Texto originalmente publicado no site Mad Sound.

Nesta sexta-feira, 20, o vocalista completaria 54 anos se estivesse vivo; ele faleceu há um ano, vítima de suicídio

Durante toda uma década, um estilo musical representou a angústia, o ódio e a dor sentida por aqueles nascidos entre o fim dos anos 1980 e começo dos anos 1990. Vestidos com camisas de flanelas, cabelos que assustavam os pais e revestidos de tatuagens que se tornariam arrependimentos, acabou se tornando inevitável a criação de um novo gênero.

O grunge nasceu em Seattle, nos Estados Unidos, mas seu desenvolvimento trouxe bandas de Los Angeles e San Diego, entre outras cidades americanas. Com uma chuva de vocais excepcionalmente fortes, roucos e dolorosos, um se destacou. Chris Cornell, vocalista de bandas icônicas – Soundgarden, AudioslaveTemple Of The Dog – tornou-se, ao lado de Layne Staley, Kurt Cobain e Scott Weiland, uma lenda. Infelizmente, ele os acompanhou a um final trágico.

No dia 18 de maio de 2017, Chris Cornell foi encontrado morto em um quarto de hotel em Detroit, logo após um show do Soundgarden, com uma corda ao redor de seu pescoço. Suicídio causado por depressão, o mal do século. Aquele dia, o mundo amanheceu sombrio, triste e pesado. Perdemos uma voz que rasgava seu caminho até a mais profunda camada da alma. Perdemos um artista que fazia das palavras e melodias um refúgio, um porto seguro, um ponto de força. E não apenas para ele. Milhares de fãs se apoiam em suas canções para ultrapassar barreiras que a vida impõe, para superar dificuldades que aparecem no caminho, para amenizar sofrimentos e dores que sentem na mais calada noite solitária, e, mais importante, para sentir que pertencem a algo maior que eles mesmos.

Cornell era um artista engajado, preocupado e sentimental. Apoiava causas sociais e lutava por um mundo mais justo, alegre e leve. Participava de debates, campanhas e projetos que visam igualdade, paz e liberdade. Um exemplo disso foi um trabalho que o músico lançou apenas alguns meses antes de falecer. “Promise” foi escrita para o filme de mesmo nome que retrata o genocídio armênio. Com a canção, Cornell foi o primeiro a receber o Promise Award, uma celebração do Comitê de Direitos Humanos de Los Angeles.

Entre diversas outras canções que se destacam no repertório de Cornell, estão os hits “Like a Stone”, “Be Yourself”, “Black Hole Sun”, “Outshined” e cada uma delas atinge o fã de forma única. Nelas, temos composições, melodias e interpretações que não poderiam ser recriadas por outros artistas. Claro, temos inúmeros covers por aí – e muitos de qualidade – como “Spoonman” nas mãos do DJ Steve Aoki, “Hunger Strike” de Zac Brown Band, “Feel on Black Days” do Halestorm e “Rusty Cage” do Johnny Cash, mas nenhum possui a essência que Cornell, naturalmente, transbordava. A leitura das próprias composições, dos sofrimentos e da angústia que sentia, eram refletidas na primeira nota que emitia.

Cornell era o mais novo filho de dois pais alcoólatras e sua obsessão e amor por música começaram cedo quando descobriu uma caixa de discos abandonados dos Beatles no porão do vizinho. A partir dali, ele trabalhou em cozinhas de restaurantes e no tempo livre, tocava bateria e arriscava o vocal em uma música ou duas. Em 1984 ele formou o Soundgarden, mas o sucesso veio apenas na década de 90 quando lançaram as obras de arte Badmotorfinger e Superunknown.

O vocalista não desistiu do mundo da música quando o Soundgarden chegou ao fim em 1997. Ele logo formou o Audioslave com os integrantes do Rage Against The Machine, sem deixar de lado projetos solo. Podemos passar o dia conversando sobre as últimas duas décadas da carreira de Cornell, mas elas merecem mais que um breve resumo que você encontraria por aqui.

O que é preciso saber sobre Cornell é algo simples: com uma complexidade e profundidade própria, o vocalista marcou a era grunge, gênero que tem perdido seus ícones, e suas obras serão ouvidas, estudadas e lembradas por futuras gerações.

“Não é algo que você supera”, ele disse há alguns anos quando questionado sobre a perda de lendas do grunge, “Eu não acredito que exista um processo de cura. Como você pode parar e pensar ‘Bom, é a vontade de Deus’. Sempre pensei que essa frase, que já ouvi diversas vezes, é besteira. É uma tragédia”, ele confessou. “Carrego tudo isso comigo o tempo todo. A única coisa que posso fazer, se é que tem algo, é, em homenagem e respeito aos meus amigos que não estão mais aqui, fazer meu melhor para ter uma vida boa e aproveitar que ainda estou aqui. Devo aproveitar as oportunidades que eles deveriam ter tido.”

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Jornalista musical há 8 anos, é editora do Wikimetal, onde une suas duas grandes paixões: música e escrita. Acredita que a música pesada merece estar em todos os lugares e busca tornar isso realidade. Slipknot, Evanescence e Bring Me The Horizon não podem faltar na sua playlist.