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Eric Clapton e Rock Against Racism

Eric Clapton e Rock Against Racism. Créditos: Reprodução/Capa; Reprodução/Logo

A declaração racista de Eric Clapton que resultou no movimento ‘Rock Against Racism’ em 1970

Uma série de artistas punk se juntaram para criar um movimento contrário ao crescimento da ultradireita no Reino Unido

No início dos anos 1970, o Reino Unido estava passando por um momento delicado. Devido à profunda crise econômica, a ultradireita passou a ganhar força e popularidade no país, se erguendo com discursos de racismo e xenofobia, proclamando a supremacia dos brancos. 

Em 1974, o partido fascista Frente Nacional tinha crescido assustadoramente e apresentado como proposta de seu programa político a repatriação obrigatória de todos os “não brancos” ou imigrantes “de cor”. Insatisfeito com esse cenário, o fotógrafo, ativista e artista de teatro alternativo Red Saunders, começava a pensar em uma resposta ao movimento ultranacionalista. 

O estopim veio da música. Em agosto de 1976, durante um show em Birmingham, o astro do rock Eric Clapton deu uma declaração pública de apoio ao ex-ministro conservador Enoch Powell, que sustentava um discurso profundamente anti-imigrante. Na ocasião, Clapton teria dito que o Reino Unido estava “superpovoado” e que os britânicos deveriam votar em Powell para que o país não se transformasse em uma “colônia negra”. O guitarrista teria afirmado que a solução seria “se livrar dos estrangeiros, dos pretos e dos crioulos” e em seguida começado a entoar repetidamente o slogan da Frente Nacional Britânica: “Mantenha a Grã-Bretanha branca.”

Juntando-se a alguns amigos, Red Saunders escreveu uma carta de repúdio a Eric Clapton e a enviou a NME, ressaltando que os comentários do guitarrista eram “repugnantes”, especialmente considerando que parte de seu sucesso se devia ao cover que Clapton tinha feito de “I Shot The Sheriff”, música de Bob Marley. Na carta, Sanders convidava os leitores da NME a ajudarem a formar o movimento Rock Against Racism, e seu chamado recebeu centenas de respostas.

Nos anos de 76 e 77, o movimento se manteve ativo e em crescimento com pequenos shows independentes ao redor do país, contando com nomes como Carol Grimes e Matumbi, e lançando sua fanzine Temporary Hoarding. A primeira grande manifestação do Rock Against Racism aconteceu em 1978, quando punks e ativistas se juntaram na Trafalgar Square, em Londres, e somaram mais de 80.000 pessoas. Na ocasião, várias bandas se apresentaram em um show ao ar livre no Victoria Park, como Steel Pulse, Tom Robinson Band e X-Ray Spex, com o The Clash fechando o show com sua canção “White Riot”, cantada junto à Jimmy Pursey, do Sham 69.

O Rock Against Racism buscava essencialmente proclamar as raízes negras da música britânica, além de se mostrar uma resposta aos discursos racistas e xenófobos da ultradireita, que passou a perder força a partir dos anos 1980. O movimento se manteve ativo até 1982 e é mostrado no documentário White Riot, em que, além das bandas já citadas, aparecem também Gang of Four e Buzzock. Em 2018, Eric Clapton afirmou que “sente vergonha” dos comentários racistas e fascistas que fez no passado.

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