Obrigado Geezer, Ozzy e Tony por colocarem o Heavy Metal no lugar mais alto novamente.”
13, BLACK SABBATH
Por Daniel Dystyler
“Estão prontos?” perguntou a responsável pela Universal Music, e imediatamente fez-se um silêncio sepulcral, cessando todas as conversas e o barulho que 20 pessoas faziam naquela sala.
Se alguns anos atrás, alguém me dissesse que em 2013, eu estaria em plena terça-feira à tarde, sentado à mesa de uma das maiores organizações de música do mundo, com outras poucas pessoas selecionadas à dedo, para ouvir com exclusividade o novo disco do Black Sabbath, 14 dias antes do mundo inteiro, eu ia achar que essa pessoa está completamente louca.
Mas foi exatamente isso que aconteceu. E eu nunca vou esquecer.
E pra ser bem sincero, se não tivessem 20 pessoas em volta, na mesma sala, acho que eu teria chorado em vários momentos da audição deste álbum que sem dúvida é o lançamento mais espetacular dos últimos anos. Aliás, segurar o choro, principalmente no final do disco, é uma tarefa para um homem de ferro. Não tem como um Headbanger não se emocionar de verdade.
“Tem lenço pra enxugar as lágrimas?” perguntou em voz alta Nando Machado, sentado ao meu lado, quebrando um pouco o gelo e a tensão na sala.
E assim começou.
E obviamente estou sentindo uma dificuldade enorme em comentar um disco inteiro de quase 1 hora de duração, 5 dias após ter ouvido uma única vez, e o pior, sem poder ouvi-lo de novo.
Por isso, decidi colocar aqui, o que eu me lembro que me marcou em cada uma das 8 maravilhosas faixas que comporão o “13” (a edição Deluxe será composta de 2 CDs com 3 músicas adicionais).
São as minhas sensações, sentimentos, coisas marcantes, momentos arrepiantes e já peço desculpas se eventualmente eu confundir ou me arrepender do que escrever abaixo, porque está tudo baseado nas sensações daqueles 53 minutos na última terça-feira.
E se o final do disco é algo que foi tão lindo e pra mim, surpreendente (não, não vou falar agora o que é. Tem que ler o texto até o fim…), o começo não fica atrás.
Ligue qualquer som do Black Sabbath bem alto, e aqui vamos nós:
01. End Of The Beginning (08′ 06”)
“Is this the end of the beginning? Or the beginning of the end?”
Quão poético é começar com essas 2 perguntas, aquele que talvez seja o último disco da banda que começou o Heavy Metal mais de 40 anos atrás? Lindo. Genial.
E eu juro: Durante todo o primeiro riff, uma sequência de notas dissonantes no melhor estilo Sabbath que deve durar 1 minuto até o momento que há a transição da execução apenas para o baixo, eu fiquei o tempo todo arrepiado. Incontrolável. E aí pela primeira vez entra a voz sombria do Ozzy.
Dá pra entender claramente a influência que o Sabbath representou para o Metallica”
Ele canta por 1 minuto mais ou menos em cima dessa base feita apenas por Geezer e aí surge pela primeira vez, toda a força do Sabbath: Iommi se junta ao riff, a bateria ganha peso e é difícil descrever a magia que acontece.
Se alguém ainda tinha dúvidas de porque Iommi é considerado “O Riff Master”, no meio dessa música as dúvidas acabaram.
Geezer está insano na parte do meio. E que som de baixo!!! E Brad Wilk na bateria fez o trabalho perfeito, ou seja: Ele soa como Bill Ward. Faz as batidas do Bill Ward. Parece o Bill Ward. Como tem que ser.
O som da guitarra de Tony Iommi está maravilhosa e isso me chamou muito a atenção na parte lenta do 1o. solo. Que timbre e que som!!!
E nos vocais, depois desse solo, lembro ainda de pensar “Não é à toa que o Ozzy sempre fala que Paul McCartney é o ídolo dele. Dá pra ver aqui a influência Beatles nos vocais”.
E a última coisa que me marcou nesta música é a guitarra e a voz juntas no fim do segundo solo. Lindo!
02. God Is Dead (08′ 52”)
“Give me the wine. You keep the bread”
“God Is Dead” foi o primeiro single. Quantas bandas teriam a coragem de lançar a sua volta (no Mainstream, porque Black Sabbath é Metal, mas é Mainstream também) com um título desses? E com uma música de quase 9 minutos que inclusive é a mais longa do álbum?
O som começa com as notas já bem conhecidas das dezenas de vezes que eu ouvi aqui no Wikimetal. O som do baixo do Geezer em cima dos tambores nesse começo é algo realmente assustador de tão pesado. E depois o lindo dedilhado com a voz do Ozzy na primeira parte da música.
Mais uma vez, no meio da música, a mudança de tempo que vem através de mais 1 riff genial. E o timbre da guitarra que Iommi e Rick Rubin produziram é demais!!!
03. Loner (4′ 59”)
“He’s just a loner”
Começa com um riff maravilhoso, curto, direto e após 4 repetições vem a voz do Ozzy que sempre sobe na terceira frase da estrofe, criando um clima muito legal.
Eu ainda estava com a execução desta música ao vivo em Melbourne na cabeça e ouvir no disco, agora com Ozzy cantando no tom certo foi a constatação que a música é sensacional mesmo.
