Black Sabbath de novo, e de novo, e de novo – foi assim. Então quando eu tive a oportunidade de me provar de verdade com essas músicas, eu realmente não tive que estudar muito, porque eu já sabia todas elas, de cabo a rabo, então ele só chamava a música e eu tocava. E na verdade, o show mais longo que eu já toquei na minha carreira foi com o Ozzy – nós tocamos por três horas e um minuto. Nós tocamos 28 músicas, e 17 delas eram músicas antigas do Black Sabbath, foi em Montreal. E ele anunciava músicas que nós nem havíamos ensaiado junto, ele só anunciava no microfone, sabe, “The Wizard”, e eles começavam a tocar, e eu pensava “OK, como era essa mesmo? Nós tínhamos que dar um jeito, nós tínhamos que tirar de memória, de quando nós éramos crianças tocando as músicas, e tocar as músicas que nós nem praticamos. Então foi um teste muito bom do meu conhecimento do Black Sabbath e de Heavy Metal, mas também foi uma honra muito grande ser chamado para tocar com o Ozzy, então eu me senti como uma criança de novo, eu me senti no colegial de novo, olhando para os meus pôsteres do Black Sabbath na parede do meu quarto, sabe.

O Geezer Butler é o meu baixista preferido, ele é o meu maior professor, e o Lemmy está logo em segundo lugar”

W (NM): Sim, eu acredito. E já que você mencionou o Black Sabbath, quais são seus baixistas preferidos? O Geezer Butler é um deles?

JN: O Geezer Butler é o meu baixista preferido, ele é o meu maior professor, e o Lemmy está logo em segundo lugar. E o Geddy Lee, e o Rob Grange, como eu disse, da banda do Ted Nugent, e um cara chamado Bill Church, da banda original do Montrose, são os baixistas que eu acho os melhores.

W (NM): E você poderia escolher uma música do Metallica que você tem muito orgulho? Eu sei que você escreveu algumas músicas com o Metallica, você poderia escolher alguma delas para que nós possamos escutá-la no programa agora?

JN: Sim, cara, vamos de “Blackened”.

W (NM): “Blackened”, uma das minhas preferidas, do “…And Justice for All”,  uma música escrita pelo Jason Newsted no Wikimetal! Mudando de assunto de novo, Jason, algumas pessoas dizem que “Out of my Mind of Who Cares” foi uma das melhores músicas de 2011, conte-nos sobre a experiência de – eu imagino que você viveu outro sonho – tocar com lendas como o Tony Iommi, Ian Gillan, Nicko McBrain, Jon Lord, o falecido Jon Lord e também o Mikko Lindström.

JN: Sim, foi, novamente, uma coisa muito surreal ter sido chamado – se compara à coisa do Ozzy, porque se você for pensar agora, eu estava tocando com metade do Black Sabbath, isso é… Só de pensar isso…

W (NM): É lendário, cara.

JN: Sabe, você recebe uma ligação do cara que escreveu a nossa música. Ele é o cara responsável pelo que eu faço, ele é responsável pelo que é o seu programa, ele é responsável pelo que é a nossa música. O cara que escreveu os primeiros riffs do Heavy Metal. Ele me liga, ele me chama pelo nome “Hey, Jason, você está bem, cara? Você quer tocar baixo?” E eu fiquei “Quem é? Por que você está tirando com a minha cara?” Eu achei que fosse alguém pregando uma peça em mim, cara. Era ele mesmo. E ele me mandou a música, e… Sabe, ele confiou em mim com a música dele, ele me mandou a música dele para que eu visse todas as faixas, e ouvisse tudo para fazer minha parte com o baixo. Sabe, foi uma loucura receber esse material do Tony Iommi, de 12 faixas de guitarra, uma se misturando com a outra, e eu pude mexer com ele na mesa de mixagem, tipo “Meu Deus, eu estou mixando Black Sabbath!” Foi bem maluco. Então foi muito especial, mais uma vez, e foi uma honra ser chamado. Foi algo que eu ainda não consigo acreditar que aconteceu, sabe, porque eu sou mais novo que esses caras, e eles realmente são os nossos professores, então ser igual a eles por um minuto, ficar olho a olho com eles, depois de ter os admirado por tanto tempo, foi meio… Sabe, eu não sabia se eu estava sonhando ou acordado, ou o que, por um bom tempo, então eu demorei alguns dias para me aquietar e conseguir tocar a minha parte, porque é uma música mais relaxada, e eu tenho que relaxar no baixo, mas eu estava tão empolgado, eu ficava tocando mais e mais rápido. Demorou alguns dias até eu me acalmar para conseguir tocar minha parte, então, mais uma vez, eu me senti como um garoto, cara.

