Black Pantera é uma banda com um propósito político definido e explícito. O trio mineiro de crossover thrash se posiciona fortemente contra o racismo e outras formas de opressão na sociedade com letras cirúrgicas e impactantes, mas nada se compara à experiência ao vivo da banda confirmada no Rock In Rio.
Atualmente em turnê de divulgação do álbum Ascensão, lançado em 11 de março deste ano, a banda se apresentou no Centro Cultural Tendal da Lapa, em São Paulo, no último domingo, 24, em um show igualmente feroz e inspirador, acompanhado por uma plateia diversa e intensa.
Com os trens da linha Rubi, da CPTM, como cenário ocasional durante a apresentação, nem mesmo os rugidos do maquinário em trânsito poderiam interferir no som imparável do Black Pantera, especialmente com as faixas do novo disco, fruto de anos de experiência na estrada e pensadas para explodir no ao vivo, conforme a banda contou ao Wikimetal.
E a resposta do público é delirante do começo ao fim, com a frente do palco foi tomada pelas rodinhas e bate-cabeça, como a faixa “Mosha” descreve bem: “Pesando uma tonelada / Sem freio, sem trava / Descendo a ladeira / A cada esquina só embala”.
Nessa efervescência de atitude guiada pela voz e guitarra de Charles Gama, baixo estrondoso de Chaene da Gama e bateria enfurecida de Rodrigo “Pancho” Augusto, o show do Black Pantera não é apenas um espetáculo do underground pela atitude hardcore e a competência absoluta da banda, mas pela capacidade de criar uma utopia de resistência em meio ao caótico mundo já distópico no qual vivemos, onde a injustiça e opressão andam tranquilas à luz do dia.
É reclamando o lugar dos pretos por direito no rock e metal, bradando contra o “safado” do atual presidente Jair Bolsonaro, amplamente rejeitado pela banda e público presente, convidando o público a “acender a fogueira” ao clamar por “Fogo Nos Racistas”, uma música que já nasceu clássica no repertório do grupo, e proporcionando um momento de mosh apenas para as mulheres presentes que Black Pantera se mostra uma força revolucionária de reapropriação quando uma parcela considerável da cena da música pesada parece ter esquecido que esse gênero surgiu pelas mãos dos oprimidos – e para lutar pela mudança.
Não se trata dizer que toda banda de rock e metal possui a obrigação de abraçar causas, apesar do privilégio implícito e inegável de quem pode se dar ao luxo de “não levantar bandeiras”, mas é impossível não enxergar o show incendiário do Black Pantera como parte da construção de algo maior.
O show do Black Pantera já passou por palcos de diferentes tamanhos no Brasil e na gringa, mas a atitude da banda é apenas uma: entregar um show assustadoramente visceral e verdadeiro, elementos que certamente vão colocar a banda entre uma das performances mais arrebatadoras do Dia do Metal do Rock In Rio, em 02 de setembro deste ano, quando sobem ao palco Sunset com Devotos.
A turnê Ascensão teve início em março, em Uberaba, e segue rodando o Brasil até o final do ano, com datas confirmadas até novembro deste ano. A próxima passagem do Black Pantera por São Paulo será no Festival Extrapunk Extrafunk, no próximo dia 30 de julho, no Espaço Super Lounge, localizado na região da Barra Funda, com ingressos a preços populares. Compre aqui.
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