Com quase três décadas de existência, o Claustrofobia é um dos nomes mais importantes do metal nacional pelas letras fortes e sonoridade brutal que apenas o corre de ser brasileiro poderiam inspirar, características que se tornam ainda mais viscerais no álbum Unleeched.

Lançado em 11 de março pela gravadora Metal Assault Records e com repertório inteiramente em inglês, o sétimo álbum de estúdio da banda segue representativo da potência do som extremo do Brasil. Em entrevista ao Wikimetal, o vocalista e guitarrista Marcus D’Angelo refletiu sobre a recepção do disco e a honra de levar a bandeira do nosso metal toda vez que sobem ao palco. 

Pouco antes da pandemia, todos os integrantes da banda se mudaram para os Estados Unidos, onde ficaram confinados para a gravação do álbum em Los Angeles. As limitações da pandemia tornaram a convivência com o novato Rafael Yamada, novo baixista do Claustro, completamente intensa: eles já vinham do ritmo frenético de uma turnê com datas internacionais e passagem pelo Rock In Rio em 2019, e o intensivo apenas continuou no outro continente. 

“A gente trabalhou como banda mesmo. Fazia alguns anos já que não era cem por cento assim”, conta Marcus sobre esse período de adaptação. “Foi bom para ele adentrar nas entranhas do organismo da banda, porque não era só sair fazendo uma música junto sem a gente se conhecer, sem conviver. É uma coisa natural, se não, você traz um elemento muito de fora que não bate”. 

Apesar de liderar as composições da banda ao lado do irmão, o baterista Caio D’Angelo, com letras impactantes como a de “Psychosapiens” em um “poema esculachando a espécie humana e toda a ganância que não deveria ter”, Marcus não se considera um “bom letrista”. Os resultados em Unleeched, porém, são impactantes e “definitivamente, o ponto alto do disco também” por essa força bruta que não perde o DNA do grupo, mesmo em idioma estrangeiro. 

LEIA TAMBÉM: Marcus D’Angelo, do Claustrofobia, faz faixa-a-faixa do novo álbum da banda, ‘Unleeched’

A bagagem de experiência, seja no âmbito pessoal ou profissional, trouxe uma nova maturidade nas composições, frutos de um período tão incerto no mundo inteiro, mas feitas com o cuidado de não expurgar nas letras energias que não fossem representativas do projeto a longo prazo, como já aconteceu.

“A gente com aquele sentimento de incerteza, de medo, de raiva, até de resignação, talvez. Então tentamos tomar muito cuidado com o que ia falar, até pra não trazer energia desnecessária, já fizemos muito isso também. Já erramos bastante, tá ligado?”, admite Marcus. “A gente já falou um monte de coisa no passado desnecessária e isso volta contra você, sabe?  sabe? A palavra e o sentimento têm poder,  e a energia que você joga por aí e tem poder”. 

Os sentimentos mais intensos e negativos ainda são inspiração para as composições, mas existe um novo olhar para exorcizá-los nas letras, algo especialmente desafiador ao constatar que “a maioria dos artistas” encontram os momentos de maior inspiração justamente na dor. “[O melhor] sai é quando você está cheio de problema, na merda, não sei porquê. Você fica furioso por dentro, com ódio e põe aquilo de alguma forma, não necessariamente despejando ódio ali literalmente”. 

Em um álbum completamente pautado na identidade do Claustrofobia, trazendo elementos inusitados sem perder a essência, houve espaço até mesmo para experimentação inusitada para a versão brasileira do álbum, que é distribuído no país pelo selo Wikimetal Records e ganhou lançamento físico com uma faixa bônus surpreendente. Se trata de “Força Além da Força”, a adaptação em português de “Strengh Beyond Strengh”, do Pantera.

A ideia original era de um cover em inglês, mas amigos gringos dos integrantes – que nem eram tão fãs de metal assim, apesar de curtirem a banda homenageada – sugeriram fazer a versão em português da faixa. “Peguei a letra, comecei a olhar e falei ‘Meu, essa letra não dá pra traduzir, é impossível’. A gente foi traduzindo, ficou como se fosse uma música nossa”, explica. O resultado será divulgado no próximo domingo, 22. 

Esse pedido de pessoas de fora por uma música em português mostra muito da experiência do Claustrofobia nos palcos internacionais. “A receptividade do público aqui para a gente é boa, enxergam a gente como um uma coisa bem do metal brasileiro legítimo, sabe? Esses são os comentários: é o clássico, Brasil na veia, que eles não vêem mais tanto nas bandas do Brasil atualmente”, narra. “Quando a gente fala que é do Brasil aqui, ninguém faz cara feia. Infelizmente, o brasileiro próprio não reconhece [esse valor]”. 

Claustrofobia
Claustrofobia. Crédito: Gabriel Aguilar

As diferenças culturais nos Estados Unidos, detentor de algumas facilidades em quesito de equipamentos e maior admiração aos músicos que dedicam a vida a isso quando comparado ao Brasil, não mudam em nada a convicção da banda sobre o lugar que ocupam e o poder de fogo de ter o DNA daqui na forma de tocar. 

“Eu acho que o heavy metal é uma coisa muito cultural . Tem uma unidade, aquele negócio que é todo mundo meio parecido, mas ao mesmo tempo esse lance da cultura é muito forte. Eu acho que é isso que a gente tem que eles percebem”, observa Marcus. “Toda essa raça, todo esse sofrimento, esse suor da brabeza do Brasil também traz uma coisa única”.

A versão física do álbum Unleeched e a merch oficial do Claustrofobia está à venda no Brasil pela Wikimetal Store, acesse aqui

LEIA TAMBÉM: Marcus D’Angelo concorda com Fernanda Lira sobre inspiração pela raiva: “No Brasil tudo é difícil”