W (NM): Eu acredito, e você com certeza merece tudo isso e muito mais. De qualquer forma, eu estava lendo a entrevista que você deu para o Eddie Trunk há alguns dias, e você fala sobre o vinil, você fala sobre as fitas, você fala sobre a internet, as redes sociais, EPs, basicamente todas as formas de se consumir música que existem. Já que você viveu todas essas mudanças na indústria musical, como você compara o início da era da troca de fitas dos anos 80 – como você disse, você era muito ativo nesses dias – com o compartilhamento de arquivos e MP3 de hoje em dia? Quais são as vantagens e desvantagens da tecnologia, na sua opinião?

JN: Na era da troca de fitas, dava muito mais trabalho, sabe, eu tinha que fazer as cópias das fitas uma de cada vez, colocar nos envelopes, mandar um bilhete, uma foto ou um adesivo ou o que quer que eu fosse mandar para a pessoa, de qual fosse o país. E naquela época, haviam talvez 12 ou 17 países com os quais você podia trocar, europeus, e sabe… Tinha música que você queria, tinham bandas que eram interessantes, mas nós tínhamos que fazer um pacote por vez, com os selos, os selos personalizados e todas essas coisas para casa país diferente, então era muito trabalhoso. E atualmente, logo que eu faço minhas músicas, eu posso só apertar um botão e ela vai para o mundo todo. Então isso é incrível por si só, que eu consigo alcançar todos os cantos do mundo enquanto eu estou só sentado na Califórnia, essa é uma vantagem maravilhosa. Mesmo que eu tivesse o resto da minha vida para tentar fazer os meus CDs, o produto físico, chegarem até a Tunísia, ou algum lugar assim no meio do nada, eu jamais conseguiria, não importa o quanto eu me esforçasse, demoraria para sempre para mandar esses CDs para essas pessoas. Hoje em dia, eu posso só colocar na internet e eles conseguem acessar, então essa é uma vantagem. A desvantagem é que qualquer pessoa pode roubar, e que as pessoas estão se sentindo no direito de pegar algumas coisas, e eles não acham que deveriam ter que pagar pelo trabalho duro dos músicos, e eu não concordo com isso. Eu acho que todo mundo deve ser pago pelo trabalho suro que eles fazem, não importa se você é um DJ de rádio, um dentista, se você é um pedreiro, um médico, um advogado ou trabalha com entretenimento. Você deve ser pago pelo seu trabalho. Então eu discordo da pirataria, eu não acho isso certo, eu nunca pensei que copiar fitas era certo, em fitas VHS, e roubar filmes e todas essas coisas. E a nossa troca de fitas, que nós fazíamos antigamente, nós trocávamos a nossa própria música. Eu não estava roubando a música de ninguém e copiando isso em fita e mandando para alguém, eu estava mandando uma cópia da minha própria banda. Eu estava tentando promover a minha banda, assim como eu tento promover a minha banda na internet agora. Então não é a mesma coisa que roubar a música de outra pessoa. Tem algumas diferenças aí. Mas a tecnologia, se você a usa de modo certo, e agora em 2013, o futuro da música, eu acho que pode ser uma coisa muito, muito maravilhosa, porque de qualquer forma, você ainda tem que ganhar um fã de cada vez, você ainda tem que levar a música para as pessoas, e há apensas algumas coisas que não podem ser roubadas ou baixadas hoje em dia: uma experiência de um show ao vivo, e uma camiseta legal da banda, isso ainda não pode ser roubado. Então você tem que continuar trabalhando nisso, achar as avenidas que você tem na música e compartilhar com as pessoas. E é isso.

James Hetfield compões letras ótimas, ele é muito bom em muitas coisas. Mas o Snake, do Voivod, é o melhor letrista que eu já conheci.”

