Foi a primeira vez no Garden, e nós cantamos a música Tout le Monde,o que foi fantástico. Um lugar muito legal.”
Wikimetal (Nando Machado): Cristina, em primeiro lugar, eu gostaria de agradecê-la pelo seu tempo.
Cristina Scabbia: Sem problema, o prazer é meu.
W (NM): Eu sou um dos apresentadores do Wikimetal, o podcast número um de heavy metal no Brasil, estou aqui com outro apresentador, o Daniel.
W (Daniel Dystyler): Oi Cristina. Como você está?
CS: Eu estou ótima, e você?
W (DD): Excelente. Só para te dar um panorama, o Wikimetal é o podcast de heavy metal e hard rock no Brasil, e é realmente uma honra ter você aqui, por cause de tudo o que você fez pelo heavy metal até agora, então, em nome de todos os head bangers brasileiros, eu gostaria de agradecê-la, e bem vinda ao Wikimetal.
CS: Muito obrigada! O prazer é meu.
W (NM): Falando do começo da sua carreira, quais você considera as principais influências que fizeram você perseguir a carreira de cantar heavy metal?
CS: Eu acho que isso aconteceu quando eu comecei a frequentar pubs de metal em Milão, então eu comecei a ouvir música do Metallica, Pantera, bandas como Paradise Lost, em particular essas bandas mais sombrias. E o que aconteceu foi que os outros caras da banda, como o Marco, o baixista e o Andrea, eles tinham uma banda juntos e pediram para que eu fizesse back vocals nas músicas que eles estavam escrevendo, porque eles queriam produzir uma fita de promoção para mandar para gravadoras que os interessavam. E eles gostaram do resultado da combinação da minha voz com a voz do Andrea na música, e me pediram para ficar, e foi assim que aconteceu.
W (DD): Vocês acabaram de voltar de uma turnê incrível com o Megadeth, o Motörhead e o Volbeat, e provavelmente dois dos mais intimidantes heróis do metal, pode-se dizer, o Lemmy e o Dave Mustaine. Como foi isso?
CS: Bem, eu devo dizer que foi incrível, porque, sabe, eu conheço o Dave há alguns anos agora, porque nós trabalhamos juntos em 2007 também. E nós fizemos a música juntos, então eu não fico nem um pouco intimidada, eu conheço ele. E eu conheci o Lemmy pela primeira vez na turnê, e eu tenho que dizer que ele é um homem muito bom, apesar de ser conhecido por todos como essa figura icônica, ele é muito genuíno, muito gentil, ele é um gentleman, então foi um prazer conhecer ele e todos os caras do Motörhead.
W (DD): Eu ia perguntar isso, Cristina, como foi a experiência de cantar com o Dave Mustaine “Tout le Monde”?
CS: Ah, foi fantástico, foi uma grande oportunidade para mim, porque eu não estava esperando nada parecido com isso. Basicamente, eu recebi um e-mail do meu gerente perguntando… Falando que o agente deles queria fazer uma colaboração. E quando eu gravei a minha parte, o Megadeth não estava no estúdio, só eu e o produtor, e nós gravamos a música sozinhos, porque eles já haviam começado a turnê, então eles já haviam deixado o Reino Unido, onde nós gravamos o álbum. Foi muito legal saber que alguém que toca um tipo diferente de música sabia o meu nome e queria tocar comigo, porque nós não éramos amigos antes disso, nós nunca havíamos nos conhecido. Foi bem legal.
W (NM): Você também teve a experiência de tocar no Madison Square Garden nessa turnê, não é?
CS: Sim
W (NM): Foi a primeira vez que você tocou no Garden?
CS: Foi a primeira vez no Garden, e nós cantamos a música, nós cantamos “Tout le Monde” todas as noites, o que foi fantástico. Um lugar muito legal….
W (NM): Um lugar histórico também, não é?
CS: Ah, sim, sim. Eu acho que não são muitas as bandas que podem dizer que já tocaram no Garden.
Então não se foque apenas na parte glamorosa, porque essa carreira envolve muito trabalho e sacrifício, esteja preparado para isso também.”
W (NM): Sim, você tem razão, você tem toda a razão. Nós temos uma pergunta clássica no nosso programa, uma que nós fazemos a todas as pessoas que entrevistamos, que é: imagine que você está ouvindo uma estação de rock no rádio, dirigindo o seu carro, ou qualquer coisa, ouvindo seu ipod no shuffle, e de repente começa a tocar uma música que faz com que você perca a cabeça, você começa a fazer head banging onde quer que você esteja. Que música seria essa para que nós possamos ouvi-la agora?
