David Vincent era baixista e vocalista de um dos nomes mais famosos dentro do death metal, o Morbid Angel, banda muito importante para o gênero. Já integrou também uma série de outros projetos e, atualmente, lidera o I Am Morbid, juntamente ao antigo colega de banda e baterista, Pete Sandoval e os guitarristas Bill Hudson e Richie Brown

O grupo está vindo ao Brasil para uma turnê em comemoração aos trinta anos de lançamento do terceiro álbum do Morbid Angel, Covenant, um dos maiores clássicos do death metal, com shows em São Paulo (19/10) e Brasília (20/10).

Em entrevista ao Wikimetal, o vocalista falou a respeito de como o álbum foi gravado, com os músicos Trey Azagthoth nas guitarras e Pete Sandoval na bateria, além dele próprio no baixo e vocal, “Nós sempre fomos uma banda de dois guitarristas. Neste álbum em específico, nós tivemos alguns desafios com um dos membros, então ainda tocamos no estúdio como uma banda de duas guitarras. Mas é que o Trey tocou ambas as partes.”

O Morbid Angel é uma das bandas mais proeminentes do death metal, e Covenant fez muito sucesso, vendeu milhares de cópias e tornou-se um clássico absoluto do estilo, tendo impactado muito a cena e é lembrado até hoje, trinta anos depois. “O impacto dele é quando eu toco no palco. Como você disse, são trinta anos depois que aconteceu, o público é muito animado e ainda gosta muito das músicas. Então eu não sei quanto mais de impacto ele poderia ter ao invés de ainda ser relevante trinta anos depois. É uma realização.”

Sobre memórias ou lembranças da época de escrita e produção do álbum, ele comentou: “Esse é o primeiro disco que tivemos um produtor de fora, chamado Flemming Rasmussen. Ele voou para Tampa, estava lá e supervisionou a gravação da bateria. Essa foi a coisa mais importante para ele: ele queria gravar a bateria de uma forma que pudesse trabalhar com ela com base em suas experiências com o Metallica, etc. E então terminamos de fazer os vocais e guitarras. E aí voamos e mixamos em Copenhagen, no Sweet Silence.”

Falando sobre algumas faixas de Covenant, as músicas “Rapture” e “Vengeance Is Mine” integram a trilha sonora do filme Night of the Demons 2, de 1994. Sobre isso, Vincent comentou: “Eu sei que é muito estranho. Nós recebemos uma ligação e os produtores do filme gostaram da nossa música. Talvez tenham achado que combinava com a história. Sendo sincero, o filme é terrível. Mas é, eu fico feliz de ser incluído nas coisas. Eu amo filmes de terror, infelizmente esse não é um deles, mas é, de qualquer forma, é bom ser incluído.”

Muitas músicas acabam ficando de fora quando se há a realização das setlists das turnês, especialmente em casos de festivais ou de bandas de aberturas a outros atos, “Isso é algo que eu venho tentando explicar para as pessoas”, ele diz. “Quando você sai e faz uma turnê, se você está tocando em um festival, geralmente leva uma hora. Outras casas de show, talvez seja uma hora e dez minutos ou uma hora e vinte minutos. Você tem um certo tempo para tocar, então quanto mais músicas você tiver, no nosso caso, temos vários discos para você escolher, fica cada vez mais difícil montar um setlist que inclua tudo o que todo mundo quer ouvir.”

Ele concluiu falando da importância das turnês temáticas “Isso dá a oportunidade de colocar de volta no set músicas que talvez tenham sido deixadas de lado ao longo dos anos.”

Ainda no âmbito das turnês, o baixista falou sobre a possibilidade de realizar mais turnês em comemoração de aniversários de álbuns: “Foi discutido. Só temos que ver se isso é algo que os fãs estejam interessados, então, isso continua a discussão. Tenho outros projetos musicais que eu faço. Então é realmente encontrar o tempo e a programação certa para fazer essas turnês acontecerem de uma forma que eu não descuide dos outros projetos.”

Vincent deu mais detalhes sobre seus outros projetos: “Acabamos de gravar um novo disco do Vltimas e que será lançado no início de 2024. Então vou ter que focar nisso enquanto eu quiser focar nisso. Estou muito animado com esse novo disco.”

