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Donita Sparks, da banda punk L7

Donita Sparks, do L7, xinga Bolsonaro e fala sobre música e resistência

Donita Sparks nos conta sobre o documentário do L7 e dos shows no Brasil

O L7 é uma banda icônica. Não só pelo estrondoso sucesso que fez entre a década de 80 e 90, mas também pelos ideais que o grupo representa. A vocalista Donita Sparks já chegou a descrevê-las como uma “banda de rock cujas integrantes são feministas”, mais do que uma banda cujo único objetivo seja a militância. E é verdade. As letras vão desde a apatia interpessoal das eras Reagan-Bush na clássica “Pretend We’re Dead” até sobre escrever listas de pessoas que deixam a vocalista irritada.

Mas não da pra negar a importância política da banda, que vai além das músicas polêmicas. O Rock For Choice, por exemplo, foi criado por elas. Artistas como Bad Religion, Foo Fighters, Joan Jett, Nirvana, The Offspring, Pearl Jam, Rage Against The Machine e Red Hot Chili Peppers passaram pelo palco nos 10 anos de festival para declarar o apoio ao direito das mulheres e ao aborto.

Em 2000, porém, a banda se separou. Sem nenhuma explicação oficial. Passaram-se 18 anos até que Donita resolvesse relembrar os tempos da banda através do arquivo de vídeos que tinha. Daí surgiu a ideia de fazer um documentário, que também leva o nome da extremamente famosa “Pretend We’re Dead”. Uma reunião da banda foi encomendada e agora, 25 anos depois da última vinda, elas retornam para shows no Brasil.

Em entrevista pelo telefone, a vocalista Donita Sparks contou sobre o break. “Quando nos separamos, nós não tínhamos gravadora, não tínhamos mais dinheiro nem produtores. Tudo se desmoronou”. Foi com a resposta dos fãs através da página do Facebook que ela resolveu conversar com as outras integrantes do grupo. “Nós já conversávamos muito por causa do documentário. Aí perguntei ‘ei, alguém está interessada?’. Eu não ligava para a resposta, na verdade. Mas pensei que seria legal se voltássemos. Principalmente para o público jovem que talvez não tenha nenhum modelo no rock para se inspirar”, disse.

A arte e a política são intrínsecas para a expressão do L7. É como se Donita nem percebesse a forte veia militante que tem. “Cada banda tem uma voz diferente. Algumas cantam sobre se divertir e festejar. Nós cantamos sobre festejar. E também sobre ficarmos bravas com as coisas”. A criação de Donita sempre foi engajada, porém. “Eu sou feminista desde que nasci, é uma parte da minha vida. Minha família é feminista. Mas eu não acho que cante tanto sobre o feminismo também”.

Coincidência ou não, os tempos atuais se parecem muito com quando o L7 começou. Se hoje, o republicano Trump é o presidente dos Estados Unidos, na época era Bush. O pai. “Tinha uma cena punk muito forte quando Reagan governava, também. Parece que quando esses imbecis estão no poder, o punk se reaviva. A resistência dos artistas também”.

E não foi só sobre os conservadores americanos que Donita falou. A cantora comentou o caso em que o presidente eleito Jair Bolsonaro disse que “não estupraria” uma colega congressista “porque ela não merecia”. “Que ser humano educado”, ironizou Donita, “eu não vou falar o nome desse cuzão, podemos chamá-lo de ‘Sr. Educado’, daqui pra frente. Eu só sei que ele é um imbecil.”

Justamente daí vem o poder da música, segundo a artista. “A música ajudou a derrubar o apartheid nos anos 80. Ajudou os movimentos sindicais nos EUA dos anos 30. O folk e a música de protesto ajudaram nas manifestações contra a Guerra do Vietnam. Eu acho muito importante os artistas, e as pessoas no geral, resistiram a toda essa merda. Fazendo qualquer coisa que elas fizerem de melhor”.

“Agora, você pode ser uma banda que gosta de cantar sobre festas. Você pode se encher de dinheiro com isso e doar para alguma instituição. Todo mundo pode fazer alguma coisa”, completou.

É essa atitude revolucionária que pode se esperar tanto do documentário do L7 quanto dos shows que farão no Brasil entre os dias 01 e 06 de dezembro. O Pretend We’re Dead reúne vídeos gravados em turnês dos anos 90 e imagens de arquivo. Sobre o filme, Donita conta: “Foi agradável ver nossas performances. Nós éramos uma boa banda de rock. Tudo parece muito relevante e atemporal.”

Quanto aos shows nas terras do “Senhor Educado”, o L7 se diz muito animado. “Dá última vez em que estivemos aqui, em 1993, os fãs eram malucos”, riu Donita. “Tenho certeza de que receberemos muito amor. E daremos muito amor. Vai ser, em certo sentido, como uma volta para casa”.

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