Texto por Marcelo Gomes

O festival que já se tornou tradicional na cidade de São Paulo comemorou 10 anos de existência numa edição especial com 3 dias de evento no parque do Ibirapuera trazendo grandes nomes do rock e do blues. O primeiro dia do Best of Blues and Rock contou com as presenças do Tom Morello, Extreme, Malvada e Nanda Moura.

Fazendo jus ao nome, a primeira atração do festival foi a Nanda Moura que subiu ao palco trajando um elegante terno e chapéu. Acompanhada por César Lago (baixo), Otávio Rocha (guitarra) e Gil Eduardo (bateria), músicos consagrados do Blues Etílicos,  Nanda  ganhou  a atenção do público e cativou os que ainda não conheciam seu trabalho apresentando clássicos do blues com muita competência. 

As meninas da Malvada vieram logo a seguir, com o por do sol chegando, a banda liderada pela vocalista Angel Sberse, focou sua apresentação no seu trabalho de estreia,  Noite Vai Ferver (2021) além de algumas surpresas como uma homenagem mais do que merecida à Rita Lee com  “Esse Tal De Rock Enrow”,  clássico da banda Tutti Frutti. As autorais “Mais Um Gole” e  o último single da banda, “Perfeito Imperfeito” também fizeram parte do setlist.

Outro destaque foi o cover de “Summertime” da Janis Joplin que ganhou uma interpretação poderosa da Angel. As meninas souberam escolher bem o setlist mesclando musicas autorais e alguns covers e para fechar não poderia faltar um som do Deus da guitarra, Jimi Hendrix, e escolheram a fantástica “Purple Haze” com uma execução incrível da Bruna. Apesar de serem uma banda novata,  Bruna Tsuruda (guitarra), Marina Langer (baixo) e Juliana Salgado (bateria) aliadas a vocalista Angel,  mostraram ser muito experientes utilizando todo o palco e até as duas passarelas que  ficavam bem próximas ao público fazendo uma grande apresentação.

Uma das atrações mais esperadas do dia e prestes a lançar seu mais novo trabalho Six (2023), o Extreme iniciou sua apresentação com 15 minutos de atraso. Formado por Gary Cherone (vocal), Nuno Bettencourt (guitarra), Pat Badger (baixo) e Kevin Figueiredo (bateria) fizeram qualquer insatisfação com a demora desaparecer em segundos. Com as luzes no palco apagadas e num clima de suspense, Nuno começa a solar e demonstra porque é um dos principais guitarristas da atualidade. A apresentação começa “Decadence Dance”  seguida por “#Rebel” do vindouro trabalho, Six , faixa pesada que resgata os elementos que consagraram a banda.  O hard rock dos americanos continua  em  “It´s a Monster”, nessa hora nem o frio preocupava mais. O  solo absurdo da música executado com perfeição pelo Bettencourt levou os fãs à loucura.

Os caras não estavam afim de perder tempo, tocam “Rest In Peace”. Um pequeno improviso do guitarrista antecede a faixa “Am I Ever Gonna Change”. A primeira interação com o público partiu do guitarrista para anunciar mais som novo, ” Banshee” que começa com um riff poderoso. A aceitação das músicas novas foi excelente, depois de tanto tempo sem lançar material inédito, os novos singles que apresentaram até então, agradou os fãs. Então, o baterista Kevin Figueiredo faz uma levada na bateria que é acompanhado de imediato pelas palmas do público. Gary aproveita e canta um trecho de “We Will Rock You” do Queen antes de colocar todo mundo para dançar em “Play With Me”.  Mais uma vez Nuno deixa os fãs atônicos com sua virtuose sendo até mesmo exaltado pelo colega Cherone.

O guitarrista mostra que também domina o violão e faz um belo solo. O momento precedeu um dos momentos mais aguardados do show, o mega hit “More Than Words” executado pelo dupla Gary e Nuno fez com que absolutamente todos cantassem juntos. Não é a toa, a música catapultou a carreira da banda, sendo conhecida dentro e fora do rock. Mas nem só de balada vive o hard rock, o groove funk de “Cupid´s Dead” não deixa ninguém parado assim como a nova, “Rise” com mais um belo riff de guitarra e um solo estupendo que surpreendeu mais uma vez pela criatividade e complexidade.

