O anúncio de que Bikini Kill faria um show em São Paulo pela primeira vez na carreira, depois de um hiato de mais de vinte anos, causou o que já era esperado: ingressos esgotados em algumas horas.
Para a alegria de quem não havia conseguido garantir um lugar no show, a banda abriu uma data extra.
Com produção da Associação Cultural Cecília e Daterra produções, os shows do Bikini Kill na Audio em São Paulo foram mais do que isso. Com várias bandas de abertura, o evento foi uma celebração do punk comandada por mulheres, pessoas pretas e pessoas queer.
Em plena quinta-feira, dia 14 de março, as portas da Audio abriram às 18h e quem recebeu os fãs mais ansiosos quando a casa ainda estava bem vazia às 18h30 – provavelmente por ser um dia útil – foi a banda Weedra.
A banda queer trouxe um set com músicas em português e em inglês, num som relativamente mais calmo que os seguintes, ou seja, foi o ideal para iniciar a noite. Ao final do show, soubemos que apresentação foi mais do que especial, pois a banda entra agora em um hiato indeterminado.
Às 19h45 foi a vez da Punho de Mahin com suas músicas de protesto social, político e racial. A banda inteiramente formada por pessoas negras, agitou o público, ressaltou a importância de se estudar História e tocou canções que trazem figuras históricas como Carlos Marighella, Dandara dos Palmares e Luísa Mahin, de onde vem o nome do grupo.
A banda ainda separou um momento para falar sobre o assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, ocorrido há exatos seis anos.
A última banda a se apresentar antes do Bikini Kill, As Mercenárias, está na ativa desde os anos 1980. O atual trio liderado por Sandra Coutinho trouxe uma bandeira da Palestina, que permaneceu no palco até o fim da noite.
A apresentação teve participação de Paula Rebellato no teclado e nos vocais de apoio. Com a pista muito mais cheia também foi o momento em que começaram as primeiras rodas punk na plateia.
Finalizados os shows de abertura, ainda faltava uma hora para o Bikini Kill, mas a espera foi embalada pela discotecagem de CamillaJaded & Erikat, que ao mesmo tempo deu uma acalmada na energia que estava lá em cima depois da sequência de apresentações, e também preparou o terreno para o show principal.
Às 22h Kathleen Hanna (vocal), Tobi Vail (bateria), Kathi Wilcox (baixo) e Sara Landeau (guitarra) subiram no palco e o público sabia que estava presenciando algo especial.
A plateia composta principalmente por mulheres e pessoas da comunidade LGBTQIA+ tinha pessoas de todas as idades. Quem já era fã da banda na década de 1990, pessoas entre 20 e 30 anos que descobriram Bikini Kill na adolescência e meninas que não aparentam ter mais de 13 anos.
Algo no mínimo curioso, é que em comparação com todos os shows que frequentei recentemente, se via poucos celulares nas mãos da plateia, muita gente estava completamente entregue para apenas cantar, dançar e pular durante todo o show.
“Double Dare Ya” foi a primeira música da setlist, já levantando o público e mostrando que os próximos minutos seriam de muito rock and roll.
Um momento cômico aconteceu em “New Radio”, quando Kathleen Hanna se atrapalhou com a letra e brincou que a culpa foi da plateia por cantar o trecho errado e ela apenas acompanhou. Alegando ser sua música favorita, Kathleen recomeçou a música desde o início.
Ainda sobre problemas técnicos e imprevistos, a vocalista comentou que faz parte da graça do ao vivo, e se alguém ficar incomodado com esse tipo de situação, os discos estão disponíveis para serem ouvidos.
Durante todo o show, as multi-instrumentistas se revezaram entre bateria, guitarra e baixo, com Tobi Vail assumindo o vocal em algumas músicas em que o público ficou mais contemplativo, ótimo para descansar um pouco entre as canções mais eufóricas.
Apesar de não ter esgotado os ingressos, a casa estava cheia tanto na pista quanto no camarote e o show seguiu com uma setlist muito boa que incluiu “Don’t Need You”, “Feels Blind”, “Alien She”, “Sugar” e “For Tammy Rae”.
Enquanto o show rolava, nas rodinhas, principalmente no meio perto do palco, várias pessoas foram levantadas e surfaram um pouco na plateia.
“Suck My Left Toe” foi a última música antes da banda sair do palco e as luzes se acenderem, deixando algumas pessoas confusas, se perguntando se não ouviriam o hit “Rebel Girl”.
Mas, é claro que não fariam isso com os fãs. Bikini Kill voltou para o bis, encerrando o show com seu maior sucesso e música pela qual quase todo mundo conhece a banda. Foi um momento clássico de catarse coletiva, que só ouvir uma música icônica ao vivo proporciona.
Nossa colaboradora Jessica Marinho também esteve no show e registrou o momento. Confira nossa galeria de fotos.