Após a 1a. parte falada, Ozzy solta um tradicional “Alright now” e Iommi inventa mais um riff genial.
O refrão é bem melodioso, dedilhado e ao ouvir a linha vocal do Ozzy no finalzinho desse refrão dá pra entender claramente a influência que o Sabbath representou para o Metallica pois dá pra imaginar James Hetfield cantando na mesma levada.
Destaque também para uma parte toda “quebrada” antes do primeiro solo. Batera e baixo destruindo.
Nesse disco em geral, os solos estão no nível dos riffs. Sensacionais.”
04. Zeitgeist (4′ 37”)
“…and say good night”
A música mais curta do disco tem um significado muito legal. É o espírito (ou clima) existente em um determinado período da História de acordo com as idéias e crenças da época.
Como eu imaginava que este disco, tão emblemático e simbólico deveria passar por todos os estilos e nuâncias da era Ozzy no Black Sabbath, eu estava ansioso para saber se entre as 8 músicas teríamos alguma coisa na linha de “Planet Caravan” ou “Solitude”. E a minha expectativa foi totalmente atendida com Zeitgeist. Genial.
O baixo de Geezer nessa música é o destaque. Lindo. A dissonância dá lugar à uma sequência muito melodiosa e o solo com guitarra limpa, mostra toda a técnica de Iommi antes do fim da música.
Isso me faz lembrar a declaração de Eddie Trunk no That Metal Show, falando sobre Tony Iommi, quando ele diz algo tipo “Se o assunto é Iommi, todo mundo fala dos riffs, e claro ele é “O Riff Master”, mas não podemos esquecer os solos que esse cara faz”.
E nesse disco em geral, os solos estão no nível dos riffs. Sensacionais.
05. Age Of Reason (7′ 01”)
“Without a trace”
Após a calmaria de Zeitgeist, voltamos à pegada Sabbath. Mais riffs novos e lindos.
Acho que muito já se escreveu sobre a combinação do timbre da voz do Ozzy em cima de um riff do Iommi, então não vou falar o óbvio. Só dizer que é mágico mesmo: A parte do meio dessa música com um riff sensacional e a voz do Ozzy em cima é um dos momentos mais legais do disco.
E naquela linha de homenagear todas as passagens da história do Black Sabbath, antes do 2o. solo tem um riff “cantável” (tipo “ôôôôôô) que nos remete diretamente ao fim de War Pigs.
A música termina com grandiosidade.
06. Live Forever (4′ 46”)
“Just before you die, they say you see your life flashing by”
Cada vez que começava uma música nova, eu pensava “Será que essa vai ser a pior do disco? Porque até agora adorei todas. Será que essa não vou gostar?”. O disco foi até o fim e não consegui responder a essa pergunta. Não existe música ruim neste disco.
Começa com um riff bem dissonante que emenda em outro riff que vira a base para a voz do Ozzy.
Tem que ouvir com bastante grave. A sua casa vai tremer.”
07. Damaged Souls (7′ 51”)
“The time is coming where all will end. The future has ended before has begun”
A música tem uma levada um pouquinho mais lenta que a tradicional pegada do Sabbath.
Ozzy começa cantando muito. E justamente quando há uma mudança no estilo do vocal que emenda no solo de Iommi, é que começa a sequência de “coisas” que talvez me façam acreditar que esta seja a melhor música do disco (difícil escolher, porque adorei todas). Aqui vai:
Depois do solo, o baixo é simplesmente impressionante. Tem que ouvir com bastante grave e eu garanto: A sua casa vai tremer. O 2o. solo de Iommi é lento, lindo e o baixo continua destruindo nessa base. E emenda em mais um riff, transformando a música, numa música rápida e nessa hora é realmente de arrepiar e vem mais um solo genial.
E no fim, baixo e guitarra fazem juntos o riff. E será que eu estou viajando ou também tem uma gaita, remetendo a “The Wizard”?
Sensacional. Quero ouvir de novo. Agora.
08. Dear Father (7′ 20”)
“The faith that you stole”
Tradicional levada Black Sabbath, o que me leva a perguntar: Quantos riffs mágicos esse cara consegue fazer? É inacreditável!
E aí são 3 riffs que vão se sucedendo: Os 3 com mudanças de tempo, sempre acelerando até voltar à pegada Sabbath.
E o baixo após o refrão é insano.
E aí vem o fim da música e do disco mais aguardado do ano.
Vou fazer o seguinte:
Se você não quer ler aqui como é o final do álbum do Sabbath e ter a sensação de ouvir sem ter nenhuma informação, NÃO LEIA o próximo parágrafo. Se você não tem problemas com isso e quer saber como termina, pode continuar a leitura.
E aí vem o fim da música. E do álbum. Ao menos do que eu lembro (queria tanto ouvir de novo).
A música termina com tambores. E Peso.
E chuva. E trovões. E sinos distantes.
Aonde eu já ouvi isso antes?
Claro…
O fim deste álbum é o começo.
O começo de tudo. O começo do Heavy Metal.
O trítono e “What is this that stands before me?”
É o encerramento de um ciclo. O ciclo da História da banda que inventou o estilo de música que moldou e mudou a minha vida.
Obrigado Geezer, Ozzy e Tony por colocarem o Heavy Metal no lugar mais alto novamente.
Vocês criaram um disco para entrar para a História e vocês contaram a História inteira em um disco.
Simplesmente genial.
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