Durante uma entrevista para o site Ouest-France, Bruce Dickinson, vocalista do Iron Maiden, refletiu sobre os avanços na sua técnica vocal desde o momento em que decidiu se tornar um vocalista profissional, ainda na década de 1980.
De acordo com o vocalista: “Sou muito sortudo por possuir uma voz forte e poderosa. Eu não conseguia fazer certas coisas 30 anos atrás pois eu estava ocupado demais disputando para ver quem atingia as maiores notas, quem faria isso e aquilo, quem cantaria as palavras mais rápido. Pois quando você é jovem, tudo se resume a lutar, batalhar, vencer e competir. Eu não estou competindo com mais nada além da verdade hoje em dia, o que eu quero é autenticidade nas emoções. Isso até soa chato, mas, na verdade, se você botar no contexto do metal mais gritado, isso se torna muito poderoso.”
Ainda em relação a sua performance, mas agora sobre sua relação com o público durante o show, Bruce afirma que: “A melhor coisa do mundo, o melhor sentimento do mundo, pelo menos para mim como cantor, é quando você tem um ótimo som para sua voz junto dos outros instrumentos e tudo funciona e você sabe que você está mexendo com as pessoas com isso. É sobre isso – o por que você faz isso. Essa é a minha droga. Claro, o oposto também vale, pois pode se tornar o pior lugar a se estar quando as coisas não funcionam.”
Bruce está agora divulgando seu mais recente disco solo, The Mandrake Project, e se prepara para uma turnê com o Iron Maiden no meio do ano, divulgando o disco Senjutsu de 2021 e relembrando clássicos ocultos do disco Somewhere In Time de 1986.
A evolução vocal de Bruce ao longo das décadas
O canto, como um esporte físico, demanda muito da musculatura vocal, principalmente em segmentos que exigem uma abordagem mais intensa (como o metal de um modo geral). Um bom vocalista sempre está atento a estas mudanças e a como sua técnica está influenciando toda a região que engloba sua voz.
Para Bruce não foi diferente. Quando iniciou sua carreira, ainda nos anos 70, com a banda Shots (que gravou o único single “Dracula”) e logo depois com o Samson, é possível perceber como Dickinson focava em atingir notas muito altas, com muita pressão, volume e muito uso de drives vocais (distorções que permitem trazer mais intensidade ao canto).
Já à frente dos vocais do Maiden, Bruce passa a mudar sua maneira de cantar com o passar dos anos, algo que fica bem visível quando você compara sua estreia com a banda em The Number Of The Beast (1982) e sua temporária despedida em Fear Of The Dark (1992), onde o efeito de uma década inteira se fez presente, principalmente em shows ao vivo.
As longas, intensas e periódicas performances do Maiden ao redor do mundo foram extremamente desgastantes para a voz de Bruce, que em diversos registos ao vivo da época deixa nítida a exaustão ao final das apresentações, como em “Hallowed By Thy Name” na versão do DVD Maiden England, gravado em 1988 durante a divulgação do disco Seventh Son Of A Seventh Son.
Fica claro que sua voz já não consegue atingir as notas necessárias e que Bruce faz um último esforço para encerrar o show com a maestria que ele exige (e consegue o fazer, entregando uma excelente performance apesar do nítido desgaste).
Com o fim dos anos 1980 e início da década de 1990, Bruce então muda sua maneira de cantar, principalmente no modo de fazer os drives, atingir os agudos e a quantidade de potência projetada. A voz dele se torna mais escura, ríspida e poderosa que antes, abandonando a estética de “sirene” que o apelidara na década anterior e trazendo uma abordagem mais bruta, porém sem perder suas assinaturas clássicas.
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