O show vai caminhando para o final mas ainda teve tempo para o hit “Hole Hearted”, a instrumental “Flight Of The Wounded Bumblebee” na qual Bettencourt mostra que sua técnica está em dia e o grand finale fica  em “Get The Funk Out”  com a participação especial do guitarrista brasileiro Mateus Asato num dueto de tirar o fôlego com o Nuno. É impressionante a performance que o Extreme entregou, após 8 anos sem se apresentar no Brasil e o Nuno com o joelho machucado, a banda consegue surpreender e mostra que ainda tem muita lenha para queimar. 

Para encerrar a primeira noite do festival Best Of Blues and Rock, o guitarrista Tom Morello apresentou diversas facetas desconhecidas pela maioria do público. Famoso por integrar principalmente o Rage Against The Machine e Audioslave, o músico apresentou seu lado cantor em canções autorais e uma abordagem mais tradicional dentro do instrumento.

Abriu o show cantando “One Man Revolution” do seu trabalho solo The Nightwatchman (2007), algo que grande parte do público desconhecia. A sequência com “Let´s The Party Started” do album The Atlas Underground e “Hold The Line” já seguem mais a linha do Rage Against The Machine. Tom diz esse show é pelo amor, paz, igualdade, rock n´ roll e contra o fascismo. Para delírio dos fãs, o guitarrista fez  um medley de canções do Rage Against The Machine, dentre elas, “Bombtrack”, “Bulls On Parade”, “Guerrilla Radio”, entre outras que  ajudaram a aquecer a noite gelada com ventos cortantes que acometia na sexta-feira. E não parou por ai, a emoção tomou conta quando Morello dedicou “Like A Stone” do Audioslave ao finado vocalista Chris Cornell.

Hendrix foi mais uma vez homenageado ganhando uma versão instrumental de “Voodoo Child”. O feat. com Maneskin na faixa “Gossip” também esteve presente no setlist com os vocais do guitarrista Carl Restivo. Um som que surpreendeu positivamente foi “Cato Stedman & Neptune Frost”, um blues cheio de feeling que mostra as diversas facetas do guitarrista mas sem deixar de apresentar seu som característico simulando scratchs em algum momento do solo. Claro que o Tom recebeu o carinho dos fãs durante o show mesmo quando desconheciam por completo as músicas solo mas o que fãs queriam mesmo, era ouvir os clássicos do Rage Against e Audioslave.

Morello preparou mais um medley de sua ex banda que teve “Testify”, “Freedom”, “Guetto Blaster” que agitou bem o público sedento por esse material. Mas a maior surpresa do show estava por vir. O guitarrista convidou o Gary Cherone e o Nuno Bettencourt para participar da música “Cochise”, um clássico do Audioslave. Gary interpretou com personalidade os vocais enquanto Nuno tocava e ajudava nos backing vocals. Foi um dos pontos mais marcantes e emocionantes da noite. Foram ovacionados, não era por menos, um encontro inusitado que deixou sua marca no festival.

Outro grande momento foi quando Morello pediu para que todos cantassem a próxima, era somente o hino “Killing In The Name” do Rage Against The Machine. Virou o microfone para a plateia que fez a lição de casa com louvor. Certamente, o vocalista Zack De La Rocha ficaria orgulhoso vendo isso. Foi um final apoteótico. Se terminasse por aqui já estaria de bom tamanho mas ainda tinham uma carta na manga. Tocaram  “Power To People” do John Lennon com o pessoal do Extreme e o guitarrista Steve Vai no palco cantando e assim, encerraram com chave de ouro a primeira noite do festival Best Of Blues and Rock.

Nossa colaboradora Leca Suzuki esteve presente no evento e registrou os shows do Extreme e Tom Morello. Confira a galeria de fotos no fim desta matéria.

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