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Entrevista com Ian Gillan

Se você realmente quer ser um cantor, existem duas coisas importantes: ache o seu alcance natural. Não tente cantar com a voz de outra pessoa.”

IG: Olá?

W (NM): Olá, Sr. Gillan?

IG: Oi, sou eu, olá!

W (NM): Olá Sr. Gillan. É uma honra estar falando com você, muito obrigado pelo seu tempo.

IG: Obrigado, bom dia.

W (NM): Falando sobre o início da sua carreira, é justo dizer que o seu avô foi o primeiro a lhe inspirar para se tornar um cantor, e quem eram seus cantores favoritos na época?

IG: Não, não realmente. Quer dizer, ele me inspirou com música, claro, mas não para me tornar um cantor. Eu era jovem demais para pensar em carreira. Meu tio era um pianista de jazz, e tinha muita música rolando na casa. Acho que me deu o conhecimento, mas não me inspirou para trabalhar com música naquele tempo. Isso não aconteceu até que eu ouvisse o jovem Elvis, Little Richard, Buddy Holly, quando eu era adolescente. O mundo estava mudando. Era uma combinação. Meu avô e meu tio me deram o conhecimento e Elvis, Little Richard e Buddy Holly me deram a inspiração.

W (NM): Quando vocês estavam gravando “Machine Head”, vocês imaginavam que após tantas adversidades que tiveram enquanto gravavam o álbum, que ele mudaria o Rock para sempre?

IG: Ah, eu não sei. Você nunca pensa nessas coisas na época, você simplesmente vive sua vida. É realmente incrível.  Você vê muitas coisas acontecendo que são incríveis, como o incêndio no cassino… Não, nós não fazíamos ideia do que estava acontecendo. Na verdade “Smoke on the Water” não era não uma grande faixa no álbum, era apenas uma faixa extra, porque estávamos com pouco tempo. Então no último dia escrevemos a música e ela ficou. Não foi até um tempo depois que as pessoas começaram a pegá-la, e ela começou a tocar no rádio.

W (NM): Você fez tantas coisas incríveis na sua carreira, além de tocar Rock, indo desde Jesus Christ Superstar até a narração da vida de Chopin para TV na Polônia. Quais projetos como estes você acha que ficarão para sempre?

IG: Ah, eu não sei. Sabe, algumas dessas coisas são bem sucedidas comercialmente e algumas não são tanto. Mas eu gostei muito de todas. São tantas coisas. Eu fiz uma musica chamada “Get Away” com um cantor grego chamado Michalis Rakintzis e eu gostei muito, foi um ótimo projeto. Também atuei como Charles Darwin em uma produção para Bolland and Bolland na Holanda, “The Evolution” e foi uma linda produção. Acho que, fora do Purple, eu gostei de todas as minhas bandas solo, e acho que provavelmente Jesus Christ Superstar foi provavelmente… E ele durou apenas três horas! Mas foi uma boa diversão.

W (NM): E você fez aquilo em apenas três horas? Alguma outra lembrança deste projeto? Nós achamos realmente fantástico.

IG: Não, foi estranho, porque eu estava trabalhando aquela noite com o Purple e eles falaram para mim “Venha até o estúdio”. Eu tinha uma sessão de três horas e fiz tudo em três horas. Exceto pela parte do discurso na cruz, que eu não entendi. Acabei voltando outro dia para fazer essa parte. Mas todas as canções nós fizemos em um dia, sim. Eu acabei não conhecendo ninguém, pois todas as gravações já estavam feitas. Apenas ouvi as faixas gravadas pela banda, e estava lá com o Tim Rice que me ajudou durante o processo e me encorajou. As melodias eram tão boas que foi fácil de curtir e improvisar. Eu achei um projeto fantástico.

W (NM): Sim, de fato. Nós temos uma pergunta clássica no nosso programa, uma que a gente pergunta para cada um que entrevistamos: se você pudesse escolher uma música que te faz perder a cabeça, não importa onde esteja, que música seria essa, para que possamos tocar no programa agora?

IG: Me faz perder a cabeça, o que você quer dizer? Uma música do Purple ou de outra pessoa?

W (NM): De outra pessoa.

IG: Ah, cara. “Good Golly Miss Molly”, do Little Richard.

W (NM): Ok, nós ouviremos essa no nosso programa, obrigado. O que você se lembra da reunião do Deep Purple em 1984? Como aconteceu?

