Eu tenho muitas lembranças do Dio, ele foi muito influente no começo da nossa carreira. Ele foi um dos primeiros artistas com quem a gente fez turnê.”

 Geoff Tate: Oi, aqui é o Geoff.

Wikimetal: Oi Geoff, aqui é o Nando do Wikimetal.

GT: Olá, como vai você?

W: Bem, como vai você?

GT: Eu vou bem.

W: Bom, antes de tudo deixe-me apresentar-nos. Nós somos o podcast número um em hard rock e heavy metal no Brasil, é uma honra tê-lo em nosso show, obrigado pelo seu tempo.

GT: Claro, o prazer é meu!

W: Eu vou começar perguntando, naqueles tempos, quais você consideraria as maiores influências que o Queensrÿche teve pra criar um som tão diferente na época? E quais foram os principais vocalistas que fizeram você escolher ser um vocalista numa banda de rock?

GT: Bom, os anos 60 e 70 foram os meus reais anos formadores, quando se fala em música, e eu fui influenciado por uma grande quantidade de artistas e bandas dessas décadas, que eu considero ser uma época incrível para a música. E acho que a razão de ter sido uma época tão boa era que não havia essa possessão da indústria sobre os artistas. Bandas e artistas eram livres pra criar praticamente qualquer coisa que eles sonhassem, sem ter que se conformar com gêneros para vender discos. Além disso, a indústria de discos ainda era forte, então as pessoas eram pagas pelo que faziam, pelo trabalho que realizavam. Havia um sistema que realmente funcionava bem, uma indústria saudável. Agora, claro, nós vemos o declínio disso, com a internet e a pirataria. A situação é muito diferente agora. Mas eu fui influenciado por muitos artistas diferentes, musicalmente. Eu não consigo citar um artista específico, nem algo desse gênero, mas todo mundo que estava envolvido com rock naquela época foi uma inspiração pra mim. Eu cresci muito aprendendo a tocar suas músicas. Então quando eu comecei a cantar e participar em bandas eu levei todas essas influências diferentes, o que ajudou a moldar a música do Queensrÿche.

W: É verdade que algumas músicas do Queensÿche, algumas dos primeiros álbuns eram originalmente da sua banda anterior, Myth? Pode dar algum exemplo de músicas que vieram do Myth?

GT: Deixe-me pensar. Havia sim, músicas que acabaram no nosso primeiro LP, “The Warning”, músicas como “Take Hold of The Flame” e “No Sanctuary ou Before the Storm”. Essas músicas eu havia escrito quando estava no Myth, antes de Queensrÿche se tornar uma banda.

W: Você provavelmente já respondeu essa questão diversas vezes, eu peço desculpas de antemão, mas honestamente nós não sabemos a resposta, talvez porque nossa língua nativa é o português. Mas você pode explicar para os nossos ouvintes o porquê do trema em cima do Y no nome Queensrÿche?

GT: Ah é, não faz sentido, na real. Eu acho que a trema em cima do Y foi colocada sem um entendimento real sobre o que significava nessa língua. Então é incorreto, Não tem nenhum sentido gramatical, só parecia legal.

Eu recebi uma ligação, meio que do nada, da produção que estava fazendo o filme, dizendo que queriam que eu fizesse parte.”

W: Nós realmente amamos todos os seus álbuns, especialmente a saga “Operation: Mincrime”. Mas eu lembro quando o “Rage for Order” foi lançado e ele soava tão diferente e moderno na época, quase como sendo uma música que veio do future. Você pode compartilhar alguma lembrança dessa época e como vocês chegaram nesse tipo de música tão único?

GT: Ah, sim. Isso meio que se correlaciona com a outra pergunta, sobre influências musicais. Nós estávamos tentando criar a nossa própria versão de música, de coisas que ouvíamos em nossas cabeças. O que estávamos tentando fazer era não soar como os outros. Queríamos criar algo que fosse nosso. Tentamos fazer isso incorporando muitos tipos diferentes de influências, e visualizando diferentes sons criados, não utilizando sons padrões, que todo mundo usava. Escrevíamos também sobre temas que não eram típicos no rock na época.

