Noite quente de verão em São Paulo, e dia azul limpo para os australianos Amy Taylor e Bryce Wilson, da banda punk Amyl and the Sniffers quando conversamos essa semana sobre a primeira passagem deles pelo Brasil.

A banda chega para apresentar não só o novo álbum Cartoon Darkness, mas também acompanhar a turnê Supercharged do Offspring, demonstrando a força do punk na música – e mais que isso – a força da presença feminina no gênero. Leia a entrevista completa abaixo:

WIKIMETAL: Terceiro disco, Cartoon Darkness, completamente insano e muita força por trás desse disco. Não vou perder tempo e já te perguntar: como é o processo de escrever essas músicas?

Bryce Wilson: Foi muito bom. Nós tivemos bastante tempo nesse álbum para gravar e pela primeira vez tivemos nosso próprio estúdio. Nosso último disco [Comfort to me] foi gravado num galpão, praticamente, então dessa vez foi bem mais confortável com o estúdio que nosso empresário construiu ele mesmo.

WM: Precisamos muito de mais mulheres como você na cena punk – eu sinto que é um lugar de fala super forte. Como você enxerga seu lugar na música e na indústria?

Amy Taylor: Eu acho importantíssimo que o punk tenha mais ocupação feminina. Não posso falar pela indústria, porque sinto que a gente fica bem fechado no nosso nicho, mesmo sabendo que fora o pop, é tudo bem dominado pelos homens. No punk mesmo eu acho que sou uma figura super feminina que carrega uma força mostrando que podemos fazer shows e turnês.

WM: A gente sabe o quanto você se expressa no palco com o público, e é incrível ver o punk na superfície da indústria musical novamente. Como uma das maiores vozes femininas do punk hoje em dia, que mensagem você gostaria de dar pras garotas que estão começando a fazer música?

Amy: Acho que dentro e fora da música eu quero mostrar pras pessoas – e para as garotas, principalmente – que nós não precisamos de permissões para fazer o que queremos. É tão difícil sermos nós mesmas sem pensar no julgamento externo, então eu sempre penso em mostrar quem eu sou de dentro pra fora pra que toda essa energia seja contagiante e libertadora.

WM: Você comentou em uma entrevista que escreveu as letras sozinha para o Cartoon Darkness. Como você acha que isso afetou o resultado do álbum?

Amy: Eu fiz essa parte sozinha porque eu queria me ouvir mais e não queria que os garotos ficassem tocando a mesma coisa toda hora. Deu pra cantar mais em vez de gritar, foi bem legal.

WM: Vocês estão vindo para o Brasil em seguida do carnaval, que é uma festa que celebra a liberdade e a expressão dos corpos e das pessoas, e isso me lembra muito o som e a expressividade de vocês (como na música “U should not be doing that”). Vocês ouvem alguma coisa brasileira?  

Amy: Sim! Eu soube disso, e eu queria muito chegar antes para curtir um pouco do carnaval, mas vai ser uma correria. Talvez o Declan participe de alguma coisa, ele vai chegar um pouco antes para o carnaval. Nós não temos um artista ou banda brasileira específica, mas ouvimos bastante música latina no geral.

Bryce: Mas acho que não dá pra perceber nas nossas músicas. (todos dão risada)

Amy: Eu gosto muito de cumbia. (todos riem de novo)

WM: Os clipes de vocês são sempre incríveis e super expressivos. Como funciona o processo criativo com os visuais? Ao mesmo tempo que parece um improviso e super livre, eu sempre fico pensando quantas vezes vocês gravaram as cenas de clipes.

Amy: É tudo bem improvisado, mas com um roteiro básico com a visão do diretor [John Angus Stewart] sobre as nossas músicas. Mas é divertido, nós pegamos a ideia dele e só adicionamos esse nosso toque.

WM: Vocês vão fazer turnê com o Offspring em não uma, mas 3 cidades do Brasil. Como está a expectativa pra esses shows? 

Amy: Nós ouvimos que o Brasil tem um público insano. Nosso guitarrista, Declan [Mehrtens] está especialmente animado para esses shows, então acho que vai ser bombástico. Sabemos que vocês têm uma energia especial com a música.