Texto por Marcelo Gomes
O retorno do Blessthefall ao Brasil após 9 anos levou uma legião de fãs ao Carioca Club. Com a casa completamente lotada, a banda passeou por sua discografia de maneira arrasadora, lavando a alma dos fãs que aguardavam ansiosamente por esse momento. O encerramento da turnê Latino Americana aconteceu em São Paulo e ainda contou com as bandas brasileiras Broad And Sharp e December.
O Broad And Sharp foi a primeira banda da noite. Com um bom público já na casa, a banda de metal hardcore de São Paulo, formada em 2012, apresentou músicas da carreira, além do novo vocalista Roger Guinalia e o novo guitarrista Emerson Pereira. Infelizmente, a equalização do show prejudicou um pouco da apresentação deles. Mesmo assim, mostraram qualidade nas faixas “Nossa Causa é Morrer”, “Sobre Meninos E Lobos” e “As Dores Da Compreensão”. O destaque foi para a música “Esperança”, na qual o vocalista gaúcho dedicou ao povo do Rio Grande Do Sul, que passa por uma calamidade devidos às inundações que arrasaram o estado. No final, ganharam o apoio do público e saíram com um resultado positivo.
Com o December, os problemas do som persistiram. Vozes abafadas, um som praticamente sem graves, fizeram a banda se desdobrar para atingir o público. O metalcore dos paulistas encontrou ressonância na plateia que já os conhecia de outros carnavais. O setlist trouxe além de composições mais antigas como, “Oceana” e “Sinais 2”, um novo single chamado “Oxigênio”. O que não faltou foi energia para a banda mostrar seu trabalho e empatia com o pessoal do Rio Grande Do Sul. Dedicaram a música “Casa” a eles, além de terem feito praticamente o show todo com a bandeira do estado estampada no telão. Apesar dos problemas no som, a banda se garantiu com uma apresentação energética e conseguiu uma ótima aceitação.
No horário previsto, 20h30, a atração da noite surgiu em meio a muita gritaria e um leve receio do som não estar à altura da apresentação. Contudo, logo na introdução deu para perceber que houve uma melhora considerável nele, melhor regulado e com maior pressão. Com um grito de São Paulo do vocalista, Beau Bokan, o Blessthefall deu início ao show com “Exodus”. Atualmente formado por Jared Warth (baixo/vocal), Eric Lambert (guitarra), Elliott Gruenberg (guitarra) e Jared Fron (bateria), o quinteto chegou com fome de palco e colocou todo mundo para pular.
Sem anúncio, veio “Cuttroat”, e era como se você tivesse mergulhado de cabeça dentro de um furacão. Os grooves jogavam o público para cima enquanto cantavam alucinadamente. Foi o que bastou para que o nome da banda fosse gritado por todos e “Hollow Bodies” fosse tocada em uma intensidade descomunal. A resposta foi mais uma vez explosiva, todos cantavam todas as palavras. A energia era tão grande que chegava a quase encobrir os vocais de Beau.
Era uma pancada atrás da outra, “2.0”, estava aí para provar isso. Duas frases compõem a música que certamente é uma resposta a algum desafeto da banda. Afinal, “não estamos mortos, não estamos como vocês dizem” cantada de forma tão agressiva e repetida como um mantra pelo público, provam que de fato estão mais vivos do que nunca. A dobradinha com “What´s Left On Me”, como no álbum Witness (2009), foi de tirar o fôlego.
Sem a menor intenção de aliviar, seguiram com “Youngbloods” e “Carry On”. Mas nem só de passado vive a banda, que apresentou uma música nova, “Wake The Dead”, single lançado em 2023 que já caiu nas graças da galera. Não poderia ser diferente, peso, groove, elementos eletrônicos e tudo que consagrou a banda estavam ali presentes. A aprovação veio por meio das rodas e com a letra na ponta da língua. Pela cara de satisfação dos integrantes, melhor recepção não há. Enquanto a emocionante “Wishful Sinking” apresentou um lado mais melódico do Blessthefall, “Déjà Vu” trouxe o lado mais técnico em uma execução impecável.
A grande surpresa veio a seguir, com “Open Water”, somente tocada em São Paulo durante turnê pela América Latina. A música pegou todos de surpresa, emocionando e se conectando profundamente com os fãs. Sob as luzes dos celulares, Beau teve uma interpretação comovente em um ápice de sensibilidade que a canção pedia. Certamente, o momento mais alto de sua performance. Mais uma vez a banda foi ovacionada de forma merecida. Beau aproveitou o momento para apresentar o baterista Jared Fron, já que era sua primeira visita ao Brasil. O vocalista pede um solo a Jared, que mesmo pego de surpresa, se sai bem com um beat bem abrasileirado que ganhou o público de primeira.
Totalmente à vontade, Beau canta parte de “40 Days” no pit, bem próximo dos fãs. No meio da música, um grande wall of death se abriu na pista a pedido do vocalista e no final todos sobreviveram. E não foi diferente “Bottomfeeder”. Beau estava animado e resolveu instigar os fãs paulistanos dizendo que na noite anterior, os fãs de Curitiba falaram que eram os melhores fãs do Brasil. Um grande coro de “Ei, Curitiba, vai tomar no c…”, tomou conta do Carioca Club. Dava para ver os americanos se divertindo com o circo pegando fogo. Passado o momento de descontração, o show foi caminhando para sua parte final com “Guys Like You Make Us Look Bad”, “Promised Ones” e “You Wear A Crown But You´re Not A King”, tudo isso com a brutalidade habitual que não deixou ninguém parado.
Mas os incansáveis fãs paulistas ainda queriam mais, a última foi “Hey Baby, Here´s That Song You Wanted”, faixa com um título que veio bem a calhar. Pouco mais de 1 hora foi suficiente para transformar esse show em uma noite memorável. A banda entregou tudo e mais um pouco, lavando a alma dos fãs numa conexão profunda desde o primeiro acorde. A espera valeu a pena e a imagem da despedida com a bandeira do Brasil customizada com o nome da banda, deu a esperança de um retorno em breve. Agora só resta aguardar!
Nossa colaboradora Thiago Vidal também esteve no show e registrou a noite. Confira nossa galeria de fotos exclusivas logo abaixo.