Apocalyptica é uma das maiores em metal sinfônico no mundo. Há 30 anos, a banda finlandesa equilibra com maestria duas propostas aparentemente antagônicas em si, misturando heavy metal às harmonias da música clássica, uma característica explorada em total pureza no EP recém lançado Metal Classic, Classic Metal, de outubro.
No projeto, o Apocalyptica faz as próprias versões de três músicas clássicas históricas, misturando pesa e delicadeza nas composições “Flight of the Bumblebee” (originalmente de Nikolai Rimski-Korsakow), a Quinta Sinfonia de Beethoven e “Bolero” (Maurice Ravel).
Em entrevista ao Wikimetal, o baterista Mikko Sirén falou sobre os desafios de manter músicas tão importantes com a mesma personalidade e ainda criar algo relevante, colaboração com Geezer Butler, a colaboração dos sonhos impossível da banda, planos futuros e confirmou que o Apocalyptica virá ao Brasil em 2023.
Recentemente, o jornalista José Norberto Flesch compartilhou que os finlandeses serão anunciados como parte do line-up do Summer Breeze Festival, que acontecerá no Memorial da América Latina (São Paulo), nos dias 29 e 30 de abril de 2023. As datas do evento brasileiro também estão próximas ao show recém-anunciado em Lima, no Peru, para o dia 25 de abril do próximo ano, confirmando os planos de uma turnê pela América Latina no próximo ano.
WM: Como vocês decidiram quais músicas estariam no EP Metal Classic, Classic Metal?
MS: Na verdade, o projeto começou há muito tempo e uma das coisas que levou tanto tempo foi a dificuldade de encontrar as músicas que sentíamos que poderíamos fazer algumas versões interessantes. Acho que começamos com umas 25 músicas e depois reduzimos para 12, algo assim. E essas três que lançamos agora foram as primeiras que fizemos arranjos apropriados. Como eu disse, a lista ainda é bastante longa, acho que lançaremos mais algumas músicas clássicas.
WM: E qual o maior desafio ao fazer essas versões do Apocalyptica?
MS: O maior desafio é evitar o óbvio. Acho que esse é um dos grandes medos. Não sei se isso faz sentido., mas não queremos fazer o mais óbvio nos arranjos ou na música em geral ao ponto de se tornar meio bobo. Sim, mas é muito importante para nós sentirmos que fazemos algo que nos deixa realmente empolgados. É da nossa natureza, de nós quatro, de ser originais, exploradores e tentar encontrar sempre novas abordagens interessantes. Então é crucial para nós que fiquemos empolgados com o que fazemos.
WM: Nos últimos anos, vocês lançaram parcerias com artistas incríveis. A banda tem algum nome que ainda está na sua lista de desejos para uma colaboração?
MS: Acho que há tantos nessa lista. Algumas pessoas já morreram, como no caso do Leonard Cohen. Para mim, ele foi um dos maiores poetas de todos os tempos, com uma voz tão diferente… Mas ele não está mais conosco. Mas a lista é longa, com algumas pessoas mais possíveis que outras, mas temos sorte de ainda sermos capazes de colaborar com artistas que nos animam. E nos melhores momentos, trabalhamos com pessoas que são nossos ídolos ou pessoas que realmente admiramos. O grande exemplo é o último single cantado que gravamos e lançamos com Franky Perez e Geezer Butler, do Black Sabbath. Acho que para quem já ouviu rock, Geezer é um desses nomes icônicos. E poder tocar com ele é, claro, um tipo de marco na carreira.
WM: E como foi tocar com Geezer Butler ao vivo?
MS: Foi muito especial. Eu não o conhecia pessoalmente antes, ele é uma ótima combinação de um cavalheiro britânico e um punk de verdade. Acho que é uma combinação muito boa, sou um grande fã de rock britânico no geral, e estar presente enquanto ele toca e entender que aquele é o som real, que não há truques ou botões milagrosos por trás, é apenas ele tocando o baixo e esse é o som . Enquanto músico, esses momentos são sempre muito importantes e se destacam como algo para se lembrar. Como pessoa, ele é muito gentil e doce e tem ótimas histórias. E enquanto artista, ele é tão válido como sempre foi, um músico muito bom.
WM: Falando em Black Sabbath, gostaríamos de saber sua opinião sobre o futuro do metal. Recentemente, 57% dos nossos leitores votaram que metal será um gênero ouvido por poucas pessoas, assim como é com a música clássica atualmente. Você concorda?
MS: Acho que essa transformação já começou há uns oito ou dez anos atrás… Quando colocamos as coisas em uma perspectiva um pouco maior, isso acontece com todos os gêneros musicais, especialmente com os gêneros mais ousados. Se você pensar sobre 30 e 40 anos atrás, a música mainstream era o jazz e era uma música de dança e entretenimento da época, com as pessoas mais badaladas brincando com essa música – e isso durou por muito tempo. E então, eventualmente, desapareceu. Não era mainstream. Nunca morreu. Nunca desapareceu, sim, mas não era mais mainstream.
