Mudando por completo a sua estrutura e forma de funcionamento, o Best Of Blues 2024 não aconteceu apenas em São Paulo, mas sim, em mais três outras cidades, sendo elas Rio de Janeiro, Curitiba e Belo Horizonte, trazendo uma série de artistas.

Na edição de São Paulo, que aconteceu no último sábado, 22, tocaram Di Ferrero, CPM 22, Eric Gales, Joe Bonamassa e Zakk Sabbath.

O festival aconteceu no Parque do Ibirapuera, com as apresentações iniciando-se logo depois do almoço, com o vocalista da Nx Zero subindo ao palco às 14h, e o já veterano Zakk Wylde fechando a noite com um de seus projetos.

Eric Gales

Bastante empolgado de estar aqui no Brasil, Eric Gales trouxe um show muito técnico e dançante. É verdadeiramente impressionante o quanto ele domina seu instrumento. Isso já foi possível perceber logo nos primeiros acordes que tocou em cima do palco, e um padrão estabelecido durante toda a sua performance.

Um dos destaques da tarde – quase noite – foi a faixa “You Don’t Know The Blues”, de seu álbum mais recente, Crown, lançado em 2022. Misturando uma série de elementos na faixa, ela traz uma melodia agradável, além do refrão cativante, repetido em grande parte dela, que conta ainda também, com um bom solo de guitarra.

Gales possui uma boa banda de apoio que o acompanha e cria o “plano de fundo” essencial para que o músico possa atuar de maneira muito boa em cima do palco. O show que ele entregou está, definitivamente, entre os melhores da tarde. É divertido e leve, com elementos de groove, que fazem o público apreciar as músicas.

Uma faixa calma, mas ainda assim potente, foi “Too Close To The Fire”. O pôr do sol deu o detalhe essencial que a faixa necessitava. Com a luz já baixa e o artista perto do encerramento de seu show, o palco estava iluminado com luzes que criavam toda a atmosfera necessária para que as imagens e o som ficassem gravados na mente e coração dos fãs.

Outro ponto interessante de sua performance, foi quando começou a tocar, de maneira instrumental, os clássicos do rock, em forma de medley, “Back In Black”, do AC/DC e “Kashmir”, do Led Zeppelin, obviamente de maneira alongada e dando sempre bastante foque aos solos de guitarra, extensos, mas ainda assim, que não levavam ao tédio.

Fazendo um belo agradecimento ao Brasil, que descreveu como sua segunda casa, Gales encerrou a sua performance de maneira bastante satisfatória. Foi um show curto, com duração de uma hora, e o fato de as músicas serem longas, faz com que hajam  poucas no setlist.

Outra questão importante a ser ressaltada, é o fato de que, por este mesmo motivo, talvez algumas pessoas não gostem tanto do show, justamente pela quantidade de instrumental, mas a qualidade musical que Eric Gales e sua banda trazem, tanto em estúdio quanto na apresentação ao vivo, é inegável.

As músicas são groovadas e cativantes, trazendo toda a essência do blues em sua mais pura forma. Outro detalhe que vale a destacar, é a voz do artista, que complementa-se de maneira perfeita ao estilo da música.

Joe Bonamassa

Subindo ao palco com muito estilo, Joe Bonamassa iniciou seu show em uma São Paulo já escura, perto das 18:30.

Completando a banda do guitarrista, há sete músicos, contando com ele, temos o guitarrista base Josh Smith, o baterista Lemar Carter, o baixista Calvin Turner, as duas backing vocals Jade McCrae e Danielle De Andrea, além do tecladista Reese Wynans.

Responsável também pelos vocais, e com um bom alcance vocal, o artista possui uma voz grave, que entra em contraste de excelente maneira com as vozes mais suaves e agudas das backing vocals. 

Um momento de grande destaque das cantoras, é na música “24 Hour Blues”, originalmente de Bobby “Blue” Band, quando o guitarrista sola, enquanto as duas cantam alguns trechos da canção.