W (NM): São ótimas palavras, Jason. Jason, sobre a sua experiência na TV, com o  reality show da VH1, Rockstar Supernova, isso é algo que você gostou de fazer, é algo que você consideraria fazer novamente?

JN: Na verdade passou na CBS Television… A princípio eu não tinha certeza que eu queria fazer isso, quando eles me chamaram eu fiquei meio apreensivo, mas depois que a CBS falou comigo e me contou o que ia acontecer, e o que eu poderia fazer, e quanto dinheiro eu iria ganhar, eu meio que disse “OK, eu posso tocar baixo com o Tommy, nós somos amigos há muito tempo.” Ele é um baterista muito bom quando ele se concentra, se ele não se distrai muito ele pode ser um baterista muito, muito bom e um músico muito sensível, na verdade. Mas ele tem tantas distrações na vida dele, que ele não consegue se concentrar na música. Então foi uma experiência boa no geral, eu realmente aprendi muito com isso – e isso é o principal – foi uma experiência de aprendizado muito boa. Como eu disse antes, o dinheiro foi excelente, e me ajudou a poder pagar pelos meus projetos musicais, e é assim que eu faço, sabe, eu trabalho um pouco aqui e ali, como essa coisa do Supernova, para ganhar dinheiro suficiente para poder continuar fazendo o que eu faço com a minha música, e foi exatamente isso que aconteceu. E foi legal aparecer na TV, eu acho que todo mundo gostaria de aparecer na TV, sabe, é bem empolgante. E muitas pessoas responderam positivamente, eu recebi muita energia positiva das pessoas durante aquilo. Então algumas pessoas não gostaram, mas não muitas, e eu gostei, e é isso que importa. Então eu estou muito feliz que eu não saí em turnê com eles, eu estou feliz que eu gravei esse álbum, eu me orgulho desse álbum, eu me orgulho do meu baixo no álbum, mas foi uma forma muito diferente de fazer um álbum. Foi em Hollywood, e esse é o exato oposto de quem eu sou, e tive muita dificuldade em reunir todo mundo para ensaiar como uma banda, para realmente trabalhar nessas músicas. É diferente do que nós fazemos no norte da Califórnia, em São Francisco, com o Metallica, o Flotsam e o Voivod. Nós praticamos muito, nós somos disciplinados, trabalhadores e queremos fazer com que a música seja o melhor que puder. Os caras do Supernova estavam mais interessados em ser estrelas de Hollywood stars, então essa é a diferença aí.

W (NM): Nós queremos saber do Voivod. Você gravou três álbuns como Jasonic, não é, com essa banda canadense lendária. Como foi essa experiência, e você poderia escolher uma música desses três álbuns que você gravou com o Voivod?

JN: Claro. O Voivod, como eu mencionei mais cedo, foi, eu acho, a minha melhor experiência musical, em relação ao que nós produzimos. A música é fantástica, e mais importante, o significado das músicas, as letras, o significado das músicas são o que eu mais me orgulho. Elas tem profundidade e elas são verdadeiras. E, sabe, o James Hetfield compões letras ótimas, ele é muito bom em muitas coisas – não em tudo, mas em algumas coisas. Mas o Snake, do Voivod, é o melhor letrista que eu já conheci. Qualquer pessoa consegue aprender alguma coisa com o Snake, ele é o melhor. Então ter isso, e toda a parceria musical do Voivod, e como eles são bons com os seus instrumentos, e sabe, virtuosos, especialmente o Piggy – que ele descanse em paz – ele era um gênio subestimado. Quer dizer, quando você se encontra com esse cara para tocar, ele não te deixava cometer um erro. Ele me mostrava uma música, eu tentava tocar uma vez, e se eu fizesse um erro “Para! Errado!” Sabe, tinha que ser perfeito, e esse foi um grande desafio para mim, e naquela época da minha vida, eu precisava de um desafio, e acho que foi provavelmente por isso que eu gostei tanto daquilo. Eles eram meus heróis também, mas eu pude tocar com eles e eles me respeitaram, me trataram com muito respeito, diferente do Metallica. Então o Voivod tem um lugar muito especial no meu coração – ainda são uma das melhores bandas de todos os tempos, e eu gostaria de compartilhar a música “The Getaway” com todo mundo, do Voivod.