CS: Deixe-me pensar… Deixe-me pensar… Bem, eu acho que “Ace of Spades” seria uma boa escolha, mas há tantas boas músicas. Se fosse alguma coisa que eu amo completamente… Eu diria qualquer música do Type O Negative.
W (NM): Type O Negative? Você quer mudar a sua escolha de “Ace of Spades” para o Type O Negative?
CS: Ah, céus… Escolha difícil. Vamos com Type O Negative porque eu gosto muito deles.
W (NM): Qual música?
CS: Eu acho que uma música divertida é “My girlfriend’s girlfriend”, o que é provavelmente uma escolha incomum, todo mundo provavelmente escolheria ”Black No. 1”, mas ““My girlfriend’s girlfriend” é uma música muito legal, tem uma vibe dos anos 70, e mostra o lado irônico do Type O Negative, então vamos com essa.
W (NM): Então, pela primeira vez no nosso programa: Type O Negative, no Wikimetal.
CS: Sim! Fico feliz com isso!
W (DD): Cristina, nós ouvimos dizer que antes de vocês irem para o palco em um show, vocês se reunem e gritam alguma coisa em italiano, isso é verdade?
CS: Sim, é verdade.
W (NM): Você poderia repetir aqui?
CS: Ah, não. É uma coisa entre nós, mas é um pequeno ritual que nós temos faz algum tempo, nós sempre tivemos uma sequência de rituais que nós fazemos antes de nos apresentarmos. Às vezes nós mudamos, e há algumas coisas que se mantêm as mesmas por alguns anos. Mas é bem legal, sabe, te aquece e te deixa preparado para um luta, sabe? É como “vamos nos preparar para a luta, vamos arrebentar”.
W (NM): Falando do seu ultimo álbum, “Dark Adrenaline”, nós achamos que é o melhor álbum que vocês já gravaram. Você pode nos contar como foi a repercussão até agora desse álbum?
CS: Obrigada. Eu definitivamente compartilho da sua opinião, porque é um álbum que contém muitas novas influências, mas muitas reminiscências e a vibe dos álbuns mais antigos do Lacuna Coil. Há algumas músicas que poderiam estar no no primeiro EP, ou nos primeiros trabalhos que nós fizemos. Mas ao mesmo tempo, há uma vibe muito nova, e uma grande produção, com um som mais pesado com mais solos de guitarra. É o álbum mais obscuro das nossas carreiras, então eu realmente gosto dele.
W (DD): Definitivamente, ele aborda os aspectos mais obscuros da existência humana, certo?
CS: Sim.
W (DD): Vocês colocaram mais solos de guitarra nesse álbum, em comparação aos álbuns anteriores do Lacuna Coil. Eu pessoalmente adoro essa direção que vocês tomaram. Por que isso aconteceu e o que você acha disso?
CS: Porque toda música tem uma história diferente e uma vida diferente, então para as outras músicas, um solo não era absolutamente necessário, mas esses tipo de música precisavam de solos de guitarra, por isso que colocamos tantos.
W (DD): Eu vi que vocês gravaram um vídeo para conscientizar as pessoas em relação ao bullying. Isso é um grande esforço, e nós sempre gostamos de ajudar todas as iniciativas de artistas e bandas de heavy metal que possam contribuir com uma melhor sociedade no futuro. Por que vocês escolheram o bullying como tema para combater?
CS: Porque é sempre uma grande cause lutar contra as coisas ruins da nossa sociedade, e o bullying é uma coisa tão estúpida a se fazer. E algumas vezes você só precisa de um pouco mais de auto confiança para encarar o problema. Eu vejo tantas crianças que são caçoadas só pelo modo como elas se vestem ou pela música que elas gostam. E isso é um jeito de tirar vantagem de pessoas que são um pouco mais inseguras e precisam de confiança. Então eu acho que essa é uma boa causa, e quando pediram para que nós fizéssemos o vídeo, se nós queríamos, nós aceitamos imediatamente.
W (DD): E é sim. É uma ótima causa.
W (NM): Cristina, deixe-me mudar um pouco de assunto. Você compartilhou o palco com o Dave Mustaine cantando o “Tout le Monde”, com quais outros artistas de heavy metal você gostaria de compartilhar o palco? E também artistas que não são de heavy metal que você admira e gostaria de cantar.