IG: Foi muito estranho, sabe. Aconteceu meio que como uma reunião de escola. Todo mundo foi muito educado, e conversas do tipo “o que você tem feito?” rolaram. Nós não sabíamos se iria funcionar porque todos nós havíamos mudado, é claro, e tínhamos tido outras experiências. Foi muito bom de modo geral, todos educados, nós todos trancados em uma casa em Vermont, na América do Norte. No inverno a gente acendia a lareira, íamos para o porão e começávamos a tocar. Em alguns minutos já dava para ver todo mundo sorrindo e pensando “é, é, vai ficar tudo bem”. É disso que eu me lembro.

W (NM): Conte para nós um pouco da sua experiência com o Black Sabbath e da sua relação com o Tony Iommi e o Geezer Butler.

IG: Eu sou mais próximo do Tony, conheço o Tony muito bem, ainda somos bons amigos. E eu amo esses caras, o Geezer, e lembro do Bill Ward, que era o baterista no disco, mas não estava na turnê. Foi a festa mais longa que eu já fui. Foi uma loucura. Insano.

Nós estávamos lembrando outro dia e pensando como é uma pena algumas pessoas terem nos deixado.Ronnie tinha um ótimo senso de humor. Ele era muito engraçado.”

W (NM): Mais uma vez, você poderia escolher uma música da sua carreira que você tem orgulho de ter escrito para que nós possamos ouvir?

IG: Sabe, estranhamente eu estava pensando isso agora pouco no café da manhã. Eu estava cantando a letra desta música e fico feliz que você tenha me feito essa pergunta. Se você me perguntasse amanhã, seria uma música diferente, mas hoje é “Razzle Dazzle”, do “Bananas”. É uma das minhas músicas favoritas do Deep Purple.

W (NM): Você tem feito alguns projetos fantásticos para arrecadar fundos e conscientizar as pessoas sobre grandes causas, como a parceria com Tony Iommi para a construção de uma escola na Armênia. Conte para os nossos ouvintes um pouco sobre esses esforços.

IG: Sabe, hoje, com as comunicações modernas, nós ouvimos tudo sobre o Katrina em Nova Orleans, sobre tsunamis, grandes desastres e furacões ao redor do mundo. Em 89, quando um grande terremoto atingiu a Armênia, 25 mil pessoas morreram e um quarto de um milhão ficou desabrigado. Muitas pessoas não ficaram sabendo, pois o país ainda era parte da União Soviética. Eu estava tocando lá, solo, vi a devastação e falei com o prefeito, que me falou que não havia música na cidade. Isso foi um ano após o desastre e não havia música na igreja, na rádio ou nas escolas. Nem os pássaros pareciam cantar. Então eu disse “Então quando vocês estiverem prontos para a música, talvez nós possamos fazer algo”. Uma geração depois eu fui chamado para a Armênia para conhecer o presidente e ele me disse “Eu me lembro da sua frase “Quando vocês estiverem prontos para a música, talvez nós possamos fazer algo”. Você pode fazer algo?”. E foi perfeito, eles tinham uma escola, mas não havia fundos, e eu acho que música é um grande símbolo. É muito simbólico para a cultura das pessoas. E não apenas música contemporânea, mas tradicional também. Acho muito importante que as crianças sejam capazes de se expressar, e a música é um modo de expressão como todas as formas de cultura, como esportes ou coisas do gênero. Mas era uma boa oportunidade para se envolver e levar música de volta para a vida deles. Então eu e Tony decidimos formar uma banda ad-hoc chamada Who Cares e tentamos arrecadar fundos. Está indo tudo muito bem, acho que eles começarão a construção em um mês ou dois. É uma história fantástica. Temos pessoas do Canadá enviando instrumentos musicais, um cara da Inglaterra também. Ele raspou o cabelo e vendeu por 50 libras para enviar para o fundo. Foi realmente fantástico.

W (NM): E no projeto Who Cares vocês gravaram apenas um álbum ou os fãs podem esperar mais discos e turnês?

IG: Bom, temos apenas duas músicas no momento. Tony está muito ocupado em um projeto secreto e eu estou muito ocupado com o Purple. Mas a última vez que nós encontramos nós falamos que faríamos mais, talvez no próximo ano ou algo assim. Mas não temos planos, apenas nos juntamos para fazer o projeto para a Armênia. Mas como sempre, quando estou com Tony nós nos divertimos muito. Então, é possível, nós podemos fazer mais.

W (NM): Quando os fãs podem esperar um álbum do Deep Purple? Nós ouvimos falar que vocês estão pensando, considerando gravar um novo álbum. É verdade?

IG: Ah! Eu não sei. Nós fomos para a Espanha em março e nos divertimos muito, mas acabamos não pensando em nada. Acho que não estávamos realmente focados e estivemos em turnê por tanto tempo que acabamos só bebendo vinho e dormindo a maior parte do tempo. Acho que essas coisas acontecem quando acontecem, naturalmente. Provavelmente no ano que vem. Mas não temos planos.