O vocalista concluiu voltando ao tema das turnês: “Mas sim, encontrar tempo na agenda para fazer tudo o que quero está se tornando cada vez mais difícil. Eu quero fazer tanto e não há muito tempo. Estamos fazendo o melhor que podemos, mas tudo é sempre discussão. Se fizermos isso, se fizermos outra turnê, por exemplo, “Domination” foi sugerido. Essa será em 2025, então veremos o que acontece. Quer dizer, não gosto de falar sobre as coisas, a menos que tenha planos concretos.”

Um colaborador da Loudwire fez um Big Four do death metal, e o Morbid Angel está na lista, junto ao Death, Cannibal Corpse e The Black Dahlia Murder. Sobre isso, David comentou: “Essa é a opinião de outra pessoa. Nós temos fãs, que são grandes fãs da nossa música, há fãs que talvez tenham outras bandas que eles gostem mais. O bom da música é que há tantas bandas para escolher e você pode decidir o que gosta e o que você não gosta nas listas dessas pessoas. Essa é a opinião deles. E acho que estou feliz por ser incluído na lista, essas outras bandas, Death é obviamente, Chuck Schuldiner fez muito pelo estilo de música. Então eu certamente o teria na lista. Sim, é coisa boa.”

Apesar de Covenant ter feito bom sucesso, o death metal tende a ser um estilo de música muito nichado, poucas vezes furando a bolha. Quando perguntado sobre o possível motivo disso, o vocalista respondeu: “É um gosto que se adquire. A música ficou mais extrema, até mesmo, de certa forma, no meio pop, algumas dessas bandas que consideramos comerciais. Elas têm alguns vocais mais ásperos e guitarras mais pesadas, algumas coisas desse tipo. Eu não acho que seja para todos. Música extrema é para pessoas extremas e se você não tem esse tipo de gosto musical, então você realmente não vai gostar.”

“E acho que é bom ter tantas opções porque também sou fã de música, adoro ouvir música e outras pessoas também. Meu humor muda. Às vezes quero ouvir a coisa mais feroz e extrema do mundo, e às vezes só quero ouvir música clássica. E, felizmente, tenho essas escolhas a fazer.”

Ao falar sobre a turnê em solo nacional, ele abordou o tema com carinho: “Fazemos turnê pelo Brasil já há muitos, muitos anos e fizemos muitos amigos lá. Os fãs, o público são bons, os shows são bons, eu sempre gostei disso. Caramba, meu guitarrista é brasileiro. Então eu sempre tive um relacionamento emocional muito próximo com o Brasil e com toda a América Latina. Ao longo dos anos, fizemos muitos shows lá e como eu disse, fizemos muitos amigos, conhecemos muitas pessoas novas. Os shows são ótimos, o apoio dos fãs é incrível. É isso que nos move, são os fãs. Eu não estou lá a menos que seja para os fãs.”

“Acho que vamos nos divertir. Temos um ótimo set, a banda soa muito, muito boa, e como eu disse, isso dá às pessoas a oportunidade de ouvir músicas vindas do palco que elas talvez nunca tenham ouvido. Vai ser um momento emocionante.”

Vincent relatou uma experiência interessante em sua última passagem pelo Brasil: “Cada turnê que fazemos é única, tem algum tipo de toque único. Da última vez tivemos a oportunidade de comer nesse restaurante maravilhoso, Henrique. Ele é um chef de primeira linha. Grande estrela de TV, tem um grande restaurante em São Paulo, e ele nos convidou para comer com ele. E, meu Deus, essa foi uma das melhores refeições que já comi na vida. Foi muito bom. Nos perguntaram: ‘esse cara é fã da banda e gostaria de receber vocês no restaurante dele hoje à noite’.” 

Ele finalizou falando sobre a importância do não planejamento cronometrado de todas as ações da vida: “Então, quando você se abre para permitir que as coisas aconteçam e elas são meio espontâneas assim, é muito mais divertido do que ter que planejar cada pequena coisa. Às vezes as coisas acontecem e você não consegue planejar, mas você tem certeza que está feliz por ter acontecido, e foi o que aconteceu conosco. Então estou sempre ansioso por esse tipo de experiência pessoal que temos, além de fazer ótimos shows.”

Fã de rock desde muito cedo, é estudante de jornalismo e trabalha, também, criando conteúdo para a internet. Já foi host de podcast e atualmente está completamente focada na área de jornalismo especializado. Apaixonada por música, é entusiasta, em especial, do hard rock e heavy metal.