Headbangers de São Paulo puderam vivenciar uma noite histórica ao prestigiar Crypta e Nervosa em sequência no último domingo, 13, como parte da abertura da turnê conjunta de Arch Enemy e Behemoth na cidade. Sem dúvidas, essa é uma noite para ficar na memória de fãs do gênero.
Os caminhos de Prika Amaral, Fernanda Lira e Luana Dametto se cruzaram no mesmo palco pela primeira vez desde a separação do trio que formava a Nervosa até 2020. Enquanto as duas últimas seguiram juntas para iniciar o trabalho na Crypta com uma mudança de estilo para o death metal, Prika enfrentou o desafio de reestruturar a banda em meio à pandemia e iniciar uma nova fase para um dos nomes mais relevantes do thrash brasileiro.
Naquela noite, apesar da predominância de camisetas das atrações principais da noite, Arch Enemy e Behemoth, os fãs de Crypta e Nervosa também foram vistos aos montes, ostentando orgulhosamente osv logos das bandas de berço brasileiro.
Pouco antes de Crypta iniciar os trabalhos, a casa já estava quase completamente lotada, da pista ao mezanino e camarotes. Pouco depois das 19h, a banda entrou em cena comprovou a forte relação com o público de São Paulo ao trazer todo o poder de fogo da banda ao palco, com fãs cantando as letras do Echoes of The Soul (2021) com ferocidade equivalente às poses impossíveis de Fernanda.
Em uma noite emblemática pela presença de tantas mulheres no palco para tocar metal extremo, “Kali” foi dedicada às mulheres com ainda mais ênfase. Logo começaram as primeiras rodas da noite, ainda tímidas, mas que ganharam força em “Starvation”. Com o set mais curto que o normal, Crypta fechou a apresentação com “From The Ashes” cantada alto e a certeza de um espetáculo entregue.
No intervalo dos shows, houve a típica movimentação na pista para encher os copos de cerveja e movimentar as pernas, mas logo a Audio estava abarrotada mais uma vez para o segundo show da noite.
Com recepção especialmente calorosa para Prika, a única brasileira remanescente e ponto de força absoluto da banda, Nervosa para apresentar toda a força do disco Perpetual Chaos (2021) ao público de São Paulo, que começou a noite um pouco tímido.
Com as estrangeiras Diva Satanica (vocal), Nanu Villalba (bateria) e Helena Kotina (baixo) com a responsabilidade de fazer a apresentação dessa nova era aos fãs da América Latina pela primeira vez, foi possível admirar mais uma vez a capacidade de Prika de seguir em frente, mesmo diante de dificuldades sem perder a qualidade: em setembro, Eleni Nota (bateria) e Mia Wallace (baixo) precisaram deixar a turnê por questões pessoais, mas logo as substitutas foram encontradas e incorporadas ao universo da banda.
No show em São Paulo, não demorou muito para a qualidade inegável das musicistas escaladas quebrar o gelo inicial dessa primeira vez, com Diva Satanica se revelando uma frontwoman habilidosa e hipnótica, esguia como uma cobra nos movimentos fluídos, que em nada correspondem à brutalidade impressionante de seus vocais.
Em “Kill the Silence”, a vocalista Mayara Puertas, do Torture Squad, foi convidada ao palco em mais um momento de celebração das mulheres que fazem a cena do metal extremo brasileiro. A despedida foi com um discurso sobre como o “poder feminino mais forte quando é compartilhado”.
Mesmo com as letras do novo disco menos cantadas, os aplausos mostravam o quanto o público estava envolvido.O thrash da banda favoreceu moshs mais intensos, que aumentaram de tamanho e velocidade ao longo do show em músicas como “Into Moshpit”, chegando ao ápice no fechamento com “Under Ruins”.
A imagem de um casal resumiu bem o clima de apreciação de dois tesouros nacionais no público presente: ele vestia a camiseta da Nervosa, enquanto ela usava a da Crypta.
E se houve quem torceu contra qualquer uma das iniciativas que nasceram daquele rompimento inicial, o show com Crypta e Nervosa tocando em sequência no palco da Audio serviu para mostrar que o público ganhou e muito com a decisão de todas as envolvidas, por mais difícil que tenha sido. Se antes havia uma banda nascida em nossa terra para representar o peso do Brasil para o mundo, hoje são duas de altíssimo nível, como era de se esperar.
Veja a cobertura fotográfica da nossa colaboradora Leca Suzuki dos shows de Crypta, Nervosa, Arch Enemy e Behemoth na galeria. (Caso não esteja vendo a galeria de fotos, clique aqui).