W (NM): Você lançou uma declaração muito bonita sobre o falecimento do cantor de Heavy Metal Ronnie James Dio. Alguma memória do Dio que você gostaria de compartilhar com os nossos ouvintes?

IG: Ah… Ronnie foi um amigo querido, e nós éramos muito próximos, pessoalmente. Tivemos momentos muito bons na casa dele. Eu gravei um álbum chamado “Gillan’s Inn”, há uns 5 ou 6 anos e Ronnie e muitos amigos tocaram no álbum. Nós estávamos lembrando outro dia e pensando como é uma pena algumas pessoas terem nos deixado. Muitas memórias pessoais. Ronnie tinha um ótimo senso de humor. Ele era muito engraçado. Quando estávamos passando no aeroporto de Munique eu tinha que comprar algumas coisas, lenços, meias e camisetas, pois eu havia perdido minha bagagem. Então estávamos nessa lojinha e eu estava olhando as meias, estavam vendendo em pares e eu pensava “Devo comprar dois pares de meias” ou algo assim. Ronnie virou para mim e disse “Meias, drogas e Rock ‘N Roll!”

W (NM): Essa foi boa, cara.

IG: É, ele era um cara muito engraçado.

W (NM): Obrigado por ter compartilhado.

IG: O prazer é meu.

Na verdade Smoke on the Water não era não uma grande faixa no álbum, era apenas uma faixa extra, porque estávamos com pouco tempo.”

W (NM): Você foi um dos cantores mais influentes de todos os tempos. Qual conselho você daria para garotos que estão começando uma carreira como cantores?

IG: Bom… Essa é uma boa pergunta, depende do que você quer. Se você quer ter sucesso comercial rapidamente, você deve ir com o que está rolando, qualquer coisa que esteja na moda para ser conhecido rápido. O problema com isso é que assim que a moda passa você adotou um estilo pelo bem da moda, por definição você estará fora de moda e está tudo acabado. Mas se você realmente quer ser um cantor, existem duas coisas importantes: ache o seu alcance natural. Não tente cantar com a voz de outra pessoa. E ao mesmo tempo copie seus heróis, divirta-se enquanto você é jovem e deixe as influências aparecerem, todas elas. Não apenas em um estilo. Divirta-se cantando todo o dia, no banho, toda hora. Depois de alguns anos fazendo isso com bandas semi-profissionas e performances semi-profissionais e coisas do tipo, mais cedo ou mais tarde você será um cantor e terá sua própria voz, isso é importante. Ter uma identidade real, para a sua personalidade transparecer na sua voz, para quando as pessoas ouvirem dizerem “Ah, eu sei quem é”. Enquanto se você copiar o estilo de outra pessoa, o mesmo que está na moda, você soará como todo mundo e não desenvolverá uma identidade. Acho que é importante, quando se é jovem, copiar Elvis Presley, Buddy Holly, Little Richard. Eu copiei Ray Charles, Fats Domino e Cliff Bennet, Brooke Benton, Solomon Burke, todos esses caras. Toquei todas essas músicas e aprendi sobre música, como interagir com músicos, aproveitar a melodia, tempo e fraseado. Todas essas coisas são importantes, assim como achar seu alcance e seu tom, pois certas coisas mudam e você deve sempre se sentir confortável com a sua própria voz. Desculpe pela explicação longa, mas foi uma boa pergunta.

W (NM): Nosso tempo está acabando, você poderia deixar uma mensagem para os seus fãs do Brasil?

IG: Muito obrigado. Nós estamos aproveitando muito, é sempre bom voltar aqui. Tem excitação no ar, eu posso sentir. A energia é incrível. Nós ficamos muito animados para os shows. Obrigado, obrigado, obrigado, obrigado, obrigado.

W (NM): Sr. Gillan, eu gostaria de lhe agradecer de verdade, estou realmente emocionado, pois sou um fã há mais de 30 anos e acho você uma das grandes lendas, um dos meus grandes heróis do Rock And Roll. Obrigado por tudo que você tem feito. Estou quase chorando aqui, me desculpe por isso.

IG: Ah, isso é muito legal, muito obrigado. Foi bom falar com você.

W (NM): Eu estive em todos os shows do Deep Purple aqui no Brasil e estarei em São Paulo na segunda-feira à noite. Será uma grande honra.

IG: OK, venha dizer olá.

W (NM): Muito obrigado, Sr. Gillan, eu agradeço. Foi muito bom falar com você.

IG: Com você também. Valeu, cara.

W (NM): Valeu.

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