Andreas Kisser, guitarrista da banda Sepultura, disse o que pensa sobre o uso de inteligência artificial na música em entrevista recente à Band. O músico comentou que a tecnologia trouxe vários avanços interessantes, mas que não vê sentido no uso da IA para algo ilusório, como no caso das propagandas que usam a imagem de artistas já falecidos.

Andreas questiona até que ponto a inteligência artificial é um aliado, pois até a própria inteligência artificial é limitada de acordo com a base de dados. “Eu acho uma busca vazia tentar trazer alguém de volta. Não entendo o objetivo disso. É um caminho muito esquisito esse da vida eterna. Acho que a vida é isso, a evolução, é preciso respeitar a morte. A morte não é punição, é uma escola e uma professora”, afirma o guitarrista.

O uso da inteligência artificial na música para alterar certas percepções da realidade já vem sendo aplicada em diversos campos: criação de músicas e seleção de playlist a partir de algoritmos, assim como também recriação de imagem e de voz de artistas falecidos. Em julho deste ano, uma propaganda de automóveis da marca Volkswagen trouxe um dueto entre a cantora Elis Regina, falecida em 1982, e sua filha Maria Rita, feito através da inteligência artificial. Além de dividir opiniões, o comercial trouxe debates sobre o uso de IA, preservação da memória e o direito à morte. Muitos questionamentos têm permeado o uso da IA como forma de criar “realidades falsas”, como no caso da simulação de voz de artistas falecidos (Kurt Cobain, Chester Bennington, Andre Matos) cantando clássicos do rock/metal. 

Para Andreas Kisser, alguns aspectos da vivência humana são insubstituíveis. “A reprodução do ser humano não vai ser feita através da inteligência artificial. A gente vai ter que ser uma interação entre humanos. Amor, respeito, carinho, paixão. Criar uma coisa de conteúdo. Aprender, evoluir. A vida é isso: evolução”, completa. 

Fotos de Patricia Kisser e Andreas Kisser. Créditos: Reprodução/Instagram
Fotos de Patricia Kisser e Andreas Kisser. Créditos: Reprodução/Instagram

Andreas ressaltou sobre a importância de respeitar a morte e não vê-la como punição mas como uma lição, um aprendizado. Ele acredita que falar abertamente sobre a morte possibilita que todos possam aprender a valorizar mais o presente. “Vi como a morte educa, dá mais sentido à vida, ao dia a dia e ao presente. Você não vai esperar amanhã para dar um abraço, falar um ‘eu te amo’ para uma pessoa importante”.

Nesses últimos anos, Andreas Kisser passou pela experiência de lidar com o processo de despedida de sua esposa, Patrícia, que tratava de um câncer de cólon. Pat, como era carinhosamente conhecida pelos amigos, faleceu no dia 03 de julho de 2022. Desde então, o músico tornou-se uma das principais vozes em defesa da eutanásia como direito da pessoa morrer com dignidade. “A gente não pode ter medo da morte. Precisamos falar de eutanásia, suicídio assistido e sobre fazer escolhas de dignidade na hora da morte”, finaliza.

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