Eddie sempre me impressionou.

Acredito que a imensa maioria dos verdadeiros fãs do Iron Maiden devem sentir uma mistura de emoções em relação ao mascote oficial da Donzela de Ferro.

Sendo fã da banda por mais de 35 anos e tendo visto 12 vezes o Iron Maiden ao vivo (e contando), além de centenas de vezes em vídeo, eu sempre quis saber um pouco mais sobre essa figura lendária.

E foi lendo o livro Run To The Hills de Mick Wall que uma visão mais completa sobre o surgimento do Eddie apareceu.

Não me refiro àquela cabeça que emoldurava o pano de fundo dos shows do Iron Maiden ainda no final da década de 70, antes de gravar o primeiro álbum. Essa parte da história, imagino que todo mundo que é fã já conhece:

A cabeça (The Head, em inglês), deixou de ser chamada de Head e foi abreviada pra ´Ead, depois Ed, e finalmente Eddie. E era assim que carinhosamente os membros do Maiden chamavam aquela cabeça que ficava acima da bateria dos predecessores de Clive Burr e soltava gelo seco pela boca em alguns momentos dos shows.

Não, não me refiro a isso.

Me refiro a como foi o processo de dar vida, tridimensional, no palco, àquele que se tornaria o maior mascote de uma banda, de todos os tempos.

Como foi que ele nasceu e seguiu o seu destino para se transformar nesse ser místico, meio monstro meio homem, que estaria presente em todas as capas, posters, camisetas e em cada peça de merchandise da banda pelo próximos 40 anos?

De faraó do Powerslave a controlador do demônio em The Number Of The Beast; do cyborg do futuro em Somewhere In Time a deus em Book of Souls; de combatente na guerra da Criméia em “The Trooper” a piloto da Segunda Guerra Mundial em “Aces High”; de louco lobotomizado em Piece of Mind a louco eletrocutado em The X Factor, e muito mais: Eddie esteve em todos os lugares.

Cyborg Eddie na “Somewhere Back In Time Tour”

Quer saber como o Eddie nasceu? Abre uma cerveja (uma The Trooper se possível) e vem comigo:

O nascimento de Eddie começa no dia que Rod Smallwood, empresário da banda, e manda-chuva de todas as decisões em parceria com o outro chefe, Steve Harris entrou na sala de John Darnley, executivo da EMI, gravadora que acabara de assinar o contrato para o lançamento dos 3 primeiros álbuns do Iron Maiden.

Ao entrar na sala, um poster pendurado na parede, chamou a atenção de Smallwood. Era um desenho feito para promover o disco de Max Middleton, artista de jazz.

Embora não fosse fã de jazz, o poster era tão bonito que chamou a atenção do empresário do Iron Maiden que pediu o nome do desenhista que o havia feito.

John Darnley respondeu que era de um artista desconhecido ex-estudante de escola de artes, que abandonou os estudos, Derek Riggs.

Rod Smallwood ligou para Riggs e foi visitá-lo. O obscuro desenhista que sem sucesso tentava mandar suas artes para editores de livros de ficção científica, mostrou os desenhos que tinha.

E ali, entre os desenhos, havia um com essa figura grotesca, meio monstro punk, com olhar de louco. A capa do primeiro disco do Iron Maiden estava praticamente pronta. Rod Smallwood só pediu que ele mudasse o cabelo do monstro: Ao invés de punk, ele queria um cabelo mais comprido. Mais heavy metal.

Anos depois, em entrevista, Rod Smallwood contou como isso foi importante para a construção da marca do Iron Maiden. “Nós nunca fizemos muitos programas de TV, e nunca tocamos pra valer nas rádios, mas como o Eddie criou essa relação tão forte com os fãs, a gente nem precisava desse veículos. Usar uma camiseta com o Eddie estampado se tornou uma mensagem clara: Foda-se a rádio. E foda-se a TV. A gente não liga pra isso. A gente liga pro Iron Maiden.”

Rupert Perry, outro executivo da EMI, também foi muito importante no nascimento de Eddie. Antes de começar um dos shows do Iron Maiden, comentou com Smallwood: “Por que vocês não colocam ele no palco? Não apenas na capa do disco. Não apenas pendurado na cortina ao fundo. Mas uma pessoa, real, em 3 dimensões.”

A ideia parecia boa e para testar nas primeiras vezes, o próprio Rod Smallwood vestiu uma máscara de Eddie, com jaqueta de couro e calça jeans. Ele entrava antes do show começar e ficava aquecendo a platéia, que enlouquecia com aquela figura no palco.

Com o sucesso, a banda passou a fazer essa rotina todas as noites. E Rod sugeriu que Eddie começasse a entrar no meio do show. Mais especificamente na música “Iron Maiden”, fato que se repete até hoje, 40 anos depois.

Outro aspecto importante no crescimento do mascote: Perto do Natal de 1981, Dave Lights, o engenheiro de luzes do Iron Maiden, levou seus filhos a uma peça de teatro infantil, João e o Pé de Feijão.

Lights ficou encantado com o efeito que o gigante da peça, que era basicamente uma pessoa fantasiada usando pernas-de-pau, teve nas crianças que ficavam hipnotizadas toda vez que o gigante entrava no palco.

Ele então sugeriu pra banda: “A gente podia fazer o Eddie ser um gigante que entra no palco e aterroriza a banda e o público.” E assim, a partir da tour do álbum The Number of the Beast, Eddie começou a crescer.

Eddie na tour do álbum The Number of the Beast

O resto é história.

Desde então, Eddie não parou de crescer. Não só de altura, mas na grandiosidade do sucesso que conquistou o planeta.

Muita coisa mudou na história do Iron Maiden desde o nascimento de Eddie.

A única coisa que nunca mudou e nunca vai mudar é a eletricidade que passa pelo público do Iron Maiden quando Eddie aparece no palco.

Eddie é a alma imortal do Iron Maiden, é o símbolo da eterna juventude e da postura da banda de nunca se vender, de nunca trair suas raízes e sua música.

Não importa a sua idade, se você já acompanha o Iron Maiden há mais de 30 anos como eu, ou se é um menino que acabou de descobrir a Donzela de Ferro:

Eddie representa aquela parte da gente que nunca vai deixar de amar esse estilo de música. Alto, pesado, energético, arrepiante. A parte de nós que não vai com a maré, que não vai se encolher frente a diversidades e que nunca vai perder a esperança. Que sempre acredita que tempos melhores virão. É isso que Eddie representa quando ele entra no palco.

E é por isso que Eddie não pertence mais a Derek Riggs, nem a Rod Smallwood, nem a Steve Harris.

Ele pertence a todos nós.

Eddie e eu.

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Apaixonado por música, em particular por rock e heavy metal, co-fundou o Wikimetal em 2011. Foi roadie do VIPER desde a fundação da banda até o final da tour do álbum 'Theatre of Fate'. Sempre teve o desejo de ajudar a difundir o heavy metal que foi alvo de tanto preconceito ao longo dos anos. O Wikimetal é uma forma de defender, propagar e perpetuar o metal no Brasil.