CS: Bom, seria legal… No cena de metal eu gostaria de cantar no palco com o Motörhead, e isso na verdade havia sido planejado, mas o Motörhead cancelou o show de hoje a noite e o show de duas noites atrás, porque eles estavam com alguns problemas de voz. Então, se eu puder, isso é algo que eu quero muito fazer. Eles me convidaram, e eu adoraria com muito prazer. Fora do metal, eu não sei, talvez fosse interessante fazer alguma coisa com o Radiohead ou o Muse, ou até algum projeto do Jonathan Davis, eu gosto muito do trabalho dele fora do Korn.
W (DD): Cristina, eu não sei se você sabe, mas o Brasil abriga 25 milhões de italiano-brasileiros, que é o maior número de pessoas com descendência total ou parcial fora da Itália. Nosso terceiro apresentador, Rafael, acabou de chegar e ele gostaria de conversar um pouco com você em italiano, se você topar.
CS: Sim, claro.
W (Rafael Masini): Oi, Cristina.
CS: Oi, como vai?
W (RM): Bem, muito bem. Eu falo um pouco de italiano, porque morei perto de Milão em 92.
CS: Ah, que legal, eu sou de Milão.
W (RM): Sim, sim. Para mim é difícil me lembrar da língua. Mas se você falar devagar eu consigo te entender, tudo bem?
CS: Sim, sim, tudo bem.
W (RM): Aqui no Brasil, nós estamos vivendo um grande momento para o heavy metal. Há muito grupos, muitos shows de bandas internacionais e também temos muitos grupos nacionais. Existem muitas bandas de heavy metal na Itália? Há espaço para eles tocarem, fazerem show e divulgarem a sua música pelo país? Como é?
CS: Bom, eu não sei dizer muito, porque eu passo pouco tempo na Itália. A última vez que eu estive em Milão, eu só fiquei três dias. Não sei bem o que está acontecendo, só sei que há muitos grupos. Posso te dar alguns nomes porque são amigos meus que tocam, mas não sei te dar um quadro completo do underground italiano no momento.
W (RM): Ah, entendi. Que pena.
CS: É verdade. Posso te falar de um grupo que se chama Cayne, é um belo grupo, é um grupo em que um nosso ex guitarrista toca, toca no Cayne. Fizeram também uma turnê conosco, são muito bons. E, além desse, há também um outro grupo que se chama Duck, é muito mais extremo, muito mais bruto. E eles também são muito bons, mais técnicos.
W (RM): Cristina, vocês têm uma música que se chama “Senza Fine” que é em italiano, não é? No álbum “Unleashed Memories”. O Lacuna quer lançar um disco todo em italiano?
CS: Não, um álbum todo em italiano não faz sentido, porque, para nós, o rock e o metal fica melhor cantado em inglês, se adapta melhor.
W (RM): Sim, como aqui.
CS: Se, de vez em quando, surge uma música em italiano porque nasceu espontaneamente, tudo bem. Mas nós não forçamos isso.
W (RM): Legal, aqui também. A maior parte dos grupos toca em inglês. Mas eu gostei muito do “Senza Fine”.
CS: É porque se adaptava bem à música, mas nem todas as músicas soam bem em italiano. Depende da música.
W (DD): Excelente, Cristina, nós vamos alternar entre o inglês e o italiano, tudo bem?
CS: Ok, sem problemas.
W (DD): Você poderia escolher uma música do Lacuna Coil que você tem muito orgulho de ter escrito, para que nós possamos ouvir agora?
CS: Desse album, pode ser “I Don’t Believe In Tomorrow” ou “Intoxicated”.
W (DD): Então qual vamos ouvir?
CS: Vamos de “I Don’t Believe In Tomorrow”.
W (NM): Cristina, o Lacuna Coil tem muitas fãs jovens e adolescentes, além, é claro, dos fãs mais antigos. O que você diria para uma menina de quinze ou catorze anos que está pensando em formar uma banda e começar uma carreira de cantora?
CS: Em primeiro lugar, elas devem ser honestas consigo mesmas e tocar a música que elas verdadeiramente gostam, porque se você tentar de promover em um cenário musical com o qual você não está confortável, você vai fracassar. Então você tem que cantar com o seu coração, com paixão, e tem que ser sincero em relação ao que você está cantando, e estar completamente convencido do que você está fazendo. Mais do que tudo, você tem que perceber que é um trabalho muito difícil que nem todos encaram, então não se foque apenas na parte glamorosa, porque essa carreira envolve muito trabalho e sacrifício, então esteja preparado para isso também..
