Se existe uma banda de metal capaz de fazer o diabo dançar, com certeza estamos falando do AVATAR. A dedicação dos suecos neste nobre propósito é o título do nono álbum da carreira, Dance Devil Dance, e a figura de Satanás cultivada pelo frontman Johannes Eckerström certamente surpreende até mesmo headbangers versados nos segredos infernais: “Um cara tranquilo, feminista e a favor da igualdade”.

Na reta final da mais recente turnê estadunidense, na qual embarcaram em abril, e prestes a iniciar a temporada de festivais na Europa, o carismático vocalista do AVATAR conversou com o Wikimetal por Zoom para falar do novo disco e como o Brasil ganhou prioridade quando o assunto é a agenda de turnês futura da banda. 

“A vida é muito mais fácil quando se pode respirar, sem precisar medir sua temperatura corporal, então estamos nos divertindo muito”, comemora Johannes sobre os meses bem sucedidos na estrada, sem que nenhum dos cinco integrantes da banda ficasse doente. 

Antes de entrar em uma reflexão espontânea sobre o significado da figura do diabo na própria vida e arte, Johannes comentou como o setlist da nova turnê traz um novo desafio ao apostar em uma montanha-russa, já abrindo os shows com a intensa “Dance Devil Dance”. Em termos de metal, isso seria o equivalente a uma maratona, segundo ele. 

“E isso significa um desafio físico, porque ao escrever e gravar uma música, você não pensa muito em respirar, como faz quando está no palco”, explica. “Eu consigo atingir notas relativamente altas, mas eu não seria capaz de fazer um show completo de power metal tradicional ou algo assim. Tradicionalmente, isso seria para cantores tenores, mas eu tenho mais essa voz de barítono e aprendi apenas pela força de vontade a fazer certas coisas mais agudas. Mas isso também significa que não consigo flexionar esses músculos tão facilmente quanto os outros”.

E então, a conversa que discutia músicas do novo disco que poderiam entrar no setlist (“On The Beach”, “Gotta Wanna Riot” e “Hazmat Suit” foram citadas) se tornou algo mais profundo. Criado na época de pandemia e aperfeiçoado para ser o melhor álbum da carreira do AVATAR, o disco Dance Devil Dance também se tornou um álbum “estranhamente espiritual” para Johannes.

Apesar de não ter uma fé propriamente dita, o frontman encontrou uma perspectiva espiritual durante o processo de composição do álbum. “Mesmo que você não precise acreditar em mágica para isso. É apenas uma forma de organizar sua mente e reconhecer o poder dos símbolos, o poder dos rituais, porque todos nós fazemos rituais o tempo todo para estruturar o mundo. Sopramos velas em um bolo de aniversário, mesmo que não acreditemos que esses desejos se tornarão realidade. São apenas coisas em torno das quais nos reunimos, da mesma forma que reunimos nossos símbolos”, refletiu.

E nesse processo, para além do palhaço de riso escarnecido que lidera o circo do AVATAR e traduz o trabalho e visão de sua trupe para o mundo, Johannes se entendeu como o próprio Satanás. Mas não a versão contada pelo Cristianismo, que chegou depois, mas o diabo enquanto um símbolo empoderador. 

“Isso se conecta à ideia de responsabilidade, de autorrealização, de estar conectado ao mundo, à natureza de alguma forma. E também é um antagonista, um adversário como símbolo, digamos assim. E acho que as religiões mais convencionais, no fim das contas, parecem representar obediência cega às autoridades. Tendem a ser meio misóginas, autoritárias e tudo mais. E então sinto que, nesse caso, Satanás como símbolo devesse ser um cara tranquilo, feminista, que acredita na igualdade. É isso que eu me esforço para ser, assumindo a responsabilidade por minhas ações”, concluiu. 

É difícil simplesmente retomar o rumo da entrevista depois de uma conversa tão pessoal e, ao mesmo tempo, tão profunda do tipo de arte e ideal que guia o AVATAR enquanto banda. Mas depois da passagem deles pelo Brasil no último ano, como banda de apoio de ninguém menos que Iron Maiden, é preciso questionar: existem planos de shows para a América do Sul? Felizmente, a resposta é positiva para 2024. 

“Deixamos bem claro para as pessoas com quem trabalhamos que queremos e precisamos voltar. Neste ponto, os promotores [da América do Sul] precisam dizer ‘sim’ para nosso cronograma, mas essa questão está sendo tratada com uma prioridade muito maior do que antes, então deve acontecer o mais rápido possível”, garantiu. 

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