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Capa do 'Post Human: Survival Horror'. Créditos: Reprodução/Capa

Capa do 'Post Human: Survival Horror'. Créditos: Reprodução/Capa

Bring Me The Horizon: ‘Survival Horror’ e a lembrança constante dos horrores pandêmicos

Anos após seu lançamento, o disco ainda traz questionamentos relevantes que se conectam diretamente com a pandemia de 2020

Há exatos 3 anos, o Bring Me The Horizon lançava aquele que viria a se tornar um de seus álbuns mais emblemáticos. Sendo o primeiro de uma série de EPs temáticos, POST HUMAN: SURVIVAL HORROR (2020) chegou às plataformas digitais em meio à pandemia de COVID-19 e se tornou um marco daquele tempo de medo e incerteza.

Escrito e produzido em um estúdio caseiro durante o período pandêmico, o disco é um retrato fiel do estado do mundo na época em que foi feito. Tematicamente, Oli Sykes já tinha escrito anteriormente a faixa “Parasite Eve”, referindo-se a um vírus japonês sobre o qual ele tinha lido, e que acabou se tornando estranhamente profética. A faixa foi lançada como primeiro single e serviu como ponto de partida para o restante do álbum.

Pesado e criativo, o POST HUMAN: SURVIVAL HORROR recebeu o selo de aclamação universal do Metacritic com 82 pontos somados em reviews variadas. Nele, a banda resgata suas raízes no metalcore e explora novos caminhos usando sons e distorções eletrônicas, além de colaborar com vários nomes da música pesada e alternativa, como Amy Lee, YUNGBLUD, Nova Twins e BABYMETAL.

Para além do excelente trabalho de produção e do retorno do Bring Me The Horizon a uma sonoridade mais pesada que a do álbum amo (2019), o SURVIVAL HORROR fez história por abordar liricamente temas que eram pertinentes para a sociedade estadunidense e ocidental da época. Construído pela banda no olho do furacão da pandemia, o disco fala sobre o medo do vírus, isolamento social, saúde mental e governos corruptos.

Logo no primeiro single, “Parasite Eve”, Oli Sykes levanta um questionamento que ecoa de maneira ainda mais pertinente nos dias de hoje: “Quando esquecermos a infecção / Vamos nos lembrar da lição?”. Durante o período de isolamento social, muito se foi falado sobre a possibilidade de sairmos da pandemia como uma sociedade melhor, mais consciente e solidária. Hoje, pouco tempo depois do fim oficial do estado pandêmico, nos deparamos com horrores tão ou mais assustadores, como guerras devastadoras e um estado avançado de ebulição global.

O álbum também retrata o sentimento de revolta e inconformidade com os governos autoritários e negacionistas da época. Na época, os Estados Unidos eram governados pelo ex-presidente Donald Trump, que prontamente assumiu uma postura antivacina frente à pandemia de COVID-19 e tentou silenciar os protestos antirracistas do movimento Black Lives Matter contra a violência policial. O tema da opressão governamental é abordada em “Obey” e é seguido pela sede de revolução em “Kingslayer”. A nível local, o Brasil seguiu diretrizes negacionistas semelhantes às dos Estados Unidos durante o mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro e totalizou mais de 700 mil mortos por COVID.

O uso excessivo da tecnologia também permeia o cenário construído no POST HUMAN: SURVIVAL HORROR. Muitas faixas mencionam a sensação de estar “desconectado” do mundo e o interlúdio “Itch For The Cure” faz o uso da palavra “desplugado” para se referir a um sentimento de despertar para as injustiças do sistema. Em “Ludens”, Oli Sykes faz um novo questionamento: “Como eu posso formar uma conexão se não podemos nem apertar as mãos?”. O verso pode se referir tanto às limitações das relações virtuais quanto ao isolamento social que distanciou as pessoas fisicamente e deixou marcas nas relações interpessoais. Em “Teardrops”, a banda também reflete sobre a sensação de entorpecimento causada pelo bombardeio constante de notícias ruins.

Quando foi lançado em outubro de 2020, o SURVIVAL HORROR chegou como uma bóia salva-vidas para os fãs de Bring Me The Horizon que reconheceram no álbum uma representação fiel da realidade que estavam vivendo. Hoje, passados os horrores pandêmicos e longe do aperto de ferro de governos autoritários, o álbum se torna uma verdadeira peça histórica e objeto de estudo, nos proporcionando um mergulho nos sentimentos e questionamentos da época e provocando novas reflexões sobre o que mudou desde então e se essas mudanças aconteceram do modo que esperávamos.

Apesar de retratar um período específico, o Bring Me The Horizon fez um trabalho que não se tornou datado com o passar do tempo, muito pelo contrário. Por muitos anos a fio, nós ainda poderemos retornar ao POST HUMAN: SURVIVAL HORROR e encontrar em seus temas e indagações um reflexo da atualidade.

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