Fizemos uma breve análise da discografia do Bring Me The Horizon para tentar responder essa questão
Colocar o primeiro e o último disco do Bring Me The Horizon para tocar um depois do outro é uma experiência bizarra. Algum desavisado com certeza acharia que não é a mesma banda. E, realmente, os sons são completamente opostos. De um death metal repetitivo, com muitas técnicas para os riffs de guitarra, o som se tornou pop e cativante, com influências de R&B e rap.
Mas, cada disco do Bring Me trouxe uma mudança gradativa e o resultado se torna “esperado” quando analisado. Uma vez que a banda gosta de repetir que não quer ficar parada em um tipo de som único.
Count Your Blessings (2006)¸ o disco de estreia, coloca-se numa etiqueta muito clara de death metal com elementos de thrash. As guitarras são brutais, os vocais são berrados do começo ao fim. Não há um momento de vocal cantado propriamente dito. Cada música traz um ou dois breaks, para aliviar o som pesadíssimo. Parece até meio mal produzido, o que levou a muitas críticas.
Quando estreou, a banda não conseguiu o reconhecimento de quem não gosta desse tipo de metal “sujo” (no bom sentido). E também não o conseguiu dos fãs do gênero. As letras sobre sexo, festas e relacionamentos afastou os mais old-school. Era quase uma versão emo de uma banda de metal.
A construção mais bem pensada musicalmente veio com o sucessor Suicide Season (2008). A banda conseguiu consertar alguns problemas de repetição e fizeram um álbum em que cada faixa é reconhecida por si só. Dado que isso não era tão claro na estreia. Aqui, surgem os primeiros elementos do eletrônico. Um som muito mais puxado pro hardcore e pro metalcore. Uma faísca do que viriam a ser músicas como “Mantra”, do último disco amo.
Em There Is a Hell, Believe Me I’ve Seen It… (2010), o guitarrista rítmico Curtis Ward saiu da banda. Como substituto, veio o australiano Jona Weinhofen, cuja participação durou apenas por esse disco. Mas a contribuição de Jona pode ser sentida até agora, uma vez que esse parece ser um grande ponto de virada no som da banda.
Desde a primeira faixa, “Crucify Me”, a diferença é sentida. Violão, breaks eletrônicos, elementos orquestrados. Todos esses que se repetiriam daqui para frente. A guitarra de Jona, com efeitos à lá David Gilmour, não tirou o peso da banda, mas trouxe poder. Influências mais variadas aparecem, como a do punk, o post-rock e uma preocupação maior com a paisagem sonora do álbum. “Blessed With a Curse” poderia muito bem fazer parte de That’s The Spirit, que só seria lançado cinco anos depois.
Chegamos então em Sempiternal, considerado por muitos com a obra prima do Bring Me The Horizon. Liricamente falando, é o álbum mais maduro. Com o vocalista Oli Sykes e outros membros da banda passando por experiências de vida complicadas, o clima do álbum é muito mais sombrio e profundo. Agradeça a Jordan Fish por isso, também. O novo tecladista ajuda a construir sentimentos e ambientes para cada faixa. O vocal é muito mais melódico. Surgem aqui os refrãos que grudam na cabeça. Este ainda é um disco de metal, é brutal e profundo nas medidas certas.
O que nos leva a That’s The Spirit (2015). Muitos dos que hoje criticam a mudança em amo (2019), esquecem a fase do disco de 2015. Começaram aqui a maior parte das críticas que a banda tinha se vendido, que buscava um som amigável para a rádio. Mas, os elementos que vinham sendo introduzidos gradativamente na discografia, aparecem com força total. É como se todas as músicas de That’s The Spirit fossem um grande hit que poderiam estar espalhados em diversos discos. O rock radiofônico totalmente misturado com tudo o que o Bring Me vinha fazendo até ali.
Se as influências vinham do thrash, death, hardcore e eletrônico, em amo, o Bring Me The Horizon transborda entre os gêneros. Em entrevistas, os membros disseram que eles não pensaram em como seria o álbum, mas que sabiam que queriam ousar. As letras inteligentes continuam a dar as caras, agora com um sarcasmo ainda maior. “Heavy Metal” representa bem o ideário da banda no momento atual. “Não é heavy metal, mas tudo bem”, diz a faixa. Um break de beatbox surgindo para espantar os fãs mais apegados ao som pesado.
“Mantra” é de um metal alternativo consciente das direções da música contemporânea. “Wonderful Life” é um nu metal, tanto que saiu de uma sessão de escrita ao lado de Fred Durst. Até Grimes aparece para criar uma balada viajante e depressiva. Todos os elementos já haviam sido plantados pela discografia. Dessa vez, estes apenas aparecem mais claros.
Em entrevista ao Wikimetal, o baterista Matt Nichols falou sobre as mudanças na discografia. “O rock está estável. Existe uma falta de criatividade e de pessoas que tomem riscos. Parece que as bandas estão dando um passo para trás para ficarem confortáveis fazendo o que sabem. Acho que as pessoas precisam abrir um pouco a mente”.
Essa parece ser a fórmula encontrada pelo Bring Me The Horizon para continuar relevante. E o resultado apareceu. Amo é o primeiro disco da banda a atingir o posto de mais vendido no Reino Unido, por exemplo.
Mudança não precisa ser uma palavra ruim, afinal. Ainda mais em uma discografia complexa que abrange fãs de diversos estilos. Na voz de Nichols, “Se você é fã de heavy metal, você pode ouvir o nosso som antigo, ou procurar outras bandas que ainda são desse gênero. Não tem como agradar todo mundo. É o que é”. Que o Bring Me continue ousando, com altos e baixos, mas nunca estáticos.
O Bring Me The Horizon irá se apresentar no Lollapalooza 2019, clique aqui para comprar os ingressos.
LEIA TAMBÉM: Bring Me The Horizon curte festa do Grammy com Backstreet Boys