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Angra

Angra. Crédito: Marcos Hermes

Angra Fest em POA: Viper, Matanza Ritual e Angra encerram turnê com pancadaria e nostalgia

A capital gaúcha recebeu o festival no último domingo,26, no Auditório Araújo Vianna

Texto por Patrícia C. Figueiredo

O público foi chegando aos poucos no Auditório Araújo Vianna, localizado em um dos pontos turísticos da cidade, o Parque Farroupilha, que por sinal estava sediando as comemorações oficiais do aniversário da cidade, misturando tribos pelos arredores do local do show. 

Viper

Mesmo com a abertura da casa acontecendo pouco após as 18h, cerca de meia hora depois do horário marcado, o Viper manteve a pontualidade mas enfrentou um início de show com pouco ânimo do público. Podemos atribuir isso ao sistema de lugares marcados nas cadeiras que a casa oferece, sem espaço para pista.  Com a galera sentada e interagindo basicamente por meio de alguns gritos e cabeças balançando de forma uma pouco contida, o Viper começou os trabalhos com a ainda recente “Under The Sun”, single que mostra que o DNA do Viper segue intacto mesmo após alguns hiatos e mudanças na formação da banda ao longo dos anos.

“Knights of Destruction” e “A Cry From The Edge”, originalmente cantadas por Andre Matos, tiveram perfeita execução com Leandro Caçoilo nos vocais, deixando o público muito satisfeito e honrado por ver sua performance no palco. Já Pit Passarell, sempre com seu bom humor fazendo brincadeiras por todos os lados, chegou a avisar que não cantaria “Evolution”, faixa do álbum homônimo de 1992 do qual foi o vocalista, pois já fazia muito tempo desde que o tinha feito e não lembrava mais a letra. E não deu outra, quando Leandro o chamou para cantar junto um trecho, Pit só deu uma enrolada e fez caras e bocas de vergonha. Entre as brincadeiras de Pit, ele também chamou Porto Alegre de Curitiba (claramente apenas para provocar o público) e ainda posou para uma selfie de cima do palco com um fã que estava na plateia. 

Do meio da plateia, uma camiseta com a foto de Andre Matos chamou a atenção de Leandro Caçoilo, que dedicou “Living For The Night” para o primeiro vocalista do Viper que nos deixou em 2019, e inclui também o baixista Canisso, falecido há algumas semanas. Leandro então convidou todos para se levantarem e desceu do palco para cantar o início da música próximo aos fãs que estavam nas primeiras fileiras. 

Com o público já de pé e aos poucos se sentindo mais confortável no ambiente do auditório, o Viper encerrou seu set com “Rebel Maniac” e uma versão mais metal de “We Will Rock You”, do Queen. Embora o show tenha durado menos de uma hora, foi sem dúvidas engrandecido pela banda que não se intimidou com a dinâmica da casa e pelos grandes clássicos cantados junto com os fãs.

Matanza Ritual

Com cerca de vinte minutos de atraso, o Matanza Ritual chegou para quebrar tudo e garantir que a animação do público não decaísse. O guitarrista Antônio Araújo deu a ordem logo de cara para que todos se levantassem e o público se amontoou o mais próximo da grade como pôde, como um show de metal tem que ser.  Com “O Chamado Do Bar”, Jimmy London convocou todos os headbangers a entrar no clima da bebedeira e canalhice, a temática já conhecida de seu trabalho com a antiga banda Matanza. Os fãs presentes deixaram claro que seguem com Jimmy e curtiram como loucos enquanto a banda aquecia com “Meio Psicopata”, “Remédios Demais” e a “Arte do Insulto”. Em um momento do show, Jimmy London interage com um pequeno fã que estava assistindo o show grudado na grade. O menino que não deve chegar a ter dez anos de idade com certeza era o mais jovem no local.  

Não teve música no setlist do Matanza Ritual que não contasse com o coro dos fãs, mas “Bom é Quando Faz Mal”, “Clube dos Canalhas”, “Pé Na Porta”, “Soco Na Cara” e “Ela Roubou Meu Caminhão”, que encerrou o show, com certeza foram os pontos altos do show. No final ainda pude testemunhar o momento em que Jimmy London tirou sua camisa encharcada de suor, torceu-a na frente do palco, pingando como se tivesse sido lavada, e a entregou a uma fã que podemos considerar sortuda, acho eu.