W: Mudando de assunto, infelizmente nós brasileiros não tivemos a oportunidade de ver um concerto como o que vocês tocaram o “Operation: Mindcrime” ao vivo, parte I e parte II, na íntegra, como pode ser visto no DVD “Mindcrime at the Moore”. Você acha que será possível algum dia trazer esse show pro Brasil, sem as performances teatrais, com os atores e etc? Sei que é uma turnê esgotada, seria possível que ela acontecesse de novo?

GT: Sim, eu acho que seria possível, mas necessitaria de muito para fazer isso. É muito caro ir para a América do Sul e fazer uma turnê, para qualquer banda. Então isso tem que ser planejado economicamente, claro. E esse é o maior obstáculo para qualquer banda que faz turnê, tentar marcar datas que fazem sentido de um ponto de vista de negócios, para que você possa sobreviver, entende? Mas nós temos visto o Brasil se tornar um mercado forte para o rock com o passar dos anos. Ele tem ficado cada vez maior, o que torna um lugar mais possível de fazer uma turnê. Eu diria que é uma possibilidade.

W: Um dos maiores momentos do DVD é a participação do Ronnie James Dio, com quem você também teve a oportunidade de participar no projeto “Hear’n Aid”, nos anos 80, que foi organizado por Dio. O que você se lembra desse projeto, que nós  amamos, e você poderia compartilhar algumas lembranças do Dio?

GT: Sim, eu tenho muitas lembranças do Ronnie, ele foi muito influente no começo da nossa carreira. Ele foi um dos primeiros artistas com quem a gente fez turnê, quando estávamos começando, e ele foi muito apoiador da nossa banda e nossa música. Ele nos deu muita perspectiva sobre como operar, como tratar as pessoas, esse tipo de coisa. Ele era um cavalheiro, civilizado, de quem todos gostavam. Tinha uma ótima personalidade, muito aberta. Acho que ele foi realmente fundamental em dar um exemplo positivo para nós, jovens que estávamos apenas começando. Ele foi uma ótima influência, não apenas em termos musicais, mas em um nível pessoal.

W: E o “Hear N’ Aid”? Acho sua participação lendária, é uma das partes mais importantes da música. Imagino que você guarde essa lembrança com muito orgulho.

GT: É, sim, na época que a música foi feita eu estava apenas começando como cantor, e Ronnie, claro, foi super apoiador e me deu muita influência positiva para a performance. Ele estava produzindo a música, então estava super envolvido com a construção, a escrita e as performances que cada um fazia. Seu julgamento era o último, sobre o que iria para a música, de todas aquelas performances diferentes, ele julgava o que era bom e o que era ruim. Eu estava feliz que ele gostava do que eu fazia, e trabalhei muito para conseguir lhe dar o que ele procurava. Eu sempre fui uma pessoa colaboradora quando se fala em música, e muito aberto para as ideias dos outros. Sou muito respeitoso com outras visões, realmente. Para mim foi uma situação realmente estressante, pois, por exemplo, eu entrava na sala de performance onde gravávamos, e estava tudo arrumado. E falavam-me “Aqui está a letra e seus fones”. E eu estava lá, sozinho, e eu olhava para a cabine de controle, e lá estava ele com os engenheiros e mais umas vinte pessoas, todos personagens lendários. Ted Nugent estava lá, e Rob Halford e os caras do Blue Oyster Cult, todos esses artistas que eu realmente respeito estavam me assistindo. Foi muito estressante pra mim, representar na frente de todas aquelas pessoas por quem eu tinha tanto respeito. Ainda por cima, sendo novo naquilo, eu ficava muito nervoso. Mas Ronnie realmente ajudou a me acalmar e me treinou durante a música, então acabou ficando tudo bem.

W: Tudo bem? Tudo bem pra você, para nós ficou inacreditável. Nós temos uma questão clássica no nosso programa, que fazemos para todas as pessoas que entrevistamos. Só imagine que você está ouvindo música de uma maneira meio randômica, talvez no seu ipod em modo shuffle, ou uma estação rock de rádio. Aí, toca uma música que, independente de onde você está, você começa a fazer head bang imediatamente. Que canção seria essa, para que nós possamos tocar aqui no nosso programa?

