21 Century Breakdown, sucessor de American Idiot, completa 10 anos hoje
Em 2004, o Green Day atingiu o auge do sucesso e da consagração crítica com a ópera-rock American Idiot. Como prosseguir, então, depois de chegar no que parecia ser o ponto mais alto da carreira? A banda demorou 5 anos para responder essa pergunta com 21st Century Breakdown, lançado há exatos 10 anos.
O grupo liderado por Billie Joe Armstrong produziu mais uma obra-prima do punk-rock. Dessa vez, diminuíram o tom na dramaticidade e entregaram uma narrativa que reflete perfeitamente a turbulência da primeira década do século.
Contextualizando historicamente, 2009 foi o último ano do governo George W. Bush e quando ocorreu a eleição de Barack Obama. O então presidente dos EUA era chamado de racista e fascínora, a polícia matava cidadãos sem pensar duas vezes e países orientais eram varridos pela guerra incentivada pelos norte-americanos. Não parece que as coisas mudaram tanto nesse meio tempo.
E o Green Day foi capaz de entender esse sentimento de confusão e impotência e transformar em arte. 21st Century Breakdown funciona sempre em dois níveis que se cruzam o tempo todo durante a audição: a luta interior e a exterior.
Narrativamente, o álbum acompanha dois personagens na extensão de três atos distintos. Gloria e Christian seguem uma espécie de jornada do herói revolucionário, enquanto a banda critica os pilares da sociedade moderna. Já numa frente interpretativa – o ponto mais interessante da obra – discute como um cidadão comum pode lidar com seus problemas pessoais e ainda lutar pela sociedade.
Gloria é uma revolucionária ideológica, a “Last Of The American Girls”, que “picha paredes, faz greve de fome e destrói a sociedade ocidental”. Christian é da classe operária, cansado da opressão capitalista e com propensão à violência. Em “Last Night On Earth”, o casal se apaixona e começa a revolução contra a aristocracia da “Murder City”, outra faixa do disco. Essa última, inclusive, foi escrita em uma noite de bebedeira em que Billie Joe presenciou um policial atirando em um garoto algemado.
Ambos os personagens acreditam em uma revolução violenta como a única saída. A banda defende esse ponto de vista no hit “Know Your Enemy”, que aponta o dedo para os opressores na sociedade. Entre eles, a religião, o capitalismo e consumismo, e a política conservadora personificada em George Bush.
Mas como engajar em uma causa, mesmo que nobre, quando essa mesma opressão consome o ser humano? Gloria e Christian passam então por problemas com vícios, pela perda da ideologia e da vontade de lutar. A televisão cegando a população enquanto os remédios cegam os protagonistas. Em “Restless Heart Syndrome”, a narrativa atinge o momento mais crítico e muda a visão do disco até ali. “You are your own worst enemy”, canta Armstrong. Você é seu pior inimigo.
O entrelaçamento entre o pessoal e o social é o núcleo do disco. Um tema bastante apropriado para uma banda punk, socialmente engajada, que sempre lidou com vícios e problemas pessoais. Ainda que não tenha uma solução, em “See The Light”, a banda parece dizer que o importante é nunca perder a consciência do que acontece com você e com os outros.
A sensação de luz no fim do túnel, de limbo e transição, representa um sentimento de esperança trazida pela eleição de Obama, como já declarou a banda. E também um passo em direção ao controle psicológico que os personagens atingem depois do esgotamento da luta.
Dez anos depois, principalmente considerando que o mundo de “Murder City” ainda existe e em proporções aparentemente piores, 21st Century Breakdown se sustenta como uma obra-prima. O setlist, que passa por diversas influências do rock, faz críticas contundentes às opressões diárias sem esquecer como isso afeta pessoalmente cada um.
Billie Joe Armstrong falou sobre a antêmica “21 Guns”. “Muita gente acha que a música é sobre paz mundial. Mas acho que também fala sobre meio que se render por um tempo e encontrar uma paz interna. Achar força no silêncio. Parar não significa desistir. Talvez signifique que você só está tentando achar alguma humanidade”.
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