Angra

Antes que o Angra subisse ao palco, o público foi avisado pela equipe da produção para respeitar a marcação de lugares da casa. Já com o menor tempo de espera entre os shows da noite, o Angra finalmente sobe ao palco do seu próprio festival pontualmente às 21h30, apenas meia hora após o show do Matanza Ritual. O aviso pré-show funcionou apenas para quem estava sentado a partir da segunda fileira, uma vez que as pessoas da primeira seguiram firmes na grade, mas ainda assim a maioria do público permaneceu de pé para o show de uma das maiores bandas de heavy metal do país, que se mostrou confortável em tocar mais uma vez na região sul.

Com seu conhecido virtuosismo, Fábio Lione entrega tudo já de cara com “Newborn Me”, mas “Nothing To Say” e “Angels Cry” tocam claramente a alma dos grandes fãs da banda e agitam a casa já mais cheia, porém longe de lotada. Após as quatro primeiras músicas é que o vocalista Fabio Lione se dirige ao público, e ao longo do show conversa mais com as pessoas ali presente, inclusive brincando que seu portunhol já melhorou bastante, uma forma de preparar o público para “Late Redemption”, música que teve a participação de Milton Nascimento nas gravações e que conta com alguns trechos em português, no show cantados por Lione e Rafael Bittencourt. Além dos momentos em portunhol, Lione também interagiu e brincou bastante com o público fazendo desafio de vocalizes em diferentes momentos do show. 

Rafael Bittencourt também conversou com o público e contou brevemente a história de “Reaching Horizons”, que é oficialmente a música mais antiga do Angra. A versão de Bittencourt de voz e violão ao vivo é realmente emocionante, e não por menos foi nesse momento que Andre Matos foi homenageado novamente na noite. Lione voltou ao palco e contou como conheceu Andre pela primeira vez na Itália durante a divulgação do álbum Holy Land. Bittencourt e Lione então executaram de forma tocante e intensa a clássica Make Believe.  Lembrando que o Angra era a única banda da noite com baladas no set list, adicionamos à lista de momentos bonitos e emocionantes da noite a participação do público com as lanternas de seus celulares acesas em “Bleeding Heart”. E já se encaminhando para o fim da noite, “Carry On” e “Nova Era” encerram o set list do Angra, mas não o show. Os fãs gaúchos ganharam um bônus por este ter sido o último show da turnê do Angra Fest até então. Rafael Bittencourt anunciou, “vamos fazer uma baguncinha”, e o que rolou foi simplesmente a jam mais louca, com as três bandas no palco tocando “Wasted Years” do Iron Maiden. Era como ver uma pintura renascentista antes que ela virasse uma pintura renascentista. De um lado do palco tínhamos Antônio Araújo na guitarra e Jimmy London (Matanza Ritual), apenas curtindo o momento. Do outro lado tínhamos Felipe Machado (Viper), Felipe Andreoli e Rafael Bittencourt (ambos do Angra). Ao fundo, Guilherme Martin (Viper), Marcelo Barbosa (Angra) e Amilcar Christófaro (Matanza) dando umas batidas nos pratos da bateria de Bruno Valverde (Angra), e de um lado para o outro do palco passavam Fabio Lione (Angra), Pit Passarell e Leandro Caçoilo (ambos do Viper). Juninho (baixo) que havia tocado com o Matanza Ritual não foi visto, provavelmente porque ainda tinha o show do Ratos de Porão para tocar na cidade vizinha de Novo Hamburgo. Realmente um momento único! E a noite só terminou mesmo após as bandas ainda homenagearem Canisso, com uma imagem do baixista no telão e um cover de “Eu Quero Ver o Oco”.

É interessante mencionar que nenhuma das bandas deixou de homenagear também a cidade de Porto Alegre pelo seu aniversário, com Marcelo Barbosa e Fabio Lione (ambos do Angra) chegando a tocar um trechinho de “Parabéns A Você”. E mesmo tendo ficado claro que a escolha do auditório para o festival tenha sido bastante ambiciosa considerando o número de gaúchos que costumam frequentar os shows de metal na cidade, e também as cadeiras terem atrapalharam um pouco, os shows das bandas icônicas e históricas do metal nacional deixaram os fãs muito satisfeitos e com orgulho de terem presenciado um evento que proporcionou aquele sentimento de união e parceria e aproximação entre bandas e fãs.

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