Outra que também vale a pena a ser destacada, é a faixa que veio em seguida, também um cover, dessa vez de Guitar Slim, “Well, I Done Got Over It”, trazendo uma performance com um solo muito bem trabalhado, além das boas linhas de bateria, que amarram a performance. 

As luzes coloridas no palco foram um destaque além quando “Love Ain’t A Love Song” foi tocada, e que exemplifica perfeitamente o que é um show de Joe Bonamassa. Uma performance groovada e melódica, que tem todos os elementos combinando e em perfeita sintonia, sendo um exemplo de técnica.

A estrutura do Parque do Ibirapuera foi toda adaptada para que a parte de cima do palco atuasse como um gigantesco telão, e que serviu de plano de fundo perfeito para “Self Inflicted Wounds”, uma música sofrida e potente.

Ela é ainda mais bonita ao vivo, adquirindo uma beleza diferente, sendo este, talvez, o melhor momento do show.

Com uma boa performance nos teclados, em “I Want to Shout About It” –  mais um cover, de Ronnie Earl and the Broadcasters – com bastante influência de Dee Purple, eles seguiram a noite, trazendo, também, outra boa performance das backing vocals.

Uma diferença entre os shows de Joe Bonamassa e Eric Gales é, justamente, a composição vocal que as músicas possuem. Apesar de Gales possuir uma boa voz, que se alinha bastante com suas músicas, o show de Bonamassa possui uma atmosfera mais grandiosa, muito influenciada por essa questão.

Não apenas a voz do guitarrista é bastante presente, mas a harmonia que ela faz com a das mulheres, é responsável pela criação de uma ambientação muito agradável e melódica, sendo um completo diferencial ao instrumentista.

Outro detalhe interessante e que agrega muito ao show, são os teclados, responsáveis por dar um toque à mais as músicas.

Vale também citar a bateria, responsável por criar todo o ritmo que o show leva, de maneira bastante presente e marcante, em um ritmo dançante.

“The Heart That Never Waits”, do álbum Time Clocks, de 2021, chegou quando a apresentação estava prestes a se encerrar. Em uma performance irretocável por todos, em especial do guitarrista, a banda entregou uma apresentação excelente.

Candidato ao melhor show do festival, Joe Bonamassa finalizou a sua apresentação com “Just Got Paid”, canção original do ZZ Top, da mesma forma que começou: com excelência: Não deixando a régua cair em momento algum, o guitarrista mostrou a São Paulo o por quê de ser um dos maiores nomes dentro do blues.

Realizando um show regado à técnica o músico entregou uma performance que seria facilmente uma das melhores que já presenciei.

Zakk Sabbath

Não é de conhecimento de todos, mas Zakk Wylde possui um projeto no qual toca apenas músicas do Black Sabbath. Responsáveis por encerrar a noite, a banda subiu ao palco às 20:30 e era, definitivamente, o ato mais esperado da noite.

Com as linhas de baixo em bastante evidência, a banda iniciou o show com “Supernaut”, do clássico Vol.4, lançado em 1972. Logo nas primeiras frases da música, é possível perceber a semelhança entre as vozes de Wylde e Ozzy Osbourne.

Os vocais, mesmo que por vezes um pouco desafinados, trazem um detalhe a mais as músicas. “Snowblind” foi uma das que evidenciou as habilidades do trio que compõe o Zakk Sabbath, de maneira que tornava possível ouvir de maneira clara e evidente todos os instrumentos, com nenhum deles se sobressaindo ao outro.

Os solos do guitarrista dispensam apresentação, e aqui, ele o realiza de maneira longa e detalhada, com direito até à guitarra em suas costas, enquanto ainda tocava o instrumento.

