O August Burns Red é uma banda que encontrou sua fórmula e não muda – e eu não estou reclamando. Com uma carreira de quase 20 anos, o grupo é um dos mais consistentes no metalcore, se mantendo firme e fiel à sua identidade. Ela se nega a caminhar pela mesma estrada que outros grupos do gênero fizeram, como uma tentativa de levar o metalcore para o mainstream.
Há uma semana, mais precisamente no dia 3 de abril, a banda lançou o disco Guardians, o oitavo de sua carreira, e se provou, novamente, uma potência. Durante as onze canções do álbum, Jake Luhrs (vocal), JB Brubaker (guitarra), Brent Rambler (guitarra), Dustin Davidson (baixo) e Matt Greiner (bateria) mostram os dois lados do August Burns Red: o pesado, com direito a um gutural incrível, e o melódico, cortesia de JB, um dos compositores da banda.
Destacar apenas algumas das faixas do álbum é injusto. A tarefa de escolher os singles no momento do lançamento deve ter sido dura, porém eles executaram a função com maestria. “Defender”, “Bones” e “Paramount” – na ordem de lançamento – acompanha a abertura pesada de “The Narrative” e entrega uma sequência que sintetiza a essência do grupo.
Após quase duas décadas no estúdio e na estrada, é compreensível que o som se mantenha na zona de conforto do grupo. Em alguns momentos, sentimos um lapso de algo inédito, mas em seguida, a banda cai em sua fórmula. Não me leve a mal, a fórmula funciona, e muito bem, mas se os fãs de August Burns Red estavam esperando alguma mudança de som, não será em Guardians que irão encontrar. O que os fãs irão encontrar será uma banda que entende o seu som e seus limites e se atenta a eles, sem ousar, mas também sem repetir os mesmos passos exatos. O lançamento é a prova que o equilíbrio entre o novo e o velho existe.
Seguindo a fórmula da banda, Guardians aborda temas fortes e atuais – agora, mais atuais do que nunca – como a falta de empatia que sobrevoa a sociedade nos dias de hoje. Mas esse é só o começo. Após nos fazer refletir sobre nossas atitudes em “The Narrative”, o August Burns Red nos lembra da natureza do ser humano e da força que ela tem. A melódica “Lighthouse”, por exemplo, nos serve como um guia de amor e carinho pelo próximo:
Dê uma outra olhada ao seu redor
Há muito a ser encontrado
Pessoas em todos os lugares estão sofrendo
Mesmo que eles sejam contados
Há muito a ser encontradoPaixão em ação é compaixão”
A mesma mensagem pode ser ouvida na brutal “Defender” que, com um poderoso refrão, nos motiva a nos unir:
Eu faria qualquer coisa, mas é preciso duas pessoas
Um sou eu, o outro é você
Eu faria qualquer coisa para conseguir, mas é precisoUm amigo defende quem ele ama
Em todas as coisas, o amor transcendeEu preciso de um defensor
Uma voz que treme para acalmar o terremoto
Eu preciso de um defensor que se dobre e quebre no meu lugar”
O próprio nome do disco, por sinal, já apresenta sua proposta: a promessa que não estamos sozinhos, e que todos temos alguém para nos ajudar a levantar, quando precisamos. Guardians não é perfeito, apesar de se apresentar como um projeto conciso – a experiência de ouvir o álbum em outra ordem que não seja a dele, quebra a magia, pois ele conta uma história.
De primeira, é fácil se perder na bateria frenética de Matt, ou na poderosa guitarra de JB, ou, claro, no gutural de Jake, mas quando você para e sente as músicas, Guardians te recebe de braços abertos, te lembrando que o mundo pode girar e se bagunçar o quanto quiser, mas estaremos aqui, juntos.