Confira como foi o show do Blackoustic no Teatro do Sesc em Porto Alegre
Finlândia, terra do Papai Noel, de muito frio, de grandes tecladistas, do maior número de headbangers por metro quadrado no mundo e do Blackoustic, setting perfeito para clássicos ao violão na frente da lareira.
A noite de 21 de abril se traduziu na experiência nada tradicional de nomes do metal nórdico à disposição de uma plateia tranquila e acomodada – contavam pouco mais de 100 pessoas nos assentos do Teatro do Sesc, no centro da capital gaúcha.
Blackoustic, projeto a cargo de Timo Kotipelto (voz do Stratovarius, certamente um dos nomes emblemáticos do metal escandinavo) e Jani Liimatainen (ex-guitarrista do Sonata Arctica) trouxe um formato, este sim, bastante familiar a nós, tropicalistas de nascença: voz e violão.
Aposta certeira da Abstratti, a gira dos nórdicos está apenas começando, tendo sido esta a terceira (última no Brasil) das 17 datas que contemplam a América Latina.
Foi logo após bater às 20h que a introdução, uma composição épica, chamou músicos e plateia ao esperado momento. Os dois integrantes sobem ao palco do teatro (portanto abaixo do nível do público), modestamente adornado com a bandeira que traz o logo do projeto.
Sem delongas, o duo começou com “Black Diamond”, clássico absoluto do Stratovarius, jogando a expectativa lá em cima. A versão no violão logo deu o tom do show, com arranjos adaptados e um clima de intimidade entre músicos, público e composições. Liimatainen complementou a harmonia do vocal com uma segunda voz aguda, frequente e consistente (outro detalhe muito familiar para nós, e mesmo para nossas rádios mais comerciais, se é que me entendem). Ao final da versão, o guitarrista assumiu a linha principal do clássico e exibiu um timbre invejável.
A próxima canção foi “Sleep Well”, do album Serenity, último lançamento da carreira solo de Kotipelto. Sem banda completa, as harmonias vocais foram ressaltadas, para contentamento dos fãs do gênero melódico.
Em seguida, os músicos do Blackoustic mandaram uma belíssima versão de “Out In The Fields”, do músico norte-irlandês Gary Moore, que compôs o clássico “Over The Hills and Far Away” (outrora imortalizado pelo também finlandês Nightwish). Mesmo com um pequeno engano de Liimatainen, com direito a interrupção e retomada da canção, a versão seguiu sendo um dos maiores destaques da noite.
Na sequência, “Shine In The Dark”, possivelmente a melhor escolha para representar a atual fase do Stratovarius. Apesar do visível cansaço, aparentemente relacionado com uma gripe, o vocalista mostrou o carisma do jeito de sempre: pela voz calorosa e entrega passional à sempre exigente extensão vocal de suas interpretações.
A partir de então, os músicos começam a derreter o gelo que separava público e performance. Curiosamente, tomaram uma postura de autoavacalhação. “A próxima canção é bem… ‘artística’, bem longa, bem chata… bem Stratovarius”, disse Kotipelto, que após risos generalizados, complementou: “Somos muito bons em nossa auto-antipromoção”.
A canção “Seasons Of Change” foi longa de fato, mas encontrou seu ponto alto ao final, num arranjo que brilhou muito nas cordas de aço do violão folk, cama perfeita para o esmerado vocal do cantor. Ao final, o vocalista reclamou do ar-condicionado: “Aqui está mais frio que na Finlândia”.
O show seguiu com “Million Light Years Away”, do Stratovarius, e “I’ll build you a Rome”, do Cain’s Offering (banda oficial que une os dois integrantes a outros músicos da cena finlandesa), que acabou sumindo perto da melhor da noite, “Perfect Strangers”, clássico do Deep Purple, executada com muita seriedade e recebida com entusiasmo.
O vocal de Kotipelto cresce muito a partir deste ponto, talvez porque o restante do show tenha passado a cantar em pé, talvez porque esta canção de fato tenha lhe inspirado a exigir ainda mais de si, ou ainda pela excelente resposta dos presentes. O bloco ainda contou com “My Selene”, contribuição de Liimatainen no excelente álbum Reckoning Night, quando ainda integrava o Sonata Arctica.
Para o final, uma sequencia de hinos. A emocionante “Forever” do Stratovarius, foi recebida com aplausos já nas primeiras notas; “Holy Diver” do Dio, numa abordagem que fez lembrar o Tenacious D, fez todo mundo bater cabeça, mesmo sentados; “The Trooper”, clássico da Donzela, exaltou os ânimos do teatro. No final, com uma subida de tom, Liimatainen assume os agudos e assim mostra-se como um frontman em potencial, demonstrando expressão e alcance de raros vocalistas.
A música final foi “Paradise” do Stratovarius, e assim os músicos deixam o palco com os mesmos aplausos que os trariam para o encore.
Para o retorno, os músicos trazem a recém-adicionada “Coming Home”, também do Stratovarius, que graças à introdução original, funcionou perfeitamente.
“Hunting High And Low” contou com a voz do público e deu a rubrica final do Stratovarius ao concerto, mas o grand finale mesmo foi uma versão de “Final Countdown” clássico absoluto dos vizinhos do Europe, prestigiada de pé pelos presentes.
Porém, o final desta ganhou algumas linhas de “Killed By Death” do Motorhead. “Somos finlandeses, não podemos encerrar com a canção de um grupo sueco”, diz Kotipelto, em referência à rivalidade cultural entre países do norte, agregando ainda mais referências e peso para o encerramento da noite.
O set Blackoustic trouxe momentos de nostalgia e honestidade, entretenimento e muita qualidade sonora, arrancou mais sorrisos do que gritos, e mesmo retrabalhado num formato acústico, comprovou a força onipresente (ainda que versátil) do Metal no sangue finlandês.
Fotos por: Marina Reitz Texto por: Rust Costa Machado