GT: Ah, nossa. Sabe, eu tenho muitos discos. Eu tenho algo como oito mil discos no meu ipod. Tenho um interesse profundo em todos os tipos de música. Eu teria que dizer, para head bang, teria que ser AC/DC. Eu amo a música deles. Nós fizemos turnê juntos, no meio dos anos 80. Foi uma experiência incrível para mim testemunhar a performance deles e a energia que eles dão no palco. Foi uma inspiração para mim fazer turnê com esses caras. Eles também foram incrivelmente generosos conosco, nos trataram muito bem, o que nos serviu como um ótimo exemplo para nós, em termos de como tratar nossos atos de abertura.

W: E que música do AC/DC você gostaria de ouvir?

GT: Back in Black!

W: Na nossa opinião, o Operation: Mindcrime é uma das maiores histórias já contadas em um álbum de metal, ou hard rock. Existe chance de essa história se tornar um filme? Nós ouvimos falar que já existe um roteiro escrito, é verdade?

GT: Sim, sim. Na verdade ele está sendo adaptado agora mesmo para se tornar um filme.

W: Embora tenha havido algumas mudanças, como no lugar que originalmente era de Chris deGarmo, eu gostaria de saber qual é o segredo para conseguir manter uma banda – você, Michael Wilton, Eddie Jackson e Scott – junta por tanto tempo? Qual é o segredo para manter as mesmas pessoas durante tanto tempo?

GT: Eu acho que qualquer organização funcional deve ter uma mente muito aberta em relação às necessidades e desejos de todos os envolvidos, e comunicação é uma grande parte disso. Deve-se ter uma comunicação constante com todo mundo, e certeza de que todos estão no mesmo passo e movendo na mesma direção. Isso demanda uma vigilância constante. Esse é na realidade o segredo, é simples, no sentido em que sempre deve haver comunicação entre todos.

Acho que Rob, Bruce e Geoff deveriam fazer um projeto, e chamaremos de Os Três Tremores. Seria divertido”

W: Mudando o assunto mais uma vez, você poderia falar aos nossos ouvintes sobre a experiência de ter sido ator e narrador de um filme, o “Burningmoore Incident”? Você também compôs uma música para o filme, certo?

GT: Sim, essa foi uma experiência realmente interessante. Eu recebi uma ligação, meio que do nada, da produção que estava fazendo o filme, dizendo que queriam que eu fizesse parte. Eu disse que não havia atuado em nada antes. Eles disseram “bom, vamos fazer um teste e veremos como funciona”. Assim eu fiz o teste, eles gostaram e começamos a trabalhar juntos. Foi uma ótima experiência aprender como tudo isso é feito. Algo que eu gostaria de fazer mais no futuro. Eu acho que atuação é quase como uma extensão do que eu faço no palco, de qualquer jeito. Então não é algo realmente distante, mas é realmente difícil. Bons atores fazem parecer fácil, assim como bons músicos. Mas há muito detalhe envolvido, muita reflexão, e tudo demanda muito preparo. Deve-se saber as regras, e conhecer o personagem que se está interpretando. Passa-se muito tempo pensando “o que esse personagem faria?” ou “que características físicas deve ter esse personagem”, “o que ele faria nessa situação” ou “como ele reagiria”. Tudo isso deve-se ter em mente quando chega a hora de gravar. Para mim, eu quase que vivia e respirava as regras. As filmagens eram em New York, um ambiente super cansativo, e eu usava as mesmas roupas por uma semana e meia. Eu realmente entrei no personagem que eu estava interpretando. Para mim isso realmente funcionou. Eu não sou o tipo de pessoa que consegue simplesmente “ligar” e “desligar”, acho que eu tive que me converter ao personagem para conseguir uma performance acreditável. Foi assim que eu lidei, respirando e vivendo o personagem durante todo o tempo que eu trabalhei no filme.

W: Falando sobre o Brasil, sua relação com o Brasil, eu ouvi no seu celular uma mensagem de… Foi João Gilberto?

GT: Ah, sim, sim! Ele é um dos meus artistas favortitos.

W: Legal! Então, eu gostaria de falar sobre a sua relação com o Brasil, as lembranças que você tem do show do Queensrÿche no Rock in Rio em 91. Eu estava lá, então gostaria de perguntar que lembranças você tem e o que os fãs podem esperar do show que terá em São Paulo?

