Daniela Mercury participou na última segunda-feira, 20, do programa Roda Viva, da TV Cultura, e contou que teria feito um álbum de heavy metal com ativismo mais radical caso Jair Bolsonaro tivesse ganhado a eleição presidencial em 2022.
“Teria feito um disco de rap, de trap, de heavy metal. Um disco contestador, revoltado. Ia dar a louca. Não tinha condição. Nós estávamos em uma cilada, até hoje eu tenho a sensação de que o país não percebeu a gravidade do que a gente passou, do que foi os últimos dados, desde o golpe de Dilma Rousseff. Quase houve a destruição da democracia e a gente quase perdeu o ‘pescoço’, e seria trágico, em tudo, não só para a cultura” (via UOL).
A cantora completou: “Estamos caminhando a passos largos e firmando a nossa democracia, mas não é fácil. Temos que reconstruir toda a democracia que fizemos, precisamos repensar. Não podemos esquecer do fascismo que tomou conta do país e que ainda está presente com muita gente defendendo, políticos eleitos”.
O quase álbum de heavy metal que Daniela Mercury menciona é Baiana (2022), lançado em dezembro. O 13º disco de estúdio, que mistura samba e axé, trouxe novos olhares da força feminina da mulher brasileira, especialmente a da soteropolitana, e do Nordeste.
Em entrevista à Carta Capital, a Rainha do Axé deu maiores detalhes sobre o conceito do projeto, que também criticou o ex-governo: “As pessoas me associam à alegria porque eu faço uma música rítmica, mas a minha música sempre foi muito politizada, sempre trouxe temas fortes, contundentes, profundos. O ritmo, às vezes, camufla. Baiana traz isso”.
“Como voltamos a ter essa sombra fascista, autoritária, que foi acesa por um governo antidemocrático, a gente tem que reforçar todas as lutas. Eu nunca deixei de cantar as dificuldades, mesmo em um ambiente que celebra a alegria e a vida. A música é uma forma de falar de nós, numa alegria possível ou momentânea. A gente não tem que ficar contabilizando sofrimento, porque isso não ajuda muito. A gente tem que pontuar e politizar esse sofrimento, buscar que ele vire uma demanda social organizada”.
Desde o sucesso “O Canto da Cidade”, Daniela é conhecida por usar a arte como forma de geração de consciência. Esse desejo de mudança, porém, ainda é cantado por poucos.
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