Um grande ponto a ser mencionado, são as linhas de baixo de John “JD” DeServio. Diferentemente de muitas bandas, é possível ouvi-las de maneira tão boa e alta quanto a própria guitarra, o que, definitivamente, dá um peso maior à faixa, isso tudo sendo completo pela bateria de Joey Castillo.

O show foi bastante pesado, e isso já era possível perceber logo nas primeiras músicas, em especial, “Tomorrow’s Dream”.

Em termos de performance, o Zakk Sabbath foi o que mais deixou a desejar. Trazendo um show mais lento e menos empolgante, os solos longos puderam ser sentidos, não de uma maneira boa, o que tornou a performance cansativa.

Mas ainda assim, é inegável a habilidade técnica que a banda possui. Outro detalhe que agrada aos fãs do Black Sabbath, é o fato de que o projeto traz músicas mais lado-B, excluindo alguns dos grandes clássicos, sendo este, também, um fator que restringe a popularidade da banda.

Por exemplo, uma das músicas mais conhecidas que o trio tocou do grupo britânico foi “Fairies Wear Boots” e que, ainda assim, não está entre as mais conhecidas.

Uma boa escolha para integrar a setlist do show foi “Into The Void”, do excelente Master Of Reality (1971).

Movimentando a plateia e promovendo uma interação, Zakk Wylde e a banda tocaram “Children Of The Grave”, que antecedeu “Lord of this World”, trazendo toda a banda soando integrada, pesada e potente, em especial, a bateria.

Em “Behind The Wall Of Sleep”, era até difícil de entender o que o vocalista cantava, mas trouxe um bom solo de baixo, permitindo o público sentir toda a potência que o instrumento possui.

As mais famosas vieram pra fechar o set, com “N.I.B”, do álbum auto-intitulado do Sabbath, lançado em 1970 e, por fim, “War Pigs”, do Paranoid, de mesmo ano, sendo estes, definitivamente, os momentos de maior ânimo do público, com a plateia cantando-as com emoção.

Mesmo que com um setlist curto, a sensação que o show passa é de cansaço. As músicas são muito bem executadas e trabalhadas ao vivo, mas ao final da performance parece que se passou muito mais tempo do que realmente passou.

Justamente por Zakk Wylde possuir outros projetos mais populares, como o próprio Black Label Society, o Zakk Sabbath atraiu, em sua maioria, fãs da banda original e do próprio guitarrista. Se ele tivesse tocado no festival de maneira solo, tocando músicas de seus próprios trabalhos e bandas que participou, talvez a performance tivesse sido mais interessante e dinâmica.

Ao final da noite, foi possível concluir que o mais aguardado da edição não fez o melhor show, este posto ficando para Joe Bonamassa, que realizou um show definitivo.

Nossa colabora Beatriz Manola também esteve no festival e garantiu imagens. Confira nossa galeria de fotos:

CPM 22 no Best Of Blues And Rock São Paulo - Crédito Beatriz Manola
CPM 22 no Best Of Blues And Rock São Paulo - Crédito Beatriz Manola
Eric Gales no Best Of Blues And Rock São Paulo - Crédito Beatriz Manola
Joe Bonamassa no Best Of Blues And Rock São Paulo - Crédito Beatriz Manola
Eric Gales no Best Of Blues And Rock São Paulo - Crédito Beatriz Manola
Eric Gales no Best Of Blues And Rock São Paulo - Crédito Beatriz Manola
Di Ferrero no Best Of Blues And Rock São Paulo - Crédito Beatriz Manola
Eric Gales no Best Of Blues And Rock São Paulo - Crédito Beatriz Manola
CPM 22 no Best Of Blues And Rock São Paulo - Crédito Beatriz Manola
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Fã de rock desde muito cedo, é estudante de jornalismo e trabalha, também, criando conteúdo para a internet. Já foi host de podcast e atualmente está completamente focada na área de jornalismo especializado. Apaixonada por música, é entusiasta, em especial, do hard rock e heavy metal.