W (NM): É muito legal ouvir isso de você, Cristina, as suas palavras se parecem muito com o que um dos nossos mestres, Ian Gillan, nos disse outro dia, quando nós o entrevistamos.
CS: Claro, e isso é verdade, porque muitas pessoas acreditam que o objetivo a ser alcançado é ter um contrato com uma gravadora, mas isso é só o começo, porque uma vez que você consegue isso, é aí que o trabalho difícil começa, sabe, com as turnês, ter que ficar longe da sua família, ter que se apresentar todas as noites, mesmo estando cansado, ou doente, ou com dor nas costas, ou se você preferiria estar em outro lugar. Você pode ficar longe de casa durante meses de uma vez, e na maioria das vezes, o que as pessoas acham não é a verdade, não é a realidade.
É uma coisa entre nós, é um pequeno ritual que nós temos faz algum tempo, nós sempre tivemos uma sequência de rituais que fazemos antes de nos apresentarmos.”
W (RM): Cristina, na Itália, eu fui no show do Iron Maiden, Metallica, e também do Deep Purple na Arena de Verona. Eu encontrei um público muito parecido com o brasileiros, todos enlouquecidos. Você acha que o público latino é mais fanático?
CS: É fanático no bem e no mal. A coisa maravilhosa é que o público sul-americano é muito caloroso, fazem bagunça, cantam, pulam, dançam, e é ótimo para um artista. Porém, de mesma forma, são também muito fechados, se preferem um gênero musical, todo o resto é lixo. E, ao contrário, isso não acontece muito em outros lugares como a Inglaterra, os Estados Unidos e o resto da Europa, por exemplo. São muito mais fechados em uma categoria.
W (RM): Entendo.
W (DD): E falando sobre a população latina, qual é a sua relação com o Brasil, com os fãs, e você conhece alguma banda brasileira de heavy metal?
CS: Bom, além do Sepultura, eu não conheço muitas outras bandas, porque o meu único contato com os fãs brasileiros é através da minha rede social. Eu sei que muitas pessoas do Brasil me escrevem, eles mandam mensagens todos os dias. E eu tento entrar em contato com eles sempre, respondendo mensagens e postando coisas, mas essa vai ser a segunda vez que nós vamos para aí, então eu acho que ainda há tempo para construir uma relação ainda melhor do que a que nós temos agora.
W (NM): Excelente. Então, Cristina, estamos chegando no final da nossa entrevista. Em primeiro lugar, eu gostaria de agradecê-la pelo seu tempo, como eu disse para o Sr. John Campbell quando nós falamos com ele, do Lamb of God, vocês são os responsáveis por manter a chama do heavy metal, do hard rock, da música de boa qualidade viva, então eu também gostaria de agradecê-la por isso. É muito importante ter… A sua banda não é necessariamente nova, mas vocês são a nova geração continuando, então muito obrigado por tudo o que vocês fizeram.
CS: De nada, eu mal posso esperar para ver vocês aí.
W (NM): Me conte um pouco do… Vocês são muito íntimos, não é? O Lamb of God, o Hatebreed e o Lacuna Coil, vocês tocaram muitas vezes juntos, não é?
CS: Sim, nós fizemos turnês com eles, somos amigos.
W (NM): Excelente, nós estamos promovendo esse show aqui, nós achamos que vai ser um dos melhores shows do ano: Lacuna Coil, Hatebreed e Lamb of God aqui em São Paulo. Você poderia convidar nossos ouvintes para esse show incrível que vai acontecer aqui no fim do mês?
CS: Com certeza, eles têm que ir. Eu não estou convidando, porque eu tenho certeza de que todo mundo irá, é uma oportunidade de uma vez na vida, porque serão três bandas que tocam coisas diferentes, mas com a mesma atitude, se divertindo, prontos para arrebentar no palco, então vai ser uma grande festa com o Lamb of God e o Hatebreed, então todo mundo têm que ir.
W (NM): Sim, nós estamos muito ansiosos para de encontrar, e todos os nosso ouvintes com certeza estarão lá.
CS: Legal, isso é ótimo.
W (NM): Ok, Cristina, muito obrigado.
W (RM): Obrigado, Cristina. Muito obrigado.
CS: Tchau. Obrigada a vocês. Boa semana.
W (RM): Obrigado. Nos vemos no Brasil.
CS: Tchau, até.