Em seus shows no Brasil, Roger Waters se posicionou contra o candidato à presidência
Roger Waters, cofundador, baixista e compositor do Pink Floyd, iniciou sua turnê Us + Them no Brasil nessa última semana nos dias 9 e 10 de outubro. O músico subiu no palco do Allianz Parque em São Paulo e apresentou um show político que gerou grande repercussão.
Na primeira noite, Waters expôs nomes de políticos de todo o mundo em uma lista que intitulou de neofascistas. Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, foi um deles, porém o nome que gerou desconforto na plateia foi o de Jair Bolsonaro, candidato à presidência do Brasil pelo PSL.
Entre vaias e aplausos, o músico britânico manteve a crítica ao brasileiro durante toda a apresentação. Com frases como “respeite as mulheres” e “não culpe as crianças” e com a aparição da #EleNão, o discurso de Waters era claro.
Roger Waters nasceu em Surrey, na Inglaterra, no ano de 1943, época em que o mundo sofria com as consequências da Segunda Guerra Mundial, que já acontecia por quatro anos. Aos cinco meses de idade, Waters perdeu seu pai, Eric Fletcher Waters, soldado britânico que faleceu no campo de batalha de Anzio, na Itália – hoje conhecida como a cidade de Aprilia.
Mesmo desconhecido a ele, Waters carrega uma forte conexão com seu pai e, principalmente, com as circunstâncias de sua morte. O assunto é inspiração de dezenas de músicas do britânico, incluindo seu trabalho com o Pink Floyd.
Com a saída de Syd Barrett da banda no fim dos anos 60, apenas com um álbum lançado, The Piper at the Gates of Dawn, Waters definiu a direção artística que eles levariam dali em diante. Cheios de questionamentos filosóficos e críticas políticas e sociais, o Pink Floyd se tornou uma das maiores bandas do gênero.
Quatorze álbuns depois – todos com temáticas políticas -, os membros do Pink Floyd seguiram caminhos diferentes. Waters veio a lançar diversos discos com seu projeto solo, incluindo Is This The Life We Really Want?, álbum lançado em junho de 2017, recheado de músicas sobre antifascismo e anti-imperialismo, ideias que já pregava no Pink Floyd.
O discurso político e social de Waters não é apenas lírico. O músico já participou de eventos beneficentes, é porta-voz da ONG Millennium Promise, que ajuda lutar contra a pobreza, cancelou shows em protesto à situação da Palestina e incentivou artistas a não se apresentarem em Israel, como Bon Jovi e até mesmo Caetano Veloso, quem já recebeu uma carta de Waters pedindo para que não se apresentasse em Tel Aviv, capital israelense.
A visão política do cantor e do Pink Floyd nunca foi um segredo, porém muitos daqueles que foram ao show em São Paulo se surpreenderam com o tom do evento, pois carregavam em si interpretações diferentes das canções dos britânicos. Aqui, falamos um pouco sobre as faixas que mais exploram o tema, para entendermos melhor a obra e o legado de Pink Floyd e Roger Waters.
“Money” do disco The Dark Side Of The Moon (1973) do Pink Floyd
Assim como outras canções do disco, “Money” fala sobre as aflições do ser humano moderno. Domínio do dinheiro sobre o homem é o tema principal da faixa que é cantada em versos de ironia. “Dinheiro, é um crime / Divida-o justamente / Mas não pegue um pedaço da minha torta”, ele canta.
“Dogs” do disco Animals (1977) do Pink Floyd
Gravada originalmente para o álbum Animals, um trabalho inspirado no livro A Revolução dos Bichos de George Orwell, a faixa expõe a competição agressiva e cruel do mundo capitalista dos negócios.
“Another Brick In The Wall” do disco The Wall (1979) do Pink Floyd
Um dos maiores hits da banda, “Another Brick In The Wall Part 2” é a segunda parte de uma divisão de três, e todas elas carregam uma crítica ao rígido sistema educacional. “Nós não precisamos de nenhuma educação / Nós não precisamos de controle em nossas mentes / Sem humor negro na sala de aula / Professores deixem essas crianças em paz.”
“Pigs (Three Different Ones)” do disco Animals (1977) do Pink Floyd
Faixa também presente no disco inspirado pela obra de George Orwell, “Pigs” reflete a visão de Waters sobre a escala social, e “porcos” são aqueles que estão no topo dela e que possuem a riqueza e o poder necessário, manipulando o restante da sociedade.
“Welcome To The Machine” do disco Wish You Were Here (1975) do Pink Floyd
Segunda canção do disco, “Welcome To The Machine” expõe a industrialização do mundo da música e da sociedade no geral. A faixa conta a história de um músico aspirante que é contratado por um empresário ganancioso. A letra reflete a desilusão da banda com a indústria musical, como sendo uma máquina de dinheiro, ao invés de servir a arte.
“The Fletcher Memorial Home” do disco The Final Cut (1983) do Pink Floyd
Composta totalmente e coproduzida por Roger Waters, a faixa é um desafado do músico sobre sua frustração da forma com que o mundo foi liderado após a Segunda Guerra Mundial. Waters menciona nomes de líderes mundiais como Ronald Regan, Margaret Thatcher e Richard Nixon, sugerindo que eles não foram bons governantes, pois apenas entendem o idioma da violência. Fletcher, nome citado no nome da música, é em memória ao pai de Waters.
“Us and Them” do disco The Dark Side Of The Moon (1973) do Pink Floyd
Faixa que deu o nome à atual turnê solo de Roger Waters, “Us and Them” traz uma triste e real reflexão sobre guerra e suas consequências. No trecho “Avançar!, ele gritou da retaguarda / E a linha de frente foi dizimada / E o general sentou, e as linhas do mapa / Moveram-se de um lado para o outro”, a banda mostra a importância que líderes mundiais dão à guerra, sem considerar os sacrifícios pessoais dos soldados.
“Smell the Roses” do disco Is This the Life We Really Want? (2017) do projeto solo de Roger Waters
Parte do último disco de estúdio de Waters, Is This The Life We Really Want?, a faixa traz temáticas já exploradas pelo britânico, como guerra, governos corruptos, capitalismo e conformismo. “Este é o quarto onde eles fazem os explosivos / Onde eles colocam seu nome na bomba / Aqui é onde eles enterram os ‘poréns’ e os e ‘se’ / E rabiscam palavras como certo e errado.”
Foto por: Mila Maluhy