Diferente da recente cinebiografia Bohemian Rhapsody, Mr. Bad Guy não causou a separação da lendária banda Queen
A estreia solo de Freddie Mercury é muitas vezes mal compreendida. Lançado em 29 de abril de 1985, Mr. Bad Guy foi visto como uma forma do cantor se afastar do legado que criou com o Queen, mas o disco nunca ameaçou esse trabalho.
Diferente do que foi mostrado na recente cinebiografia Bohemian Rhapsody – que chegou a faturar quase U$1 bilhão de bilheteria -, a decisão de Mercury de seguir carreira solo foi tranquila. No filme, Freddie Mercury é visto como o vilão que quase causou o fim da banda ao decidir gravar seu trabalho solo, mas ele estava apenas satisfazendo desejos que não cabiam no Queen, assim como Roger Taylor, que lançou trabalhos sozinho antes de Mercury assinar um contrato solo – o baterista lançou Fun in Space em 1981 e Strange Frontier três anos depois.
A briga retratada em Bohemian Rhapsody aparece como um incentivo para o cantor deixar o grupo, mas essa nunca foi sua intenção. A dramatização foi pensada puramente na criação do clímax do filme e não na veracidade dos fatos. Segundo fontes próximas ao músico, inclusive Brian May, o álbum veio da vontade do vocalista de trabalhar com faixas mais dançantes, algo que ele deixava de lado no Queen, que focava em suas raízes rock and roll.
Mr. Bad Guy começou a ser gravado em 1983, ano em que o Queen decidiu tirar férias dos grandes palcos – que muitos interpretaram como um hiato na carreira da banda – e focar no disco The Works, lançado em janeiro do ano seguinte. Enquanto trabalhava nos discos, Mercury experimentava os dois mundos: a vida com uma banda e a de artista solo. “Ele costumava ficar irritado ao trabalhar com os outros”, disse o co-produtor do disco, Reinhold Mack, que revelou que isso se devia ao fato de May buscar o som mais roqueiro, porém, segundo Taylor, Mercury sentia a solidão da nova carreira. “Ele me ligava durante as gravações e eu tinha que viajar à Munich para fazer o backing vocal”.
Quando finalizou a gravação do disco, o vocalista já havia voltado para a estrada e estava divulgando The Works. Essa turnê trouxe a banda ao Brasil para duas lendárias apresentações no primeiro Rock in Rio – nos dias 11 e 18 de janeiro de 1985 – unindo, em cada dia, mais de 300.000 pessoas e transmitido para quase 200 milhões de telespectadores no mundo. Hipnotizante, animada e lendária foram palavras usadas para descrever a presença da banda no festival.
Mercury, assim como os outros colegas, estava no auge de sua carreira, que logo em seguida foi celebrada com mais uma apresentação lendária, mas dessa vez em Londres. O Live Aid foi um evento beneficente para ajudar a população da Etiópia que na época passava por uma crise que causou a morte de um milhão de pessoas. Em ambas apresentações, Freddie Mercury e os integrantes da banda estavam em ótima forma, provando ser uma das maiores bandas de rock de todos os tempos.
Apesar de não ter alcançado o sucesso dos discos do Queen, Mr. Bad Guy levou diversas faixas às paradas britânicas e mundiais. Dançantes, as músicas trazem o cantor no piano, sintetizador e arranjos. Ele também foi responsável por parte da engenharia de som e por toda a composição. No disco, Freddie Mercury explorou seu talento e mostrou que é um artista completo.
O vocalista estava passando por dificuldades que muitos de nós não conhecemos. Entre vícios e fraquezas causadas pela AIDS que contraiu, Mercury entregou a melhor estreia solo que um grande artista poderia ao mesmo tempo que honrava o grupo com apresentações icônicas e importantíssimas para a história do rock.