GT: Bom, aquele show no Rock in Rio foi minha primeira experiência no Brasil, e foi realmente surpreendente, quão grande era o show, algo como 225 mil pessoas, foi um show enorme. E tudo ao redor era enorme, desde o hotel em que ficamos até como chegamos no show. Foi muito agitado e excitante, com muita gente, muitas pessoas envolvidas no backstage. O palco em si era enorme, o maior palco em que eu havia estado até então. Era realmente arrebatador. Ainda, uma outra cultura, diferente de tudo que conhecíamos. Eu cheguei a conhecer pessoas lá muito bem, pessoas que trabalhavam com a gente, que ainda mantemos contato, anos e anos depois. Essas pessoas a gente ainda mantém contato e relação. Então foi realmente uma época de criação de vínculos. A coisa toda era incrível, e a gente já retornou diversas vezes desde então, fazendo shows diferentes e sempre foi uma boa experiência. Então estamos super animados para voltar para o Brasil.

W: Você poderia escolher uma música do Queensrÿche que você tenha muito orgulho de ter escrito para que possamos tocar no nosso programa agora?

GT: Deixe-me ver. O que posso escolher? Que tal algo do “Mindcrime”? Eu adoro “Revolution Calling”.

W: É verdade que há alguns anos existia a ideia de juntar você, Rob Halford e Bruce Dickinson em um projeto chamado Trinity? É verdade, e por que não aconteceu?

GT: Eu recebo essa pergunta muitas vezes, e acho que Bruce e Rob também devem receber bastante. Nós fizemos uma turnê juntos, muitos anos atrás, na América. E tivemos um dia de folga, então todos saímos para jantar em um restaurante italiano. Estávamos nos divertindo, comendo e bebendo bastante, e estava tocando ópera no restaurante. Então o gerente do Iron Maiden, Rod Smallwood, perguntou ao garçom o que estava tocando. O garçom respondeu que era o álbum dos Três Tenores. Por algum motivo, Rod achou isso muito engraçado, levantou com o seu copo de vinho e disse: “Eu gostaria de fazer um brinde. Acho que Rob, Bruce e Geoff deveriam fazer um projeto, e chamaremos de Os Tres Tremores. Seria divertido”. Todos rimos e brindamos, e foi isso. Foi apenas conversa de jantar, mas alguém disse algo para a imprensa e desde então temos respondido a essa pergunta.

W: Peço desculpas por isso! Mas enfim, seria fantástico ver isso. E Isso soa bastante como Rod, nós o conhecemos, e eu consigo imagina-lo fazendo isso no restaurante. O que você diria a um garoto que pensa em começar uma carreira como cantor?

GT: Bom, eu diria… Siga seu coração. Fique imerso na música, completamente. Não se preocupe com fama e fortuna e esse tipo de coisa. Isso vem depois, e depende de quão comprometido você é com a sua música. Leve tudo que você tem pra dentro disso, e mantenha uma mente aberta quando trabalhar com outras pessoas. Desenvolva uma perspectiva colaboradora em relação a criação de música e sempre siga seu coração.

W: Você deixaria uma última mensagem, convidando nossos ouvintes ao show do dia 14 de abril em São Paulo?

GT: Olá, aqui é o Geoff Tate do Queensrÿche, estamos animados para ir ao Brasil e tocar nossa música em São Paulo, para todos. Estamos ansiosos para ver todos no show dia 14 de Abril!

W: Excelente, Geoff. Eu gostaria de realmente agradecê pelo seu tempo e por ter sido um ótimo convidado no nosso programa. Nós realmente achamos você uma das melhores vozes, não apenas em hard rock, mas em qualquer tipo de música. Somos fãs do seu trabalho e estaremos aqui para apoiar qualquer coisa que o Queensrÿche ou o Geoff Tate fizerem. Então obrigado mais uma vez pelo seu tempo e estaremos lá no dia 14 de abril em São Paulo, com certeza.

GT: Ok, então, muito obrigado por isso e pela entrevista. Eu realmente aprecio e estou ansioso em ir para São Paulo.

W: Excelente, muito obrigado, Geoff.

GT: Ok, tchau!

W: Tudo de bom.

Categorias: Entrevistas

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