W (NM): Isso é ótimo! Eu amo essa banda, eu acho que eles são muito originais e tem um som muito único. Você pode ouvir Voivod e, depois de 30 segundos, ou 20 segundos, você diz “Isso é Voivod.” Isso não é muito comum no Metal, eu diria.

JN: Isso é verdade, eles são completamente únicos, ninguém mais soa como eles, muitas pessoas tentaram soar como eles, mas ninguém consegue, eles são únicos. E nesse mundo, e especialmente no mundo do Metal, é difícil ser único. E eles sempre foram. Eles ainda são, eu vi eles tocando há três semanas, e eles me deixaram de queixo caído.

W (NM): E você acha que isso tem a ver com o fato de que eles não tem nenhum preconceito em relação à outros estilos musicais? Por exemplo, o Voivod fez covers de músicas do Pink Floyd quando isso era absolutamente proibido, ninguém misturava outros estilos com Metal, e o Voivod está sempre trazendo novas influências para o Metal. Você acha que tem a ver com isso? Os caras do Voivod ouvem muitos outros estilos musicais?

JN: Sim, completamente, você respondeu sua própria pergunta, eles ouvem todos os tipos diferentes de estilos musicais, e eles vem de um lugar que é tão longe de qualquer outra coisa… Eles realmente moram no meio do nada, no gelo – foi lá que a banda começou, sabe? Então eles tiveram que ser criativos e criar o próprio mundo, e foi o que eles fizeram, eles criaram o Voivod, e eles criaram o “Warriors of Ice”, e as histórias deles e o mundo deles. Eles tiveram que fazer isso com as suas mentes, então eles sempre estiveram um passo a frente, eles sempre estiveram a frente do seu tempo. Sabe, o Michel “Away” estava fazendo computação gráfica para as capas dos álbuns no começo dos anos 80, quando só existia, tipo, um computador Commodore 64. Sabe, eles eram tão avançados com as suas coisas – eles estavam na era da computação quando ainda nem existia uma era da computação. E eles são um tipo de banda muito, muito inovadora.

Andreas Kisser é um dos meus seres humanos preferidos de todos os tempos”

W (NM): E você acha que o fato que o Voivod estava longe de tudo é um pouco parecido com o que aconteceu com o Sepultura, quando eles eram muito grandes no começo dos anos 90, e eles também estavam criando um som único? Eu sei que você tem uma relação muito boa com os caras do Sepultura. Você acha que talvez seja essa a razão pela qual o Sepultura também tem um som único?

JN: Absolutamente, eu acho que isso é muito verdade, e é muito importante ir para um lugar que não tenha distrações quando você começar a fazer música. O Voivod não tem distrações, e por isso eles conseguem fazer uma coisa única deles. O Sepultura também fez isso, e eles eram os reis do país, eles eram os maiores que o Brasil produziu nesse tipo de música, então eles puderam criar o próprio mundo também, e é por isso que o som deles é único. Eles não tinham competição, eles podiam fazer a própria coisa, e fazer… Sabe, o que quer que eles fizessem era a coisa certa, eles estavam fazendo criando o padrão do Metal brasileiro, e aí se tornou algo conhecido mundialmente, tocado por eles, por causa de onde eles vieram. Pouca coisa tinha vindo de lá antes, igual ao Voivod. Então eu apoio esse tipo de mentalidade. O lugar onde nós estamos agora, de onde eu estou falando com você, onde nós estamos fazendo a próxima leva de músicas para o projeto Newsted, é uma fazendo pequena no meio de uma plantação de milho, na Califórnia central. Não tem ninguém. Quer dizer, é só uma fazendo e campos e celeiros, sabe, não tem distrações, não tem Hollywood, não tem strip clubs, não tem… Não tem nada disso. Nós vamos para cá, nós nos isolamos, nós criamos nosso próprio mundo, e fazemos essa música. E você pode ouvir, pela nossa música até agora, que funciona. Sabe, você vai pro seu lugar e é tudo o que você consegue pensar em falar. Você se afoga na música e cria.

W (NM): Ótimo, então, só de curiosidade, você ainda está em contato com os caras do Sepultura?