Então, nesse movimento o rock foi deixado de lado pela música disco. Depois, começaram a odiar disco, que saiu dos holofotes. Nenhuma dessas músicas desapareceu. Especialmente quando a música é mais ousada, nesse caso, se você pensa como eu, pelo menos, já que entendo que heavy metal deve ser super ousado, quebrar barreiras e todas as regras, ser o maior rebelde. O que aconteceu quando o metal começou a ser mais popular? Começa a lutar contra si próprio, pensando ‘Nossa popularidade é tão grande que precisamos lutar para ficar aqui’, e para permanecer popular você começa a suavizar as arestas, se encaixar em uma fórmula.
O que aconteceu com a música que deveria quebrar todas as barreiras? Tornou-se uma das músicas mais conservadoras e restritas: você não pode fazer isso, você não pode fazer aquilo, isso tem que ser feito, aquilo não pode acontecer. Quando antes era foda-se tudo, não há regras e fazemos o que quisermos. Então musicalmente, eu acho fabuloso que o metal não seja tão popular como era há dez anos, porque o conteúdo musical começou a se tornar maçante.
Quando vemos shows de rock e metal hoje em dia, ainda há uma quantidade enorme de pessoas indo a shows de rock e metal. E eu acho que talvez seja aí que está a vitalidade, o metal ainda é a performance ao vivo, é ali que a energia é mais crua, na forma bruta e é isso que as pessoas querem procurar, mesmo os mais jovens.
Tem uma coisa que eu sempre digo e sinto que os músicos e fãs de metal estão meio magoados quando falo, mas o hip hop, dance e eletrônica estão dominando tudo e eu acho isso fantástico, mostra que a música segue em frente como sempre e está bem. Não deveria ter um estilo musical que se mantém no topo pra sempre, isso nunca aconteceu. E o que devemos fazer, como todos os músicos fizeram no passado, é abraçar o novo caminho, abraçamos as coisas novas e tentamos aprender com eles, com os jovens e a musicalidade deles.
WM: Sim, totalmente. E enquanto fã, não vejo problemas em ver shows em locais menores, desde que a gente se divirta.
MS: Exato. E ainda existem bandas como Iron Maiden e AC/DC que lotam estádios, o que é ótimo também. Mas [estádios] não são os únicos lugares para se ouvir música.
WM: E voltando para o Apocalyptica, vocês estão explorando tanto músicas instrumentais quanto faixas com vocais em seus últimos lançamentos. O que podemos esperar dos próximos passos da banda?
MS: Neste exato momento, estou em nosso local de ensaio e estou fazendo programações para o próximo single que devemos lançar ainda este ano. Isso é absolutamente algo que está por vir, mas estamos trabalhando em muitos campos diferentes ao mesmo tempo. Estamos planejando fazer mais faixas vocais e também estamos criando faixas instrumentais também. Tem muita coisa pela frente.
Não há muitas coisas boas a serem ditas sobre a pandemia, mas nós encontramos muito mais criatividade enquanto banda, então isso é uma coisa boa. Estamos o tempo todo trabalhando muito.
WM: Fazem sete anos desde o último show do Apocalyptica no Brasil, vocês tem planos de vir pra cá?
MS: Sim, estamos voltando para a América Latina. Não tenho as datas aqui, mas será no próximo ano, no primeiro semestre, temos pelo menos uma – talvez até duas – turnês na América Latina, essa é uma das ótimas notícias pelas quais estamos animados. Não lembrava que fazia tanto tempo desde que fomos aí, é ridículo. Claro que teve a porcaria do COVID que estragou tudo, mas estamos indo! Não posso dizer cidades ou datas, mas vamos e estamos muito animados.
No geral, a América do Sul em geral é um dos nossos continentes favoritos para fazer turnê apenas por causa das pessoas. É claro que cada país é muito diferente, mas também há semelhanças na paixão que as pessoas sentem pela música e pela vida em geral. É alucinante. É super inspirador estar aí.
WM: Sim, sempre ficamos muito orgulhosos quando as bandas elogiam o público da América Latina porque somos realmente apaixonados por música, então é bom ver as bandas curtindo também.
MS: Sim, isso é óbvio, realmente fica evidente. E eu ainda não conheci um músico que não gostaria de tocar por aí E, claro, quando você chega ao ponto de ouvir algo da música local – sou fã de bossa nova e gosto de samba e salva, por exemplo -, é fabuloso.
Ouça o EP Metal Classic, Classic Metal, do Apocalyptica, no Spotify e “Flight of the Bumblebee” na sequência.