De Tenerife, a maior das Ilhas Canárias espanholas, Andi Deris atendeu a ligação do Wikimetal. O atual vocalista do Helloween logo se desculpou pela voz cansada, já que horas atrás gravara algumas demos para o próximo disco da banda.
“Estou terminando duas músicas que escrevi para o Michael [Kiske, antigo vocalista]. Estou feliz em poder escrever no estilo dele, antes pareceria cópia”, disse. Deris substituiu Michael e o também ex-vocalista Kai Hansen a partir de 1993. Agora, o lineup da banda conta com os três membros reunidos em uma turnê e um disco, que deve sair em 2020. “Temos umas 20 ideias na mesa, uma boa mistura de todas as décadas do metal. Músicas em que eu canto, músicas em que só o Michael canta, músicas para o Kai…”, explica.
A Pumpkins United World Tour passará pelo Brasil no Rock In Rio e no Rockfest, em São Paulo, e começou como uma ideia despretensiosa. “Surgiu com o Kai em turnê ao lado do Helloween com o Gama Ray. Nós percebemos que as pessoas ficavam felizes de cantar com a gente. A única peça faltando era o Michael. Tivemos que mostrar para ele que não somos uma banda do mal, que a nova fase tem letras positivas e para cima. Ele decidiu dar uma chance”, conta Andi.
Daí surgiu uma amizade entre os membros. Michael visita Andi na ilha de Tenerife e Andi visita Michael na Alemanha, de onde ele grava as demos que o atual vocalista escreve. “Nós infelizmente encontramos um hobby em comum, que é comer cheesecake”, brinca, “Nos tornamos bons amigos”.
Essa amizade é um dos motores da nova fase do Helloween. Os amigos dividem o palco e as músicas. “Se eu falar ‘não me sinto confortável cantando essa parte’ porque é muito difícil, o outro precisa cantar. Michael tem a técnica de tons mais altos, eu fico no meio. Se for um grito brutal, é algo para o Kai”, explica.
Dessa dinâmica, que deu tão certo nos palcos, vem o DVD da turnê, que Andi promete ser cheio de surpresas, desde cenas dos bastidores até músicas que não foram tocadas ao vivo. É uma apresentação que os brasileiros terão o prazer de ver a partir de setembro. Os shows no Brasil causam sentimentos conflituosos no vocalista:
“Eu estou muito ansioso para o Rock In Rio. Nossa última vez lá foi uma descarga de adrenalina. Espero que todo mundo se divirta muito, é o que acaba acontecendo. A gente entra no palco nervoso, mas com alguns minutos você vê que todo mundo te adora e só quer ter bons momentos”.
O Helloween foi convocado “às pressas”, depois que o Megadeth cancelou as turnês por causa de um câncer na garganta de Dave Mustaine. “Eu espero que ele se recupere bem”, deseja Andi. “É um sentimento estranho ser convidado para algo tão bom com uma notícia tão triste. Mas, subiremos lá e honraremos Mustaine com muito metal”.
Outra dessas sensações conflitantes, está na memória que o vocalista tem do cantor Andre Matos, do Angra, falecido recentemente. “Eu tive que apagar ele da minha lista de contatos. Éramos muito próximos, sempre trocávamos mensagens”, lembra. “É algo realmente horrível. Assim é a vida”.
Se Andi parece ser um ponto de encontro de referências do metal, entre a amizade de Matos e os mais de 30 anos de carreira do Helloween, é porque esse é o papel que ele exerce com prazer. Não só a nova fase da banda tenta incorporar tudo o que engloba a banda em si, como Andi ainda tenta trazer o novo de qualquer que seja a inspiração.
“As pessoas acham que eu sou louco quando falo que eu adoro Deftones, mas é muito aventuresco. Eu amo o Jonathan [Davis] do Korn, também. Eu quero sempre abrir meus ouvidos, não copiar, mas trazer inspiração. Eu não quero achar que eu sei escrever música e que eu não preciso aprender mais nada. O dia em que eu parar de aprender, eu me aposento”, ri Andi.
E é dessa aglomeração que parte o Helloween de 2019, as três décadas representadas nos três vocalistas, mas sempre mirando o futuro da música. “Existe um futuro. Eu quero colocar tempero na música do Helloween, temos que dar chance para os novos sons, levar para o próximo nível”.
Se depender de Andi Deris, o Helloween e o metal ainda têm muito caminho pela frente.