JN: Sim, sim, desde que eu estou na internet, eu fico em contato com o Andreas e a sua esposa. O Andreas Kisser é um dos meus seres humanos preferidos de todos os tempos. Ele é provavelmente o meu guitarrista preferido. Ele é o guitarrista mais versátil, nós podemos tocar Heavy Metal pesado, nós podemos tocar uma música mais animada, nós podemos tocar música acústica na varanda, nós podemos tocar bateria, sabe… Ele é um músico muito completo. Nós não nos vemos há muito tempo, mas nós fizemos música muito boa juntos, e ele ainda é uma das minhas pessoas preferidas.

W (NM): Ótimo, ele também é um grande amigo nosso. Muito bem. E sobre o Newsted de novo, Jason, o que nós podemos esperar no futuro? Vou dizer, o Wikimetal é… Nós estamos tentando construir um projeto 360º de hard rock e Heavy Metal, então nós ficaríamos muito feliz em nos envolver em tentar talvez trazer vocês para o Brasil, ou promover uma turnê aqui, nós gostaríamos de apoiar vocês, então deixe-nos saber, deixe nossos ouvintes saberem quais são seus planos para o futuro, com o Newsted.

JN: OK, então… A banda Newsted agora, nós temos as primeiras quatro músicas, os primeiros 22 minutos de Metal old-school, que estão disponíveis para pré-venda no iTunes, e disponíveis para download no dia 8 de janeiro de 2013. Aí a segunda leva de músicas está prevista para sair em março, e a terceira leva de músicas está prevista para sair em maio, e isso vai completar o álbum. Então no iTunes, você vai poder apertar o botão “completar o álbum”, e finalizar, e nesse momento, também vai haver um álbum completo em vinil, CD, com todas as letras e a arte, e tudo mais, então esse é o plano. Desde que música saiu, uns dias atrás, nós recebemos muitas ligações de agentes e gerentes e pessoal que querem ajudar, então nós estamos tentando ver como vai ser a situação ao vivo. Eu quero tocar em festivais europeus, eu quero ir para a América do Sul, eu quero fazer todas as coisas que eu já fiz antes, muitas vezes, sabe, viajar o mundo algumas vezes, e trazer a música para as pessoas. Então se isso funcionar, e nós pudermos ir para vários lugares, e tivermos certeza que há dinheiro suficiente para os shows, e que a banda estará segura, então nós levaremos a música para as pessoas novamente. Então esse é basicamente o plano.

W (NM): Nós estamos quase chegando no fim da nossa entrevista, nós só queremos dizer que nós encorajamos todo ouvinte do Wikimetal para pedir o EP “Metal”, o EP do Newsted, você pode ouvir os primeiros 90 segundos de cada música, são quatro músicas, “Soldierhead”, “Godsnake”, “King of the Underdogs”, e “Skyscraper”. É música muito boa… “Soldierhead” é o primeiro single, certo?

JN: Sim, é sim, nós acabamos de fazer um vídeo, sábado passado, e vai ficar pronto em algumas semanas, então todo mundo vai ter isso. Nós estamos planejando em apresentar o vídeo de graça, todo mundo vai poder ver e ouvir como é a banda. Então isso é o principal, fiquem de olho no vídeo do “Soldierhead” em algumas semanas.

W (NM): Muito bem, então nós queremos que os nossos ouvintes comprem o CD, está disponível para pré-venda agora, será lançado no dia 8 de janeiro, e nós gostaríamos de te agradecer muito, Sr. Jason Newsted, por participar do Wikimetal. Nós queremos que você saiba que nós temos um respeito enorme por esse grande baixista, cantor, produtor e compositor, Sr. Newsted no Wikimetal! E antes de terminarmos, queremos dizer que nós estamos ansiosos pare ver o desenvolvimento do Newsted Heavy Metal Music, e por favor conte com o Wikimetal para ajudar a promover esse projeto no Brasil, a qualquer momento.

JN: Muito obrigado, Deus te abençoe. Obrigado!

W (NM): Obrigado, Sr. Jason Newsted, muito obrigado por participar do Wikimetal! Ótimo, cara, muito obrigado. Muito obrigado pelo seu tempo.

JN: OK, bom trabalho cara, obrigado pela ajuda, nós nos vemos.

W (NM): Vamos manter contato cara, com certeza.

JN: OK. Tchau, tchau.

W (NM): Tchau.

 

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